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Livros da guerra colonial

Miandica terra do outro mundo


domingo, 15 de dezembro de 2019

COMPANHIA de CAÇADORES ESPECIAIS 264

                                                  NAMIALO
                          
                                                                    
                                  O COMEÇO

A COMPANHIA DE CAÇADORES ESPECIAIS 264
No dia 11 de Abril de 1961 dei entrada no Batalhão de Caçadores 5, em Campolide-Lisboa, para cumprir o serviço militar obrigatório. Na formatura do dia seguinte o Comandante do Batalhão de Caçadores Especiais 260 traçou logo o nosso destino. Não sabem mas vão ficar a saber que estão  todos mobilizados para o Ultramar, disse ele. Depois foi a recruta e o aprender as mil e uma maneira de combater a guerra de guerrilha. Foram tempos muito duros que me iam dando cabo do físico.
Até que chegou o 23 de Agosto de 1961, o dia do nosso embarque para Moçambique, fazendo parte da Companhia de Caçadores Especiais (CCE) 264.
Embarcámos no Paquete "Príncipe Perfeitos" e foi uma viagem quase turística com paragem em Luanda, Lobito, Cape Town, Lourenço Marques, Beira e Nacala e aqui desembarcámos e por via férrea fomos até à povoação de Namialo, no Distrito de Moçambique, onde chegámos, no dia 16 de Setembro.
Comandaram a CCE 264:
Capitão António Tomás da Costa
E os oficiais:
Alferes António Carlos Fernandes Gomes
Alferes Milº José Manuel Mota Tavares Ferreira
Alferes Adelino da Costa Santos Leite
Alferes Milº José António Bertão ribeiro
Alferes Milº José Maria Braga F. Soares de Brito
Alferes Milº Emanuel Nunes
Alferes Milº Médico Henrique José Gonçalves
.
             O QUARTEL (CIRCO) NO NAMIALO

O Quartel no Namialo (CIRCO)
O Namialo não tinha quaisqueres condições para uma companhia do Exército. Quase nada havia à nossa espera . Não havia quartel, não havia viaturas, não havia armamento( apenas existiam meia dúzia de Mausers),
Ficámos alojados nos armazéns e nas casas que a Companhia dos Algodões nos cederam. O meu Pelotão ficou no posto médico. Não havia quartel, (estava a ser construído), não havia viaturas e não havia armamento para  distribuir. Enquanto ajudávamos na construção do quartel, ia-mos fazendo todo o serviço que o dever militar nos obrigava. Eram patrulhas de reconhecimento constantes

Na construção do quartel
O quartel foi por nós acabado de construir (esse quartel era conhecido por CIRCO devido a se parecer como tal).
Depois do quartel feito, o trabalho continuou e fomos fazer o parque das viaturas. Nas obras sempre tivemos o apoio da população para a sua execução.
Na primeira patrulha de que fiz parte fui armado com uma catana que um elemento da população me emprestou.
                                      A REDE CAMUFLADA           

Na foto, o Caldeira e o "Caparica" os autores da passarinhada
Quando me distribuíram o fardamento, para levar para Moçambique, dele fazia parte uma rede camuflada que servia para nos proteger dos mosquitos. Um de nós, que era como irmão, era o Caparica, que um dia chegou perto de mim e de rompante me perguntou:Gostas de passarinhos fritos?
Claro que sim, E há muito tempo que não os como.
Então vamos armar aos pássaros.
Resolvemos juntar as duas redes, a minha e a dele e fizemos uma rede de apanhar pássaros.
Como o meu amigo era pedreiro na vida civil, tratou logo de fazer uns bebedouros que todos os dias íamos encher de água e colocar migalhas de pão, para os acostumar ao lugar.
Depois de a passarada estar  acostumada foi altura de se armar a rede. Na primeira vez apanhámos 70, que depois de depenados e arranjados estavam prontos para fritar. E aqui surgiu o problema. Como os fritar. Fui ter com o cabo cozinheiro para ele entrar no petisco, com a condição de ele arranjar a frigideira e um pouco de azeite. E ele lá arranjou a frigideira, o azeite e acrescentou umas rodelas de chouriço. Foi feito o petisco que "marchou" bem regado com umas "bazucas" Laurentinas
                              FUTEBOL
A equipa de futebol da CCE 264. Sou o 1º  à esquerda e em baixo
No Namialo os dias iam passando quase todos iguais. Patrulhas de reconhecimento e contactos com as populações que viviam no mato eram constantes. Quando se estava no quartel não se estava escalado para qualquer serviço o futebol era o nosso entretenimento. Faziam-se torneios entre Pelotões, mas o que dava mais nas vistas era a equipa de futebol da Companhia  que ficou conhecida por todo o Distrito. por ter ganho ao Sporting e ao Benfica de Nampula..De tal maneira que o Sporting Clube de Nampula escolheu (digo escolheu porque  não era possível contratar) seis jogadores da nossa equipa, nos quais eu estava incluído. O Benfica escolheu quatro. E foi graças ao futebol que fiquei a conhecer muitas localidades do Distrito.

