O malogrado ciclista Joaquim Agostinho integrou a Companhia de Cavalaria 754 "Sete de Espadas)" que andou por vários locais deste Distrito, designadamente, Nova Coimbra, Lunho e Miandica. Foi em Vila Cabral que começou a dar as "primeiras pedaladas", participando em provas de ciclismo das quais saía sempre vencedor..
Joaquim Agostinho e a sua mascote em Nova Coimbra
1965 no Lunho, Joaquim Agostinho 0 2º à direita a transportar mais um cadáver
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UM PILOTO DA FORÇA AÉREA PORTUGUESA ANDOU DESAPARECIDO NO MATO DURANTE DEZ DIAS?
O avião Dornier que pilotava saiu, no dia 24 de Agosto de 1966, de Vila Cabral, com destino a Valadim e Pauila, para entregar o tão desejado correio.
A aeronave não chegou ao seu destino dado ter-se registado um problema técnico, pelo que o piloto tentou uma aterragem de emergência, não muito bem sucedida, em pleno mato.
A partir do momento em que se confirmou o seu desaparecimento foram encetadas as pesquisas aéreas no sentido de localizar a DO, o que só foi conseguido no dia 27. Entretanto, já andavam no terreno Grupos de Combate das CART. 1540 e 1541. No dia 28, muito cedo, sai outro GC da 1541 em direcção ao local onse se encontrava o aparelho sinistrado. Ali chegados, a 29, não encontraram rastos do piloto. Todavia, dentro da carlinga estava uma das suas armas de defesa, o que levou a concluir que os guerrilheiros da FRELIMO não abordaram o avião, caso contrário teriam levado a arma. Finalmente, as intensas buscas, por parte dos GC já citados, ti 1968
Registe-se o enorme empenhode todo o pessoal das aludidas Companhias que procedeu às buscas . Tal facto foi registado por carta enviada ao Comandante do batalhão de Artilharia 1885 pelo Comandante do Sector "A" (1)
(1) Estes elementos foram extraídos da Revista "Mais Alto" nº 224 Nov/Dez 1968, num excelentee e pormenorizado artigo intitulado "Dias longos de Ansiedade e Esperança" da autoria do Coronel José Mendonça Prazeres , Comandante do BART. 1885
Evacuação do piloto para Vila Cabral. na abertura lateral vê-se a mão aberta apoiando a face
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Existiam várias povoações cuja toponímia original foi substituída por nomes de localidades e lugares da Metrópole, algumas delas ligadas às Unidades que ali se formaram.
Deixamos os nome das que temos conhecimento:
Miandica - Estremoz-a-Nova
Mevchuma - Nova Coimbra
Cuamba -Nova Freixo
Lipirichi -Olivença
Congerenge -Estação- Belém
Outras localidades alteraram a sua toponímia para nomes de personalidades em sua homenagem:
Licchinga - Vila Cabral (1)
Metangula - Augusto Cardoso (2)
Mavago - Valadim (3)
Gurué - Vila Junqueiro (4)
(1) José Ricardo Pereira Cabral, antigo Governador-Geral de Moçambique
(2) Augusto Cardoso, Foi um notável Oficial de marinha e cientista ligado à região
(3) Eduardo António Prieto Valadim Foi Oficial do Exército Português. Comandou uma expedição a vários Régulos do Niassa em 1884
(4) Saraiva Junqueiro, grande impulsionador da cultura do chá na região.
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Em Maniamba, entre 1967 e 1968, o "Drº Oliveira Salazar" prestou serviço na Companhia de Caçadores 1560.
Da Esquerda para a direita: Alferes Drº Poças, Alferes Oliveira e Alferes Salazar. Curioso
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O Lunho era apelidado pelas piores razões, de "capital do Estado de Minas Gerais" .
Este epíteto foi-lhe atribuído pelo facto de, na região, a FRELIMO ali ter implantado grande número de minas, quer antipessoais, quer anticarros.
