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Livros da guerra colonial

Miandica terra do outro mundo


segunda-feira, 29 de março de 2021

GRUPOS ESPECIAIS (GE). MISSÃO, ORGANIZAÇÃO, DEPENDÊNCIA E EMPREGO OPERACIONAL.- Alocução Proferida pelo comandante do C.I..G.E

  


1. FINALIDADE 
Estabelecer normas relativa à constituição, organização e condições de emprego dos Grupos Especiais.

2. DEFINIÇÃO
Os Grupos Especiais (designação abreviada GE) são unidades de Forças Auxiliares, em regime de alistamento voluntário, instituídos em consequência de necessidades de segurança e defesa contra a subversão, e constituídos sob responsabilidade do Comando-Chefe das Forças Armadas em Moçambique.

3. MISSÃO 
a) Os GE, tanto quanto possível, de recrutamento regional,.Destinam-se a actuar essencialmente nas suas áreas de origem, em missões característicamente dr guerrilha, tirando o máximo partido da sua adaptação natural ao meio e ao IN, da sua ligeireza logística e do seu profundo conhecimento do terreno e das populações de que emanam.
b.) As missões normalmente cometidas ao GE deverão ser do seguinte tipo:
(1) Interdição de linhas de interdição de linhas de infiltração, em especial através de batidas  ao longo das mesmas.
(2) Flagelação do IN, através de operações de batida e nomadização , e perseguição do IN detectado.
(3) Limpeza da área, pesquisa de material e de instalações do IN, incluindo depósitos
(4) Acções de redução contra organizações inimigas pouco desenvolvidas, particularmente quando actuando de surpresa.
(5) Pesqisa de notícias .
Conhecedores do terreno, populações e "história da guerra" na área em que acuam, os GE são particularmente  adequados como orgãos de pesquisa de notícias..
A título de exemplo, podem apontar-se as seguintes formas de Actuação:
(a) Contactos orientados com as populações, tendo em vista detectar:
---  os chefes naturais que efectivamente as controlam, dado que nem sempre são as autoridades tradicionais instituídas que as influenciam;
---  quaisquer indícios de subversão;
---  presença de elementos IN, particularmente de SERECOS.
(b) pesquisa de indícios IN,  que permitam confirmar ou determinar:
--- infiltrantes (mesmo em regiões de recursos escassos e que exijam extensas marchas apeadas)
---pontos de passagem e de apoio.
(6) Acções de recuperação de populações
Conhecedores do terreno em que actuam, tendo, normalmente, familiares ou amigos entre as populações fugidas e conhecendo em regra a sua localização, os GE podem ser eficientes na recolha e recuperação de populações. 
c. Não devem ser empregues:
--- Na segurança e limpeza de itinerários;
--- na protecção imediata de trabalhos de Engenharia;
--- na defesa de pontes sensíveis
d. Deve evitar-se o seu emprego:
--- Em operações junto de fronteiras nõinimigas;
--- em missões de redução ou de destruição de meios de vida em áreas onde se encontrem fugidos, familiares ou amigas,
--- em acções de redução contra um IN fortemente instalado e organizado, a não ser quando em conjugação com outras forças mais adequadas para este tipo de missão.
4. Organização
a. Constituição
Cada GE é constituído por:
(1) Comandante, Oficial subalterno 031, atirador de Infantaria, Artilharia ou Cavalaria ou elemento cicil ou graduado.
elemento civil graduado
(2) 1 Adjunto, Sargento ou Furriel(podendo ser elemento civil graduado) destinado a actuar como operador psicológico
(3) 3 Comandantes de sub-grupo  (Sargentos ou Furrieis, em princípio atiradores) ou elementos civis graduados
(4) 9 chefes de equipa (10 Cabo GE)
(5) 54 Soldados GE
Cada GE articula-se, normalmente, em 3 sub-grupos, a 3 equipas cada.
b. Enquadramento
Os quadro são obtidos entre Oficiais e Sargentos do QP ou QC do exército em serviço nas fileiras ou na disponibilidade e em regime de voluntariado.e em Praças, de Exército ou GE, ou civis  que reúnam condições para serem graduados.
Esgotadas as possibilidades de obtenção de quadros voluntários, podem ser nomeados por imposição. Oficiais e Sargentos do QP ou QC do Exército.

c. Designação
Cada GE  é designado por um número de 3 algarismos em que o das centenas permite identificar facilmente o Sector Operacional a que o GE pertence de acordo com a seguinte numeração:

Sector "A" : 101 a 199
Sector "B" : 201 a 299
Sector "D" : 401 a 499
CODCB     :501 a 599
Sector "F" : 601 a 699
Sector "G"  701 a 799
Sector "H" :801 a 899
Sector "I" e CTC : 901 a 999

d. Necessidade do apoio e controle
A fragilidade da estrutura do comando e logística impõe que sejam adoptadas seguinte medidas:
(1) Os  GE devem, por norma, sediar-se em locais onde exista uma outra guarnição militar, de preferência de escalão não inferior a CCAÇ, não devendo, por princípio, constituir destacamentos.
(2) Os GE serão apoiados administrativa e logisticamente por uma unidade do tipo CCAÇ ou CCS, conforme as normas indicadas pela 4ª REP/QG.
(3) Os comandos locais dever ser particularmente cuidadosos quanto à disciplina dos GE.
(4) Quando nos estacionamentos, os GE devem receber no mínimo, 1hora diária de instrução, dada pela respectivo Comandante, incidindo em especial sobre tiro, táctica e acção psicológica.
(5) Existem já, ou serão criadas, nos Comandos dos "SO", "ZO" e "CT", Secções de Ge, cujo chefe (Cp das Armas), deve, com frequência, visitar todos os GE atribuídos ao referido Comando, orientando os Comandantes dos GE e propondo, através dos Comandos Operacionais terretres, as medidas que entender adequadas à rápida resolução de deficiências detectadas.
(6) Elaboração de relatórios específicos , destinados a habilitar o QG com elementos de informação que permitam a rápida resolução de problemas existentes (nº 7)
(7) Deve ser incentivada e apoiada a cultura de machambas dos referidos elementos, tendo em vista a criação de interesses e fixação à terra, fomento duma auto-suficiência económica que não deixará de aliviar o reabastecimento logístico da sub-unidade administradora
d.Instalações
Os elementos GE  constroem o seu aldeamento-quartel, onde vivem com as suas famílias, sendo posta à disposição da respectiva sub-unidade administradora uma deyerminadaverba para atender às despesas iniciais com a instalação de cada GE.