                             A AVARIA 
A "CANADIANA" avariada
Nos muitos reconhecimentos que tomei parte utilizávamos as viaturas que tínhamos. Eram as "Canadianas" (que tinham estado na 2ª guerra Mundial), alguns jeeps e Hunimogs. Quando se ia para o mato não se levava comida (ainda não havia por lá a célebre ração de combate)e todo o pessoal ia abonado com dinheiro para comprar comida, desde que houvesse onde a comprar. Num desses reconhecimentos, em que tomei parte, ia uma "Canadiana" e um Jeep. A certa altura a "Canadiana" avariou, mas logo numa de desenrascanço se passou um cabo como o Jeep a puxar. Só que o Jeeep, talvez devido ao "esforço" deu o "berro". Ficámos apeados em plena picada. Tentámos o contacto com o quartel, a pedir ajuda, mas só muitas horas depois de conseguiu o contacto. Entretanto a fome começou a apertar, pois estávamos numa zona onde nem mandioca havia. Um dos meus  camaradas teve que entrar no mato para fazer uma necessidade fisiológica e quando voltou vinha com uma abóbora. Foi de imediato assaltado e a abóbora soube a melancia.
Lá chegou a ajuda pedida, que reparou a a avaria e retomámos a viagem.
Chegámos a Quitaxe, uma povoação à beira-mar e fomos falar com o Administrador a quem se fez o relato do acontecido. O Administrador fez então uma pergunta:
E já comeram alguma coisa? O que o nosso Alferes, um pouco atrapalhado disse que sim.
Eu não me contive e contei toda a verdade. O Administrador apenas respondeu: Estejam à vontade que eu volto já. Quando regressou convidou todo o pessoal para ir para o salão, onde já estava uma mesa posta para todos nós. Ficámos em dúvida, pois o nosso aspecto não era o melhor para entrarmos naquele salão, mas perante a insistência do Administrador lá entrámos.
Apareceram os "Mainatos" (empregados) com várias travessas de comida. Peixe fresco da praia  local, cervejas, pão, frutas e doces.
Depois dos agradecimentos e da despedida confirmou-se o ditado: Não há fome que não deu em fartura.

                          AS GALINHAS
Devem pensar, mas esta malta só vivia para os petiscos. Nós éramos uns meninos na flor da idade e o apetite era maior do que a nossa idade.Nos vários patrulhamentos que se faziam comprava-se aos autóctones algo para o petisco, galinhas ou cabritos.
Uma vez comprámos alguns frangos, que andavam sempre à solta no quartel, comendo o que encontravam. Um dia, reparámos, que os frangos que já eram galinhas ou galos tinham desaparecido. alguém os comeu foi o pensamento. Mas não. Verificámos que uma das galinhas tinha aparecido com os pintos atrás. E lá foram crescendo, os pintos já eram grandes quando um dia fomos surpreendidos com a notícia que a Companhia tinha ordem para seguir para Nacala para rumar a Mueda. O transporte de Nacala até Mocímboa da Praia seria na fragata de guerra "D.Francisco de Almeida"

De Nacala para Mocímboa da Praia
Tratámos de preparar a bagagem, sem esquecer as ditas galinhas que iam num caixote arranjado para o efeito. Ao chegara a Nacala logo nos foi dito que as galinhas não podiam embarcar, só a bagagem pessoal de cada um. Resolvemos matar as galinha, fizemos uma fogueira no cais e toca a comer, perante a admiração dos presentes. E, foi assim que ass galinhas "embarcaram" connosco.
                                MUEDA
Vindos de Nacala desembarcámos em Mocímboa da Praia com destino a Mueda em Fevereiro de 1963.
Fevereiro de 1963 a CCE 264 a chegar a Mocímboa da Praia
A tranquilidade terminou quando nos deslocámos para Mueda a fim de reforçar a Companhia de Caçadores Especiais 367 que já lá estava. Aqui o nosso trabalho aumentou substancialmente. Conheci todas as aldeias e picadas do Planalto dos Macondes.
Era nosso hábito, quando alguém do nosso grupo fazia anos, tinha que haver festa de aniversário. Não havia bolos nem velas, mas havia sempre almoço ou jantar reforçado.  E em Mueda mantivemos o osso hábito. O petisco era sempre galinhas ou cabritos que se compravam nas patrulhas de reconhecimento. Um belo dia em Mueda um dos elementos do grupo, um 1º Cabo, natural de Matosinhos fazia anos. Temos que fazer o almoço, foi o pensamento geral. Mas tínhamos um problema, não havia galnhas nem tão pouco cabrito. Eu resolvo este "milando"- disse eu. Fui ter com o Administrador de Mueda, que tinha um rebanho de cabras e cabritos e contei-lhe o que costumávamos fazer.
-  O que é que o nosso Cabo pretende- perguntou
-Pretendia peir ao Sr. administrador que nos emprestasse um cabrito do seu rebanho  que nós, no próximo reconhecimento trazemos para o darmos ao Sr.
- Muito bem, assim seja, vou dar ordem ao guardador do rebanho para vos dar o cabrito.
O petisco foi realizado e comido no depósito de captação de águas de Mueda.

Posto de águas de Mueda. O cabrito foi aqui degostado
Foram muitos meses em Mueda, onde também pouca coisa havia e, entre o que havia citamos o quartel, a administração, a cadeia o aeroporto e o célebre China.
A Companhia recebeu ordens em 14 de Setembro de 1963 ordem para abandonar Mueda e regressar a Namialo e o pagamento do cabrito não foi cumprido. O Administrador, não se deve ter preocupado muito com isso, o seu rebanho era enorme.

