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Setembro de 2024. Após 50 anos reencontro de D.Dolores Ferreira Câmara com Camilo de Sousa |
Decorria o mês de Julho de 1974 e eu estava na Base Moçambique A (a chamada Base Central). Estavam também na Base os camaradas Raimundo Pachinuapa (Secretário Provincial de Cabo Delgado, responsável máximo da região) e Aníbal Malichicho, Comissário Político da Província.
Numa tarde, fui chamado ao comando da Base para uma reunião com o camarada Raimundo Pachinuapa e outros camaradas onde fui informado que um grupo de guerrilheiros das nossas "zonas avançadas" tinha capturado, em Morrola, na região agrícola de Montepuez/Namuno, um casal de agricultores portugueses bem como a sua filha menor e que a mulher estava grávida. Tinham caminhado durante uns dias dessa região até à zona de Muidumbe estando retidos numa sub-base de nome Cahora Bassa.
Neste encontro recebi a tarefa de ir ao destacamento de Cahora Bassa para apaziguar esta família e transmitir parte do Comando Provincial que nada de mal lhes seria feiti.
No dia seguinte, ainda o sol não havia nascido e já estava a caminho da sub-base acompanhado do meu guarda-costas. Caminhámos durante cerca de três horas o que significava cerca de 15 quilómetros até à base onde era esperado pelo comandante do destacamento.. Reparei que perto de umas casas afastadas estava o casal de portugueses e a sua filha vendo-me chegar ao comando.
Depois de uma breve conversa com o comandante trouxeram os reféns absolutamente amedrontados que me foram apresentados e a quem cumprimentei.
Acharam muito estranho encontrar um militar da FRELIMO da minha idade (21 anos), da minha cor e falante de português sem sotaque moçambicano. Isso deixou-os ainda mais cépticos em relação à sua sorte.
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Camilo de Sousa, em Nachingwea (Tanzânia) no final do treino militar |
Antes de partir deixei algumas recomendações aos que tomavam conta dos reféns. À saída da sub-base o refém português segredou-me que qdouando me viu chegar pensou que, pelo meu aspecto, eu era cubano e vinha com a missão de executá-los o que gerou uma risada geral.
Só voltei a encontrar esta família durante o governo de transição numa visita governamental aos distritos de Montepuez e Namuno onde visitámos a localidade de Morrola.
Autor texto:
Camilo de Sousa
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarEsta crónica foi bem conseguida escrita pelo meu camarada antigo combatente da guerra do ultramar "furriel Miliciano que esteve destacado em Nova Coimbra e Miandica.
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