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Livros da guerra colonial

Miandica terra do outro mundo


segunda-feira, 30 de novembro de 2020

XINDORILHO, 9 DE AGOSTO DE 1974

 JOSÉ CARLOS CORREIA MARTINS

1º CABO PÁRA-QUEDISTA 601/73

"OS ÚLTIMOS TAMBÉM FAZEM PARTE DA HISTÓRIA"

Era uma segunda-feira, 9 de Agosto de 1974, algures na picada do Sagal (Esposende) - Mueda, na zona do Xindorilho, deu-se uma emboscada e o militar da frente é ferido com gravidade, 46 anos passados são datas que ficam marcadas para toda a vida. Hoje, mais uma vez como seu irmão não posso deixar de agradecer aos camaradas que o assistiram no terreno após ter sido ferido.          Ao de helicópteros Comandante Joaquim Oneto. Ao mecânico Abdul Osman, por  o terem socorrido debaixo de fogo. À equipa médica do Hospital em Mueda, chefiada pelo Drº Linhares Furtado. A todos os camaradas que ofereceram o seu sangue,hoje já não está entre nós, partiu em 2016. em seu nome. Obrigado!!!


Bernardino Martins 




















Texto de Bernardino Correia Martins; Irmão de José Carlos Correia Martins, Soldado da 29ª Companhia de Comandos 

                       " OS ÚLTIMOS TAMBÉM FAZEM HISTÓRIA"

José Carlos Martins

José Carlos Correia Martins, Sócio da Associação de Pára-Quedistas do Algarve nº 251, nascido a 25 de Janeiro de 1952 e criado numa pequena aldeia piscatória (BURGAU) do Barlavento algarvio, no concelho de Vila do Bispo.                                                                                                               Ingressei nas Topas Pára- Quedistas no C.C.P. em Tancos a 29 de Janeiro de 1973, na 1ª incorporação , 4ª C.A. Depois de ter feito percurso até chegar à tão desejada Boina Verde, fui colocado em Moçambique, no Batalhão de Caçadores Pára-Quedista 32, 2º Pelotão, 2ª Companhia, com o nº601/73.  Fiz várias operações nos Distrito de Tete e Cabo Delgado.





















Eis a razão dos últimos fazerem História, porque fui  o último Pára-Quedista do B.C. P. 32 a ser ferido, numa difícil operação na picada do Sagal (Esposende), onde sofremos várias emboscadas, como muitos camaradas ainda as recordam, aquando da evacuação da Companhia do Exército, do Sagal (Esposende) para Mueda.



















O grupo de combate ao qual eu pertencia era comandado pelo Alferes Morgadinho e, se a memória não me falha, foi a sua primeira operação. O outro grupo era comandado pelo Alferes Sanches e a Companhia era comandada pelo Capitão Melo de Carvalho. Tínhamos como número de código 
Águia.                                                                                                                                                        No dia 9 de Agosto de 1974, depois de algumas horas de progressão, sofremos mais uma emboscada onde eu era o homem da frente e fui alvejado com um tiro no tórax, atingindo-me um pulmão e o fígado, mas graças à rápida e eficaz evacuação feita ainda debaixo de fogo o mecânico do helicóptero de nome Abdul Osman  e a intervenção cirúrgica a que fui submetido, feita pelo Drº Linhares Furtado e da sua equipa da qual não sei os nomes, sem este espírito de grupo e camaradagem, não estaria aqui a contar a História do Último.
Abdul Osman
















Assim aqui vai o meu agradecimento muito em especial a estes elementos e a todos os camaradas de armas que muito me ajudaram das mais diversas formas, uma das quais, muito especial, foi darem-me o sangue necessário para me salvarem a vida.
O meu obrigado a todos, que nunca foram e jamais serão esquecidos.





































Texto de: 
1º Cabo Pára-quedista 601/73
José Martins







segunda-feira, 16 de novembro de 2020

CHEIAS NO RIO ROVUMA




RELATÓRIO DE ACCÃO Nº 10/71

CHEIAS DO RIO ROVUMA
 influencia das Zona de actuação -- Quartel de TARTIBO (NOVA TORRES)
Período -- 11 Fevereiro 1971 a 12 de Maio de 1971
Comandante: Capitão de artilharia. José Fernando Jorge Duque
Companhia de Artilharia 2745.