              AEROPORTO DE MUEDA
No meu tempo em Mueda havia um pequeno aeródromo, que apenas tinha um avião que era pilotado pelo meu grande amigo, o Sargento Freitas, que teve a desventura de cair no mato, onde faleceu. O sargento Freitas, quando regressava de patrulha tinha o hábito de sobrevoar o quartel e com as suas acrobacias fazia a delícia do pessoal. Um dia, em que estava de serviço ao aeródromo, disse-lhe que não compreendia a razão de ao aterrar ter de ir até ao final da pista e depois voltar para trás e entrar no hangar. Bem observado respondeu ele, amanhã vou tentar entrar directo. Claro que não entrou, uma das asas do avião arrancou muitos metros da rede....Resultado, mas de um mês sem avião em Mueda.

               REGRESSO AO NAMIALO 
De regresso ao Namialo onde ficámos até 22 de Fevereiro de 1964. Neste dia deslocámos-nos para Nacala, onde nos espera o Paquete "Niassa" para nos trazer de volta a Portugal. Chegámos a Lisboa em 15 de Março de 1964.
No cais de Alcântara fui descartado como a mercadoria fora do prazo de validade.
Segui para casa com os meus familiares que estavam à minha espera, para no dia seguinte ir ao Batalhão de Caçadores 5, fazer o espólio do fardamento que me havia sido confiado.

Texto e fotos de:
António Caldeira 
1º Cabo da CCE 264





















































segunda-feira, 25 de novembro de 2019

MANIAMBA, DEPOIS DA CCAÇ 1560


ARTILHARIA 2326 -- BART. 2838

Identificação

Unidade Mobilizadora:  RAP 2
CMDT: Cap. Art. Henrique Manuel Viegas da Silva
Partida: Embarque a 31 de Janeiro de 1968
Desembarque: 19 de Fevereiro de 1968
Regresso: Embarque a 01 Maio de 1970

Síntese da Actividade Operacional

A CART.2326 desembarcou em Nacala e foi colocada em Maniamba, onde rendeu a CCAÇ 1560/BCAÇ1891. Guarneceu Bandece com 1 Pelotão.
De fevereiro de 1968 a Maio de1970, executou, entre outras, as operações:
"Lobo Veloz" (Entre os rios Lualeci e Pambeze)
"Lobo Galante" (Vale do rio Timba)
"Lobo Cantor" (Serra Macuta)
"Lobos não Tremem" ( Vale do rio Mechesa)
"Lobo Fuzo" Entre os rios Lussefa e Luile)
"Lobo Satisfeito" (Vale do rio Melulucas)
Tomou parte nas operações:
"Lobo Largo" e "Cavalo Preto"
Em Maio de 1969 foi rendida pela CART 2495/Bart.2869.

COMPANHIA DE ARTILHARIA 2495 -- BART 2869

Identificação

Unidade Mobilizadora:  RAP 2 Vila Nova de Gaia
CMDT: Cap. Mil. Jorge Gentil Pinto Faustino
Partida: Embarque a 12 de Abril de 1969
Desembarque: 14 de Maio de 1969
Regresso: Embarque a 22 Maio de 1971

Síntese da Actividade Operacional

A CART.2326 desembarcou em Nacala e foi colocada em Maniamba, onde rendeu a CCART. 2326/BART.  2838.
Guarneceu com 1 Pelotão Bandece.
De Maio de 1969 a Março de 1970, executou entre outras, as operações:
"Impala Briosa" (Vale do rio Messinge)
"Impala Nómada" (Vale do rio Messinge)
"Impala Lobo 9" Norte de Maniamba
"Impala Exploradora" (Região da base IN. Luína)
"Impala Artilheira" ( Vale do rio Meluluca)
Tomou parte na operação:
"Impala Grande"
Em Março de 1970 foi rendida em maniamba, pela CCAÇ 2661/BCAÇ 2906 e transferida para Vila Cabral , onde rendeu a CCAÇ 2415.
Na situação de intervenção do BCAÇ 20 (Vila Cabral), efectuou entre outras as oprações
"Mira Dois" (Vale do rio Nossi)
"Tejo III" ( Vale do rio Messinge)

COMPANHIA DE CAÇADORES 2418 

Identificação

Unidade Mobilizadora:  BC 10 -- Chaves
CMDT: Cap. Milº Acácio Gomes tomaz
Partida: Embarque a 23 de Julho de 1968
Desembarque: 13 de Agosto de 1968
Regresso: Embarque a 22 de Agosto de 1970

Síntese da Actividade Operacional


Desembarcou em Nacala a 13 de Agosto de 1968 e foi colocada em Messangulo, onde rendeu a CCAÇ 1671/BCAÇ 1907.
Em junho de 1969, foi rendida pela CCAV 2391 e passou para a situação de intervenção. Instalou-se em Maniamba e em Macaloge, sob o comando do BCAÇ 2853, aquartelado em Macaloge.
Efectuou várias operações na zona de Maniamba e dos rio Messinge, Nossi e Lundo nomeadamente :
"Koscina 1 a 4"
"Nini 2 a 4"
"Lola 2" 
"Sagres 1, 2 e 4"
"Micas 1"
Na útima foi destruída a 4 de Setembro de 1969 a base Maniamba (nas proximidades da confluência dos rios Messinge e Nossi).
Planeado anteriormente um golpe de mão àquela base (Operação "Sagres 3") foi esta interrompida, devido ao accionamento de uma mina anti-carro a 14 de Agosto de 1969, causando muitas baixas às Nossas Tropas. Participou entre outras nas operações:
"Cavalo Rucilho"
"Ultrapassagem" (Zona do rio Messinge  a SE de Maniamba)