5. Dependências
 Os GE dependem
a. Tecnicamente
(1) Do comando dos GE, que tem a seu cargo:
-- doutrinação
-- orientação do recrutamento, de acordo com as directivas recebidas do QG
-- orientação da instrução incluindo a de reciclagem, de acordo com as directivas recebidas da 3ª REP/QG.
(2) Do chefe da SEC de GE dos SO, ZO e CT no que se refere:
a:
-- recrutamento, instrução e mentalização
-- obtenção de quadros e disciplina
-- administração, logística e controlo.
b: Operacionalmente
Dos comandos operacionais terrestres a que foram atribuídos
c: Administrativa e logidticamente
Da Companhia, tipo Caçador ou CC, da GN ou Reforço. mais próxima da ua sede, conforme for determinado pelo QG/RMM (4ª REP)
D: Disciplinarmente
(1) Do Comandante do CIGE, quando em instrução e reciclagem (competência disciplinar constante da coluna V do quadro referido no artºdo  RDM)
(2) Do Comandante de ZO, SO ou CT a que forem atribuídos (idem, coluna IV)
(3) Dos Comandantes dos Sub-Sectores, quando se encontrem sob comando operacional daqueles (idem, coluna IV (Cor) e coluna V (TEN COR e MAJ).
(4) Dos Comandantes ddos Sub-Sectores, quando em trânsito nas respectivas ZA, no que respeita exclusivaente a:
(a) Medidas de segurança
(b) Atitudes exteriores de disciplina, aprumo e atavio.
6. Emprego Operacional.
a, Os GE constituem forças de intervenção regional do comando a que se encontram atribuídas.
b. De  preferência, um GE dever ser empenhado em bloco . Em princípio não deverá ser empregado fracção inferior a sub- grupo, devidamente enquadrado.
c. O empenhamento operacional dos GE não deverá ser inferior a 15 dias/mês.
d. O planeamento de actividade operacional dos GE é integrado nos PAO mensais dos Comandos que sobre eles exerçam comando operacional.

 7. Relatórios                                                                                         a, No que respeita o relatório de acção, aplica-se aos GE o disposto na NEP/3ª rep.
b. Mensalmente, serão elaborados pelos Comandantes dos GE os seguintes relatórios, regulados, pelas NEP  DV  e VII  GE/GEP (Anexos "A" e "B").
(1) Relatório mensal de actividade operacional.  


Alocução Proferida pelo comandante do C.I..G.E 


Há pouco mais de um ano, neste mesmo local , face a duas centenas de jovens desta terra que, garbosamente, ostentavam no peito os primeiros "brevets" de GEP, vivemos um ambiente de confiança nessa juventude e no futuro.
Hoje, diante deste milhar de jovens que, tal como os primeiros, voluntariamente, ingressaram nos Grupos Especiais, numa manifestação inequívoca de que a nossa juventude quer lutar para perseverar toda uma cultura e uma civilização mais confiante no futuro nos sentimos.
É, estou certo, para garantir a estes generosos e conscientes jovens que a Nação e o Governo estão com eles, que V. Exª, SENHOR GOVERNADOR GERAL DO ESTADO DE MOÇAMBIQUE nos quis dar a honra da sua presença.

SENHOR GENERAL COMANDANTE CHEFE DAS FORÇAS ARMADAS EM MOÇAMBIQUE.

Julgo oportuno referir um dos oito pontos com que o meu general definiu há tempo de uma forma clara, precisava e objectiva os parâmetros em que baseia toda a sua ética, todo o seu pensamento e toda a sua acção como Comandante Chefe das Forças Armadas de Moçambique..
No último desses pontos, diz o meu general: - "A Guerra que conduzimos e executamos, afinal mais não é do que expressão da coragem da tenacidade e da fé de um povo autêntico  que, fundamentalmente, através de melhor da sua juventude , cumpre  o superior dever espiritual, de a dominar e de a vencer".

Os 8 pontos do General Kaúlza de Arriaga
O General Kaúlza de Arriaga definiu, há dias, em Nampula, os parâmetros nos quais se baseiam toda a sua ética, todo o seu pensamento e toda a sua acção como Comandante - Chefe das Forças Armadas de Moçambique.
São eles:
I. A guerra, que conduzimos e executamos, é-nos imposta do exterior e integra-se na luta em curso entre o Ocidente e o imperialismo-comunista que utiliza, como instrumento principal, o neo-racismo que, fora dos territórios portugueses mas em numerosos países e, talvez especialmente, na própria ONU,
cresce em virulência, a nível mundial, expresso no conceito da Europa para os brancos, da África para os pretos e a Ásia para os amarelos.