As condições de vida no Lunho eram de tal maneira degradantes., que era hábito os operacionais das Unidades, sediadas na região, dirigirem aos seu camaradas, ditos do "arame farpado", a seguinte expressão: "VAI PARA O LUNHO MALANDRO""
Destacamento "X" situado entre Nova Coimbra e o Lunho. Aqui foi feito o célebre HINO DO LUNHO. A fumar o Amadeu acompanhado de Furrieis da CENGª1531 e da 2ª CENGª de Moçambique
************** HINO DO LUNHO Letra: Alferes Carvalho "100" da 2ª CENGª de Moçambique. Música de: Zeca Afonso "Os Vampiros" O Lunho foi um dos locais mais duros da guerra no norte de Moçambique
O Hino do Lunho, foi feito em Julho/Agosto de 1967 na picada Nova Coimbra-Lunho
O Alferes Carvalho "100" com uma granada na mão
Os primeiros militares no aquartelamento no Lunho. O Alferes Carvalho "100" de pé com bigode
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Aconteceu um caso insólito, no dia 18 de Agosto de 1969, às 5 horas da manh, tendo como protagonistas três intervenientes: o Francisco, o Pacheco e o Leão
FranciscoPachecoLeão
O 4º Pelotão da Companhia de Artilharia 2388, sediada no Révia, encontrava-se no mato efectuando uma das muitas operações de rotina de que era incumbido.
Ao terminar mais um dia de patrulhamento,, aquela força escolheu o local achado conveniente para pernoitar. O pessoal foi colocado em círculo e de costas viradas para o centro do mesmo. Pela madrugada, a Lua escondera-se.
Descrito o cenário, vamos aos factos: O Francisco ao terminar o turno de sentinela, comentou com o seu substituto parecer-lhe ter ouvido uns ruídos semelhantes aos produzidos por um le~so. As suas suposições não foram levadas em linha de conta, tendo aquele seu camarada larachado, inclusive, com a situação, iniciando de seguida o turno para que fora escalado.
O Francisco dirigiu-se desconfiado, para o locl de dormida, onde partilhava as mesmas mantas com o camarada Pacheco.
Deitado de costas e pernas flectidas, tendo como cabeceira as botas, que entretanto descalçara, enquanto o sono não chegava, ia meditando no barulho anteriormente
A certo passo, qual não é o seu espanto quando observa a manta a deslizarrapidamente sobre as pernas. Ao olhar para o lado, mais surpreendido ficou por verificar queo Pacheco desaparecera Atónito, levantou-se num impulso e vislumbra um enorme vulto que levava de rojo o seu camarada, que ainda não despertara totalmente do sono que desfrutava. O Francisco apercebe-se que o companheiro estava a ser arrastado por um enorme leão, pelo que desata aos gritos, ao mesmo tempo que atira uma bota ao animal,batendo-lhe inclusive, com as próprias mãos. A fera, que abocanhara as duas canelas do malogrado Pacheco, largou-o momentaneamente, mas logo de seguida desferiu nova dentada cravando-lhe os dentes no músculo da perna. A vítima já consciente do perigo que corria, gritava a plenos pulmões de dor e pânico. O Francisco não deixava de utilizar todas as "armas" ao seu alcance para afugentar o felino que, vendo-se "acossado", largou a "presa", afastando-se de seguida, mas não muito convencido.
Entretanto, e já com o alvoroço instalado no acampamento, houve a preocupação imediata de ver o estado em que se encontrava o Pacheco, verificando-se que o seu estado era preocupante, pois a segunda dentadado leão provocou-lhe profundos orifícios onde jorrava sangue em abundância. O tendão de Aquiles encontrava-se exposto.. Em suma, o leão tinha provocado grandes danos na perna do malogrado Pacheco.
Prestados os primeiros socorros, os possíveis, tentou-se o contacto via rádio com a sede da Companhia, para se proceder à evacuação por via aérea, só que o rádio não funcionou, pelo que tiveram que recorrer à única alternativa possível, transportar o ferido às costas para o local, previamente combinado, onde as viaturas recolheriam o G.C. o que viria a acontecer só por volta das 15 horas. Até chegar ao ponto de encontro foi feita uma longa e dolorosa caminhada com a duração de 4 horas.
Os dois companheiros, o Pacheco e o Francisco, acabam de acordar. Desta feita não foram importunados
Chegados finalmente ao aquartelamento , foi pedida a sua evacuação, mas a Força Aérea, dado o avançado da hora, recusou-se a voar até ao Révia , Eles, F, não arriscavam um milímetro. Quantas mortes não aconteceram devido a este facto.
Finalmente no dia seguinte, 28 horas depois do "ataque do leão" o sinistrado foi transportado para o Hospital de Nampula, onde permaneceu algum tempo, voltando depois à actividade operacional na sua Unidade, a CART. 2388.
Um Leão também atacou em Metangula
Domingos Pereira, foi soldado condutor da CCS do Batalhão de Caçadores 1891 e deu-nos o seu testemunho do ocorrido a 10 de Maio de 1967.