COMPANHIA DE CAÇADORES 2661 -- BCAÇ. 2906

Identificação

Unidade Mobilizadora:  RI 15 -- Tomar
CMDT: Cap. Milº Infª Francisco Domingos Martins
Partida: Embarque a 04 de Fevereiro de 1970
Desembarque: 27 de Fevereiro de 1970
Regresso: Embarque a 08 de Fevereiro de 1972

Síntese da Actividade Operacional

A CCAÇ 2661, desembarcou em Nacala e foi colocada em Maniamba onde rendeu a CART.2495/BART.2869.
Guarneceu o Bandece com um pelotão.
De 11 de Setembro a 29 de Dezembro de 1970, passou a estabelecer em permanência, uma rede de emboscadas a Sul de Bandece, ficando somente com i pelotão em Maniamba e outro em Bandece, facto que limitou muito a restante actividade operacional.
Aquando da rendição do Batalhão pelo BCAÇ 3850 em Agosto de 1971, a CCAÇ 2661 continuou em Maniamba ficando sob o comando do BCAÇ 3850.
De Março de 1970 até até final da  Comissão executou entre outras as seguintes operações:
"Cabrito Branco" Vale do rio Messinge
"Mira Um" e "Juvia" Vale do rio Nossi
"Zebra Verde" Montes Lugala

COMPANHIA DE CAÇADORES 3394 -- BCAÇ. 3850



Identificação

Unidade Mobilizadora:  RI 15 -- Tomar
CMDT: Cap. Infª Herique José Pedroso de Albuquerque
Partida: Embarque a 17 de Julho 1971
Desembarque: 12 de AGOSTO de 1971
Regresso: Embarque de avião a 16,19,30 Outubro 1973

Síntese da Actividade Operacional
A CCAÇ 3394, desembarcou em Nacala e foi colocada em Meponda, onde rendeu a CCAÇ 2551/BCAÇ 2880.
Em Janeiro de 1972,,, foi rendida em Meponda, pela CART.3504 e transferida para Maniamba, onde rendeu a CCAÇ 2661/BCAÇ 2906.
Guarneceu com 1 Pelotão o destacamento de Bandece
De Janeiro a Abril de 1972, executou, as seguintes operações.
"Joeirar" Região da base IN. Nolezeua"
"Jarreua" Região do rio Nossi
"Jardim" Zona de Maniamba e Bandece
"Juventude" Região da base IN Melulucas
"Jacutingo" 
"Jugo" Região da base IN NGuene
"Jacutingo" Entre os rios Messinge e Nossi
"Jarrão" Serra Macuta :
Participou nas operações:
"Jibóia 6"
"Jubiabá III"
"Jaracandá"
"Jangada"
Em Março de 1973, foi rendida pela ªBCAV.8420


COMPANHIA DE ARTILHARIA 3504


Identificação

Unidade Mobilizadora:  GACA 2- Torres Novas
CMDT: Cap.Milº Infª Aurélio António A. Abreu Brandão
Partida: Embarque a 08 Janeiro de 1972
Desembarque a 9 de Janeiro de 1972
Regresso: Embarque de avião a 31 de Maio 1974

Síntese da Actividade Operacional

Pertencendo ao Quadro Operacional do BART 3877, foi retirada desta Unidade, no perído que antecedeu o embarque.
Viajando nos TAM, desembarcou na Beira, seguindo para Meponda, onde rendeu a CCAÇ 3394/BCAÇ 3850.
À chegada foi recompletada com 41 Praças do recrutamento de Moçambique.
Cedeu 1 Pelotão de reforço à CCAÇ3392/BCAÇ3850, sediado em Metangula. Efectuu operações, prioritariamente na Zona do Lago e nas regiões dos rios: Timba, Luaice, Luguese, Nagabinge e Luangua e no itenerário Meponda - Vila Cabral nomeadamente:
"Jardim" "Jeca" "Juba" "Junça" "Jasmim 1 e 2" "Jarrete" "Jericó" "Jucula" "Jacape" "Jeropiga" "Jejum" "Jagodes" "Joelho 1 e 2 "
"Janeira" Zona do rio Luaice
"Jibóia 6"  Operação efectuada numa extensa área junto ao Lago Niassa, desde a picada Vila Cabral - Meponda à região de Maniamba com o efectivo de 4 Companhias , 1 Grupo de Milícias, e 1 Grupo "GE", com o total de 11 grupos de combate,resultando baixas ao IN e captura de elementos e material de guerra. 
"Jubiabá 2 e 3" Região do Cóbué
"Jangada" Montes Itumba
Em 31 de Março de 1971, foi substituída por 1 Pelotão da CCAÇ 4141


