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Livros da guerra colonial

Miandica terra do outro mundo


segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

OUTUBRO DE 1964. MASSACRES EM: LIGOWOLA-MDIBUA-MATUMULA. DISTRITO DE NANGADE. (1º EPISÓDIO)

Uma investigação de MAMUDE OMAR BAISSA, Professor no distrito de Nangade, como homem da terra, quis saber, sobre os rumores de massacres perpetrados, na zona em 1964 pela tropa colonial.   Inéditosmas aconteceram em 1964. Ninguém ousou divulgar estes três campos de massacres de LIGOWOLA, MDIBUA e MATUMULA que ocorreram no território de NANGADE  no mês de Outubro de 1964. Tanto a FRELIMO como os colonialistas portugueses, nunca se pronunciaram destes macabros acontecimentos que não são uma ficção.                                                                         Eu ouvi na praça as pessoas idosas falando desses locais, por isso me despertou a atenção, naveguei na Net em todos os Sites sobre Nangade mas sem sucessos. Entendi que estes factos nunca e ninguém os reportou desde então. Procurei pessoas idosas que os narrem aos pormenores, pessoas idóneas gozando de uma boa sanidade mental, familiares das vítimas ou de povoados circunvizinhos aos da chacina.        

Mamude Omar Baissa
Por isso cito:                                                                                                                              Echa Saide Amisse Ligiwole, orfã de pai e mãe assassinados no local;                                  Daude Rachide Chuta e sua esposa Amina Achimo Amir, que são familiares de uma das vítimas no povoado de LIGOWOLA.                                                                                       Conversei com as senhoras:                                                                                                    Fátima Alfane Binamo Mapendano,  a orfão de pai e mãe, e a Fátima Ismael Mussa Licovele que perdeu a sua mãe Alima Zuber, segunda esposa do Alfane Mapendano e: Rachid Omar Ulad, único sobrevivente em MDIBUA. 
Rachid Ali Assumane Matamula, neto mais velho de  Assumane Matamula e Omar Maulide Cumbemba, sobrinho do  Assumane Matamula.
Em ambos os casos o VITOR OMAR AMUR é o testemunha por ser o conhecedor dos factos e acções de alguns nomes das vítimas e dos portugueses visto que pertenceu à tropa colonial portuguesa com a patente de Furriel.




















09 de Outubro de 1964

Os habitantes dos povoados de NAHACODAO, LIGOWOLA, NALEQUE, MWEYA e NAMUAVICA, realizavam as suas reuniões clandestinas da FRELIMO no período da tarde no meio do mato de NACHONGA, sob a orientação do Chairman ISSUMAIL MPACULO. Este recebia os cartões para os aeus membros e embebia-se da política da FRELIMO no povoado do NANTECA, um frelimista que ficava situado em Lilongo, dentro da Circunscrição de NANGADE, a Oeste do lago NANGADE, a Leste do lago LIDEDE e a sul do rio ROVUMA.
A localização do NANTACA foi entretanto estratégica pois ela possuía inúmeras vantagens sócio-políticas, uma das quais, facilitaria a sua fuga atravessando o lago LIDEDE para a outra margem que é MUEDA, ou atravessando o rio ROVUMA para TANZÂNIA , em casos de mandatos de sua busca e captura pelo Governo Colonial.
Aliás, a região de LILONGO foi a via principal que os guerrilheiros da FRELIMO usavam durante a luta de libertação nacional passando para o interior de MOÇAMBIQUE, ou indo à TANZÂNIA em busca de material bélico ou para tratamentos médicos.
Os temas fulcrais das reuniões clandestinas da FRELIMO eram a exigência desse movimento à independência nacional de Moçambique à semelhança da Tanzânia. Nelas comparavam a FRELIMO ao TANGANIICA AFRICAN NATIONAL UNION (TANU), como movimentos libertadores dos jugos coloniais, e ao EDUARDO CHIVAMBO MONDLANE com o JULIUS KAMBARAGE NYEERE, como seus legítimos dirigentes, respectivamente.
Os portugueses por serem homens renitentes, eles não cederão, por isso seremos obrigados a pegar em armas e lutarmos contra eles pelo o que é nosso. Profetizava o Chairman MPACULO.
Em NACHONGA vivia-se sempre na instabilidade entre a esperança e o medo. Os reunidos necessitavam de uma coragem pois esta não é a ausência do medo, mas sim, a certeza de que há algo mais importante que o medo. Não deviam desperdiçar a ocasião. Foi por isso que o orador fazia longas pausas para se certificar se a mensagem chegava em perfeitas condições aos ouvidos dos reunidos, e se as folhas das árvores filtravam melhor a sua voz.
Todos os presentes seremos chamados para esta gloriosa missão da vida ou morte. A verdade pode doer, destruir, ou até matar mas ela sempre será sempre a verdade. Concluiu o Charman.
Pelas 20 horas do dia 8 de Outubro de 1964, a tropa de BOERS sul-africanos e os OPVs do TENENTE XAVIER "NAMACHILI) (era sua alcunha) provenientes de NANGADE idos de MUEDA, pernoitavam no povoado de NAHACODAO. Instalaram o seu comando debaixo de uma grande mangueira onde habitualmente os seus residentes conversavam nas horas de lazer.
Montaram um dispositivo que não permitia aos residentes sair dentro das suas casas para fazer necessidades. Os cipaios FERNANDO NANGOLOLO. AFONSO LIPUQUE, AFONSO MPUNDANA, GASPAR TAPALI e PIUS SANDOCA faziam a ronda passando pelas vandas de casas alertando aos moradores que não saíssem fora para mijar ou defecar. Este truque salvou a população de NAHACODAO da morte, mas pagou com as torturas pela madrugada.
Foram acordados manhã cedo, escoltados, amarrados e concentrados num único alpendre onde decorreu o purgatório com cassatetes. Quando a dor não cabe mais no peito, transborda pelos olhos e o grito de choro é o atenuante da profundidade da dor.
Os habitantes do minúsculo povoado de NAHACODAO, Tais como o  Saide Usse, Abremane Ulade, Daude Rachide Chuta, Lichuedye, Suede Buchir, Amina Achimo Amir, Alima Buchir, Fato Ndumelo e outros, provaram a tortura por se recusar aos noctívagos, vulgo vanachilos.
É por esta razão que enquanto os leões não inventam as suas próprias histórias, os caçadores serão sempre os heróis das narrativas de caças.
Encolerizados por torturas que executaram, agora a tropa conjunta caminhava mais célere como nunca, em direcção ao povoado de LIGOWOLA.
Pelas 7 horas do dia 9 de Outubro de 1964 a tropa BOERS e OPVs concentra e amarra a população de  LIGOWOLA gritando "estão aonde os turras vanachilo e onde vive a FRELIMO". Estas perguntas não precisavam de resposta porquanto a missão era de chacinar.
O SELEMANE LIGOWOLA escapa amarrado e um tiro arrebenta as cordas e acelera a velocidade do fugitivo;
O BUANAIDE CHUPI alarmado com os tiroteios volta do mato a correr e um tiro lhe estoura oos miolos;
Ao ABDALA PUMA foi decapitado e a sua cabeça foi içada num mastro;
A ALIMA SELEMANE NAMONDE estava a tirar a água do poço quando foi assassinada com um tiro no local.
Quando a tropa saia a caminho de METAMBA DOS MACONDES, levaram consigo os irmãos ABASSE LIGOWOLA E SALIMO LIGOWOLA que foram executados a tiro a quinhentos metros desta povoação.
O bébé AMISSE SAIDE LIGOWOLA foi encontrado pela sua tia FATO AMISSE MAMBO, a ganir no colo de sua mãe  BITI AMISSE MAMBO assassinada à baioneta. Esta reanima o bébé com um duche e volta a correr para a sua povoação onde o curandeiro WANCALAVILE arranja ervas e raízes que induzem a lactação dos seios da tia estéril. AMISSE cresceu mamando os seios da BINTI MAMBO.
NAHACODAO,  e outras povoações da Comunidade de NCHEQUEDELA ficaram em apuros tendo-se refugiado para o mato ou para a TANZÂNIA ou posteriormente, para o aldeamento de NANGADE.
Cobardemente em 1972, o menino AMISSE SAIDE LIGOWOLE viria a ser patenteado a Cabo pelas tropas portuguesas, sem no entanto ter prestado qualquer serviço militar.~
O massacre de LIGOWOLA deixou profundas cicatrizes na memória colectiva da população de NANGADE.

EIS A LISTA DOS ASSASSINADOS EM LIGOWOLA
ABASSE LIGOWOLA
ABDALA PUMA
ALIMA SELEMANE NAMONDE
ASSANE SAIDE LIGOWOLA
ASSUMANE SAIDE LIGOWOLA
BINTI AMISSE MAMBO
BUANAIDE CHUPI
SAIDE AMISSE LIGOWOLA
SAIDE MRIPA
SALIMO LIGOWOLA

FONTES ORAIS:
DAUDE RACHIDE CHUTA
ECHA SAIDE AMISSE LIGOWOLA
AMINA ACHIMO AMIR
VITOR OMAR AMUR

15 DE OUTUBRO DE 1964
MASSACRE DE MDIBUA

Não levou um mês após o massacre de LIGOWOLA, sem que acontecesse um outro extermínio humano no povoado de MDIBUA, na comunidade de NCHELENGANI, a 8 Kms do Sudoeste da vila de NANGADE,
NANGADE acabava de receber um reforço de contingente militar português proveniente de MUEDA, comandada pelo Capitão SAMBANDA com a a missão de executar os nativos indiciados de colaborar ao movimento dos "turras". Acreditava-se que estes povoados seriam a retaguarda segura desse movimento.
No dia 15 de Outubro de 1964, o Capitão SAMBANDA faz uma patrulha pelas regiões baixas de NANGADE, ao longo do rio MBUIDE, afluente do lago NANGADE, na qual capturaram as senhoras ALIMA ISSA LICONDE,  ECHA MOMADE e FATO SAIDE que iam visitar seus familiares em NAMAPONDO. Com as capturadas galgam a montanha até à comunidade de NCHELENGANI onde são deixadas cativas no meio da estrada sob a vigia de três cipaios. Afinal as sequestradas vagueavam com sorte do anjo da morte.



Os militares seguiram o caminho que levava para o povoado de MDIBUA do MAPENDANO, 800 metros da estrada. Permaneceram horas esperando esperando pelo regresso dos seus habitantes dos seus afazeres, até que os nimbos se concentraram na abóbora celeste por cima de MDIBUA; estes sabiam que onde há malícia tem uma inocência apesar da morte não avisar quando vai chegar e cada um ter o seu dia para morrer. 
-- Eu fui enteada do ALFANE BINAMO MAPENDANO. nesse dia fui com a minha prima ao rio e já secávamos a roupa molhada ao sol quando ouvimos os tiroteios. As casas foram incendiadas depois da nossa fuga para NCHELENGANE do NCAMUCHINO.
Testemunho de:  FATO SUMAIL MUSSA LICOVELE.
Entretanto no massacre de MDIBUA salvaram-se misteriosamente apenas dois rapazes a tudo escondidos no povoado.
Trata-se do RACHIDE OMAR ULADE hoje com 61 anos de idade, residente da aldeia NGONGOLO em NANGADE, e sua prima ADIJA ALFANE, filha do tio, actualmente vivendo maritalmente na Tanzânia.











RACHIDE OMAR ULADE, sobrevivente conta como é que se salvou do massacre de MDIBUA.
-- A presença da tropa portuguesa de cerca de duas horas no povoado de MDIBUA, eu não via com bons olhos por isso tentei persuadir a minha mãe que refugiássemos no mato,ela não deu ao meu vaticínio, pois que não se levantou por estar de uma grávida grande. Alrtei-lhe das nuvens que se formavam no céu que trariam trovoadas fatais para ela, permaneceu estendida na esteira como uma baleia encalhada,
A tropa ia fazendo o levantamento e confirmação das presenças de casa em casa.
Convidei a prima que entrássemos dentro da casa pela porte traseira. A Adija entrou pela porta frontal, abriu a traseira, subimos ao tecto feito de bambús entretecidos e cobrimo-nos de uns sacos vazios que o pai recebera da Secretaria Colonial de NANGADE.
A tropa mandou os moradores que se retirem para fora das suas casas e iniciaram a barbaridade sem escrúpulos nem no entanto poupar a idade ou sexo. Numa fracção de minutos a povoação ficou deserta e ensanguentada.
E prossegue:
Quando incendiaram as casas o fumo engrossa as nuvens e choveu torrencialmente tendo-se refugiado todos nas varandas da casa em que estivemos escondidos. Depois da chuva cessar se retiraram mas ficou um desalmado que tentou incendiá-la mas desistiu porque o capim estava molhado. Descemos do tecto, contemplamos a carnificina no pátio e fomos a correr para nos esconder novamente no mato.
Andando novamente pela estrada a tropa deparava-se com indivíduos estranhos vindos de NANGADE
Quem são vocês? Identifiquem-se, caralhos. Rugiu uma voz militar.
Eu sou OMAR ULADE, Intérprete - Tradutor da Secretaria de NANGADE
Eu sou SAIDE ULEDE, mestre ajudante do alfaiate BACAR ARAMBA
Eu sou SELEMANE OMAR MPATILA, acompanhante do alfaiate
Deixem os macacos irem se lamentar dos seus turras do caralho. Resmunga outra voz roufenha. 
BACAR ARAMBA, foi um alfaiate sobejamente conhecido na comunidade visto que consertava fardamentos militares.
OMAR ULADE soltou um grito que estremeceu os mortos quando viu a sua esposa SIDAWA morta. Faltava-lhe saber do seu único filho RACHIDE. 
Ele vistoriou os corpos sem sucesso. Foi atrás da sua casa onde viu pegadas de dois meninos que se dirigiam ao mato. Chamou pelos seus nomes, estes responderam a escassos centímetros de onde terminaria a sua urina se mijasse, cobertos de "lidinguili" ou "nandulo", nomes que os macondes dão ao tipo de fibras bravias entrelaçadas com que apertam as suas casas.



















