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Livros da guerra colonial

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domingo, 20 de outubro de 2024

CRÓNICA DE CAMILO DE SOUSA GUERRILHEIRO DE FRELIMO

 

 Setembro de 2024. Após 50 anos reencontro de D.Dolores Ferreira Câmara com Camilo de Sousa

Decorria o mês de Julho de 1974 e eu estava na Base Moçambique A (a chamada Base Central). Estavam também na Base os camaradas Raimundo Pachinuapa (Secretário Provincial de Cabo Delgado, responsável máximo da região) e Aníbal Malichicho, Comissário Político da Província.

Numa tarde, fui chamado ao comando da Base para uma reunião com o camarada Raimundo Pachinuapa e outros camaradas onde fui informado que um grupo de guerrilheiros das nossas "zonas avançadas" tinha capturado, em Morrola, na região agrícola de Montepuez/Namuno, um casal de agricultores portugueses bem como a sua filha menor e que a mulher estava grávida. Tinham caminhado durante uns dias dessa região até à zona de Muidumbe estando retidos numa sub-base de nome Cahora Bassa.

Neste encontro recebi a tarefa de ir ao destacamento de Cahora Bassa para apaziguar esta família e transmitir parte do Comando Provincial que nada de mal lhes seria feiti.

No dia seguinte, ainda o sol não havia nascido e já estava a caminho da sub-base acompanhado do meu guarda-costas. Caminhámos durante cerca de três horas o que significava cerca de 15 quilómetros até à base onde  era esperado pelo comandante do destacamento.. Reparei que perto de umas casas afastadas estava o casal de portugueses e a sua filha vendo-me chegar ao comando.

Depois de uma breve conversa com o comandante trouxeram os reféns absolutamente amedrontados que me foram apresentados e a quem cumprimentei.

Acharam muito estranho encontrar um militar da FRELIMO da minha idade (21 anos), da minha cor e falante de português sem sotaque moçambicano. Isso deixou-os ainda mais cépticos em relação à sua sorte.

Camilo de Sousa, em Nachingwea (Tanzânia) no final do treino militar
Falei com eles e transmiti a mensagem do Comando Provincial de que nada de mal lhes aconteceria. Trazia comigo alguma ração de combate capturadas ao exército português durante emboscadas e convidei-os a tomar umas latas de sumos da ração e dei à menina uma lata de chocoleite. Informei-me  sobre a sua alimentação e das condições de acomodação.

Antes de partir deixei algumas recomendações aos que tomavam conta dos reféns. À saída da sub-base o refém português segredou-me que qdouando me viu chegar pensou que, pelo meu aspecto, eu era cubano e vinha com a missão de executá-los o que gerou uma risada geral.

Só voltei a encontrar esta família durante o governo de transição numa visita governamental aos distritos de Montepuez e Namuno onde visitámos a localidade de Morrola.

Autor texto:

Camilo de Sousa









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