II. A guerra, que conduzimos e executamos, é eminentemente legítima, é a defesa contra a agressão, mais ainda a defesa da civilização contra a agressão  da barbárie, e é, sobretudo a procura esforçada dapaz justa, de igual oportunidade para cada um e de ordem e progresso para todos, e da paz humana, de compreensão, de tolerância e de perdão.

III. A guerra, que conduzimos e executamos,, garante com o nosso êxito, a consolidação e o desenvolvimento da sociedade multiracial, de liberdade religiosa e de fusão de culturas, que, sendo a solução para Portugal, é a solução-piloto do Mundo de hoje e não pode deixar de ser a solução generalizada do Mundo, que se quer viável, de amanhã.

IV. A guerra, que conduzimos e executamos,  permite, com o nosso sucesso, a manutenção da grandeza física do espaço português , como o herdámos e como o devemos legar, de Portugal que não está em África mas é também África, e permite ainda, através do mesmo sucesso, a consolidação de uma Nação Portuguesa que, pela s e progressismo da suaua dimensão, pela localização geográfica dos seus principais territórios e, em particular, pela justiça, humanidade e progressismo da sua solução social, tenha verdadeira expressão no Mundo.

V.A guerra, que conduzimos e executamos, é cada vez mais um empreendimento construtivo e de aperfeiçoamento, concretizando-se num esforço imenso e permanente de valorização do território e de promoção e elevação de nível de vida das populações, e cada vez menos um conjunto de acções especificamente militares que, cedo ou mais tarde, acabará por constituir apenas o incidente.

VI.A guerra, que conduzimos e executamos, sublima-se no anseio da autenticidade e no esforço incessante de comunicação da verdade a amigos e inimigos, empenhando-se, em total pureza, na conquista de corações e no esclarecimento de inteligências.

VII.A guerra, que conduzimos e executamos, é, como vem sucedendo, perfeitamente sustentável pelo País, tanto em homens como em meios financeiros, e, apesar dos aspectos negativos inerentes a todas as guerras, além de constituir poderoso factor consciencializante da unidade e grandeza nacionais, não obsta, bem pelo contrário, a que se venham conseguindo índices notáveis de progresso, considerando Portugal no conjunto dos seus territórios.

VIII.A guerra, que conduzimos e executamos, afinal mais não é do que a expressão da coragem, da tenacidade e da fé de um povo autêntico que, fundamentalmente através do melhor da sua juventude, cumpre o superior  dever espiritual de a enfrentar, de a dominar e de a vencer.

Ora, é pois,numa perfeita coerência com este ponto, coerência, coerência essa, característica dos grandes homens que, felizmente, têm surgido nos momentos difíceis da vida do povo português, momentos, como o actual em que, com a arma numa das mãos e enxada na outra, se lute heroicamente para ".... a defesa da civilização contra a agressão da barbárie,,," por essa coerência repito o meu general aqui está, face a esta juventude, de "...um povo autêntico .." 
-- Digníssimos membros do governo do Estado de Moçambique;
-- Exmos Oficiais Generais;
Exmas Autoridades Civis;
--Digníssimos representantes do corpo consular acreditado no Estado de Moçambique;
--Minhas senhoras, meus senhores
-- Camaradas.
A presença de todos vós , é a garantia evidente para esta ardorosa juventude que vos contempla e também, para aquela e cumpre, ou irá cumprir, o sagrado e magnífico dever de lutar por uma pária livre que toda a Nação Portuguesa, aqui representada , nos seus mais diferentes sectores, da elite ao povo anónimo, está com ela, sofre com ela e, na rectaguarda, luta por ela .

SOLDADOS DOS GRUPOS ESPECIAIS

Agora que é chegado o momento tão transcendente para todos vós, jovens moçambicanos aqui presentes, o momento em que ides prestar o vosso compromisso de honra, ao preferirdes esse juramento de tão alto significado, ficai cientes que sereis tão dignos de confiança, do respeito e do apreço de toda a Nação, como ela,  Nação a que este Estado pertence, é digna desse vosso juramento e de quanto, em sacrifício total de vós mesmos, ele encerra.
A partir de hoje sois soldados dos Grupos Especiais!
E tal como os vossos camaradas mais velhos, sereis dotados de uma vontade forte, experimentados em sacrifícios de vidas, oferecidos a terra moçambicana para unidade da Pátria!

Dondo, 7 de Abril de 1973

Recorte do Notíciais de Lourenço Marques em 1972
"BigOne"-- Aos 56 anos tornou-se pára-quedista
BIGONE, com farda dos GEP

"No primeiro salto senti medo, agora leio jornal enquanto desço" revela o idoso sargento-ajudante"