EIS A LISTA DOS ASSASSINADOS EM MDIBUA
ABDALA SAIDE
ADIJA RACHID
ALFANE BINAMO MAPENDANO
ALIMA ZUBER
AMADE MUSSA
AMINA BINAMO
AMISSE CHUPI
AMISSE ULADEASSINA BINAMO
ASSINA OMAR
ASSUMANE OMAR
BITI LIHINDA
FATO NDALE
FATO SEFO
FATUMA OMAR
HAWA ASSUMANE
LUQUIA MCHOCOLECA
MACHICHO LIAMBA
MASSUDE CHUTA
MASSUDE USSENE CANGULO
MOMADE SAÍDE
NAMPEMBE
NGONIA OMAR
NHAPULE OMAR
OMAR IMANE MAPENDANO
OMAR USSENE CANGULO
RACHIDE ABDALA
SAIDE MCHCOLECA
SAIDE RACHIDE
SAIDE SAIDE
SIDAWA TAIBOO
SIJAI OMAR
SOFIA ABDALA
SOFIA BUANIDE
SOFIIA OMAR
SUABO RACHIDE
TUICALILA OMAR
ZAINABO AMISSE 
ZAINABO SAIDE

FONTES:
FATO ALFANE BINAMO MAPENDANO
FATO 



MASSACRE DE MATUMULA 

24 de Outubro de 1964

 O povoado de Matumula ficava situado a Oeste da vila de Nangade, a Sul do lago Nangade e do rio Rovuma e a Sudeste do lago Lidede.

Matumula foi o centro de concentração, de passagem e de repouso dos transeuntes que vinham ou iam a "manamba", as plantações de sisal na Tanzânia. Neste cruzamento e aglomerado de pessoas vindas dos actuais distritos de Nangade, Mueda,Muidumbe, Macomia, etc., facilitou a infiltração e expansão de políticas da Frelimo. Foi inevitável pernoitar em Matumula, por isso este povoado passou a ser o ponto de referência, o mais habitado e movimentado ao nível da comunidade de Chicuaia. Aliás, a aproximação do Assumane Matumula ao Nantaca de Lilongo, um proeminente frelimista, acresceu às causas para invadir e destruir este povoado.

 A deterioração de relações conjugais entre o Ali Ussene de Litamana(actual aldeia Janguane)com a sua esposa Amina Assumane Matumula, constitui o motivo que ditou ao 3º massacre de Outubro 1964.

A MORTE DAS TRÊS MULHERES INOCENTES

Passados três dias após o massacre de Mdibua, 18/10/1964, confirmava-se a sorte final das três mulheres capturadas em Namapondo. As duas idosas deviam ser mortas apóis o pequeno almoço e a menina devia viver em liberdade incondicional no aldeamento de Nangade.

-Esta tarde iremos passar o cerol à tua mãe Alima Issa Liconde e essa outra desajeitada Echa Momade. Tu viverás incondicionalmente no aldeamento_Anuncia o cipaio-chefe Fernando Nangololo.

-Vossos imbecis sem coração! De que nos acusam para merecermos esta grosseira sentença? Eu não deixo minha mãe morrer sem mim. Não me envergonho com a minha inocência. A inocência da minha vida. Estarei tão feliz se for a morrer com ela. Cumpram a minha suprema vontade. Implora a rapariga Fato Saide.

O local de execução já estava identificado: nos decliveis ao lado Oeste da Residência do Administrador do Distrito. Mataram à queima roupa e lançaram ao fundo dos montes nas bocas das hienas.

Fonte: Hawa Abdala Ncamuchino.












              







segunda-feira, 30 de novembro de 2020

XINDORILHO, 9 DE AGOSTO DE 1974

 JOSÉ CARLOS CORREIA MARTINS

1º CABO PÁRA-QUEDISTA 601/73

"OS ÚLTIMOS TAMBÉM FAZEM PARTE DA HISTÓRIA"

Era uma segunda-feira, 9 de Agosto de 1974, algures na picada do Sagal (Esposende) - Mueda, na zona do Xindorilho, deu-se uma emboscada e o militar da frente é ferido com gravidade, 46 anos passados são datas que ficam marcadas para toda a vida. Hoje, mais uma vez como seu irmão não posso deixar de agradecer aos camaradas que o assistiram no terreno após ter sido ferido.          Ao de helicópteros Comandante Joaquim Oneto. Ao mecânico Abdul Osman, por  o terem socorrido debaixo de fogo. À equipa médica do Hospital em Mueda, chefiada pelo Drº Linhares Furtado. A todos os camaradas que ofereceram o seu sangue,hoje já não está entre nós, partiu em 2016. em seu nome. Obrigado!!!


Bernardino Martins 




















Texto de Bernardino Correia Martins; Irmão de José Carlos Correia Martins, Soldado da 29ª Companhia de Comandos 

                       " OS ÚLTIMOS TAMBÉM FAZEM HISTÓRIA"

José Carlos Martins

José Carlos Correia Martins, Sócio da Associação de Pára-Quedistas do Algarve nº 251, nascido a 25 de Janeiro de 1952 e criado numa pequena aldeia piscatória (BURGAU) do Barlavento algarvio, no concelho de Vila do Bispo.                                                                                                               Ingressei nas Topas Pára- Quedistas no C.C.P. em Tancos a 29 de Janeiro de 1973, na 1ª incorporação , 4ª C.A. Depois de ter feito percurso até chegar à tão desejada Boina Verde, fui colocado em Moçambique, no Batalhão de Caçadores Pára-Quedista 32, 2º Pelotão, 2ª Companhia, com o nº601/73.  Fiz várias operações nos Distrito de Tete e Cabo Delgado.





















Eis a razão dos últimos fazerem História, porque fui  o último Pára-Quedista do B.C. P. 32 a ser ferido, numa difícil operação na picada do Sagal (Esposende), onde sofremos várias emboscadas, como muitos camaradas ainda as recordam, aquando da evacuação da Companhia do Exército, do Sagal (Esposende) para Mueda.



















O grupo de combate ao qual eu pertencia era comandado pelo Alferes Morgadinho e, se a memória não me falha, foi a sua primeira operação. O outro grupo era comandado pelo Alferes Sanches e a Companhia era comandada pelo Capitão Melo de Carvalho. Tínhamos como número de código 
Águia.                                                                                                                                                        No dia 9 de Agosto de 1974, depois de algumas horas de progressão, sofremos mais uma emboscada onde eu era o homem da frente e fui alvejado com um tiro no tórax, atingindo-me um pulmão e o fígado, mas graças à rápida e eficaz evacuação feita ainda debaixo de fogo o mecânico do helicóptero de nome Abdul Osman  e a intervenção cirúrgica a que fui submetido, feita pelo Drº Linhares Furtado e da sua equipa da qual não sei os nomes, sem este espírito de grupo e camaradagem, não estaria aqui a contar a História do Último.
Abdul Osman
















Assim aqui vai o meu agradecimento muito em especial a estes elementos e a todos os camaradas de armas que muito me ajudaram das mais diversas formas, uma das quais, muito especial, foi darem-me o sangue necessário para me salvarem a vida.
O meu obrigado a todos, que nunca foram e jamais serão esquecidos.





































Texto de: 
1º Cabo Pára-quedista 601/73
José Martins







segunda-feira, 16 de novembro de 2020

CHEIAS NO RIO ROVUMA




RELATÓRIO DE ACCÃO Nº 10/71

CHEIAS DO RIO ROVUMA
 influencia das Zona de actuação -- Quartel de TARTIBO (NOVA TORRES)
Período -- 11 Fevereiro 1971 a 12 de Maio de 1971
Comandante: Capitão de artilharia. José Fernando Jorge Duque
Companhia de Artilharia 2745.

1. MISSÃO PARTICULAR
--Ocupar a todo o custo a zona defenida na missão da Operação NOVO RUMO, mudando de posição sempre que as inundações o impusessem mas sem abandonar a zona.
 2. ACTIVIDADE PREPARATÓRIA
- Em Janeiro de 1971 após a primeira inundação, foi informada QG/3ª REP, COM. SEC. "B" e BART 2918 da situação e perspectivas de inundação sugerindo retirada para NANGADE (m/msg Relâmpago 3013 de 102000BMAIO71) ao que o Com SEC "B" ordenou conforme m/msg Relâmpago 76/C de 1104OZJAN71 que a companhia deveria permanecer em local a Sul de Metumbié caso o  Rio não descesse.

Cozinha em Nova Torres.Ao fundo a Tanzânia
-- Por contacto directo com o EXmo, 2º Comandante do Com. Sec. "B" ficou assente que após a cheia de 10 de Janeiro caso o rio ROVUMA descesse voltaria ser ocupada a primeira posição e caso contrário seria ocupada a margem Sul do Rio Metumbué.-- Nos termos das ordens recebidas e em virtude do rio Rovuma ter descido o nível das suas águas foi ocupado a primitiva posição em 12 de Janeiro de 1971.
-- Em 13 de Janeiro os níveis das águas do rio Metumbué e um braço do rio ROVUMA subiram por forma  que a companhia ficou sem comunicações com o exterior a não ser por colunas apeadas e por helicópteros e assim se manteve essa situação até ABRIL de 1971
3. EXECUÇÃO
-- As águas do Rovuma a partir de 12 de Janeiro de 1971 subiam e desciam periodicamente influenciadas por três factores:
- Chuvas a montante do quartel
-- Marés da Foz que por vezes dificultavam o escoamento das águas do ROVUMA
-- Luas, coincidindo normalmente o maior nível com a passagem da lua no zénite do lugar tal situação obrigou o comando a elaborar gráficos do nível das águas, estatísticas no sentido de prever com a maior antecedência possível a inundação do Quartel e portanto a necessidade de evacuar tal, posição, dentro do permisso que tal mudança teria de ser efectuada a pé e que havia material que não poderia ser transportado (viaturas etc...) pois que as comunicações se achavam cortados logo à saída do QuarteL, por um braço do ROVUMA.
-- Foi elaborado um plano de emergência com atribuição de árvores e material de sobrevivência, para caso de cheia inesperada, com treinos do pessoal com o fim de evitar desorganização que poderia provocar  alguma catástrofe.
-- Foi decidido abandonar a zona para ocupar um local mais próximo possível apenas em última instância pois que:
-- Era impossível a evacuação de muito material que a abandonar a posição podia cair nas mãos do IN.
-- Em última estância, quando a vida  ali fosse impossível para as NT também o seria para o IN, e portanto as águas funcionam também como elemento de segurança.
-- A ocupação de uma zona o mais próximo possível do primitivo Quartel, permitiria uma protecção relativa ao material que ali teria de ser deixado,
-- Em 23 de Janeiro de 1971, uma tempestade de chuva e vento ciclónico assolou o Quartel provocando diversos danos no material.
-- Em 11 de Fevereiro de 1971, as águas do ROVUMA subiram de modo a fazer prever inundação pelo que se efectuou uma mudança da maioria do material que podia ser arrastado pelas águas para um local mais seguro, 300 metros a sul da inicial posição. Na realidade as águas do rio ROVUMA transbordando inundando  parte do Quartel.
-- Em 13 de Fevereiro de 1971, voltou a ocupar-se a primitiva posição pois a de alternativa não tinha condições de defesa e as águas do ROVUMA voltaram a descer.
-- Em 16 de Fevereiro de 1971, nova subida de águas que no entanto não exigiram mudanças.
-- Em todo o período eram frequentes tempestades de água e vento que chegaram a arrancar chapas das barracas de zinco e arrancava completamente as barracas de lona.
-- Em 21 de Fevereiro de 1971, nova subida de águas que inundou os terrenos limítrofes. Foi pedida evacuação via helicóptero do manteria Cripto e documentos Secretos e confidenciais do comando que teve lugar em 22 de Fevereiro de 1971. A ponte do rio METUMBUÉ foi destruída pelas águas nesta ocasião.
-- Em 25 de Fevereiro de 1971, nova subida de águas desta vez ameaçadora que obrigou à evacuação total da posição,porque o rio formava vários braços e ainda por apenas estarem presentes no Quartel o 2º Grupo de Combate. A mudança tornou-se uma operação muito morosa e difícil. Utilizaram-se barcos que tinham de ser descarregados nos locais onde os mesmos não podiam navegar efectuando o transbordo nesses locais.
-- Em 26 de Fevereiro de 1971,reformou-se o  dique que vinha sendo construído há semanas para ganhar tempo e permitir a mudança da maioria do material.. Em 26 de Fevereiro de 1971 jás as águas tinham um nível superior ao Quartel e cerca  26 de Fevereiro de 1971 apesar de todos os esforços e forças da água rompeu o dique, avançando pelo Quartel em torrente com muita força a arrastando  à sua passagem tudo quanto encontrava, incluindo alguns militares que trabalhavam no dique e que sentira dificuldades para não serem levados rio abaixo.
-- Em 27 de Fevereiro de 1971, estava mudada a maioria do material, tendo sido dada a seguinte prioridade:
Documentos;Armamento e Transmissões; Munições; Rações de Combate; Restante material de guerra; Bagagem individual; Diversos.
-- Grande parte das ocorrências de material foram devidas ao facto de a mudança ter sido iniciada durante a noite e devido à ausência de parte dos efectivos que deu pouco rendimento ao trabalho e dificultou a reunião dos artigos distribuídos individualmente aos militares ausente do Quartel por motivos operacionais.
-- Em 27 de Fevereiro de 1971 foi ocupada a posição 700 metros a Sul da antiga posição, a mais elevada de toda a região onde se montou estacionamento de emergência.
-- Em 28 de Fevereiro de 1971, chegaram ao rio Metumbué 2 Grupos de Combate da CCAÇ 3309 para rendição e reabastecimento tendo-se feito uma coluna de barcos através da picada submersa para efectuar o movimento. Nessa ocasião já a transposição do rio Metumbié com barcos foi muito difícil devido à corrente e troncos por ela transportados.
-- A Companhia passou a ser reabastecida de pão através de avião e helicóptero.
-- O nível das águas prosseguiu a sua subida até que em 16 de Março de 1971 toda a extensão desde o rio Metumbué até ao Rovuma ficou submersa e portanto a posição de emergência igualmente submersa a cerca de 3,5 Kms do primeiro local em terreno seco, tornando a situação particularmente difícil, nomeadamente:
-- Obrigando o pessoal a dormir sobre árvores
-- Impossibilidade de aterragem de helicópteros
-- Impossibilidade de confecção do rancho.
-- Grande prejuízo de material, munições, géneros devido à inexistência de qualquer local seco que não fossem os ramos das árvores.
-- Grande quantidade de cobras que ali se reuniram que se refugiavam igualmente sobre as árvores.
-- Impossibilidade de defesa eficiente.
-- Tentou-se a passagem para o sul do rio Metambué com barcos mas não se conseguiu devido à pouca profundidade nalguns locais e grande corrente  que arrastava troncos.
-- Em 20 de Março de 1971, tentou-se de novamente para o Sul do Metambué, visto que as águas haviam subido mais, possibilitando o uso de barcos com motor em toda a extensão do percurso (3,5 Kms). Extraviou-se a hélice do motor pelo que o barco foi arrastado da corrente e com grande dificuldade pôde ser amarrado a uma árvore. Pedido um helicóptero para lançar a hélice do motor, essa operação teve em 21 de Março de 1971 Durante todo esse período o barco e o pessoal permaneceram junto ao rio Metumbué sem qualquer hipótese de vencer a corrente do mesmo. Talvez devido ao ao cansaço houve um alarme falso da presença do IN na margem oposta do rio Metumbué, que afinal se verificou serem animais. Não obstante alguns elementos das NT abrirem fogo e alguns caírem à água tendo-se agarrado a árvores ao serem arrastados na corrente. Algum material foi extraviado nesta ocorrência.
Em 21 de Março de 1971, atingiu-se a margem sul do rio Metambué onde se montou um ponto de apoio DAMA) para reunião de pessoal e material. Durante a transposição do rio Metambué por avaria do motor do barco o mesmo foi de encontro a pau afiado que criou dificuldades perdendo-se algum material.
O Aquartelamento de Nova Torres totalmente alagado
Em 22, 23 e 24 de Março de 1971, prosseguiu a mudança para Sul do rio Metambué com barcos dos quais apenas um tinha motor.
-- Fim evitar que o IN julgassem terem as NT abandonado o antigo quartel, durante o dia era patrulhada a zona com pessoal sobre colchões pnrumáticos, lançadas granadas de mão e potes de fumo e de noite colocado um candeeiro lanterna em local visível.
Em 03 de Abril 1971, fêz-se a rotação das forças que guarneciam o ponto de apoio (DAMA) que funcionava simultâneamente como local de descanso do pessoal.
Em 04 de Abril 1971, o ROVUMA iniciou a descida verificando-se que baixava 50 cm.
Em 09 de Abril 1971, iniciou-se o regresso à antiga posição, afim de preservar do IN o material que não havia sido arrastado pela corrente. Como medida de segurança manteve-se o ponto de apoio na margem Sul do tio Metumbié denominado em código com o nome de (DAMA).
Em 11 de Abril 1971, Terminava a mudança da posição intermédia denominada FLECHA para  a primitiva posição denominada QUEBEC.
Em 15 de Abril 1971, depois de consultadas as efemérides e o BATALÃO DE NEGOMANO. confirmada a descida do nível das águas sem qualquer possibilidades de nova subida iniciou-se o abandono de DAMA (margem sul do rio Metumbié) para regresso a QUEBEC (posição inicial).
Em 20 de Abril 1971, considerou-se a situação estabilizada excepto a ligação com o rio Metumbué que ainda era muito difícil devido a manterem-se algumas zonas inundadas e as outras com muita lama..
Em 12 de Maio de 1971, a CART 2745 foi rendida pela CCAÇ  3309 que já dispunha no local  2 Grupos de Combate  em reforço á BART 2745. (Operação Baldeação)
11 de Fevereiro e 1971. retirada da CART. 2745 do aquartelamento de
Nova Torres devido às cheias poucos dias antes da CCAÇ 3309 ter chegado
a Nova Torres (Posição DAMA)
4. ESTADO DAS UNIDADES
A. Pessoal
(1) A situação vivida durante o período provocou desgaste físico e psíquico, em especial devido aos seguintes factos:
-- Situações de perigos criadas pelas águas.
-- Permanência de muitos dias dentro de água que originou toda a sorte de doenças como bronquites, micoses e em especial reumatismo.
-- Grandes danos de material e artigos pessoais que afectaram o estado psíquico em geral e em especial os responsáveis pelo material que com tanto cuidado até aí procuravam manter em devida ordem.
-- Grave prejuízo para a vida administrativa da Unidade.
(2) Pessoal que se distinguiu
Alferes Miliciano 063633468, António Joaquim Castro Dias Pires, porque na ausência do Comandante da Companhia durante a operação "ORFEU 1", no comando interino da Companhia soube manter o moral do pessoal e vivendo em situações particularmente difíceis resolver problemas delicados, como o foram todas as operações nas inundações.
5. IMPRESSÕES RECOLHIDAS SOBRE O MEIO
O quartel de TARTIBO (NOVA TORRES) não oferece qualquer garantia  de segurança pois:
-- Todos os anos fica de comunicações cortadas, mesmo que fosse construída a ponte sobre  o rio Metumbié
-- Fica periodicamente submersa toda a zona entre o ROVUMA e o METUMBIÉ, uma extensão de 5 a 6 Kms de largura como nno corrente ano aconteceu.
6. CONCLUSÕES E PROPOSTAS
Julga-se necessário construir novo QUARTEL a Sul do Rio METUMBUÉ para a Companhia de TARTIBO e efectuar a mudança até Outubro de 1971.