Encontrava-me de convalescença no quartel em Metangula devido à viatura que conduzia a 1 de Maio daquele ano, perto de Nova Coimbra, ter rebentado uma mina.
Um autóctone e o seu filho com 9 anos encontravam-se à pesca, com rede, junto às margens do Lago Niassa e próximos do Postos de sentinelas que haviam à entrada de Metangula de quem vinha de Nova Coimbra e de Maniamba.
De repente foram surpreendidos por um ataque dum leão. Alertados pelos gritos os sentinelas foram ver o que se passava e depararam com um homem muito ferido no peito e no pescoço. Do quartel vieram reforços que transportaram o ferido para o hospital da Marinha que havia em Metangula. O ferido relatou então, que tinha lutado com o leão para salvar o filho, mas tal foi impossível depois de levar uma patada do leão que o deixou bastante ferido, ferimentos esses que o levaram à morte. Uma patrulha comandada pelo Alferes Presa na qual eu me incluía foi à procura do jovem e do leão. Não encontrámos quaisquer vestígios e conduzimos os soldados para os seus Postos ,3 em cada Posto.Como era de rotina às 24 horas de cada dia, o pessoal do Exército era rendido pelos Fuzileiros e foi quando estes se dirigiam para os Postos de vigilância, que ouviram tiros e lá chegados viram um soldado muito ferido e transportado aos ombros pelos seus 2 camaradas. O ferido foi conduzido para Metangula, daqui para Vila Cabral de onde foi transportado para a Metrópole. Os camaradas contaram que,lutou com bravura e o leão só fugiu quando foram disparados os tiros. Felizmente, recuperou e ainda hoje faz a sua vida normalmente.Atacadas as sentinelas, o Cmdt. do Batalhão deu ordens ao pessoal sob o comando de um Oficial e com a ajuda de 1 polícia e de vários Cipaios a “passar” a pente fino a serra em busca do jovem autóctone e se possível abater o leão. Depois de muitas buscas o animal foi encontrado debaixo duma árvore. O polícia aproximou-se o mais possível e desferiu-lhe um tiro que o matou de imediato. As buscas para encontrar o jovem foram retomadas e ao cair da noite foram dadas como encerradas e chegando-se à conclusão que tinha sido devorado pela fera. Este ataque era motivo de muita conversa e curiosidade e quando dias depois fomos recolher o animal, chegámos à conclusão que devido ao aspecto esquelético do animal, este devia ser muito velho e por isso abandonado pelo seu bando. A fome levou-o a atacar os humanos.
CURIOSIDADES
1964. Primeiros "aquartelamentos em Miandica
Mais uma "caserna" em Miandica
1964, Messe de Oficiais da CCS do BCAÇ 598
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1967. Nova Coimbra, enfermaria da CCAÇ 1558
1965. Lunho refeitório da CCS do BCAÇ 598
IGREJAS
Em Novembro de 1967 em Miandica, o 1º GC da CCAÇ 1558, nada tinha. As beatas deitadas para o chão já tinham desaparecido. Correio nem vê-lo, comida alimentação má e muito escassa. O desespero começava a assaltar aqueles bravos homens. Até que o saudoso Alferes resolveu enviar uma mensagem para o MNF em Vila Cabral a pedir uma Santa que Rogasse por Nós. O seu pedido foi de imediato aceite e com a Santa viajou de helicóptero o correio, o tabaco e alimentação. A Santa foi baptizada com o pomposo nome de Nossa Senhora De Miandica, Rogai Por Nós A 5 de Abril de 1968, Miandica foi abandonada por um GC da CART. 2325, que tinha rendido a CCAÇ 1558. Em boa hora levaram a Santa para o Lunho onde construíram a famosa Capela dos Bidons
Lunho 1968. Capela dos Bidons
Lunho 1968. Capela dos Bidons. No lado direito em cima de uma bidão pode ver-se a Santa
Igreja deMassangulo
Interior da Igreja de Messangulo
Igreja de Vila Cabral
Igreja Anglicana de Messumba
Igreja de Unango
PONTES E PONTÕES
Ponte velha do Lunho
Nova Ponte do Rio Lunho
A nova ponte do Rio Lunho destruída pela FRELIMO
Abril de 1967. Picada Maniamba-Nova Coimbra. Minutos depois desta foto, os militares de camisa preta (Fuzileiro) 1º à esquerda e o 1º ( Filipe da CCS do BCAÇ 1891) com uma enxada na mão deslocaram-se ao leito do Rio, tendo o Filipe pisado uma mina antipessoal e ser amputado de uma perna. O Fuzileiro ficou ferido