Foi de espanto a sensação das pessoas que o viram entrar naquele quartel, onde, aliás, ninguém já costumava espantar-se com nada: aquele homem passava já dos cinquenta anos e vinha fazer parte do quadro dos GEP. O seu aspecto era, sem dúvida, de quem mantivera uma actividade máscula, guardando o mínimo dos desgastes que o tempo poderia ter-lhe causado. Entretanto, aparecer, voluntáriament, como candidato a membro GEP, já a meio da vida -- isso é que não podia deixar de causar a mais compreensível admiração, mesmo à gente mais endurecida daquela unidade.
Um nome -- um retrato
Natural da região de Tete, emigrou para a África do Sul, seduzido, como muitos outros, pela perspectiva de ganhar muito dinheiro. Não se realizaram os seus sonhos, a sua ambição ficou por satisfazer. Em contra-partida ganhou uma alcunha -- BIGONE E adoptou a alcunha como noe, já que este faz o seu retrato por inteiro, o seu verdadeiro retrato interior.
BIGONE haveria de justificar, daí em diante, que era grande e grande por dentro. E continua ainda a fazer inteiro jus ao nome.
Soldado desde os 40
Alistado em 1940, como soldado de infantaria, BIGONE foi promovido a Furriel em 1961. E aconteceu-lhe fazer uma uma carreira militar que até contou com serviços prestados em diferentes parcelas do território nacional, ocorrendo aquela promoção no longíquo Macau.
Em 1964, foi promovido a sargento-ajudante e prestou serviço na Índia só lhe faltando conhecer Timor para ter estado presente em todo o Oriente Português..
Oferecendo-se como voluntário para todas as zonas onde houvesse guerra, BIGONE, aí também nunca virou  cara ao perigo, distinguindo-se por um patriotismo aceso, uma coragem inquebrável, um conjunto de faculdades de homem de acção especialmente fadado para a luta np mato africano.
Distinguido com o Prémio Governador-Geral, em 1969, voltou a receber igual galardão, pelo que, em breve irá rever a Metrópole e os diversos louvores que tem recebido pela sua actuação devem receber a sua cúpula com a promoção a tenente, por distinção.
Aos 54 anos -- GEP
Em 1971 , BIGONE ofereceu-se para os GE. Ali, teria de suportar a hora da verdade constituída pelas provas difíceis que são exigidas para se pertencer a esse corpo de elite das Forças Armadas.
Contra ele havia, então a diferença de idade, mas a seu favor militavam a sua grande coragem, o seu invulgar brio, as suas altas qualidades de combatente experimentado desde longa data e nas mais difíceis circunstâncias. E aconteceu que BIGONE  se revelou excelente, prestando melhores provas do que os rapazes novos. Se ele estava habituado a levar para missão de combate três grupos, deixar um em descanso e vir depois quando chegava a altura, buscar esse para o ir juntar com os outros, aguentando  o desgaste físico e psíquico que esse tremendo esforço  exigia e provocava, porque é que BIGONE não haveria de vencer na sua candidatura para o GEP?!

Medo no primeiro salto
-- No primeiro salto, senti medo. É verdade não adianta nada querer mentir. BIGONE esclarece logo, sem quaisquer veleidades de armar em valente, porque o é na realidade.
-- O Alferes empurrou-me, fora do avião , percebi que já tinha perdido o medo.
-- E agora? -- ...Aqui BIGONE sorriu e modestamente comentou, na sua linguagem típica: -- Agora é "porreiro". Agora, não tenho medo nenhum. Agora até leio o jornal enquanto desço! Quer ver?
Efectivamente, de um dos bolsos da farda, sacou de um jornal que costumava trazer consigo para fruição durante esses instante em que desce vagarosamente, durante a execução de um desses saltos em que contempla a Terra de cima.
-- Não acha que já é um pouco tarde, na sua vida para se tornar GEP?
-- Não, não estou velho .Sinto forças e faço tanto como os rapazes novos. E, para os turras, estou sempre pronto!...

NOTA do BLOG:
Conheci o então 2º Sargento Adriano BIGONE da 1ª do BCAÇ 16, em  Nova Coimbra (Niassa), em Julho de 1967 quando esta Companhia fazia a protecção à 2ª CENGª de Moçambique que terminava a picada Nova Coimbra- Lunho e  o aquartelamento do Lunho.
Pareceu-me um homem simples e bem modesto. Cruzei-me com ele por acaso e sem saber quem ele era,verifiquei que era 2 º Sargento e então convidei-o para ir almoçar à Messe. recusou.....








segunda-feira, 15 de março de 2021

Coronel pára-quedista Sigfredo Costa Campos . Grupos especiais em Moçambique-A teoria portuguesa da guerra subversiva

 

Coronel Pára-quedista Sigfredo Costa Campo

Este oficial fez várias comissões na Guerra do Ultramar: em Angola (1961-1964, na Guiné (1966-1968) e em Moçambique (1971-1973), tendo sido várias vezes condecorado, incluindo a Medalha de Valor Militar (Ouro), com Palma.  Passou à situação de reserva cerca de seis meses antes do 25 de Abril e trabalhava numa empresa em Angola quando ocorreu este levantamento militar.
Coronel Pára-quedista Sigfredo Costa Campos