segunda-feira, 25 de maio de 2020

TEXTO e FOTOS RETIRADOS DO LIVRO DO TEJO AO ROVUMA--CCAÇ 3309-MOÇAMBIQUE 1971-1973



                                         A VIAGEM



Em 24 de Janeiro de 1971, no Cais de Alcântara, embarcou o  Batalhão de Caçadores 3834 no N/T "Niassa", sob o comando do 2º Comandante, Major de Infantaria Fernandes Gomes Faria Barbosa.Em 2 de Fevereiro de 1971, embarcaram via aérea para a Região Militar de Moçambique, o comandante do Batalhão Tenente- Coronel de Infantaria Luís Alberto Monteiro Oliveira Leite e o Oficial de Operações de Infantaria Major de Infantaria Armando Alves Pereira,,
Em 14 de Fevereiro de 1971, chegou o batalhão a Lourenço Marques, tendo prosseguido a viagem para Porto Amélia no dia 15 de Fevereiro de 1971.
Em 20 de Fevereiro de 1971 chegou o N/T "Niassa" a Porto Amélia, tendo desembarcado a CCS, a CCAÇ 3309 e a CCAÇ 3310 do BCAÇ 3834.
A CCAÇ 3309 que, por efeitos operacionais se separou do Batalhão, seguiu por via marítima no dia 20 de Fevereiro de 1971 para Palma. Chegou a Nangade, seu local de destino, a 25 de Fevereiro de 1971.

A CCAÇ 3309 e o seu embarque no N/T "Niassa" (uma viagem de ida, mas de regresso incerto
(...)Eram, não se sabe quantas, as carruagens que ali seguiam, todas elas inundadas de gente que mergulhava no álcool, parecendo querer esquecer qualquer tragédia(...)
(...) Era de manhã, e o sol já começara a beijar o país quando as carruagens entraram lentamente na zona marítima como que arrependidas, talvez até decididas a levarem aqueles soldados de volta para bem longe daquele cais de partida, apesar de as terem agonizado com os gemidos das guitarras, das garrafas partidas contra as suas partidas e da humidade das lágrimas em brandy barato que se confundia com a dor.
Estava-se em Janeiro e datavam vinte e quatro dias de 1971, e o céu tornava-se menos escuro do que as vestes desbotadas das viúvas.(...)
(...) Uma das janelas do comboio abriu-se e o pequeno gesto de desapertar o nó da gravata seguido do despir do blusão cor azeitona fosca, acompanhavam o percurso dos olhos do Braz que invadiram de imediato o cais, na ânsia de encontrar alguém que não encontrara até aí, ignorando o frio que se fazia sentir naquela manhã(...)
Parecendo louco , fugindo de tudo, ignorando outras angústias que inundavam aquele cais, correu preocupado tentando afastar-se da multidão angustiada e, sem ter tempo de sentir a emoção de quem acha um  tesouro no fundo do mar, sentiu-se apertado por uns braços fortes, num abraço muito quente, desesperado, cuja angústia se vislumbrava numa face rude e húmida das lágrimas que percorriam aquele rosto moldado pelo sofrimento de uma vida de trabalho, e por existência  provisória.
Ao olhar da mãe, excessivamente emocionado Braz aconchegou-se nos seus seios como uma criaça, beijando-a como nunca a beijara(...)
(...) Fora breve a permanência junto dos familiares. Ao chamarem os soldados para a formatura, Braz, percebendo que ia aumentar a distância entre o aconchego da mãe e as amarguras da guerra(...)
(...) A muito custo , e depois da mãe o inundar de lágrimas que pareciam formar ondas turbulentas que o tentavam tragar, Braz despediu-se apressadamente, correndo para a formatura.(...)
(...) Na parada, empedrada de negro, as tropas devidamente alinhadas, algumas delas parecendo famintas para desertar , iniciavam o seu desfile embebido por uma cena trágico-marítima num palco do qual " pareciam não ter forças para abandonar" forçando as suas botas, que, de raiva, batiam a calçada com tanta força, não conseguindo abafar os gritos e desabafos roucos dos familiares que se aglomeravam nos passeios da zona marítima, que a muito custo iam contendo a sua revolta, enquanto outros, fragilizados pela emoção exteriorizavam a sua dor, gesticulando os braços por cima dos véus que protegiam os cabelos caídos sobre os ombros já gastos do cansaço.
- Assassínios ...fascistas! - quero o meu filho de volta...filhos da puta, vão para lá vocês seus cabrões de merda! (...)
(...) A formatura passava agora em frente à tribuna oficial, e as tropas ao olharem à sua esquerda, obedecendo à voz do comandante, foi-lhes despertada a curiosidade pela observação de um dos soldados da companhia que murmurou:
- Olha! -lá estão as gajas!
- Quem? - murmurou outro:
- As burguesas do Movimento Nacional Feminino, - Afinal também as putas querem que a malta vá para a guerra!
Ao subir lentamente o portaló, Braz, disparando um olhar triste em seu redor reparou que algumas tropas ainda desfilavam no cais, apercebendo-se, então, de quanta beleza transportavam aquelas bandeiras bordadas a ouro dos diversos batalhões que estavam prestes a ser engolidos por aquele monte de aço, ma que teimosamente sulcavam ao vento imitando a ondulação de um navio em alto mar.
De imediato, sentindo-se engolidos por um monstro de ferro, aquelas tropas foram sendo despejadas num porão como se fosse carga para ser consumida num qualquer canhão.
Era no fundo daqueles porões que iriam passar os próximos dias até que o navio, cansado, despejasse num porto distante depois de uma viagem lenta, sufocante, com a certeza de uma ida mas de regresso incerto.
 (...) Já afastado da muralha e inclinado para um dos lados devido ao peso dos soldados que se amontoavam na amurada virada para o cais, o Niassa continuava a roncar os seus apitos arrepiantes enquanto Braz, do alto do guindaste, finalmente, vislumbrou no meio daquele mar de gente a Gracinda, sua mãe, que agitava os braços como se quisesse abraçar aquele monstro feito monte de chapa envelhecida e arrancar de lá o seu filho e fugir bem longe dali onde mais ninguém o pudesse partilhar.(...)
(...)"...  Grito tanto que me sinto rouco, estendo a mão fechando o punho, tudo quanto agarro é tão pouco...", parecia dizer alguém que permanecia sozinho ao fundo do cais acenando para o navio que desaparecera no horizonte, enquanto ao longe a multidão se dispersava, tentando uns secar as últimas lágrimas, outros pensando no trabalho árduo do campo, cuja terra iria ser desbravada agora com a ausência de mais alguns braços de que, inesperadamente ficaram privados. (...)


Finalmente, arrancados do aconchego do lar e daquele abraço forte que parecia nunca mais acabar, lá nos separaram numa viagem de ida e de regresso incerto. "Niassa", 24 de Janeiro de 1971.

MEMÓRIAS
" Até nesta puta de guerra somos discriminados"
(...) Quando o Niassa já estava longe do cais de embarque, é que eu me apercebi da enxovia onde nos tinham enfiado. Os porões, com aquelas camas todas amontoadas que mais pareciam casernas dos campos de concentração, criaram dentro de mim um sentimento de revolta que fui obrigado a conter devido às circunstâncias do momento. A ventilação era deficiente, o cheiro nauseabundo que exalava do fundo dos porões era insuportável o que me levoupor várias vezes durante a viagem, a pegar no colchão e nas mantas e vir dormir para o convés; pelo menos ali respirava-se ar puro. Se a minha indignação já estava ao tubro pelas condições que nos davam a nós que íamos lutar pela pátria, então foi quando explodi de raiva, quando por casualidade me desloquei a outros compartimentos do navio e vi em que condições os oficiais e sargentos iam instalados. Às até tinham empregados de mesa que os serviam, e os camarotes não tinham nada a ver com os porões insalubres onde nós dormíamos. Quando cheguei ao porão onde dormia aí libertei toda a minha indignação e disse para todos os que quiseram ouvir:
-- "Porra, até nesta puta de guerra somos discriminados (...)!

Na foto: o autor do texto anterior
João Luís dos Santos Nabais, 
 Ex. Soldado Condutor Rodas  NM 15467570 da CCAÇ 3309

MEMÓRIAS
" Indignação numa esplanada de Luanda"

Foi de facto um episódio que não chegou ao conhecimento da generalidade do resto da CCAÇ 3309, dado o mesmo se ter envolvido com a caga política que o caracterizou naquela altura.
O navio Niassa tinha chegado à cidade de Luanda no dia 5 de Fevereiro de 1971, pelas 18.00 horas e eu, o Nabais e o Machado (Foz) decidimos dar uma volta pela cidade para desanuviar do ambiente que se vivia no navio, e sair um pouco daqueles porões onde nos tinham encurralado. Sentámos-nos numa esplanada da marginal e ao fim de um tempo assistimos ao seguinte cenário que motivou a nossa intervenção. O proprietário do café (numa atitude de prepotência colonialista) acabara de tirar um jornal a um dos miúdos que os vendia, pondo-se a lê-lo calmamente, devolvendo-o todo rasgado, justificando que aquilo que noticiava eram só mentiras., ao mesmo tempo que pontapeava uma caixa de graxa de um miúdo que tentava arranjar clientes num café, danificando-a , partindo-lhe todos os frascos e latas de pomada que se espalharam por toda a esplanada. Perante a nossa indignação, que se generalizou a todos os presentes na esplanada, questionámos o proprietário do café se aquilo eram atitudes de gente civilizada, dizendo-lhe que não pagaríamos a nossa despesa enquanto ele não indemnizasse o ardina assi como o engraxador dos prejuízos que lhes causara. Como a nossa tomada de posição tivera a solidariedade dos restantes clientes do café que também se mostraram indignados com aquela arrogância, o seu proprietário deu algum dinheiro aos dois miudos que não questionaram a sua quantia, tendo desaparecido num instante. Quando nós pensávamos que o assunto tinha sido encerrado, eis que chega ao café um jeep da Polícia Militar e outra viatura com gente à civil que se identificaram como agentes da PIDE/DGS que nos pediram a identificação como se tivéssemos sido nós os causadores do conflito, instigados pelo dono do café e de um padre que se levantou de uma mesa num dos cantos da esplanada, e disse em tom alarmista:
--Levem-nos...Levem-nos .., esses soldados são comunistas. Posteriormente fomos introduzidos no jeep da Polícia Militar e levados para bordo do Niassa, sem que antes um dos agentes da PIDE/DGS disse-nos em tom jocoso: - Queriam arranjar conflito para ficarem aqui em Luanda só para não irem para a guerra, mas lixam-se que têm que lá ir bater com os cornos, e oxalá que  aqueles Maoístas da FRELIMO os devolvam à Metrópole dentro de "sobretudo de mangas".
Cumprindo ordens da agente da PIDE/DGS, o Furriel que comandava a Polícia Militar levou-nos de volta ao "Niassa" sem fazer qualquer participação do ocorrido, dizendo-nos simplesmente:- Vão-se lá embora malta, porque esta guerra é deles e não tem nada a ver connosco.