1. MISSÃO PARTICULAR
--Ocupar a todo o custo a zona defenida na missão da Operação NOVO RUMO, mudando de posição sempre que as inundações o impusessem mas sem abandonar a zona.
 2. ACTIVIDADE PREPARATÓRIA
- Em Janeiro de 1971 após a primeira inundação, foi informada QG/3ª REP, COM. SEC. "B" e BART 2918 da situação e perspectivas de inundação sugerindo retirada para NANGADE (m/msg Relâmpago 3013 de 102000BMAIO71) ao que o Com SEC "B" ordenou conforme m/msg Relâmpago 76/C de 1104OZJAN71 que a companhia deveria permanecer em local a Sul de Metumbié caso o  Rio não descesse.

Cozinha em Nova Torres.Ao fundo a Tanzânia
-- Por contacto directo com o EXmo, 2º Comandante do Com. Sec. "B" ficou assente que após a cheia de 10 de Janeiro caso o rio ROVUMA descesse voltaria ser ocupada a primeira posição e caso contrário seria ocupada a margem Sul do Rio Metumbué.-- Nos termos das ordens recebidas e em virtude do rio Rovuma ter descido o nível das suas águas foi ocupado a primitiva posição em 12 de Janeiro de 1971.
-- Em 13 de Janeiro os níveis das águas do rio Metumbué e um braço do rio ROVUMA subiram por forma  que a companhia ficou sem comunicações com o exterior a não ser por colunas apeadas e por helicópteros e assim se manteve essa situação até ABRIL de 1971
3. EXECUÇÃO
-- As águas do Rovuma a partir de 12 de Janeiro de 1971 subiam e desciam periodicamente influenciadas por três factores:
- Chuvas a montante do quartel
-- Marés da Foz que por vezes dificultavam o escoamento das águas do ROVUMA
-- Luas, coincidindo normalmente o maior nível com a passagem da lua no zénite do lugar tal situação obrigou o comando a elaborar gráficos do nível das águas, estatísticas no sentido de prever com a maior antecedência possível a inundação do Quartel e portanto a necessidade de evacuar tal, posição, dentro do permisso que tal mudança teria de ser efectuada a pé e que havia material que não poderia ser transportado (viaturas etc...) pois que as comunicações se achavam cortados logo à saída do QuarteL, por um braço do ROVUMA.
-- Foi elaborado um plano de emergência com atribuição de árvores e material de sobrevivência, para caso de cheia inesperada, com treinos do pessoal com o fim de evitar desorganização que poderia provocar  alguma catástrofe.
-- Foi decidido abandonar a zona para ocupar um local mais próximo possível apenas em última instância pois que:
-- Era impossível a evacuação de muito material que a abandonar a posição podia cair nas mãos do IN.
-- Em última estância, quando a vida  ali fosse impossível para as NT também o seria para o IN, e portanto as águas funcionam também como elemento de segurança.
-- A ocupação de uma zona o mais próximo possível do primitivo Quartel, permitiria uma protecção relativa ao material que ali teria de ser deixado,
-- Em 23 de Janeiro de 1971, uma tempestade de chuva e vento ciclónico assolou o Quartel provocando diversos danos no material.
-- Em 11 de Fevereiro de 1971, as águas do ROVUMA subiram de modo a fazer prever inundação pelo que se efectuou uma mudança da maioria do material que podia ser arrastado pelas águas para um local mais seguro, 300 metros a sul da inicial posição. Na realidade as águas do rio ROVUMA transbordando inundando  parte do Quartel.
-- Em 13 de Fevereiro de 1971, voltou a ocupar-se a primitiva posição pois a de alternativa não tinha condições de defesa e as águas do ROVUMA voltaram a descer.
-- Em 16 de Fevereiro de 1971, nova subida de águas que no entanto não exigiram mudanças.
-- Em todo o período eram frequentes tempestades de água e vento que chegaram a arrancar chapas das barracas de zinco e arrancava completamente as barracas de lona.
-- Em 21 de Fevereiro de 1971, nova subida de águas que inundou os terrenos limítrofes. Foi pedida evacuação via helicóptero do manteria Cripto e documentos Secretos e confidenciais do comando que teve lugar em 22 de Fevereiro de 1971. A ponte do rio METUMBUÉ foi destruída pelas águas nesta ocasião.