Grupos  Especiais em Moçambique
A teoria portuguesa da guerra subversiva

A necessidade de adaptar as nossas tácticas militares aos novos objectivos estratégicos que, a partir de 1961, foram sendo delineados para enfrentar a subversão anti-portuguesa na sua luta armada contra a soberania nacional nos territórios ultramarinos, levou à adaptação dos conceitos da luta de contra-subversão, anteriormente praticados pelos franceses e britânicos.
Já nos anos 50 do século XX, com o envio de pessoal para estágio junto dos nossos aliados, começou a ser encarada a formação de corpos de tropas especiais, sendo que, a partir de 1956, foram criados, na dependência de Subsecretaria do Estado da Aeronáutica, os caçadores pára-quedistas. Este corpo, conquanto inicialmente assente nos ensinamentos colhidos em Espanha e no Brasil, países sem doutrina operacional de relevo, veio a basear-se essencialmente na experiência francesa, mormente no confronto argelino, e foi posto à prova, inicialmente em Angola, onde procedeu  a demonstração de carácter operacional, ainda antes da eclosão do conflito. Na base da recuperação do território afectado pela sublevação, conduzida pela UPA(União dos Povos Angolanos), o papel dos pára-quedistas, embora em escasso número, foi fundamental
Verificada a necessidade de recurso a tropas especiais para a condução da guerra de contra-subversão, e sendo conveniente adaptar as teorias existentes à realidade da luta nas várias frentes, foram sendo criadas diversas formaçºoes ligeiras, que melhor se coadunassem com a situação. Aliás, o recurso a forças africanas não constituía novidade para Portugal, pois o modelo da chamada "guerra preta" ou dos "empacaceiros", nomeadamente em Angola, tinha permitido a manutenção e, posteriormente , a expansão do domínio terroterial até finais do século XIX nas costas. Só assim teria sido possível, com um corpo expedicionário reduzido, subjugar os diversos potentados africanos que se nos opunham. Em Angola, a segunda linha compunha-se de voluntários, na sua maioria africanos, pretos ou mestiços, oriundos das cidades ou dos presídios, constituindo companhias móveis, a que se juntavam auxiliares, e de certa maneira equivalentes aos bandos do regime feudal. A maior parte dos potentados sujeitos à coroa tinham que fornecer um certo número de homens, em caso de guerra, mantendo alguns ao serviço, em tempo de paz. No primeiro caso, às de Luanda, existiam 20.000 homens, na sua maior parte ambundos, cujo comando era exercido por brancos, pretos ou mestiços.(2)
(2) René Pélissier. História das campanhas de Angola, resistência e revoltas (1845-1941), vol.1, Ed. estampa, 1886, pp 36-37
No caso moçambicano, as  concessões territoriais , isto é,os "prazos", não teriam permitido a expansão para o interior se não estivessem alicerçados no recursos a corpos auxiliares, recrutados localmente. Tal como em Angola, o comando competia a comerciantes, alguns antigos degredados, e que recorriam às forças cedidas pelos régulos.
Como exemplo do narrado anteriormente, podemos citar a campanha de 1888,no vale do Zambeze, em que mais de 90% dos soldados eram africanos. Durante este período, a influência portuguesa limitava-se à área costeira e, no vale do Zambeze, recorria aos potentados locais, que mantinham forças de escravos guerreiros, achiunda , constituindo a maior parte das expedições militares portuguesas.
Segundo Isaacman, a poopósito dessa campanha " a capacidade de Lisboa de recrutar uma grande força africana proporcionou um apoio crucial para o seu sucesso. Menos de três por cento do exército de vinte mil homens era de ascendência portuguesa" (3)
(3) Allen F. Isaacman. The Tradition of resistance in Mozambique. Heinmann, 1976, pp 65

Este modelo não era exclusive português , pois as VOC holandesas (Vereenhighde Oostindische goctrooijeerde Compagnie - Companhias Unidas das Índias Orientais), no Cabo da Boa Esperança, corpos hotentotes no século XIX, prática que veio a ser adoptada pelos sucessores britânicos, a que nunca deixaram de recorrer nas frentes em que estavam envolvidos. Os alemães utilizaram corpos de "askaris" no Togo, Sudoeste Africano e Tanganica, salientando-se o seu uso, neste último território, por von Lettow - Vorbeck, na 1ª Grande Guerra o que lhes permitiu manter a luta até depois do armistício, batendo forças britânicas numericamente muito superiores. Quanto aos franceses, as experiências mostraram a vantagem  da utilização das forças locais, com um enquadramento mínimo. Foi o caso dos Groupements de Commando Autonomes Mixtes (GCMA), cuja coroa de glória foi a reconquista de Dien Bien Phu, mantendo-se em actividade do Viêt Mie´nh, até dois anos após o colapso francês (4)
(4) Erwan Bergot. Les Paras. Paris, Ed. Balland, 1971, pp 288-298