Na foto: o autor do texto anterior
Carlos Alberto correia Braz Verdasca
 Ex. Soldado Condutor Rodas  NM 15263570 da CCAÇ 3309


Na foto: O Alferes Martins e os Furrieis Neves, Barbudo e Leite a bordo do "Niassa" 27-1-1971



Na foto: Alvim, Zequinha e Victoe em pleno Oceano Atlantico a bordo do "Niassa"


Momento da chegada do navio "Niassa" ao porto de Lourenço Marques, transportando o BCAÇ 3834, da qual fazia parte a CCAÇ 3309. No cais , aguardando aquele contingente uma fanfarra do Exército que tentava disfarçar a angústia que se vivia a bordo, perante a ausência da população civil que, alheada e indiferente porque estava bastante longe do conflito, dizia: "Guerra? isso é  lá para o norte, nós aqui não sentimos nada"!
Lourenço Marques (Maputo) 14 de Fevereiro de 1971



PALMA

Chegados a Porto Amélia, os soldados da CCAÇ 3309 foram "despejados" debaixo de um alpendre de um armazém do cais, e ali aguardaram durante dois dias o embarque na corveta "João Coutinho" que os levaria a Palma .

Depois de ter desembarcado em Porto Amélia (actual cidade de Pemba) no dia 20 de Fevereiro de 1971, a CCAÇ 3309 embarcou na corveta NRP"João Coutinho" com destino a Palma, onde chegou no dia 23 de Fevereiro de 1971, tendo fundeado ao largo.  às 11h50.

Corveta "João Coutinho" 
(...) Os militares da CCAÇ 3309 foram transferidos para uma Lancha de desembarque que os levou até às proximidades da praia de Palma.
Em terra, e como já vinha sendo hábito, a população nativa misturada com militares da Companhia estacionada em Palma aglomeravam-se na praia para dar as boas vindas aos soldados cujo destino era o aquartelamento de Nangade.

MEMÓRIAS
" Furriel, trouxeste água da Metróple"
(...) debruçado na amurada da corveta "João Coutinho", a brisa fustigava-me o rosto naquela manhã de 23 de Fevereiro de 1971, quando olhava as águas revoltas do Oceano Índico, cujas ondas eram continuadamente sulcadas pela proa, num balancear contínuo a que nos habituara-nos há 30 dias.
Os meus pensamentos variavam entre o passado recente no seio da família e dos amigos e um futuro incerto que o destino havia reservado, não só a mim, mas também a tantos outros que, comigo, seguiam no mesmo barco.
O nosso destino era a povoação de Palma, bem a norte de Moçambique, para daí serem percorridos 105 Kms de picada até ao destino final: Nangade.


Dois dias depois de estadia e descanso em Porto Amélia /Pemba), haviam minimizado toda a ansiedade e incerteza do nosso destino. As praias e o sol tropical contribuíram para uma forte queimadura de costas que eu, inconscientemente, havia exposto, sabendo que, dois meses antes, estivera entulhado na Serra da Olga--Chaves, onde havíamos tirado o I.A.O.
O balancear do barco deteve-se quando entrou nas águas calmas da baía de Palma, ancorando a uma distância que nos pareceu ter mais que 1 Km da praia onde desembarcaríamos, questionando-me eu como chegaríamos a terra.
LANCHA DE DESEMBARQUE A CAMINHO DE PALMA
O meu espanto aumentou quando um batelão de chapa, quadrado, se aproximou da corveta rebocado por um pequeno barco a motor, e toda a CCAÇ 3309 se acomodou sobre ele com a tralha que lhe pertencia. Creio que a viagem até à praia demorou mais de meia hora, com a agravante de ter de parar a uns cem metros dela devido à baixa profundidade na maré vazia.


DESEMBARQUE DE MATERIAL EM PALMA
Chegámos à praia molhados, transportando cada qual o seu equipamento , perante um enorme alarido de alguns habitantes locais e das expressões, EH CHEKA...EH CHEKA, proferidas por elementos dois dois pelotões da CART. 2475 que nos iriam escoltar até NANGADE.No local designado, e, em condições precárias , cada qual se acomodou para passar a noite.
Recordo-me que passei no alpendre dum edifício, pertencente à administração local, e que me pareceu ser uma escola. Apesar da noite estar linda, não conseguia dormir.
A realidade do presente e o destino de cada um de nós, toldavam-me os pensamentos para além das queimaduras de costas não tolerar o chão onde estava deitado. Embebido eu nos meus pensamentos ouvi uma voz que sussurrava:
--Furriel! Furriel! e, olhando para o lado vi vir na minha direcção um soldado de cor pertencente à CART. 2745. Sentei-me e perguntei-lhe o que queria. Ele, receoso e em voz baixa,perguntou-me: Furriel, trouxeste água da Metrópole? Perante tal pergunta fiquei intrigado, sem perceber que raio de água seria essa que ele queria -- água da Metrópole? Instantaneamente ocorreu-me na ideia -- Aguardente!
--Senta-te ao meu lado, disse-lhe eu,enquanto punha a mão à mala que me servia de travesseiro e, abrindo-a, tirei uma garrafa de "Constantino" (brandy) que um amigo me oferecera quando gozei as férias de mobilização nos Açores e que, por mera sorte, ainda ali se encontrava.
Tirei-lhe a rolha, e, na falta de copos levei-a à boca. Bebi um trago e entreguei-lha dizendo:-Bebe.
Após uma breve pausa levou-lha também à boca e bebeu uns bons tragos.
- Obrigado Furriel , - disse-me ele levantando-se , enquanto murmurava -- "estamos acabando e vocês começando"
- Senta-te mais um pouco, disse-lhe eu , levando novamente a garrafa à boca. Sentou-se , e, após uns dedos de conversa a meia voz e termos ingerido uma boa quantidade de brandy , levantou-se dizendo:
- Obrigado Furriel , vamos partir cedo e vau descansar.
Cambaleando , afastou-se sem eu lhe ter visto o rosto nem ele o meu. Foi quando me apercebi que apenas restava na garrafa um pouco de brandy. Acordei com o roncar das Berliets e Unimogs anunciando o início duma picada que, após descanso duma noite em Pundanhar, terminaria em NANGADE no dia seguinte
Era o início do destino da CCAÇ 3309

 O autor do texto anterior
Norberto Manuel de Melo e Leite
 Furriel Miliciano  NM 09168570 da CCAÇ 3309


Aquartelamento de Nangade
A Companhia de Caçadores 3309, chegou a Nangade a 25 de Fevereiro de 1971 depois de ter desembarcado em Palma no dia 23 de Fevereiro de 1971.
O percursor até Nangade foi efectuado em coluna militar sob a escolta de dois pelotões, da CCART. 2703, estacionada em Pundanhar, que efectuou a operação de detecção de minas picada até ao Km 25 daqueles aquartelamento , que ficava ao Km 50 no percurso entre Palma e Nangade, e onde a CCAÇ  3309 pernoitou tendo seguido no dia seguinte para Nangade.

FEVEREIRO de 1971
Alterações à composição
09 de Fevereiro de 1971 a 15 de Fevereiro de 1971. Saíram de Nangade , o 1º e 2º Escalão , respectivamente , da CCAÇ 2622, a fim de seguirem para o Chibuto, via Palma.
Actividades na Região Militar de Moçambique
21 de Fevereiro de 1971 - Começou a Operação "Roda Grande", coluna de reabastecimento de Nangade a Palma e foi realizada por 2 Grupos de Combate de CCART. 2745 e 1 Secção da CCAÇ de Mocímboa da Praia, tendo a protecção da CCAÇ 2703, durante a deslocamento na sua zona de acção.
25 de Fevereiro de 1971 - Pelas 17h30 , foram presentes em Nangade os Oficiais,Sargentos e Praças que compõem a CCAÇ 3309 /BCAÇ 3834. Esta Unidade fica colocada no Sub-Sector de Nangade e portanto dependente do BCAÇ 2918


AQUARTELAMENTO DE NANGADE EM 1971
25 de Fevereiro de 1971 - Chegou a Nangade, integrada na Operação " Roda Grande" a CCAÇ 3309, ficando deste modo o seguinte dispositivo das nossas tropas:
CCS do BART 2918.............................................................Nangade
3 Grupos de Combate da CART. 2745.................................Nangade
2 Grupos de Combate da CCAÇ 3309.................................Nangade
2 Grupos de Combate da CCAÇ deMocímboa da Praia......Nangade
1 Pelotão da CENGª 2736.................................                   Nangade
1 Grupo de Combate da CART 2745...................................Nova Torres
2 Grupos de Combate da CCAÇ 3309.................................Nova Torres
3 Grupos de Combate da CCAÇ 2703.................................Pundanhar
2 Grupos de Combate da CCAÇ deMocímboa da Praia......Palma
1 Grupo de Combate da CCAÇ 2703...................................Nhica do Rovuma
2 Grupos de Combate da CCAÇ de Mocímboa da Praia.....Quionga
Nova Torres é TARTIBO

Aquartelamentos de Nangade e Omar  e os Lagos de Nangade e Lidede
CCAÇ 3309 iniciou a sua actividade operacional na RMM, com a operação "Iniciação 1", ou seja, um patrulhamento e nomadização entre o Lago Nangade e o Lago Lidede. A Operação teve a duração de 1 dia e foi realizada por um Grupo de Combate da CCAÇ 3309, reforçada reforçada com um outro Grupo de Combate da CCAÇ de Mocímboa da Praia
28 de Fevereiro de 1971 - Realizou-se a Operação "Rotação 1" coluna de reabastecimento de Nangade a Nova Torres (Tartibo) e regresso, da CART 2745. Operação realizada com o apoio de 2 Grupos de Combate (GC) da CCAÇ 3309 ; 1 GC da CCAÇ de Mocímboa da Praia, estacionada em Nangade e picagem e segurança de 1 GC da CCAÇ 2703 até ao rio Metumbué, ao encontro das forças da CART 2745. ali se processou a rendição. assim, após a rendição ficou na CART 2745 em Nangade e a CCAÇ 3309 em Nova Torres (Tartibo). Operação terminada a 1 de Março de 1971 com a chegada a Nangade das forças da CART. 2745. Durante a rotação o accionamento de uma mina anti-carro por uma Berliet, causou a sua destruição e 1 ferido ligeiro à CCAÇ Mocímboa da Praia.
O 1º Pelotão da CENGª 2736, diariamente continuou com as obras de melhoramento da pista de Nangade.
Feridos por acidente em serviço:
Soldado 10445170, Adelino da Assunção Pimenta Alvim, da CCAÇ 3309, em 23 de Fevereiro de 1971.

MEMÓRIAS
" Porque não desembarquei em Palma"

... De facto tive um acidente quando seguia ainda na Fragata "João Coutinho", quando esta navegava a caminho de Palma.
Eu estava na fila para beber água fresca e, de repente, senti uma má disposição e desmaiei. Ao cair parti quatro dentes, acabando por não desembarcar em Palma, tendo seguido na mesma Fragata com destino ao Hospital de Nampula onde demorei quatro dias a lá chegar e onde estive internado cerca de um mês.




Na foto o autor do texto anterior.
Adelino da Assunção Pimenta Alvim
Soldado Radio telegrafista 10445170
CCAÇ 3309

 Cabo Pinto à entrada do abrigo
Este abrigo tinha uma particularidade que lhe conferia alguma originalidade digna de see recordada. Para além da aquecidos por um café incolor. Ao som de um rádio sua função de proporcionar meios de protecção e defesa em caso de ataque ao aquartelamento de Nangade, nele funcionava uma pequena e típica "tasca" onde se afogavam tristezas se alimentavam alguns amores adiados. À noite, após o regresso da patrulha, de se rasgarem os aerogramas e se saborearem os odores das notícias de uma aldeia bem distante, era ali no fundo do abrigo que, entre três dedos de conversa e um trago de bagaço onde se mergulhava a dor, que se iludiam todos os medos e incertezas aquecidos por um café incolor. Ao som de um rádio meio desconjuntado e ao sabor de um café intragável, viviam-se momentos de conjura pelos horrores da guerra, envoltos numa nuvem espessa de fumo que exalava "Suruma", elevada à categoria de tranquilizante por medos de batalhas do dia seguinte. A luz ténue que iluminava aquele abrigo e todas as angústias dos que o frequentavam, não ofuscava o pensamento de outros que faziam daquele recanto meio escuro pequena "Àgora" meio contida onde já a raiva e a revolta iam calando mais fundo.