-- Em 25 de Fevereiro de 1971, nova subida de águas desta vez ameaçadora que obrigou à evacuação total da posição,porque o rio formava vários braços e ainda por apenas estarem presentes no Quartel o 2º Grupo de Combate. A mudança tornou-se uma operação muito morosa e difícil. Utilizaram-se barcos que tinham de ser descarregados nos locais onde os mesmos não podiam navegar efectuando o transbordo nesses locais.
-- Em 26 de Fevereiro de 1971,reformou-se o  dique que vinha sendo construído há semanas para ganhar tempo e permitir a mudança da maioria do material.. Em 26 de Fevereiro de 1971 jás as águas tinham um nível superior ao Quartel e cerca  26 de Fevereiro de 1971 apesar de todos os esforços e forças da água rompeu o dique, avançando pelo Quartel em torrente com muita força a arrastando  à sua passagem tudo quanto encontrava, incluindo alguns militares que trabalhavam no dique e que sentira dificuldades para não serem levados rio abaixo.
-- Em 27 de Fevereiro de 1971, estava mudada a maioria do material, tendo sido dada a seguinte prioridade:
Documentos;Armamento e Transmissões; Munições; Rações de Combate; Restante material de guerra; Bagagem individual; Diversos.
-- Grande parte das ocorrências de material foram devidas ao facto de a mudança ter sido iniciada durante a noite e devido à ausência de parte dos efectivos que deu pouco rendimento ao trabalho e dificultou a reunião dos artigos distribuídos individualmente aos militares ausente do Quartel por motivos operacionais.
-- Em 27 de Fevereiro de 1971 foi ocupada a posição 700 metros a Sul da antiga posição, a mais elevada de toda a região onde se montou estacionamento de emergência.
-- Em 28 de Fevereiro de 1971, chegaram ao rio Metumbué 2 Grupos de Combate da CCAÇ 3309 para rendição e reabastecimento tendo-se feito uma coluna de barcos através da picada submersa para efectuar o movimento. Nessa ocasião já a transposição do rio Metumbié com barcos foi muito difícil devido à corrente e troncos por ela transportados.
-- A Companhia passou a ser reabastecida de pão através de avião e helicóptero.
-- O nível das águas prosseguiu a sua subida até que em 16 de Março de 1971 toda a extensão desde o rio Metumbué até ao Rovuma ficou submersa e portanto a posição de emergência igualmente submersa a cerca de 3,5 Kms do primeiro local em terreno seco, tornando a situação particularmente difícil, nomeadamente:
-- Obrigando o pessoal a dormir sobre árvores
-- Impossibilidade de aterragem de helicópteros
-- Impossibilidade de confecção do rancho.
-- Grande prejuízo de material, munições, géneros devido à inexistência de qualquer local seco que não fossem os ramos das árvores.
-- Grande quantidade de cobras que ali se reuniram que se refugiavam igualmente sobre as árvores.
-- Impossibilidade de defesa eficiente.
-- Tentou-se a passagem para o sul do rio Metambué com barcos mas não se conseguiu devido à pouca profundidade nalguns locais e grande corrente  que arrastava troncos.
-- Em 20 de Março de 1971, tentou-se de novamente para o Sul do Metambué, visto que as águas haviam subido mais, possibilitando o uso de barcos com motor em toda a extensão do percurso (3,5 Kms). Extraviou-se a hélice do motor pelo que o barco foi arrastado da corrente e com grande dificuldade pôde ser amarrado a uma árvore. Pedido um helicóptero para lançar a hélice do motor, essa operação teve em 21 de Março de 1971 Durante todo esse período o barco e o pessoal permaneceram junto ao rio Metumbué sem qualquer hipótese de vencer a corrente do mesmo. Talvez devido ao ao cansaço houve um alarme falso da presença do IN na margem oposta do rio Metumbué, que afinal se verificou serem animais. Não obstante alguns elementos das NT abrirem fogo e alguns caírem à água tendo-se agarrado a árvores ao serem arrastados na corrente. Algum material foi extraviado nesta ocorrência.