Os "Bé com" (os rapazes) a serem condecorados pelo exército francês

que exploravam o factor étnico; e os elementos recuperados do Viet Minh e as companhias ligeiras de "Bé com" (os rapazes) recrutados nas aldeias, que eram os únicos a combater eficazmente à noite (5)
(5)Vincent . Les Officiers. Paris, Éditions du Seuil, (?) pp 146-147
Os conceitos norte americano eram de difícil assimilação, uma vez que basicamente assentavam numa riqueza de meios, que ultrapassava muito as disponibilidades portuguesas mais optimistas. Claro que o conceito de Grupo "A" , com um capitão, um tenente e nove sargentos especialistas (todos profissionais polivalentes) para o enquadramento de uma companhia de tropas irregulares,com recurso ao apoio logístico de um Gupo "B" e o apoio de meios aéreos, era atraente. No entanto, os recursos empenhados nessa solução, bem menores que os disponibilizados para uma unidade normal, eram proibitivos para Portugal..
No final  da década de 50 , foram enviados oficiais para treinos no Reino Unido, cuja teoria vinha a influenciar o desenvolvimento de " O Exército na Guerra Subversiva" (6)
(6) Estado Maior do Exército. O Exército na Guerra Subversiva. Lisboa, Ed, EME, 1963
onde era plasmado o conceito a aplicar na realidade pluricontinental portuguesa, sendo referências essenciais o cenário das doutrinas britânicas na Malásia (1952) e pela cooperação civil/militar, da coordenação das informações e das operações com pequenas unidades, que tanto êxito haviam tido, tendo permitido uma abordagem eficaz e pouco dispendiosa à contra-subversão e apropriada aos  meios. (7)
(7)  John P. Cann.Contra- Insurreição em África. Cascais, Ed Tena. 1998, pp 7273
Todos estes exemplos permitiram a concepção de uma teoria de guerra antes da eclosão do conflito, evitando a necessidade de reaprender as lições de outros países e recorrendo aos ensinamentos vindos de todo os lados, incluindo os membros da OAS, em particular no que se refere à guerra psicológica.
Desta forma, o uso de forças recrutadas localmente, com um reduzido número de quadros europeus, a que se juntou a mística das tropas especiais, mormente dos pára-quedistas, conduziu à criação de corpos de recrutamento local muito eficazes a partir de 1961, os últimos dos quais foram os Grupos Especiais (GE) e os Grupos Especiais Pára-quedistas (GEP) em Moçambique.
A teoria da luta contra a subversão levou a que fosse encarado o facto das forças armadas não serem capazes, por si sós, de realizar todas as acções, por o inimigo não corresponder à definição clássica, istoé, ser perfeitamente definido,que é, onde está e o que faz. Estas constantes clássicas desaparecem e as forças armadas ficm perante o desconhecido. A mobilidade do inimigo é acompanhada de uma movimentação no seio da população, umas vezes com o apoio destas, outras por intomidação. Sendo assim, é necessário separar a guerrilha da população e criar, a esta última, as condições de sobrevivência económica e de autodefesa (8)
(8) Hermes de Araújo Oliveira  Guerra Subversiva- subsídios para uma estatégia de Reacção. Lisboa, Ed. do Autor, 1965, pp 90 e seguintes
A política de hearts ande minds (literalmente, corações e mentes) britânica provou ser eficaz na Mlásia, no Quénia e no Iémene, e foi imitado por muitos.;  Franceses na Argélia, norte-americanos no Vietname, conflitos locais na América do Sul e África. Portugal não podia ficar afastado desta política e lançou-se com empenho, embora com resultados diferentes, nas três frentes. De qualquer forma, baseava-se na concentração das populações em aldeamentos, subtraindo-as, assim, à acção da guerrilha, permitindo o seu controlo e dotando-as de condições de sobrevivência, nomeadamente de lavras de culturas tradicionais, e de auto defesa, com base em milícias, guardas rurais, ou grupos especiais.
Este reagrupamento de populações distinguia-se dos campos de concentração dA 2ª Guerra Anglo-Boer, em que os  civis, com especial relevância para as mulheres e  crianças, eram deixados morrer sem qualquer assistência (9)
(9) Emily Hobhouse. The brunt of the Warand where it felt. London, South Africa Women and Children Distress Fund, 1902
O Objectivo era não só impedir o contacto das populações com a guerrilha, mas conseguir a sua adesão. Na Argéliaforam criadas unidade maghzen (autodesa) locais, de 30 a 50 voluntários armados (10)
(10) Alf Andrew Heggoy, Insurgency and counterinsurgency in Algerie. Bloomington, Ed. Indiana University, 1972, pp 196
No caso de Moçambique há que ter em vista a dispersão no terreno das nossas forças e o povoamento disperso no interior, que obrigou ao reordenamento rural, com a criação de novos aldeamentos. Havia, no entanto, duas opiniões a esse respeito. A tradicional, expressa pelo Coronel Martins Soares, do Comando do Sector "D"  (Santa Eulália), Angola) a Al Venter: " Não entregamos armas onde estas não são necessárias - e se o fazemos, é só quando temos a certeza absoluta de que serão utilizadaspara fins de protecção" (11)
(11) Declarações a Al J. Venter, jornalista sul-africano especializado em reportagens de guerra, que visitou o norte e leste de Angola, In Terror Fighters: A Profile of Guerrilla Warfare in Southern Africa. Cidade do Cabo, Ed. Purnell ans SONS, 1969, PP 16
Felizmente  para a contenção da subversão em Angola, esta posição foi ultrapassada pelos acontecimentos e votada ao ostracismo, mormente pela influência dos grupos de contra-subversão, que permitiram a integração das diversas chefias num organismo político-militar eficaz. Só assim foi possível a criação de uma linha de contenção, que impediu eficazmente a progressão da guerrilha para o interir. Em 1974, as milícias rondavam os 30.000 homens, comprovando a posição errónea de Martins Soares.(12)
(12) Gerald J. Benter. Angola so o Domínio Português; Mito e Realidade. Lisboa, Ed. Sá da Costa, 1980, pp 161
A esta atitu dogmática contrapunha o General Kaúlza de Arriaga: " O que estvámos a fazer no Niassa era notável:(...) só ao régulo de Mecanhelas (...) emprestei milhares de espingardas Mauser, e mandei ensiná-los a usar e manter as armas. Foi em finais de 1970, e começava a ser criada a autodefesa da própria população(...) (13)
(13) Jorge Ribeiro, Flechas, GEs e Milícias- Terrorismo com Orçamento de Estado, in Jornal de Notícias de 15-2-1996.
Aliás, como referido anteriormente, fora Kaúlza de Arriaga a criar os pára-quedistas, em contraposição aos tradicionalistas militares.
Aldeamento de Chuanga (Niassa- Zona do Lago. Metanula