O Rebenta minas telecomandado, detector de minas nas picadas de nangade
Devido ao constante rebentamento de minas anti-carro nas picadas que danificavam as Berliets e vitimavam muitos soldados, quando se efectuavam as colunas de reabastecimento aos aquartelamentos, alguém em Nangade teve a ideia de inventar uma "enginhoca" para ultrapassar aquele flagelo e evitar perdas humanas.
A dita "enginhoca" consistia num Hunimog comandado à distância , apetrechado com um rodado avançado em cimento e aço, com a finalidade , devido ao seu peso, accionar as minas anti-carro montadas na picada pela FRELIMO. Aparentando ser uma tecnologia muito avançada para a época e funcionando em excelentes condições dentro do quartel, no primeiro dia em que foi para o mato tiveram que desistir da experiência porque a dita "engenhoca" não se mostrou tão funcional devido ao acidentado do terreno e a irregularidade do trajecto das picadas que a tornaram inoperacional, sendo encostada a um canto como se fora um monte de sucata.
A pesar de tudo, que não deixou de ser uma excelente ideia, durante as várias sessões experimentais dentro do aquartelamento de Nangade, esta experiência foi motivo de curiosidade das populações dos aldeamentos, que se interrogaram sobre aquele fenómeno de uma forma tão original.
- "...Ai ué. eu ver branco fazer maningue coisa e já não ficar maluco no cabeço; fazer avião voar, meter sardinha dentro de lata fechada-- agora fazer muito confusão no meu cabeço como é que branco fazer o "Pincha" andar sozinho sem ninguém nos volantes pá:
-- FRELIMO no mato quando vir este coisa vai rir maningue..."
O rebenta-minas telecomandado na picada para Muidine
As "Águas" ficavam num vale a cerca de 3 Kms de Nangade. Nesse vale passava um pequeno rio. o Litinguinha, onde anteriormente as tropas estacionadas em Nangade se abasteciam de água para confeccionar as refeições e abastecer os diversos chuveiros dispersos por todo o Aquartelamento. Como se tornava cada vez mais perigoso percorrer aquele percurso devido às emboscadas e às minas que a FRELIMO montava na picada, foi decidido montar um pequeno posto avançado junto ao rio  Litinguinha e naquele locar construir uma estação elevatória para bombear a água através de uma tubagem para o aquartelamento.
Depois de bombeada para o aquartelamento a água entrava num tanque de tratamento e só depois era distribuída para os diversos consumos.
As "Águas" Aqui era bombeada a água para o aquartelamento de Nangade
Foi precisamente nesta picada de acesso às "águas" que a CCAÇ 3309 teve as suas primeiras baixas em combate, no dia 20 de Julho de 1971, onde faleceram os nossos companheiros 1º cabo Condutor Victor Manuel da Silva e o Soldado Albino Dias de Sousa. Quando se dirigiam num Unimog 404 transportando trabalhadores agrícolas dos aldeamentos locais que se dirigiam para as machambas, o mesmo accionou  uma mina anti-carro fortemente reforçada , que causou a morte de mais doze desses trabalhadores agrícolas e alguns feridos ligeiros, entre os quais um furriel que participava na construção da Estação de Tratamento de Águas e que estava adido ao BART 2918 estacionado em Nangade 
Na foto em 1º plano o 1º Cabo Victor, morto em combate em 20-7-1971
O posto avançado das"Águas" 
Anti-aérea situada ao lado do edifício do comando em Nangade
Aquartelamento de Nova Torres (Tartibo)
Antes da chegada da CCAÇ 3309 
No âmbito da Operação "Novo Rumo", forças da CART. 2475, da CCAÇ Mocímboa da Praia e outras unidades ocuparam à FRELIMO uma importante base denominada CANTINA MANICA-SOFALA , nas margens do rio Rovuma com cerca de trezentas palhotas, posto fronteiriço de infiltração da guerrilha em Moçambique, localizado a norte da antiga aldeia de Tartibo, entre Pundanhar e Nangade Devido à sua localização estratégica , era suposto que a CART 2745 ali ficasse estacionada , mas devido ao receio de serem constantemente atacados devido à sua visibilidade e ao conhecimento que a FRELIMO tinha do terreno, aquela base da FRELIMO foi totalmente destruída e a CART 2745 montou o seu aquartelamento a cerca de 3 Kms daquele local, a que uns chamaram Tartibo e outros Nova Torres, em 5 de Setembro de 1970.
Nova Torres 5-9-1970. Jornalisra e oficiais da CART 2745, no local onde vão
instalar o aquartelamento
Vista aérea do aquartelamento de Nova Torres (Tartibo)
Outro aspecto da inundação do aquartelamento de Nova Torres
Aquartelamento de Nova Torres durante a permanência da CART 2745
Retirada da CART. 2745 de Nova Torres para a posião DAMA, devido às
cheias causadas pela junção dos rios Metumbué e Rovuma. Nova Torres 1970
MEMÓRIAS
" Vivíamos de facto em condições muito difíceis"

Capitão José Duque 
(...) Como ex- Comandante da CART 2745, quer aqui prestar um tributo de homenagem aos cerca de 150 homens que me acompanharam durante mais de dois anos, passando sacrifícios, correndo riscos, mas cumprindo sempre a sua missão.
Sei que em muitas ocasiões a acção do comando reveste-se de muita dureza, mas os militares da CART 2745 sempre aceitaram essa dureza e muitas vezes foi pelo rigor, pelo cuidado e pelo sacrifício que conseguimos evitar acidentes, baixas e assim pudemos regressar com a certeza do dever cumprido, e com poucas baixas relativamente aos perigos que vivemos.
É principalmente a eles que dedico o registo das minhas recordações de dois anos em que se firmaram amizades que perduram ainda hoje e continuarão por toda a vida.
A minha estima também vai para os militares da CCAÇ 3309, que nos sucedeu na zona de operações do Rovuma

In " A CART. 2745 em Moçambique" página 1

(...) desembarcada em Palma, a CART. 2745, ali permaneceu alguns dias aproveitados para treino intenso de todo o pessoal em detecção de minas. Em 26 de Fevereiro de 1970 saiu de Palma em direcção ao interior, dando início à operação "Novo Rumo" com a missão de limpar e ocupar o quartel da FRELIMO "CANTINA MANICA-SOFALA" posto fronteiriço de infiltração da guerrilha em Moçambique, localizado junto ao Rovuma, a norte da antiga aldeia de Tartibo, entre Pundanhar e Nangade. A designação deste local foi depois alterado por nós para Nova Torres, lembrando a unidade mobilizadora da CART.2745 (GACA 2 em Torres Novas)

In " A CART. 2745 em Moçambique" capítulo II, Entrada no teatro de operações, página 3

(...) Os militares da CART.2745, durante os oito meses que ali permaneceram, viveram sempre em tendas. No início tinha apenas três viaturas. No início a vida da CART 2745 no aquartelamento do Tartibo foi muito difícil , os abastecimentos críticos , incluindo o precioso correio , chegavam com irregularidade,de helicóptero ou lançados de avião, por vezes caiam longe das vistas do aquartelamento, obrigando a caçadas pelo capim fora; alguns sacos rebentavam espalhando o seu conteúdo por uma vasta área. O abastecimento via terrestre era difícil porque a picada desde a Lângua até ao aquartelamento era quase intransitável e estava minada; eram cerca de 7 Kms que demoravam mais de um dia, porque a detecção de minas era muito difícil em especial nas zonas de floresta. O trilho tinha sido aberto havia pouco tempo durante a Operação"Novo Rumo" e estava cheio de paus, troncos e mato onde era fácil colocar minas e difícil a sua detecção. Numa das primeiras colunas a viatura do 1º Grupo de Combate efectuava a escolta e nos últimos Kms antes da travessia do rio Metumbué começou a detectar minas na picada. Havia uma determinação que as minas não deviam ser levantadas mas sim destruídas. O comandante do Grupo de Combate ia comunicando a detecção de cada mina, mas não se ouvia a sua destruição; o aquartelamento; o aquartelamento situava-se a menos de 10Kms. À oitava foi-lhe perguntado o que se passava com as minas e o alferes respondeu que as tinha levantado todas para não alertar o inimigo o inimigo. Devido ao risco das minas poderem ter armadilhas anti-levantamento foi proibido tal procedimento.
Desde o dia da chegada e durante mais de um mês não houve pão , até que foi improvisado um forno de pão com bidões de gasolina vazios cobertos de terra, no início o pão trazia terra misturada, mas depois melhorou. Também muitos militares faziam as suas pequenas hortas na imediação dos abrigos, onde cultivavam legumes para melhorar o seu menu (...)

In " A CART. 2745 em Moçambique "História da vida em Tartibo-Nova Torres" Página 7

José Fernando Jorge Duque
Capitão de Artilharia 50330311
Comandante da CART.. 2745

Pequenos textos retirados de "A CART 2745 em Moçambique", páginas 1,3,7 da autoria de José Fernando Jorge Duque, ex. Capitão da CART 2745 estacionada em Nova Torres quando a CCAÇ 3309 a foi render em Março de 1971.

Retirada da CART 2745  do aquartelamento de Nova Torres, devido às cheias
poucos dias antes da CCAÇ  3309 ter chegado àquele local. Nova Torres,
(posição DAMA 11 de Fevereiro de 1971
Aquartelamemto de Nova Torres, alagado pelas águas do Rio Rovuma

Um outro pormenor do aquartelamento de Nova Guarda em 1971
Actividade operacional de Março a Junho de 1971

Março de 1971

01 de Março - Continua a instalação do Quartel na nova posição denominada DAMA. O 3º Grupo de Combate em coluna de três barcos pneumáticos e parte do pessoal a nado para o Rio Metumbué com destino a Nangade, constituindo assim o 1º escalão de rotação da CCAÇ 3309 Pela CART 2745. O Comandante da Companhia seguiu essa coluna a fim de comandar a Operação Orfeu 1.
Os Grupos de Combate da CCAÇ 3309 chegaram ao Rio Metumbué pelas 14h00 e ao quartel posição DAMA pelas 17h00.
02 de Março - Pelas 16h00 o 4º Grupo de Combate e o Comandante da Companhia chegaram a Nangade e as forças da CART 2745 em Tartibo organizaram-se em 3 Grupos de Combate mistos com elementos da CCAÇ 3309.
Pelas 07h00 saiu o 1º Grupo de Combate para patrulhar as imediações do Quartel antigo onde tinham ficado viatura e combustível por não serem transportáveis. A patrulha foi feita sobre colchões pneumáticos tendo regressado pelas 11h00.
03 de Março - Rovuma subiu o nível das águas  começando a inundar a posição DAMA (Nova Torres).
As inundações. Nova Torres 5 de Março de 1971
04 de Março -  Iniciada a Operação "Roda Batida", a coluna de reabastecimento de Nangade-Palma e regresso a Nangade pela CART. 2745 com o apoio de várias Companhias ao longo do trajecto. No regresso foi detectada e destruída por forças da CCAÇ 3309 uma mina anti-carro. Mais uma vez se fez sentir a necessidade de meios autos neste Sub-Sector
07 de Março - O Rio Rovuma subiu inundando o quartel de Nova Torres (DAMA. Por essa razão um Grupo  de Combate saiu da posição DAMA de barco e em colchões pneumáticos para executar a Operação FLECHA com a missão de criar uma ponte se apoio a sul do rio Metumbué, a cerca de 4 Kms da posição DAMA.
08 de Março -   Após a avaria de um motor de um barco, as forças da Operação Flecha pediram apoio aéreo, tendo seguido o Comandante da Companhia de helicóptero para efectuar o lançamento por guincho de uma hélice para o barco.
A força atingiu a posição FLECHA pelas 16h00 onde montaram um estacionamento provisório.
 18 de Março - O rio Rovuma manteve-e estacionário continuando os terrenos entre os rio Rovuma e Metumbié totalmente submersos  e portanto o quartel de Nova Torres também submerso.
Apareceram jacarés nas trincheiras e os animais selvagens procuram refugiar-se no quartel por ser um local mais elevado de toda a zona,
19 de Março - O rio Rovuma subiu apreciavelmente tornando impossível vida dentro do quartel de Nova Torres (DAMA) .
O pessoal refugiou-se sobre as árvores onde passaram a viver durante algumas semanas.
27 de Março - O rio Rovuma inundou novamente o quartel de Nova Torres (DAMA) obrigando o pessoal a subir às árvores.
28 de Março - Na Operação "Zagaia 3" realizada na região do mato NANDILA forças da CCAÇ 3309 detectaram e destruíram um acampamento de 2 palhotas antigas e abandonadas, apresentando sinais recentes de vida. No dia seguinte, foi detectado na mesma região um grupo de 5 palhotas, abandonadas, sem sinais de vida recente.
Feridos por acidente em serviço
1º Cabo 13137570, Victor Manuel Armuco, da CCAÇ 3309, em 14 de Março de 1971

MEMÓRIAS
" os mantimentos eram atirados lá de cima"

João Barbudo

"... Em Nova Torres o 1º e 2º Pelotão passaram lá um mau bocado devido às chuvas e quando o helicóptero fazia o abastecimento tinham que atirar os mantimentos lá de cima porque o hélio não tinha condições para aterrar.
Devido a estas condições, tivemos que mais tarde mudar de aquartelamento para lá do rio Metumbié (junto ao mesmo, mas num local muito alto).
Quando em patrulha, andávamos a escolher o local para o novo quartel, encontrámos casualmente uma base da FRELIMO (tivemos contacto com eles ) e foi precisamente nesse local que instalámos o aquartelamento de TARTIBO

Texto e foto de:
João Carlos Barbudo
Ex.furriel Miliciano da CCAÇ 3309 






Abril de 1971

02 de Abril - A CCAÇ 3309 começou a Operação "ZAGAIA 6", entre os Lagos Nangade e Lidede, terminando no dia seguinte sem contacto com o IN.
09 de Abril - rio Rovuma desceu mais alguns centímetros deixando o antigo quartel completamente seco.
10 de Abril - Em Nova Torres pelas 08h00 iniciou-se a mudança da posição DAMA para o antigo quartel, mantinha-se no entanto a posição FLECHA.
11 de Abril - No regresso do Tartibo foi detectada e destruída uma mina anti-carro por forças da CCAÇ 3309.
12 de Abril - Em Nova Torres (Tartibo) terminou a instalação no antigo quartel tendo  sido abandonada a posição DAMA e iniciaram-se os trabalhos de organização do  terreno e reparação do quartel.
13 de Abril - Em Nova Torres prosseguem os trabalhos de reorganização do quartel. Em Nangade fazem-se os preparativos para a Operação "ORFEU 1"
14 de Abril - Pelas 07h00 teve início a Operação "ORFEU 1" comandada pelo Comandante da Companhia na qual  tomaram parte as seguintes forças:
O Comandante das forças em operação o:
 CMDT da CART 2745
Agrupamento Jacaré: 
CMDT da CCAÇ 3309
2 Grupos de Combate da CCAT 2745
2 Grupos de Combate da CCAÇ 3309
Grupos Especiais (GE) 205, 206 e 210
Agrupamento Onça
CMDT da CCAÇ 2703
2 Grupos de Combate da CCAÇ 2703
1 Grupos de Combate da CCAÇ de Mocímboa da Praia
Batalhão de caçadores Paraquedistas:
2 Companhias de Paraquedistas
Esta Operação tinha como objectivo a destruição de meios de vida do IN a sul da mata de Chicadera


Partida de Nangade dos Agrupamentos "Jacaré" e "Onça",
Operação "Orfeu 1"
15 de Abril - Prossegue a  Operação "ORFEU 1" tendo o agrupamento Jacaré atingido a linha de partida (Rio Nandango) onde pernoitou.
Em Nova Torres iniciou-se a mudança do rio Metumbué (Posição Flecha) para o antigo quartel.
16 de Abril -  Prossegue a Operação "Orfeu 1", após o bombardeamento dos objectivos pela força Aérea Portuguesa e helicóptero de assalto pelas Companhias de Paraquedistas. O Agrupamento Jacaré progrediu em direcção SUL tendo atingido o objectivo pelas 18h00, onde se ouvia muita gente a falar e gritar. Entretanto um elemento do inimigo penetrou descuidadamente no dispositivo das nossas tropas, e ao ser dado ordem para ser capturado logrou fugir apesar de ferido.
Foi tentado o Golpe de Mão sobre os objectivos mais próximos devido ao total desconhecimento da ZONA e à escuridão, os movimentos foram lentos e encontraram-se os objectivos abandonados.
Até à presente data não obtida ligação com o PCV, e constou-se que os PÁRAS e a FAP tinham atacado objectivos diferentes daqueles onde se encontrava o Agrupamento.
Em NOVA TORRES prossegue a mudança da Posição Flecha para o  antigo quartel..
17 de Abril - Prossegue a Operação "ORFEU 1" tendo-se durante todo o dia procedido à destruição de machambas e outros meios de vida do inimigo. Ainda durante o mesmo dia o Agrupamento Jacaré de que faziam parte as forças da CCAÇ 3309 foi flagelado pelo IN com armas ligeiras. Mais tarde foi flagelado com morteiro de 82 mm, sofrendo um ferido ligeiro (GE 205). Perto da noite foi novamente flagelado, mas com morteiro 60 mm, sem consequências.