CCAÇ 1558. Dezembro 1967 - Picada Lunho-Nova Coimbra
1967 CENGª 1531. Construção de pontão na picada Nova Coimbra - Lunho
1967. 2ª CENGª de Moçambique Picada Lunho-Nova Coimbra, após o rebentamento de uma minna
1967. 2ª CENGª de Moçambique. Nova Ponte do rio Lunho
1967 CENGª 1531. Construção de pontão na picada Nova Coimbra - Lunho
CART. 2388. Passagem do rio Lugenda em Murama
Passagem por teleférico em Muranda sobre o Rio Lugenda
CCAÇ 2662 - Picada Nova Coimbra-Lunho
CCAÇ 2667 - Ponte sobre o Rio Lumbiza entre Unango e Macaloje
1968 2ª CENGª Moçambique Rio Luangua em Nova Viseu
1968 2ª CENGª Moçambique Ponte do rio Luangua em Nova Viseu
Decorria o ano de 1962 quando o
então Major Costa Matos, foi nomeado governador da Província do Niassa. Nessa
altura já Daniel Roxo percorria aquele território em actividades cinegéticas,
acompanhado de um pequeno grupo de autóctones que o ajudavam nas suas sortidas
pelas matas do noroeste moçambicano.
Natural de Lourenço Marques, o
Major Costa Matos revelou-se o governador provincial que melhor entendeu o
problema que o país então atravessava, percebendo que o conflito latente nas
Províncias Ultramarinas, só se resolveria se fosse possível organizar as
populações de forma a retirar à Frelimo o controle psicológico das mesmas. Isto
equivale a dizer que o governador foi talvez dos primeiros a perceber que
ganhava a guerra quem ganhasse a realidade local, ou seja, as populações. Costa
Matos havia feito parte de um conjunto restrito de oficiais que observaram na
Argélia, as técnicas de contraguerrilha. Associou a esse facto o seu enorme
conhecimento de África e uma capacidade invulgar de decisão assertiva.
O Major Costa Matos a acompanhar o Presidente Américo Tomaz
Costa Matos travou uma luta que
foi antes de mais nada, contra o tempo. O conflito que decorria em Angola há
mais de um ano era um mau presságio, e o governador sabia que se urdia em
Dar-es-Salam, uma teia de conspiração para tornar possível uma guerrilha no
interior de Moçambique. A fronteira norte era a mais vulnerável. O Niassa, de
muito baixa densidade populacional, oferecia zonas onde os guerrilheiros
facilmente poderiam construir os seus santuários, tão ao jeito dos ensinamentos
das academias chinesas e soviéticas. A única forma de o impedir seria apostar
na antecipação à acção psicológica-política da Frelimo.
A primeira preocupação do novo
governador é criar um sistema de informações local. Conta para isso com o apoio
da 2ª Secção do Quartel General em Lourenço Marques, por onde terá de resto
passado antes de ser nomeado. São enviados para o Niassa três homens,
destinados a comandar pequenos grupos de sipaios. Estes militares deviam
fazer-se passar por caçadores profissionais, financiar as suas actividades com
os rendimentos gerados pela venda do produto das caçadas, enquanto recolhiam
informações ulteriormente trabalhadas no governo provincial em Vila Cabral. Os
tenentes Orlando Cristina e Gomes dos Santos, e o alferes Pestaquinni, deviam
trajar à civil, jamais identificar-se como militares, para que a sua missão fosse
bem-sucedida.
Orlando Cristina e Jorge Jardim
Francisco Daniel Roxo não fez
parte destes grupos iniciais. Chegado a Moçambique há mais de uma década, ele
continuava a percorrer a mata, caçando ao abrigo de uma licença outorgada pela
Direcção dos Serviços de Veterinária do Niassa. Não é claro o momento exacto em
que os dois homens se conhecem, mas num meio tão pequeno tudo se acaba por
saber, mormente se o governador busca incansavelmente, homens que estejam
dispostos a ajudá-lo na missão de travar a influência do IN no espaço da sua jurisdição.
Sabemos no entanto, que em 1963 o
Major Costa Matos convenceu Daniel Roxo a aceitar um emprego como assistente no
Censo da População da Província. Aproveitando o conhecimento profundo deste não
só do terreno, mas também dos dialetos locais, o governador matou assim vários
coelhos de uma só cajadada.