3ª COMPANHIA DE CAVALARIA -- BCAV. 8420/72


Identificação

Unidade Mobilizadora:  RC 4 - Santa Margarida
CMDT: Cap.Milº Infª Alcino Mairos Lopes
Partida: Embarque em avião a 17 e 22 Fevereiro e 4 e 11 de Março de 1973
Desembarque a 9 de Janeiro de 1972
Regresso: Embarque de avião a 31 de Maio 1974
Regresso: De avião a 6, 7, 8 e 13 de Novembro de 1974

Síntese da Actividade Operacional

A 3ª CCAV. desembarcou na Beira. Foi colocada em Maniamba, onde rendeu a CCAÇ 3394/BCAÇ 3850. Guarneceu Bandece com 1 Pelotão.
Em 26 de Junho de 1974, extinto o Subsector de Metangula, manteve-se em Maniamba sob o Comando Operacional do BCAÇ 5011/72 sedeado em Macaloge.
Submetida a intensa actividade operacional efectuou entre outras, as seguintes operações.
"Jalo"; "Fuste"; "Fusa"; "Feltro 4"; "Arreda 1 e 3"; "Rolar 1 e 3"; 
"Ítrio 2, 4 e 7" Região da base IN Melulucas
"Trio 6" Entre os montes Cheringombe e Nacaonda
"Ítrio 8" Monte Suche
"Poli 2" Vale do rio Chilassange
"Poçi 5" Vale do rio Lunho
"Padrão 5" Região da base IN Gungunhanha
"Poli 8" Região de Miandica
"Poçi 10" Vale do rio Tulo
"Fusão 1 e 2" Vale do rio Nossi
Tomou parte nas operações:
"Furioso"; "Furor"; "Fanar"; "Rodovia"

EIS PRECISAMENTE COMO SE ESCREVE A HISTÓRIA
Texto de:
Fernando Marques Oliveira 
Alferes Miliciano da CCAÇ 1560

Assim se iniciou a alocução proferida a 21 de Janeiro de 1968, aquando da          inauguração. Naquele tempo fomos cimentando a ideia de que algum marco deveria ficar no quartel para que, desta forma, se perpetuasse a passagem da 1560 por terras de Maniamba.

Foi então que nos ocorreu a construção dum singelo,mas significativo,monumento que marcasse não só "os  momentos de alegria,onde éramos assaltados pelas
saudades dos entes queridos"
 " Os de muita amargura e tristeza,aqueles em que vimos cair em combate alguns dos nossos camaradas"
Assim o Monumento, para cuja concepção muito contribuíram o Médico da Companhia, Dr.Licínio Poças e o Alf. Pedro Salazar, assenta numa Cruz de Cristo feita em capim e pedra tendo a cercá-la uma vedação de pilares de madeira com corrente de ferro. O pedestal, é constituído por um tronco de pirâmide, tendo numa face a inscrição BCAÇ 1891,noutra CCAÇ 1560, noutra, ainda, a expressão com que se inicia a alocução "EIS PRECISAMENTE COMO SE ESCREVE A HISTÓRIA", finalmente, na 4ª face o nome dos camaradas caídos em combate. Sobre o pedestal, assentam as mãos em oração tendo sido cravado entre o polegar e os restantes dedos unidos, um espigão encimado com a Cruz de Cristo.


Inauguração em Maniamba,do Monumento de homenagem aos mortos
da Companhia de Caçadores 1560
      EIS PRECISAMENTE COMO SE ESCREVEU A HISTÓRIA

Em Setembro de 2004, um grupo de Combatentes, foi em romagem de saudade a Moçambique. O sonho do Fernando Oliveira e de outros companheiros foi concretizado
Naquele dia a alvorada em Licinga (Vila Cabral),  bem cedo,pois a jornada antevia-se activa às muitas visitas agendadas aos antigos aquartelamentos,localizadas no corredor de Metangula. Previam-se várias emoções de alguns  companheiros,aquando da passagem por certos lugares.A primeira de uma delas,foi quando parámos junto ao RIO LUALECI,para prestarmos uma simbólica homenagem aos 3 camaradas da CCAÇ 1560 que lá tombaram.



Na foto em cima, o Alf. Oliveira a conversar com o antigo "Mainato" do falecido em combate Alf. Luís Ambar. Este Moçambicano em 2004 ainda se lembrava dos militares da CCAÇ 1560 e tudo fez para conservar o Memorial que o Fernando Oliveira na foto em baixo,um dos seus autores, contempla com nostalgia e prestando homenagem aos Militares Portugueses da CCAÇ 1560 que tombaram em Maniamba.

