Operação "Orfeu 1" Mutamba dos macondes  em 18 de Abril de  1971
18 de Abril - Pelas 14h00 o inimigo flagelou o Agrupamento Jacaré com armas automáticas sem consequências.Pelas 17h30 o inimigo flagelou o Agrupamento Jacaré com tiros de morteiro 82mm bem ajustados tendo causado um ferido ligeiro. Pelas 22h00 foi abortada uma tentativa de ataque do inimigo mediante um contra-ataque das nossas tropas. Pelas 23h00 , por estar o Agrupamento Jacaré localizado pelo inimigo e devido ao elevado efectivo de civis foi decidido mudar o estacionamento a coberto da noite mais a sul.
19 de Abril - Prossegue a Operação "ORFEU 1" tendo durante todo o dia o Agrupamento Jacaré procedido à destruição de meios de vida do inimigo, o qual pelas 06h00 flagelou com morteiros 82 mm a anterior posição do Agrupamento que já estava abandonada.
20 de Abril - Prossegue a Operação "ORFEU 1", tendo pelas 07h00 o Agrupamento iniciado o regresso tendo-se reunido ao Agrupamento Onça pelas 11h00.

21 de Abril - Pelas 14H00 terminou a Operação "ORFEU 1" com os seguintes resultados:
Sofridos nas nossas tropas: 1 Ferido ligeiro
Causados ao inimigo: 1 Ferido
Capturados: 2 Canhangulo
                    5 Toneladas de milho em grão
                    5 Toneladas de arroz
                    Diversos produtos alimentares
                    Diversos utensílios domésticos
                    Documentos
Destruídos:  5 Palhotas
                    200 Kgs de cajú
                    15 Hectares de machamba (equivalente à produção de 30 Ton. de milho, aroz etc...
Forças da CART. 2745 e da CCAÇ 3309, iniciaram a Operação "FLECHA 16", nomadização e interdição da fronteira na região de Nova Torres. Terminou passados dois dias , sem contacto com o IN.
23 de Abril - Em virtude da Operação " Orfeu 1" , é natural que o IN venha a exercer represálias. Durante a noite de 22 para 23 se Abril, foram observadas várias luzes a Oeste de Nangade, na margem esquerda do rio Litinguinha. Foi efectuada batida ao local pelo GE 205 e dois Grupos de Combate da CCAÇ 3309, que não detectaram quaisqueres vestígios do IN na região.

Maio de 1971

08 de Maio - Em Nangade e em Tartibo prepara-se a Operação "Baldeação"
09 de Maio - Pelas"Bald 05h30 saiu de Nangade o 2º e 3º Grupos de Combate para executar a Operação "Baldeação" coma missão de escolta do 2º escalão da CCAÇ 3309 que rende a CART. 2745 em Tartibo (Nova Torres). Aproveitou-se esta coluna para fazer o reabastecimento de Nova Torres (Tartibo). Em 10 de Maio de 1971, ao proceder-se à descarga das viaturas, 1 elemento da CCAÇ 3309 accionou uma mina anti-pessoal a cerca de 10 metros da picada gravemente ferido. A mina era provavelmente antiga.
10 de Maio -  Os 2º e 3º Grupos de Combate prosseguem a Operação "Baldeação" tendo chegado ao rio Metumbué pelas 12H00 onde se fez o transbordo de material de géneros para o quartel de Nova Torres (Tartibo).

MEMÓRIAS
" Acidente no rio Metumbué"

" Sim. o ELIAS RIÇA ficou sem uma perna junto ao rio Metumbué no dia 10 de Março de 1971, quando do  transporte de material para o outro lado do rio que não tinha ponte. Tivemos que pôr duas vigas para as passarem. Por isso, demorámos quatro dias para chegar ao Tartibo/Nova Torres. Esta operação foi efectuada pelo 3ºe 4º Pelotão para se juntar ao 1º e 2º Pelotão que se encontravam e Nova Torres

Texto e foto de: João carlos Barbudo
Furriel Miliciano da CCAÇ 3309 










12 de Maio - Os 2º e 3º Grupos de Combate prosseguem a Operação "Baldeação" e a eles se reuniu o 1º Grupo de Combate e a Formação da CART. 2745 que estava em Nova Torres, e dessa forma iniciaram o regresso a Nangade pelas 07h00 onde chegaram pelas 15h00, tendo a partir desta data a Zona de acção de Nova Torres (Tartibo) passado à responsabilidade da CCAÇ 3309 e a CART 2745 passou a desempenhar a missão de força de intervenção do Comando do Sector "B" atribuída ao BART. 2918.

25 de Maio - Forças da CCAÇ 3309 regressaram da Operação "Barragem" sem contacto. interdição e segurança à Operação "Onda" desde 22 de Maio de 1971.
26 de Maio - Na noite de 26 para 27 de Maio forças da CCAÇ 3309 avistaram sinais luminosos perto do seu Aquartelamento. Já que no dia 15 deste mês tinha sido avistado um very-light vermelho.
28 de Maio - Operação "Zagaia 3", realizada na região do mato Nandila. Nesta operação, as

Feridos graves em combate:
Soldado Elias Riça da CCAÇ 3309, em 10 de Maio de 1971
Feridos por acidente  em serviço
1º Cabo Victor Manuel Araújo de Matos em  14 de Maio de 1971
Soldado Serafim carneiro Nunes em 14 de Maio de 1971

Junho de 1971
03 de Junho - Realizou-se a Operação " Onda 3", a coluna de reabastecimento, Nangade - Nova Torres - Nangade, à CCAÇ 3309. Foi efectuada por 1 Grupo de Combate da CART 2745 e  2 Grupos de Combate da CCAÇ 3309. A coluna chegou a Nova Torres no mesmo dia e regressou a Nangade no dia seguinte.
06 de Junho - Iniciou-se a partir de Nangade a Operação "Onda 4", transporte do Batalhão de Paraquedistas 31 de Palma para Nangade que se realizou sem contactos com o IN.A coluna chegou no mesmo dia a Pundanhar e no dia seguinte pelas 10h00 a Palma. Foi assegurada protecção por forças da CCAÇ 2703, CCAÇ Mocímboa da Praia e CCAÇ 3309.
08 de Junho -  A CART. 2745 iniciou pelas 06h30 a Operação "Badanal 1" com a missão de a partir de Nangade chegar à Base Beira e ali recolher, proteger e escoltar a CENGª 2736 duranre a abertura da estrada Mueda - Nangade.
CMDT: Comandante da CART. 2745
1 Esquadrão de Morteiro 81
Sub. Agrupamento CAVERNA -2 Grupos Combate da CART. 2745
Sub. Agrupamento COVIL - 2 Grupos Combate da CART. 2745
Sub. Agrupamento ADIDO - 1 Grupos Combate da CCCAÇ 3309
Sub. Agrupamento SAPO - Grupo Especial 205
10 de Junho - Pelas 06h00 atingiu-se o objectivo (Base Beira) onde se encontravam 2 Companhias de Comandos e a CCAÇ 2795 reforçada.
11 de Junho - Foi avistado do Aquartelamento de Nova Torres um very light azul, lançado da Margem Sul do Rio Rovuma, a cerca de 2 Km do estacionamento.
12 de Junho - O IN flagelou o aquartelamento de Nova Torres com 15 tiros de morteiro 82 m/m, sem consequências . no mesmo dia realizou-se a Operação "Onda 8", coluna para recolha dos paraquedistas, entre Palma e Quionga. não foram detectados quaisquer vestígios do IN.
17 de Junho - Saiu de Pundanhar o 1º escalão da Operação "Onda 10" 
-  2ª fase para a Operação "Osiris", sendo largada na região da Lagoa Namioca .
Destruiu a base Namunda e capturou um homem, duas mulheres e uma criança. No mesmo dia saiu de Pundanhar 0 2º escalão do BCP 31, asseguraram protecção do itinerário forças da CCAÇ Mocímboa da Praia , da CCAÇ 2703 e CCAÇ 3309
 22 de Junho - Saiu de Nangade a coluna Operação "Onda 12" - que chegou no dia seguinte a Palma e durante a qual uma viatura Berliet accionou uma mina anti-carro ficando danificada. Foi detectada e destruída uma armadilha entre Nangade e Pundanhar. Esta coluna regressou a Palma em 26 de Junho de 1971, chegando a Nangade a 27, Asseguraram protecção de forças da CCAÇ Mocímboa da Praia , da CCAÇ 2703 e CCAÇ 3309

MEMÓRIAS
" Ler à luz de uma candeia e dormir numa cama feita de paus"
Nangade, 22 de Junho e 1971

Querida "Mana"
"... mesmo hoje acabo de chegar de uma operação onde vínhamos a abrir uma picada, onde morreu um rapaz dos Comandos. A morte dele resultou de rebentar uma granada debaixo do peito dele que ficou todo desfeito. Nessa picada andámos por lá 10 dias e onde fomos assaltar uma base dos turras e onde prendemos uma mulher turra que trazia uma arma automática e apreendemos muito material de armamento, pois essa base era uma das grandes bases que há aqui em Cabo delgado, até tinha hospital por baixo do chão e onde foi lá o Governador no dia 10 de Junho.
Olha, encontrei lá muita malta conhecida.
Então como vão as festas dos santos populares em Almada? vão boas? e a feira de Almada como vai este ano?
Olha, festejei cá o meu dia de anos. Não foi nada mau mas podia ser melhor, o que é preciso é que daqui a dois anos eu os passar aí e o resto é conversa... olha, novidades daqui não são nenhumas pois é sempre o mesmo como deves saber. Aqui o nosso trabalho é muito intenso é de manhã à noite no mato e fazer reforços nos postos de sentinela de noite. É assim a vida do pobre soldado e não penses que isto aqui é bom mas o que é preciso é o tempo passar.
...vocês nem fazem uma pequena ideia o que é o dia a dia da gente que chegamos à noite cansados por todos os lados, e ainda temos que escrever à luz de uma candeia a petróleo e depois vamos dormir numa cama feita de paus sem colchão, vocês não fazem uma pequena ideia, mas enfim. Olha vê se me podes mandar a roupa que te pedi..."
Texto e foto de: 
Pedro Manuel Gaspar Augusto
1º Cabo da CCAÇ 3309
 25 de Junho - Quando o helicóptero de reabastecimento à CCAÇ 330, em Nova Torres, efectuava a segunda viagem, ao  observar o rio Rovuma, avistou numa ilhota do meio do rio, a cerca de 18 Kms, a Oeste daquele estacionamento, um barco equipado com motor e com pessoal dentro do mesmo. Logo que chegado ao estacionamento e contactado o Comandante deste, verificou-se que o barco não era das NT. Foi montada rapidamente uma Operação de golpe de mão para capturar a embarcação. Um furriel e quatro praças foram imediatamente largadas em plena ilha. Simultâneamente saíram em marcha três elementos desarmados e oito armados, que se se puseram em fuga em direcção à Tanzânia, abandonando o barco. Reunidas as forças , ao cair da noite, estes embarcaram nos dois barcos: o "Zebro" e o capturado (tipo"DORY" e vieram ao sabor da corrente até Nova Torres (Tartibo).
Barco da Frelimo apreendido pela CCAÇ 3309 no rio Rovuma em 25-7-1971

NEM TODOS FORAM CAMARADAS (Memórias)
Havia necessidade de se realizar uma coluna de reabastecimento ao aquartelamento de Muidine, e o Furriel do Grupo de Combate da Companhia de Caçadores 3309 andava atarefado a avisar os elementos do seu pelotão que a saída para o mato estava para breve:
- Malta, vamos lá a despachar que a coluna tem que sair pela fresquinha. Como o "Alentejano" se manteve imóvel deixando-se ficar sentado na cama, despertou a curiosidade do Furriel que lhe questionou:
- Epá "Alentejano", tu estás amarelo como o caraças, o que é que tens?
- Estou cá com uma camada de paludismo que nem me aguento nas pernas meu furriel.
Dotado de alguma compreensão, o Furriel ordenou que o "Alentejano" não fosse naquela operação, mas ficasse no quartel a restabelecer-se dos "frios e calores que alternadamente lhe inundavam o corpo".
A um canto da caserna, de especto rude, que fazia lembrar as rugosas montanhas transmontanas, um soldado dirige-se ao Furriel em termos pouco civilizados e remata com alguma violência verbal:
- Olhe lá meu Furriel! Então esse "mouro" d'um cabrão não vai para o mato porquê?
- Então não vê que ele está apenas a fazer ronha só para não ir com a malta?
O "Alentejano", apercebendo-se da agressividade do companheiro de pelotão, dirigiu-se ao furriel dizendo-lhe que afinal contasse com ele, pois iria tomar um LM e logo ficaria bom, "só para que não restassem dúvidas e desconfianças sobre a sua pessoa" - Disse.
O Furriel ainda insistiu para que ele não fosse mas o "Alentejano", teimoso e ferido no seu orgulho insistiu também:
- Não meu Furriel! - Eu vou só para calar a boca àquele galego de merda.
Por casualidade eu assisti a todo este diálogo, pois, de cada vez que companheiros meus saíam para o mato eu dirigia-me à sua caserna para lhe desejar boa sorte e assistir à sua partida.
A coluna acabou por sair naquela madrugada e nada previa que algo viesse a acontecer, uma vez que o percurso iria ser efectuado pela picada nova que dava acesso ao aquartelamento de Muidine recentemente construído, bastante espaçosa, e onde se pensava ser difícil colocar qualquer mina, uma vez que a mesma era bastante frequentada diariamente pelas máquinas da Companhia de Engenharia 2736 que procedia à sua construção.
Ainda o pó levantado da última viatura não tinha pousado na terra batida da picada, aconteceu o que era frequente nas outras picadas e que ali parecia improvável.
Inesperadamente, ao quilómetro 9, a Berliet que seguia na frente accionou duas minas anticarro (ficando outras duas por rebentar) causando à Companhia de Caçadores 3309 14 feridos, quatro deles com alguma gravidade, e um morto.
O morto em causa era o "Alentejano", que a falta de camaradagem (talvez inconsciente) atirou para o meio daquele fumo espesso, enegrecido, que se abateu sobre o seu camuflado e lhe ceifou a vida.
Eu estava na caserna quando ouvi um grande estrondo apesar da distância onde ocorrera, e disse cá para mim:
- Já houve merda na picada. Quando o Unimog 404 que se deslocou à picada para socorrer as vítimas regressou ao quartel, pousei o livro que estava a ler e corri de imediato para o posto médico que era mesmo em frente da minha caserna e presenciei um cenário deveras aterrador, com os feridos amontoados a agonizar dos ferimentos sofridos, ficando muito mais impressionado com o aspecto do “Alentejano” que parecia olhar para mim, de olhos bem abertos, que "pareciam querer ainda olhar pela última vez e acariciar as espigas ondulantes da sua seara" que dizia crescer nos arredores de Aljustrel sua terra onde nascera.
Foi muito comovente ver partir os helicópteros que fizeram a evacuação dos feridos e do “Alentejano” falecido em combate, e a comoção foi transversal a todos que presenciaram a partida daquela formação de helicópteros com destino ao Hospital de Mueda.
5 de Julho de 1972
Aquartelamento de Nangade
Moçambique
Fotos: O “Alentejano” e uma máquina da Companhia de Engenharia 2736 que se dirigiu à picada para remover os destroços da Berliet minada.
Nota: Faz hoje precisamente 49 anos do ocorrido e em homenagem ao meu amigo "Alentejano" reedito este apontamento escrito no meu caderno diário no próprio dia da ocorrência.
Um percurso carregado de incertezas