Em 1971, o  Jornal do Exército (Abril), referia como solução para o problema  "armar e instruir a população de forma adequada, independentemente da cor da pele ou do nível de instrução", reflectindo, assim, os resultados práticos das experiências nas três frentes.
Para Colby, antigo embaixador norte-americano em Saigão (1967-1970), as forças de segurança não podiam estar sempre presentes e a defesa das populações não podia ser garantida por estas, a todo o momento, pelo que apenas uma autodefesa devidamente organizada podia assegurá-la (14)
(14) William Colby. Lost Victory. Nova Iorque, Ed. Contemporary Books, (?) pp 90
O programa de distribuição de armas pelos milicianos, por ele defendido, previa a perda de 20% das 500.000 distribuídas, em contrapartida à captação de 80% da população, mas, no final, as perdas não  ultrapassavam os 3%. Esta estimativa optimista referia que, em 1969, cerca de 20% da população vietnamita, isto é,dois milhões, incluindo 400.000 armados, tinham sido incorporados no programa de autodefesa, abrangendo, em 1971, a área de Norte a Sul, eram apenas quatro anos.
Ora , em Moçambique, em 1970 podiam ser contabilizadas 
230.000 pessoas nos distritos de Cabo Delgado, Niassa e Tete - a população totalizava  1.120.100- (16)
(16) Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórica-Militar das Campanhas de África, vol.IV.Lisboa, Estado maior do Exército, 1989, pp 87.
concentradas em aldeamentos. A comparação com o exemplo vietnamita permite salientar que a duração dos sete anos em Moçambique correspondeu a quatro anos no Vietname . Mas esta comparação não é válida se não levarmos em linha de conta a  diferença abissal dos meios disponíveis. Em 1966 foram criados os primeiros aldeamentos e, em 1974, existiam 953, acolhendo 939.396 pessoas (17)
(17)Thomas H. Henriksen. Revolution and Contre-revolution: Mozambique War of Independence, 1964-1974. Londres, Ed. Greewood, 1978, pp 155
Nota-se que Miguel Marrupa, opositor da FRELIMO, declarou então que a intenção e a vontade das autoridades em trazer benefícios às populações parecia sincero (18)
(18) Miguel Artur Marrupa. Perspectiva da África portuguesa, Beira, Ed. do Autor, 1973, pp 35-37
Todavia, existiam diferenças de opinião, como se pode verificar num relatório de 1973 do COFI (Comando Operacional das Forças de Intervenção) sobre o reordenamento das populações em Manica e Sofala, onde se refere que " é evidente o antagonismo , diversas vezes submetido à apreciação superior, dos pontos de vista do comandante do COFI e do governador do distrito da Beira, que se pode sintetizar na diferença entre " construir um número limitado de aldeamentos, concentrando esforços e meios por forma a torná-los pólos de atracção - o melhor cartaz de propaganda do aldeamento  - e uma garantia de segurança e controlo mais eficiente por parte das autoridades militares a administrativas" e "uma dispersão de meios limitados e esforços, consequência do elevado quantitativo de aldeamentos em construção"  (19)
(19) Aniceto Afonso e Catlos Matos Gomes "Aldeamentos"  in Guerra colonial - angola, Moçambique e Guiné . Lisboa, Ed Diário de Notícias, 1998 pp 236


A criação de unidades africanas 

Nos três tetros de operações procedeu-se à mobilização de forças regulares e irregulares como forma de prosseguir a guerra de uma forma mais eficaz. Em Moçambique, a percentagem do recrutamento provincial foi crescendo até que em 1973, atingiu 27.572 homens, 53,6% do efectivo do Exército, excluindo os elementos das milícias e dos guardas rurais (20)
(20) Comissão para o Estudo das Campanhas de ÁFRICA (1964-1974). oB. CIT. PP 261
EM 1\971, os primeiros Grupos Especiais (GE), cada um compreendendo 60 homens do recrutamento provincial, com o comando de alferes, foram distribuídos por Nova Coimbra e Valadim (NIassa); Muaguide, Nairoto, Macomia, Mocímboa da Praia, Nangade, Palma, Nambude Mueda, Mocímboa do Rovuma, Tartibo e Pundanhar (Cabo Delgado) Nhica, Fingoé, Magué, Domué, Vuende e Vila Coutinho (Tete).





Perante os resultados de experiências anteriores, o General Kaúlza Arriaga, por despacho de 17-4-1971, criou os Grupos Especiais Pára-quedistas (GEP), na mesma base e linha de acção que determinara a formação anterior GE, sendo-me concedido o recrutamento, instrução e comando daqueles grupos.
Cerca de dois meses  depois (19 de Junho), foram criados o Comando Geral dos Grupos Especiais (CGGE) e o Centro de Instrução de Grupos Especiais (CIGE), ambos sob o meu  comando,sendo o primeiro o orgão técnico de estudo e planeamento, orientação e coordenação, o segundo, a casa mãe dos GE e GEP
O Coronel Costa Campos a dar instrução aos Ge e GEPS

Os  GEPS diferenciavam-se dos GE pela frequência do curso de pára-quedismo militar e pelo seu emprego como tropas de intervenção, enquanto os últimos se revestiam de características de forças de quadrícula. Embora oriundos do recrutamento provincial, os GEP eram todos voluntários e sujeitos a uma grande selecção até à obtenção da boina, seguindo-se uma fase de instrução básica de nove semanas, o curso de pára-quedismo militar de quatro semanas e o estágio de aperfeiçoamento de combate de duas semana no CIGE, completado com um mês de instrução de aperfeiçoamento operacional numa zona de acção.
Para uma melhor eficácia, o pessoal instrutor era o mesmo que exercia funções de comando operacional, garantindo mais profunda ligação entre chefias e comandadas (um alferes, cinco furriéis e 80 praças). Cada GEP articulava-se em quatro subgrupos, que podiam actuar em conjunto ou isolados, consoante o objectivo a atingir. Em operaçõess a coordenação de dois GEP competia a um Capitão.
Em 15-11-1971 terminaram as instruções no CIGE os primeiros três - GEP 001, GEP 002 e GEP 003 -, destinados à Zona Operacional de Tete (ZOT). Até ao final de 1972 foram formados, neste Centro, dez GEP, totalizando 860 homens  e dezasseis GE, num total de 976 elementos.
Em 1974, existiam, doze GEP e vinte GE, subordinados ao COFI, que sofreram catorze mortes (cinco GEP e nove GE) e 51  feridos em combate (17 GEP e 34 GE), percentagem equivalente à registada pelas companhias de comandos (quatro mortos e 23 feridos). (21)
 (21)C.O.F.I. . síntese das Actividades do COFE (policopiado). Lourenço Marques , Agosto de 1974