segunda-feira, 4 de novembro de 2019

PERIPÉCIA "II" DA CCAÇ 4141 no LUNHO


Entrei na arrecadação pela porta que dava para o posto da “Breda”
A porta da frente fechada e o Perdigão através da rede do postigo olhava
para a parada.
Que se passa? ...Indaguei
A custo lá foi dizendo ...
O Alferes veio aqui com um rolo de fita adesiva e levantou umas
“verdinhas”.... e atou-as. Espera que já vais ver!!
E sem arredar da porta olhava para o lado do quarto pelotão.
E mais não adiantou.
Fiquei naturalmente curioso e a partir daquele momento também me
posicionei como espectador, tentando observar tudo e todos que andavam
pela parada e esperando o resultado que calculei seria ruidoso.
A manhã ia a meio.
Estava no mato a decorrer uma operação operação a nível de companhia e um grupo
tinha saído em duas viaturas para o lado de Nova Coimbra, se a memória
não me falha.
No quartel quase só “aramistas”, como os ossos companheiros designavam
todos os não profissionais do gatilho e os que com regularidade não saiam
do quartel para as operações na mata ou na picada.
Talvez nesse dia lá estivéssemos poucos mais que dezena e meia.
Hoje a nove dias de comemorarmos quarenta e cinco anos do nosso
regresso a Lisboa, relato o que observei e que por certo será uma pequena
parcela desta história que companheiros aqui presentes mais saberão.
Para quem mais privou com o nosso segundo sargento sabe que ele
parodiava um pouco com as palavras e com as situações. Foi o que fez
quando um dia me falou de um ataque sofrido durante uma comissão que
tinha feito salvo erro em Angola.
Comigo a conversa foi sobre a hipótese de a qualquer momento levarmos
umas morteiradas e da observação que lhe fiz acerca das vigas de ferro e
dos sacos de areia no telhado da caserna, onde ele e o nosso primeiro
habitavam e que os protegia, em contraste com as restantes.
Proteção suficiente no meu entender em caso de ataque para eles nada
sofrerem.
Olhou-me e com ar sério e com resposta rápida afirmou.
Não senhor!
A velha ponte do Lunho
Que correria para o abrigo subterrâneo e que era muito rápido a correr ...
que em Angola tinha sido tão rápido a chegar a um que passaram a
conhecê-lo pelo “Zatopek da mata”. Saiu-lhe aquela para parodiar comigo
por certo.
Achei graça com a comparação feita ao grande corredor Checo e nem por
sombras imaginei a cena que no futuro observaria no Lunho.
Naquela manhã entre a caserna do quarto pelotão e o monte da lenha no
meio da parada, andava o nosso primeiro em calções e troco nu com a
dificuldade conhecida, (obra do reumático segundo dizia) e ao mesmo
tempo ia rodando as mãos sobre o peito. Gesto frequente durante os
passeios que fazia pelo quartel.
Eu e o Perdigão continuávamos a olhar para a parada sem saber o que
iríamos ver ou ouvir.
O estrondo foi enorme, as chapas do telhado rangeram e a coluna de pó era
bem alta acima dos telhados por detrás das transmissões.
Não sei quantas granadas rebentaram ao mesmo tempo.
O nosso primeiro correu com tal velocidade em direcção ao abrigo entre a
cantina e a messe que eu juraria até aquele momento, ser impossível
alguém com tanta dificuldade de movimentos conseguir.
Os calcanhares batiam nas nádegas.

A nova ponte do Lunho
Lembrei-me do Zatopek e da conversa do nosso segundo, mas não me
recordo se também ele testou na prática a fama de velocista.
Eu e o Perdigão rimos a bom rir com a cena. Por certo também mais alguns
e uns tantos apanharam um valente susto.
Deste exercício de fogo real, efetuado pelo nosso alferes para testar a
reação dos aramistas em caso de ataque, aqui vos deixo o relato do que
vimos através da janela da arrecadação num dia em meados do ano de
1973.

segunda-feira, 21 de outubro de 2019

PERIPÉCIAS "I" DA CCAÇ. 4141 NO LUNHO

Peripécias

O pessoal sujeito a alimentação como aquela que se verificava tinha uma necessidade incrível de vitaminas. Também estas faltavam e de quando em quando apareciam uns concentrados de vitaminas em embalagens mas a quantidade era pouca e só eram distribuídas aos mais necessitados ou aos mais amigos.


A foto em cima são os graduados do 1º Pelotão da CCAÇ 1558. A foto de baixo é de soldados da CCAÇ 4141, em 1972, sentados no mesmo local da foto de cima. Curiosidades!!!


Sim, este posto de socorros era efectivamente uma miséria. Havia um soldado que precisava de ser injectado, faltava o álcool e etc...
Anda tudo cheio de micose, doença que só existia nos soldados de Portugal e no Ultramar. Em parte, esta epidemia que afectava o derme testicular era benéfica para aqueles que nada tinham que fazer.
Mas, deixemo-nos de brincadeiras. Eu direi que não era nada agradável ter que andar com toda aquela comichão no órgão genital, riqueza mais nobre que o homem poderá possuir.
Mas não era isto que queria dizer mas, eu começava a dissertar e por vezes chegava mesmo aquilo que nem tinha em mente, uma série de asneiras, Sucedia, que as pomadas, os pós, os líquidos antimicóticos não existiram para sarar esta enfermidade que era geral.
Estávamos mal servidos de tudo e doentes para tratar não faltavam.
Conforme os doentes, assim o tratamento o diferia, Um soldado poderia esperar mesmo que protestasse, o furriel era atendido se refilasse, o alferes era atendido sem refilar, o sr. capitão era atendido por alguém de bata branca e por último o 1º sargento era tratado no seu quarto. Contudo eu era de carne e osso e as divisas ou galões, pouco me diziam..
O Retiro dos Desenfiados