Em 21 de Março de 1971, atingiu-se a margem sul do rio Metambué onde se montou um ponto de apoio DAMA) para reunião de pessoal e material. Durante a transposição do rio Metambué por avaria do motor do barco o mesmo foi de encontro a pau afiado que criou dificuldades perdendo-se algum material.
O Aquartelamento de Nova Torres totalmente alagado
Em 22, 23 e 24 de Março de 1971, prosseguiu a mudança para Sul do rio Metambué com barcos dos quais apenas um tinha motor.
-- Fim evitar que o IN julgassem terem as NT abandonado o antigo quartel, durante o dia era patrulhada a zona com pessoal sobre colchões pnrumáticos, lançadas granadas de mão e potes de fumo e de noite colocado um candeeiro lanterna em local visível.
Em 03 de Abril 1971, fêz-se a rotação das forças que guarneciam o ponto de apoio (DAMA) que funcionava simultâneamente como local de descanso do pessoal.
Em 04 de Abril 1971, o ROVUMA iniciou a descida verificando-se que baixava 50 cm.
Em 09 de Abril 1971, iniciou-se o regresso à antiga posição, afim de preservar do IN o material que não havia sido arrastado pela corrente. Como medida de segurança manteve-se o ponto de apoio na margem Sul do tio Metumbié denominado em código com o nome de (DAMA).
Em 11 de Abril 1971, Terminava a mudança da posição intermédia denominada FLECHA para  a primitiva posição denominada QUEBEC.
Em 15 de Abril 1971, depois de consultadas as efemérides e o BATALÃO DE NEGOMANO. confirmada a descida do nível das águas sem qualquer possibilidades de nova subida iniciou-se o abandono de DAMA (margem sul do rio Metumbié) para regresso a QUEBEC (posição inicial).
Em 20 de Abril 1971, considerou-se a situação estabilizada excepto a ligação com o rio Metumbué que ainda era muito difícil devido a manterem-se algumas zonas inundadas e as outras com muita lama..
Em 12 de Maio de 1971, a CART 2745 foi rendida pela CCAÇ  3309 que já dispunha no local  2 Grupos de Combate  em reforço á BART 2745. (Operação Baldeação)
11 de Fevereiro e 1971. retirada da CART. 2745 do aquartelamento de
Nova Torres devido às cheias poucos dias antes da CCAÇ 3309 ter chegado
a Nova Torres (Posição DAMA)
4. ESTADO DAS UNIDADES
A. Pessoal
(1) A situação vivida durante o período provocou desgaste físico e psíquico, em especial devido aos seguintes factos:
-- Situações de perigos criadas pelas águas.
-- Permanência de muitos dias dentro de água que originou toda a sorte de doenças como bronquites, micoses e em especial reumatismo.
-- Grandes danos de material e artigos pessoais que afectaram o estado psíquico em geral e em especial os responsáveis pelo material que com tanto cuidado até aí procuravam manter em devida ordem.
-- Grave prejuízo para a vida administrativa da Unidade.
(2) Pessoal que se distinguiu
Alferes Miliciano 063633468, António Joaquim Castro Dias Pires, porque na ausência do Comandante da Companhia durante a operação "ORFEU 1", no comando interino da Companhia soube manter o moral do pessoal e vivendo em situações particularmente difíceis resolver problemas delicados, como o foram todas as operações nas inundações.
5. IMPRESSÕES RECOLHIDAS SOBRE O MEIO
O quartel de TARTIBO (NOVA TORRES) não oferece qualquer garantia  de segurança pois:
-- Todos os anos fica de comunicações cortadas, mesmo que fosse construída a ponte sobre  o rio Metumbié
-- Fica periodicamente submersa toda a zona entre o ROVUMA e o METUMBIÉ, uma extensão de 5 a 6 Kms de largura como nno corrente ano aconteceu.
6. CONCLUSÕES E PROPOSTAS
Julga-se necessário construir novo QUARTEL a Sul do Rio METUMBUÉ para a Companhia de TARTIBO e efectuar a mudança até Outubro de 1971.













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