Actividade Operacional
Coronel Costa Campos e o General Kaúlza de Arriaga

Os GE, como tropa de quadrícula,  destinavam-se essencialmente à defesa imediata dos aldeamentos, junto dos quais estavam colocados. A actividade operacional incluía patrulhamentos e nomadizações destinadas a manter a segurança da ´´area e salientaram-se na defesa dos aldeamentos submetidos aos ataques da FRELIMO.
Ao invés, o estilo de operações dos GEPS, empenhados em acções de busca e destruição de grupos armados em qualquer ponto do teatro de operações de Moçambique, incluía, além das missões clássicas de contra-subversão, dois géneros específicos: assalto aéreo e as operações "mandioca" 
A primeira consistia no ataque a um objectivo, com recurso a helicóptero, em que um Allouette III, com canhão, neutralizava pelo fogo qualquer resistência potencial,  enquanto os trnsportadores AS-330 PUMA, descarregava o pessoal para o assalto ao acampamento seleccionado, sendo posteriormente recolhido, permitindo que a operação se desenrolasse em breves minutos, com a desmoralização do inimigo, incapaz de se opor eficazmente a uma acção deste tipo.
As operações "mandioca", onde se salientou o Furriel Ribeiro (posteriormente falecido em Angola), eram levadas a cabo por pessoal sem uniforme, normalmente com um efectivo correspondente a meio grupo, munido de AK-47aparentando ser da FRELIMO, que percorria a zona de intervenção procurando obter informações para possibilitar a localização e consequente neutralização dos guerrilheiros detectados. Saliente-se que tais operações eram facilitadas por o pessoal ser do recrutamento provincial, apresentar uma aparências não militar e ser portador de mandioca, em vez de ração de combate.
Estas operações foram executada à semelhança de outras levadas a cabo no Quénia (pseudo-gang), na Argélia e em Angola, neste caso com recurso aos PT (pseudo-turras) que actuavam nas áreas da FNLA, no norte da província. Um dos casos mais divulgados foi o do comando muçulmano, subordinado ao Coronel Bigeard que, vestido como fellagha (guerrilheiros da FN), obtinha informaçõessobre as posições da guerrilha argelina (22)
(22) Pierre Bigeard. Ma guerre de Algerie. Paris, Ed.Hachette, 1995, pp 58
O Special  Air  Service  britânico recorreu ao mesmo método em Aden e no Iémen (no período em que influenciou a doutrina portuguesa de guerra subversiva, já que esta tradição se mantém)


Conclusões
Contrariamente à opinião corrente, em 1974 o orçamento metropolitano contribuía apenas com 28% para o esforço de defesa (23)
(23) Joaquim da Luz Cunha e outros. África: A Vitória Traída. Lisboa, Ed. Intervenção, 1977, pp 58
enquanto, em termos de pessoal, mais de 50% era procedente dos recrutamentos provinciais, (24)
(24) Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1964-1974). Ob. cit. pp 261. o que tornava possível a manutenção da luta, nas três frentes, a um nível aceitável..
A africanizaçãao da guerra proporcionava unidades mais baratas e também mais eficazes que as metropolitanas. Além do mais, tinha também um efeito psicológico positivo junto das populações, que se viam mais protegidas pelos seus.
Não foi assim por acaso que, em Moçambique, a africanização da guerra atingiu maior dimensão e onde, pela primeira vez, foram criadas tropas africanas de eleie, quase na totalidade enquadradas por quadros negros e mestiços, os Grupos Especiais Pára-quedistas.
Soldados dos Grupos Especiais Pára-quedistas

Estas unidades, cuidadosamente instruídas e fortemente mentalizadas para o desempenho de qualquer tipo de missão, eram preferencialmente utilizadas como forças de intervenção em acções de contra-subversão. A sua reconhecida eficiência em todo o teatro de operações de Moçambique, dada a enorme mobilidade, conferiu-lhes uma dimensão bastante superior aos seus reais objectivos. 
Não apenas no meu entender, mas igualmente no de muitos responsáveis, a africanizaçõ da guerra, assente em unidades devidamente enquadradas também por quadros africanos, era uma necessidade que se impunha para os objectivos em vista.
Nunca tive dúvidas de que a descolonização era inevitável e sei que alguns dirigentes políticos mmais lúcidos e certas chefias militares mais esclarecidas também asim o pensavam.
A única questão que se punha era: quando e como.
Em 1973 tive a percepção de que os pressupostos para se dar início ao processo de descolonização estavam quase reunidos.
Em Angola, o terrorismo encontrava-se praticamente controlado e, em Moçambique, pouco faltava para que tal acontecesse, pois a FRELIMO já não tinha expressão no terreno.
Estava chegando o momento de, a médio prazo,ir criando as estruturas administrativas africanas e consolidando as suas respectivas forças armadas para, de forma exemplar e absolutamente vantajosa para ambas as partes, se proceder ao inevitável processo 
 descolonizador.
Essa descolonização iria permitir manter nos territórios a nossa força de trabalho e, onde, tanto as populações como as elites africanas dirigentes, nos olhariam com respeito e consideração.
Para outros povos colonizadores talvez isto não pudesse ter sido possível, mas, para nós, portugueses, sê-lo-ia.
Prova-o a inequívoca intervenção das forças internacionais no pseudo- revolucionário processo de Abril, desencadeado com o objectivo de nos impor o vergonhoso abandono dos territórios africanos, onde, além de termos causado  o caos e a destruição, fomos co-responsáveis pela morte de milhares de pessoas.
E ainda há quem despudoradamente afirme que a revolução de Abril foi uma revolução sem sangue.










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