No Lunho, as operações militares eram feitas com muita regularisade, quer ao nível de Companhia, quer ao nível de Grupos de combate.
Alguns dos militares que eram escalados para participar numa rotineira operação no mato, de imediato desencadeavam um processo de "baixa" `enfermaria, que passou a ser  denominada o RETIRO DOS DESENFIADOS".. Este título foi dado por alguém e era muito apropriado.
Se não, vejamos, o militar que era "sorna" ou "reguila", que se queria safar das operações militares, picagem de itinerários ou capinagem, serviam-se das mais variadas simulações de doenças, para "baixarem" à enfermaria  (Retiro dos Desenfiados) para assim se safarem dos trabalhos acima descritos,
Como o "Centro de Saúde" não dispunha de material suficiente, para poder avaliar as maleitas dos militares, a maior parte das vezes o Enfermeiro era levado ao engano, embora com muitas reticências.
Acontecia, algumas vezes, que o enfermeiro tinha os seus amigos e sempre dava um jeito de os safar de irem para o mato. Afinal vivíamos num país onde as "cunhas" reinavam.
Cozinha para as praças no Lunho

No Lunho, a preparar o rancho geral
No Aquartelamento do Lunho havia as Messes de Oficiais e Sargentos e os Praças recolhiam a sua refeição na cozinha e iam comer na caserna em cima das suas camas.
Na cozinha existia um memorial com uma frase lapidar "DIETA OBRIGATÓRIA".
Efectivamente, como tinha amor à saúde cumpria à risca a máxima em causa.
Os funcionários (soldados cozinheiros) que me serviam eram os melhores do Lunho, faltava apenas o casaco branco e as boas maneiras de todo o empregado que se batia para a "gorja". Um deles ao  pedido de uma cerveja respondia com uma colher que trazia vinho

Os Praças. no Lunho, a caminho da caserna com a sua lauta refeição
 Para completar as refeições, dado que, o jantar era bastante cedo, preparavam lautos banquetes para as três horas matinais. Apetecia então, um frango no churrasco, desviado, mesmo em vida da machamba, Hoje um, amanhã outro, e lá se foram duas dúzias de galinhas. O jantar para quem era Praça, era servido muito cedo, cerca das 17 horas, porque não havia condições para ser servido com luz artificial, necessitando de se aproveitar a luz solar.
O meio era tão pequeno que nada se fazia sem se pensar na mínima coisa, embora insignificante, sem que todos os componentes deste grupo belicoso o soubessem. Chegavam-se mesmo a apontar feitos e não feitos a militares que até em tal nunca pensaram quanto mais executar.
Segundo informações colhidas e oriundas de fontes credíveis, contavam que não passavam pelo estreito só as galinhas, mas também os ovos que as mesmas fabricavam.
Os "licenciados" em guerra burocrática, dado que eram veteranos nestas andanças, serviam-se de uma rede informadora, que funcionava vinte e quatro horas, incluindo a hora a que os galináceos eram ingeridos, chegando mesmo a saber, quem e quantos participavam no banquete, os restos, que seriam provavelmente para os cães, fossem enterrados ou comidos. Restos que nunca apareceram, mas as galinhas desapareceram.


Sentinelas no Lunho
Os homens de sentinela, ou eram comprados, ou entravam na "dança", chegando mesmo a mudar de posto, para poderem coordenar melhor os movimentos dos "pilhas galinhas":