Em primeiro lugar experimentava
as intenções de Daniel Roxo, que conheceria ainda mal, pese embora as boas
indicações certamente recolhidas. Em segundo lugar ficava com dados objectivos de quem habitava o Niassa, e que movimentos de populações existiam através da
fronteira norte, e se possível quem os fazia com alguma regularidade. Em
terceiro lugar, percorrendo as aldeias do Niassa, o grupo do Daniel Roxo, ia
recolhendo informações de todo o género, que compiladas e tratadas se
revelariam fundamentais.
Major Costa Matos e Daniel Roxo
No final desse ano, o governador
ordena ao Roxo que intensifique a recolha de dados nas aldeias no norte da
província, junto ao Rovuma. Foi através deste trabalho que foi possível detectar
movimentos de população em direcção à ilha de Likoma, no lago, já em território
do Malawi. Foi exactamente a partir de uma base nessa ilha que foi levado a cabo
o ataque ao Cobué, que marca o início da luta armada naquela província.
No primeiro trimestre de 1964 o
Major sente o nível de ameaça subir. Demonstrando mais uma vez a sua capacidade
de acção e decisão, e confiante já nas capacidades de Daniel Roxo, atribui-lhe
outra missão. Teria agora de utilizar as suas deambulações para fazer
contrainformação. Esta deveria visar o desmantelamento da propaganda dos
Comissários Políticos da Frelimo junto das populações, e quando esta fosse
detectada, conseguir discernir as linhas de penetração e bases de apoio dos
mesmos.
Tudo isto é a demonstração cabal
de que as informações chegavam em qualidade e quantidade ao palácio do
governador, como talvez nunca tivessem chegado a nenhum outro congénere do
antigo Império Português. O plano montado numa altura em que a organização da
Frelimo se encontrava em movimento, resultou em pleno só não terá chegado foi a
tempo de impedir a luta.
Major Costa Matos e o Régulo de Mataka
O somatório da capacidade de
decisão e visão do governador, e a eficácia do comandante de Milícias, profundo
conhecedor das gentes e do terreno, dotado de uma coragem fora do comum,
resultou na evidente contenção da Frelimo no distrito. Confrontada com um
sistema organizado, o movimento independentista foi obrigado a enveredar quase
exclusivamente por uma estratégia de dificultação da circulação dos meios
militares portugueses, evitando no máximo possível o contacto directo. Nunca
existiu real perigo a sul da linha Nova Coimbra –Metangula. Acresce que o
Niassa foi a província moçambicana com menos actividade de forças especiais,
(paraquedistas, comandos, GE’s e GEP’s), quando comparada com Cabo Delgado ou
Tete, com a excepção da presença de fuzileiros no lago que se revelou heroica.
Nada disto retira o brilho a quem
ali serviu, e em zonas muitas vezes de pesadíssimo isolamento, cumprindo o seu
dever e portanto tornando-se parte deste sucesso.
Nos meses imediatamente
anteriores ao deflagrar do conflito, Daniel Roxo cria uma rede de informação
nas aldeias do Niassa, que será sem dúvida a base do seu sucesso nos anos
subsequentes, sobretudo nas diferentes operações militares que cumpriu. Muitos
dos que serviram na província nos anos sessenta e setenta, foram testemunhos da
fantástica capacidade operativa dos homens do Daniel Roxo -Milícias do Niassa. Para além dos atributos em campanha, os
sucessos ficaram a dever-se a este trabalho preparatório, que permitiu a contra
infiltração no IN.
Daniel Roxo e o seu Grupo na apresentação de material de guerra apreendido à FRELIMO
A mais conhecida missão em que o
grupo do Roxo participou, e que foi realizada sobretudo com as informações por eles
recolhidas, foi a Operação Marte, no início de Agosto de 1968. Foi levada a
efeito pelos homens da 4ª companhia de comandos de CIOE de Lamego, apoiados por
alguns homens do grupo do Roxo. As informações foram tão boas, que foi possível
ultrapassar a vigilância da base provincial no Niassa, (na zona a norte de
Miandica), e atacá-la com surpresa e êxito total, destruindo material de
guerra, capturando informações e militares, e recuperando populações que para
ali tinham sido enviadas.
A vida destes homens ligou-se
numa época particularmente difícil para Moçambique. Tinham com os meios de que
dispunham, contornar um problema que já existia, e que apanhou a administração
portuguesa a dormir a sono solto, na esmagadora maioria dos casos. Eles foram
talvez a dupla mais bem-sucedida na organização de uma das mais remotas regiões
que alguma vez formou o território nacional.