O aquartelamento de Pundanhar situava-se no meio do percurso entre os aquartelamentos entre Nangade e Palma.
Fora um aquartelamento muito fustigado pela guerrilha de FRELIMO, dado situar-se numa zona bastante crítica no contexto da luta de libertação daquela organização.
Já em 1969, numa acção concertada e de grande envergadura, os guerrilheiros da FRELIMO atacaram aquele aquartelamento incendiando todo o seu perímetro defensivo e a totalidade do aldeamento, como represália pelo apoio da população às tropas portugueses ocupantes.
Quando a CCAÇ 3309 iniciou a sua missão em Nangade as tropas estacionadas no Aquartelamento de Pundanhar era a CCAÇ 2703, onde vieram a participar em diversas operações conjunta como a Operação "ORFEU 1" entre outras, ora na protecção às colunas de reabastecimento e picagem do seu percurso,compreendido entre Nangade - Pundanhar ou Pundanhar - Palma.
MEMÓRIAS
"No nascimento de Zungo Berliet Tropa!"
"... A coluna de abastecimento tinha saído de Nangade no dia 20 de Setembro de 1971, e tinha chegado a Pundanhar no mesmo dia mas já ao entardecer devido à emboscada de que foi alvo na zona da "Langua" e à detecção durante o percurso de vária minas anti-carro que atrasaram a sua chegada. Nessa coluna viajavam também alguns nativos dos aldeamentos de Nangade e, entre eles uma rapariga muito jovem que estava no final da gravidez, sendo seu desejo ir ter o bbé a Palma para onde a coluna de reabastecimento se dirigia. Foi aconselhada a ficar em Pundanhar para aí se proceder ao parto que estava iminente, ao que ela recusou pois pretendia que o bebé nascesse em Palma junto dos seus familiares como era tradição da sua etnia.
No dia seguinte, 21 de  Setembro, a coluna saiu de Pundanhar sendo seu andamento muito rápido durante alguns Kms, dado que saira um Pelotão da CCAÇ 2703 ali estacionada, e que fizera a picagem e detecção das minas até ao quilómetro 15, na direcção de Palma. Como a partir desse local o andamento fosse mais lento devido à picagem do terreno, e porque a coluna sofrera nova emboscada, e um rebentamento de uma mina anti-carro que danificou a Berliet causando um ferido grave, tendo perdido algum tempo a aguardar o helicóptero para a evacuação do ferido, a coluna,devido ao aproximar do cair da noite teve necessidade por questões de segurança na seguir para Palma e pernoitar na mata.
A jovem nativa à muito que começara a ter dores e o parto estava por momentos. O enfermeiro fora chamado de urgência junto da rapariga e o parto aconteceu mesmo ali em cima de uma Berliet embora as condições as condições não fossem as mais adequadas. Lembro-me tão bem desta história porque a mesma aconteceu no dia em que fiz dia 21. O mais engraçado deste acontecimento insólito foi que, em jeito de homenagem àquele nascimento e nas condições em que o mesmo se procedeu, o enfermeiro pertencente à CCAÇ de Mocímboa da Praia estacionada em Palma e que seguia na coluna e prestou assistência ao parto, quis "oficializar" ali mesmoa sua condição de padrinho do bebé, atribuindo-lhe um nome, dizendo à mãe:
--Olha lá menina, como o bebé nasceu em cima de uma Berliet  e eu fui da tropa que tirei esse terrorista cá para fora, ele vai vai chamar-se Zungo Berliet Tropa , - despejando-lhe o resto da água que ainda tinha no cantil por cima da cabeça para dar outro ar à cerimónia.
Texto e foto de: 
Carlos Alberto Correia Braz Vardasca
Soldado Condutor Auto-Rodas CCAÇ 3309

Setembro de 1971
Dia  01 - Durante um patrulhamento executado por forças da CCAÇ 3309 a várias ilhas do Rio Rovuma, foram detectadas vestígios que numa delas, a cerca de 400 metros de Nova Torres, um grupo IN  lá ter passado a noite. À aproximação das NT da ilha, foram disparadas várias rajadas do lado da Tanzânia.
Dia  03 - 3 Grupos de de Combate da CCAÇ 3309, iniciaram a Operação"Barca 1" de patrulhamento, nomadização e interdição da fronteira entre os Lagos Nangade e Lidede. Foi feito um golpe de mão sobre um acampamento IN com 5 palhotas em que foram abatidos 5 elementos e capturado o seguinte material: 2 espingardas semi-automáticas;1 carregador Kalashnikov; 1 sabre4 lâminas com cartucho curto; 95 cartuchos 7,62 curto; 1 fato camuflado; 6 cobertores; 2 lençóis roupas civis; 1 bolsa de enfermeiro e documentos vários.
Dia  07 -  Forças da CCAÇ 3309 detectaram um acampamento com 40 palhotas abandonadas no local de coordenadas 3931.1100.
Dia  08 -  Durante a mesma operação foi assaltado e destruído um acampamento IN com 10 palhotas em região de coordenadas 3931,3.1101,
No mesmo dia foram avistadas 5 canoas com elementos IN armados no  local de coordenadas 3930.1102. Durante esta Operação o IN flagelou  várias vezes as NT com morteiro 82 m/m e armas automáticas, tendo uma das vezes causado  2 feridos ligeiros ao  GE 205
Dia  09 Teve início uma coluna de reabastecimento de Nangade a Palma, integrada na Operação "Fronteira" na qual estiveram empenhadas as forças da CCAÇ de Mocímboa da Praia, CCAÇ 3309, CCAÇ. 2703 e CART, 2743 
Dia  13 Foi detectado um potente projector na Tanzânia junto ao Rio Rovuma que iluminou o quartel de Tartibo (Nova Torres). Foram detectados vestígios recentes do IN junto  ao Rio Metumbié.
Dia  13 Iniciou-se o movimento de regresso Palma - Nangade da coluna de reabastecimento integrada na Operação " Fronteira". Montaram segurança ao itinerário as forças da CCAÇ de Mocímboa da Praia, CCAÇ 3309, CCAÇ. 2703 e CART, 2743 
Dia  21 e 22 Foi efectuada por 2 Grupos de Combate da CCAÇ 3309 e pelo GE 210 a Operação "Ocular 1", batida para reconhecimento do novo Quartel do Tartibo. Terminou com os seguintes resultados: capturados 2 carregadores de armas automáticas, 1 marmita, um sabre, 10 munições e documentos vários.
Dia  25 -  Teve início a Operação "Ocular 2", para abertura do novo estacionamento da CCAÇ 3309 (Tartibo) em coordenadas 3946.1056,2. Nesta Operação estiveram empenhadas 3 Grupos de Combate da CART. 2745, 1 Grupo de Combate da CCAÇ de Mocímboa da Praia, 2  Grupos de Combate da CCAÇ 3309, GE 210, 11º Pelotão de Artilharia /GAC  6 (destinado a reforçar a Companhia com sede em Nova Torres), 1 Pelotão da CENGª 2736 E 1 Esquadrão de Morteiros 81. Durante o período de construção do Aquartelamento. o 5º Pelotão de Artilharia da 2ª BAT/GAC 6 efectou em Nangade 40 tiros de Obus para as zonas prováveis de ataque. A Operação terminou em 1 de Outubro de 1971.
Outubro de 1971
Dia 1 -- O IN alvejou um avião DORNIER sobre a Base Beira sem consequências.
Dia 1 -- IN flagelou o novo estacionamento do Tartibo, por 4 vezes, com 50 granadas de morteiro 82 m/m; caíram 11 granadas dentro do estacionamento, causando um ferido grave à CCAÇ 3309, durante o primeiro ataque, onde veio a falecer o nosso companheiro Pedro Gaspar Augusto  (Almada)
MEMÓRIAS
"Quando a rouquidão foi silenciada!"


"...Amigo Braz, vou-te contar como sucedeu a morte do nosso camarada "Almada" . Ele não faleceu no ataque ao aquartelamento de Tartibo no dia 1 de Outubro de 1971 onde foi ferido gravemente, mas sim no helicóptero a caminho do hospital, pois só soubemos da morte dele dias depois do ataque que tivemos no acampamento, vindo a falecer no dia 2 de Outubro de 1971.
Não me lembro que dia de semana era, mas digo-te amogo, que foi um dia terrível que passámos naquele acampamento.
Era um aquartelamento novo, pois tínhamos acabado de retirar de Nova Torres devido às cheias do Rovuma, e que estava a ser construído  pela CENGª 2736 que estava estacionada em Nangade.
Com os abrigos ainda a construir, pois estavam apenas escavadas algumas valas, o nosso Capitão deu ordens à CENGª para se retirar para Nangade, quando a maioria dos abrigos ainda estavam por cobrir.
No dia seguinte à retiradas das máquinas daquela Companhia de Engenharia fomos atacados por vários canhões sem recuo e por morteiros 82 m/m que causou algum pânico no aquartelamento.
De entre os vários feridos o "Almada", o que menos sorte teve, pois uma granada de morteiro de 82 m/m foi mesmo cair no buraco onde ele se encontrava ferindo-o gravemente. Ao ser atingido com gravidade ficou em coma, e ao dar entrada na tenda que fazia de enfermaria, logo o Furriel Silva lhe colocou soro e uma gaze na boca para ele continuar a respirar.
Devido à dificuldade que o "Almada" tinha em manter a respiração, o Furriel ordenou que nós tentássemos a sua estabilização através da respiração boca a boca, o que fizemos desde o momento em que foi ferido, até às 5 ou 6 da manhã do dia seguinte quando chegou o helicóptero para efectuar a sua evacuação para o hospital de Mueda.
Texto e foto de: 
José Fernando Pinto silva
1º Cabo auxiliar de Enfermagem da  CCAÇ 3309

MEMÓRIAS
"Foi ele que me avisou da morteirada!"
"...  No dia do ataque ao aquartelamento de Tartibo, naquele preciso momento eu estava em cima duma árvore a montar uma antena de rádio mesmo lá no topo, e nem me apercebi do seu início de tão entretido que estava a acabar aquela tarefa, uma vez que tínhamos acabado de chegar àquele aquartelamento novo e era necessário restabelecer as comunicações o mais urgente possível.
De repente e bem apressado, o "Almada"passa a correr por debaixo da árvore e grita em altos berros apesar da sua rouquidão:
-- Epá Serrinha, então não  ouves a merda das saídas dos morteiros?
-- Salta já daí depressa que estamos a ser atacados! e lá foi a correr para uma vala para se abrigar das granadas de morteiro 82m/m com que a FRELIMO nos atacava. Nunca mais o vi, e depois do ataque cessar é que vim a saber que tinha sido ferido com alguma gravidade, com estilhaços de granada no peito, pelo que vieram a causar o seu falecimento no dia seguinte  (...)
Texto e foto de: 
António Natálio Sequeira Serrinha
1º Cabo Atirador  da  CCAÇ 3309

MEMÓRIAS
"Quem não sabe nadar molha-se!"
 dia 29 de Setembro saímos de coluna de Nova Torres para Tartibo. Durante a tarde o Mainato pescou uns peixes no rio Rovuma e, depois de arranjados o capitão convidou-me para os comer com ele acompanhados de whisky.
Entretanto o 1º Cabo "Almada" recebe uma encomenda da Metrópole com queijos e chouriço, aparecendo ao pé de mim a chorar a dizer que o Furriel Calha lhe tinha batido e para o qual não havia qualquer tipo de razão para o fazer, convidando-me para ir comer com ele. Rejeitei porque ainda não tinha acabado de comer com o capitão.
à noite o "Almada" foi fazer de sentinela no posto poente, e houve um rebentamento e sente que algo caiu junto de si e dá um salto para o outro lado, sendo atingido por vários estilhaços, um deles na cabeça.
O pessoal que pode, fugiu para debaixo do abrigo onde se encontrava o capitão que gritava pela sua filha. Saí do abrigo e fui dar uma volta aos postos onde encontrei o "Almada"  em estado de coma profundo. Fiz o que me era possível fazer,  e no dia seguinte foi transferido para Mueda.
Passados uns três dias eu vou ao rio onde o resto do pessoal andava a tomar banho e, antes de chegar junto do capitão, vou para me pôr de pé e não encontro pé. Atrapalhei-me e ia lá ficando se não fosse o pessoal porque caí num poço de uma granada..
A partir daí o capitão nunca mais me deixou ir ao banho no rio.
Texto e foto de: 
José Maria Ferreira da silva
Furriel Miliciano  da  CCAÇ 3309
Dia 2 --  Um Grupo de combate da CCAÇ 3309 executou um reconhecimento ao local de ataque e em 3 de Outubro, 2 Grupos de Combate efectuaram um patrulhamento à zona sul do aquartelamento.
Dia 4 -- Na zona de Nova Torres, 2 Grupos de Combate da CCAÇ 3309 patrulharam as imediações do estacionamento e no dia 5 de Outubro de 1971 o mesmo efectivo patrulhou a margem do rio Rovuma sem encontrar quaisquer vestígios.
Dia 6 -- IN flagelou o estacionamento da CCAÇ 3309 por duas vezes com 15 a 20 tiros de morteiro de 82 m/m sem consequências.
Dia 7 -- Forças da CART. 2745 detectaram um trilho batido no sentido NS e S-N
Dia 15 -- Visitaram Nangade e deslocaram-se ao novo estacionamento da CCAÇ 3309, o Exmo Comandante do Sector "B" acompanhado pelo Exmo Chefe do Estado Maior e o Oficial de Reabastecimento do mesmo.
Dia 21 -- Cerca de 16 elementos do IN emboscaram a coluna "OCTANA 11" entte Pundanhar e Nangade, durante 12 minutos, iniciada com um disparo de LGF à viatura da testa, seguida de disparos de armas ligeiras. Feita batida verificou-se que o IN se tinha retirado para sul. Acerca de 700 metros à frente, foi detectada e destruída uma mina anti-carro colocada a descoberto, o que leva a admitir que o grupo IN que emboscou, constituía a segurança do pessoal que montava a mina, vindo a ser surpreendido pela chegada da coluna. A mina era velha e tinha trotil deteriorado.
Dia 23 -- Na zona de Nova Torres continuam, sem contacto com o IN, as Operações da série "OCULAR" para interdição da fronteira, efectuadas por forças da CCAÇ 3309
Dia 26 -- Foi iniciada a coluna "OCTANA 12", com o itinerário Palma-- Nangade , escoltada por 2 Grupos de Combate da CCAÇ de Mocímboa da Praia. Chegou a Nangade a 27 de Outubro de 1971, saiu do mesmo dia para Palma, onde chegou em 28 de Outubro de 1971, sem contacto. Para passagem desta coluna foram efectuadas várias operações,montando segurança de itinerário forças da CART.2745, CCAÇ 3309. , CCAÇ 2703,  GE 211 E 205