Texto de:
Bernardino Peixoto
Soldado da CCAÇ.4141







segunda-feira, 7 de outubro de 2019

MEMÓRIAS DA MINHA VIAGEM PARA A GUERRA COLONIAL 1972 a 1974





No dia 12 de Novembro de 1972, embarquei para a região militar de Moçambique, num avião dos transportes aéreos militar até à cidade da Beira. Onde desembarquei, à minha espera estavam viaturas do nosso exército, para me transportar para a Unidade militar da cidade, onde estive à espera de embarque para outro destino. No dia 15 de Novembro, embarquei com o 1.º escalão, num avião fretado, com destino a Nóva Freixo. No mesmo dia fui transportado, para a estação dos caminhos-de-ferro, onde embarquei num comboio velho, puxado a carvão, que se encontrava lotado, por homens, mulheres, e crianças Africanas, de raça negra. Fiquei estalado na carruagem da frente, junto à locomotiva, onde seguia o arrebenta minas. Segui um dia de comboio, para percorrer os sete centos e tal quilómetros de via-férrea, com os soldados que iam junto ao rebenta minas, a fazer a protecção, iam constantemente aos tiros de G.3 todo o trajecto, eu era chéca vivi momentos de muita ansiedade, e medo, vi várias carruagens tombadas nas ravinas, junto da via-férrea até Vila Cabral, capital da Província do Niassa, conhecida na gíria da tropa, (ESTADO DE MINAS GERAIS). Daqui eu ainda percorri cerca de 12 horas, os 60 quilómetros que faltavam até Meponda, junto do lago do Niassa, estrada em que foram “picados,” todos os palmos de terra, que os rodados das bérlietes, haveriam de percorrer. A coluna chegou ao seu destino, desembarquei e me dirigi para a linda praia, onde vi a água do Lago do Niassa, muito limpa sentei-me, descalcei as minhas botas, para refrescar os meus pés, que estavam tão cansados, de imensas horas de viagem. A refulgência do astro rei, deixara de brilhar, sobre a linda praia, para dar lugar à escuridão da noite, vislumbrei um guarda-sol, construído em palha, onde jantei, a dita (ração de combate), o alimento que me acompanhou nesta longa viagem. Depois deitei-me sobre o areal da praia, debaixo do guarda-sol, onde adormeci com o som das ondas do lindo Lago do Niássa. 19 De Novembro de 1972, quando o sol, se declinava suavemente, como uma bola de fogo, sobre as cálidas águas do Lago do Niássa, vislumbrei junto do areal, uma lancha da marinha, para transportar mais uma companhia de militares, que iam povoar as densas e perigosas matas do Lunho. O veículo que me ia transportar, seguiu a sua marcha, abandonou aquele local, dando lugar não menos belo crepúsculo, que encontrei com lividez, a lancha baloiçava suavemente, sobre o atapetado manto, formado pelas águas do Niassa. Vi o rosto dos meus camaradas, debruçados sobre o tombadilho do veiculo, observando atónitos, a algazarra que recrudescia, à medida que se aproximava de uma outra praia, a quem lhe chamavam Metangula. O ar trépido estampado, no meu olhar, quando desembarquei para terra, vi os soldados já velhinhos, que ali se encontravam, com o seu camuflado, todo gasto e roto, transportando nas mãos, latas e garrafas de cerveja. Saltando de alegria, ao verem mais uma companhia de tropas, com o seu camuflado reluzente, acabados de chegar da Metrópole. Aqueles velhinhos, nos deram vários conselhos, e nos avisaram que o Lunho ficava a Noroeste do Niássa, era um sítio muito duro de roer. Contudo no meu íntimo uma perene esperança, confidenciou-me que o meu regresso seria uma incerteza. Aproximou-se a hora de abandonar aquele local, fui encaminhado para uma das viaturas, que formava já na picada. Uma coluna auto as viaturas, começaram abandonar aquele local, segui o seu destino por uma picada muito perigosa, que cheirava a trotil e a morte, onde vi soldados apeados, na frente das viaturas, com uns paus onde tinham, uns pequenos ferros afiados na ponta, fazendo a picagem, para detectar algum engenho explosivo. Passei por um aldeamento, a quem lhe chamavam de Nova Coimbra, vi várias palhotas ,onde viviam homens, mulheres, e crianças de raça negra. Vi um aquartelamento das nossas tropas, que à nossa passagem gritaram bem alto! chéka é pior que turra! vai para o mato vai para o inferno do Lunho. A coluna lá seguiu em marcha lenta, e já se notava a refulgência do astro rei, a deixar de brilhar sobre a picada, foi então quando vi um aglomerado bairro de latas, em chapas de zinco, e outras em artesanal, em blocos de cimento, e tijolos, cercado por matagal. A coluna chegou ao destino, desembarquei segui para o interior do aquartelamento, onde encontrei no seu interior, e exterior, repleto de militares, emprestava há aquele ambiente, um misto e policromia, quadro irradiado das fardas camufladas, onde o brilho da minha farda ainda reluzente envergada, no meu corpo, sobressaía das do “Kokuánas” (velhos) já desbotadas com muitos meses de uso. Tinha acabado de chegar, era chéka de todo, era a palavra que em Moçambique designava por maçarico, o novato, o recém-chegado. Estava no período de adaptação à guerra propriamente dita, até ali não passava de teoria, depois as coisas foi mesmo a sério, muito diferente de tudo o que eu tinha aprendido, durante meses de prática, no pacífico rectângulo Europeu. Agora era mesmo a minha vida que se encontrava em jogo. Os conselhos dos velhinhos, eram escutados atentamente, cada um procuravam tirar, destes conselhos o maior partido possível. “Velhinhos” eram os militares que nós chékas, íamos render às respectivas missões, e que já tinham muitos meses de guerra, e por isso muita experiência. Ouvi-los era um ato de muita inteligência, e pelo menos me poderia trazer alguma vantagem. Os heróis do arame farpado, limitavam-se a fazer as tarefas, que o Comandante da Companhia designava. 


O corneteiro, Bernardino Peixoto, à direita, no seu posto de sentinela
Eu Bernardino Peixoto tinha a especialidade de corneteiro, fui colocado, num grupo de combate fiz guarda à ponte do Lunho, fiz picagens para detectar minas e armadilhas, fiz protecção à pista de aviação, patrulhamentos, capinagens, e parti para o mato à procura do inimigo, para não se aproximarem, do bairro de latas. Ouvi as granadas do morteiro 82, a estoirar perto de mim. Mas a tropa era assim mesmo, manda quem pode, e obedece quem deve. A companhia de caçadores 41 41 os gaviões, foi colocada no pior buraco mais famoso do Niassa, havia elementos, que com a sua inteligência, passando a graxa ao chefe para se desenfiar da guerra, passando, uma verdadeira instância turística. A minha indignação, ia para além dos directamente visados nesta artimanha. O Lunho era um foco de civilização, onde se conseguia evitar a morte. No Lunho encontrei um conterrâneo, que era de São Paio Ermesinde, de nome “Carlos Outeiro” da Companhia de caçadores 33 92, companhia que eu fui render, que à minha chegada me abraçou, me conduziu à sua caserna, e me ofereceu a sua cama, e uma caixa em madeira, para eu colocar os meus haveres. Fiquei triste quando o meu conterrâneo, teve de abandonar aquele local, e seguir outro destino com os seus camaradas. Passados 45 anos, nos encontramos dia 08 de Abril de 2017, no Maia Shopping. Demos um grande abraço e conversámos relembrando todos estes momentos

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