A) Mortos em combate
1º Cabo , Pedro Manuel Gaspar Augusto da CCAÇ 3309 em 2 Outubro de 971) 
B) Louvores
Louvado em 1 de Outubro de 1971, pelo Exmo CMDT do BART 2918 o 1º Cabo Radiotelegrafista Álvaro Cunha Almeida, da CCAÇ 3309

A imagem pode conter: uma ou mais pessoas e ar livre

Texto e fotos de Carlos Vardasca

Actividade operacional de Julho  de 1971
Julho de 1971

De 05 a 12 de Julho - a actividade do IN resumiu-se a um uma tentativa de golpe de mão ao aquartelamento de Nova Torres, muito provavelmente, muito provavelmente no intuito de recuperar o barco "DORY" capturado pelas NT em 25 de Junho de 1971 e visando igualmente os restantes barcos presos à margem junto ao Quartel, tentativa esta que foi abortada pelas NT. Assim, no dia 8 de Julho de 1971, durante a tentativa de golpe de mão aos barcos, o accionamento de uma armadilha colocada pelas NT causou ao IN vários feridos prováveis.

14 de Julho - Iniciou-se a Operação "ORIENTE LARANJA", foi realizada por duas fases: Operação " LARANJA CLARA", coluna de reabastecimento de Nangade a Palma, e Operação "LARANJA ESCURA", transporte dos para-quedistas de Nangade-Pundanhar e regresso a Nangade . esta Operação foi realizada por 2 grupos de combate da CCAÇ 3309, e 1 Grupo de Combate da CART 2745 e 1 Grupo de Combate da CCAÇ de Mocímboa da Praia.
12 a 19 de Julho - A actividade do IN manifestou-se pela implantação de engenhos explosivos na picada Nangade - Palma e Nangade - Nova Berra; por uma flagelação ao estacionamento Nova Beira e por uma emboscada e flagelação às forças do Batalhão de Caçadores Para-Quedistas 31.
No mesmo período IN causou as seguintes baixas às NT
1 Morto e 10 feridos ligeiros ao BCP 31
1 Ferido grave à CCAÇ 3309 (Serrinha em 14 de Julho de 1971)
1 Ferido grave ao GE 206 (Pedro Mireco da CCAÇ 3309)
MEMÓRIAS
"Senti o sangue a chapinhar dentro da  bota!

A missão dos dois Grupos de Combateda CCAÇ 3309 onde eu ia incorporado (1º e 2º Pelotões) era levar  Companhia de Para-Quedistas do BCP 31 a o objectivo e aí iniciarem a  operação de destruição de uma base da FRELIMO.
Seguíamos na picada Nangade-Pundanhar quando o pelotão de picadores e detecção de minas qu
seguia à nossa frente nos fez sinal para pararmos pois tinham ouvido algo estranho no meio da mata. De repente somos alvos de uma emboscada desencadeada pelos guerrilheiros da FRELIMO, e o soldado Paraquedista que ia  ao meu lado e com quem ia conversar, á atingido por uma granada de rocket tendo tido morte imediata, tendo eu também sido atingido numa perna mas que no momento não me apercebi de nada. Durante o intenso, e traumatizado com o que acontecera mesmo ali ao meu lado e vendo o companheiro com o peito todo desfeito, entrei em pânico e pus-me  a disparar a minha MG42 em todas as direcções sem me aperceber do meu ferimento até gastar todas as munições.
Quando findou a emboscada e me levantei, caminhando na direcção dos meus companheiros, é que senti o sangue a chapinhar dentro da bota e tomei consciência de que estava ferido com alguma gravidade. Foi-me ministrada morfina para aliviar as dores e porque me sentia mais aliviado. Já não queria ser evacuado mas devido à gravidade do ferimento e às dores que voltaram e me faziam gritar com alguma intensidade, a evacuação efectuou-se com a chegada dos helicópteros, que fizeram o transporte dos feridos  e do Paraquedista morto para o hospital de Mueda.
Nessa emboscada ocorrida no dia 14 de Julho de 1971, faleceu um soldado paraquedista, ficaram feridos 10 soldados daquela força , um ferido grave da CCAÇ 3309 e um ferido grave também da CCAÇ 3309 mas destacado nos GE 206

Texto e foto de:
António Natálio Serrinha
1º Cabo 13382970 da CCAÇ 3309

20 de Julho - Quando uma viatura Unimog 404, a gasolina, se dirigia à machamba, junto ao Rio Litinguinha para levar os elementos da população de Nangade aos trabalhos agrícolas, com três militares, accionou um engenho explosivo altamente reforçado, que causou a morte de 2 soldados da CCAÇ 3309, 6 mortos de civis, 5 feridos graves e 2 ligeiros, civis, além de um ferido ligeiro (Furriel).
A viatura ficou totalmente destruída. Mais tarde faleceram 2 civis graves civis,, ( acidente faleceram os nossos companheiros o 1º Cabo Auto rodas Victor Manuel da Silva e o soldado dos Serviços Gerais Albino dias de Sousa, ambos da CCAÇ 3309
26 de Julho - Dois caçadores nativos avistaram a 4 Kms de Nangade vasto trilho, muito recente, com rastos de cerca de 20 elementos que vieram ao longo do vale do Rio Litinguinha, subiram o planalto e atravessarem a piada em direcção a NE .
IN transportava carga de grande volume que provocava quebra de ramos. Foi montada imediatamente a Operação " MINERVA" para perseguição do IN. Conjuntamente para o apoio, foram montadas (entre outras) as seguintes Operações:
a) Operação "BARRAGEM", interdição da fronteira, realizada na região do Tartibo e levada a cabo por 1 Grupo de Combate da CCCAÇ 3309. Teve início em 27 de Julho de 1971 e terminou no dia seguinte sem contacto com o IN.
h) Operação "BARRAGEM 2 ", patrulhamento, nomadização e emboscada entre Tartibo e coordenadas 3941.1056, efectuada por dois Grupos de Combate da CCAÇ 3309 em 31 de Julho de 1971. Terminou igualmente sem contacto com o IN.

MEMÓRIAS
"Foi em África  que deixei um amigo!

Mário Fernando Silva
1º Cabo Enfermeiro
CCS do BCAÇ 2918
Por me ter sido pedido por uma camarada da CCAÇ 3309 a colaboração no relato do sucedido num acidente em Nangade (Moçambique 1971), salvo algumas falhas de memória, aqui vai o que me recordo.
Assim, no 1º semestre de 1971, numa bela manhã , de um sol ardente estava eu junto ao depósito de géneros no início do aldeamento Macua no Aquartelamento de Nangade, quando ouvi uma grande explosão que facilmente identifiquei por um rebentamento de uma forte mina e, ao olhar para o Vale que tinha uma vista fantástica do local onde me encontrava, logo me apercebi que havia acidente dado que há hora em que estávamos era normal que viaturas descessem o Vale; ou com pessoal para carregar água junto ao rio Litinguinha ou para levar gente para as machambas (hortas) ou para levar gente que ia lavar a roupa, percurso de que uma forma habitual era quase todos os dias feito pelo sr. Comandante à época, Tenente Coronel Vasconcelos Porto, zona completamente controlada pelas nossas Companhias Militares, e que nada fazia querer poder ser uma zona de grande risco. Mas naquela manhã quis o destino que a primeira viatura que desceu para o Vale fosse aquele Unimog 404 que transportava 16 vidas, 14 negros civis habitantes das aldeias sobre o nosso controlo mais militares nossos da CCAÇ 3309 sendo um deles o 1º Cabo condutor Victor que levava com ele um camarada da sua Companhia (o Sousa "Básico" e o que mais tarde vim a saber que este na viatura a seu convite e que nunca tinha ido à machamba), pois os dois morreram na explosão devido ao rebentamento de uma mina anti-carro com mais seis civis negros, ficando ainda 5 feridos graves (dois vieram a falecer mais tarde) e 3 ligeiros.
Eu ao aperceber-me do local onde me encontrava do que estava a acontecer, peguei rapidamente na minha bolsa de enfermagem que estava sempre por perto de mim e bem apetrechada, na minha arma e corri para a descida do Vale acompanhado de mais meia dúzia de companheiros, que sem olhar a meios nos metemos numa viatura e chegámos ao local. Recordo que fui uma das primeiríssimas pessoas a chegar junto dos sinistrados: " mortos e feridos por todos os lados com forte cheiro a pessoas queimadas" e aí de uma forma concertada com outros companheiros batemos toda a zona a tiro afim de obrigar i inimigo a se retirar caso por ali houvesse alguém.
Ao fazer uma rapidissima inspecção ao sucedido, como mandam as regras, comecei por assistir aos casos mais graves deixando os que já não solução para mais tarde, depois de chegar o pessoal da CART. 2745 que não tardaram e nos foram proteger. Então, e com as devidas precauções, pedi que removessem à força de braços a viatura minada por onde retirei o cadáver do nosso camarada e meu amigo Victor, que antes desta operação era difícil vê-lo pois estava por debaixo dos destroços da viatura minada.

Estava bastante esmagado embora a sua cabeça e cara não tivessem sido muito atingidas.
Quanto ao outro camarada (o Sousa) tinha alguns ferimentos mas à minha chegada já estava morto no terreno. Julgo que o número elevado de mortos foi provocado no rebentamento, dada a forte onda de choque de calor e sopro que a potente mina produziu. Quanto aos restantes feridos foram todos evacuados de helicóptero a partir do local para Mueda, os mortos negros ficaram em Nangade e os nossos militares mortos seguiram também em helicóptero para Mueda. Alguns destes feridos mais tarde foram enviados de Mueda para Nampula, onde eu posteriormente me desloquei para os apoiar.
Quando recordo a minha passagem por África sempre retrato o Victor, - Era um bom companheiro e um jovem de bom carácter, muito voluntarioso e bem humorado e, a propósito disto, lembro-me que alguns dias antes da sua morte termos um pessoal fora do arame (digo na picada) onde o Acácio Pedrosa, Cabo de Transmissões da minha Companhia morreu com um tiro na cabeça. Um grupo de voluntários no Aquartelamento ao saber da notícia quis sair de imediato para resgatar o cadáver, e o Victor de rápido o condutor que se ofereceu para conduzir a Berliet "Rebenta Minas"  que tivesse que ir ao local e assim foi. Muito embora o corpo do Pedroso tivesse sido retirado do terreno por helicóptero para Mueda: Nunca mais o vimos
Espero que este relato sentido te ajude na elaboração da tua obra.
Um abraço Amigo.

Texto e foto de:
Mário Fernando Silva
1º Cabo Enfermeiro 10465168 da CCS do BART 2918

MEMÓRIAS
"Só depois é que recebemos a comida e o correio"
"... Com respeito à captura do barco, o que a minha memória me deixa lembrar é que o helicóptero que nos trazia o correio, o seu piloto foi informar o nosso Comandante que tinha visto um barco TURRA no rio Rovuma, e nós arrancámos clandestinos sem saber para onde íamos.
Entrámos no helicóptero e saltámos a 3 metros do destino, e ao pé do barco ficaram lá dois colegas e os restantes, incluindo eu, fomos atrás dos turras, onde nos perdemos no meio da ilha. Chamei o helicóptero para nos tirar de lá. Quando chegámos ao barco este estava sem gasolina, só tinha os remos e duas canas de bambu. Comuniquei com a Companhia em Nova Torres, e de nos mandaram um barco zebro para nos rebocar (demorou algum tempo a chegar) 
Chegámos com alguma dificuldade ao  aquartelamento, devido já ser de noite e só então é que recebemos a comida e  o correio que tinha vindo no helicóptero..."

Texto e foto de:
Mário Augusto da Silva Carlão
Soldado de Transmissões 03426970 da CCAÇ 3309


MEMÓRIAS
"Ao sabor da corrente seguimos rio abaixoo"

Numa tarde, logo depois do almoço esperávamos a chegada do helicóptero com o correio. O piloto, informou ter informado mais acima um grande barco com homens dentro e se deslocava da Tanzânia para Moçambique, no rio Rovuma.
Fui chamado ao capitão, que me perguntou se eu queria ir lá ver o que se passava. Sendo a resposta afirmativa, de imediato reuni mais quatro elementos da Companhia, que incluíam o Rádio Telegrafista, um Enfermeiro, um Atirador de metralhadora e mais outro Atirador e fomos para o helicóptero.
Logo que me foi possível avistar o barco, verifiquei que o inimigo fugia em direcção à Tanzânia. Avistei pelo menos três elementos armados que fugiam, levando um deles o depósito de gasolina do motor do barco.
O piloto sobrevoou o barco e descarregou os elementos da equipa sobre este, que se encontrava no momento à deriva. Segui no helicóptero em perseguição do inimigo até deixar de os avistar. Voltámos a sobrevoar o barco e o piloto tentou largar-me nele para me juntar aos restantes elementos da equipa. Como não consegui, largou-me no rio, armado e equipado. Nadei em direcção ao barco e com a ajuda dos restantes elementos, subi para ele.
Via rádio pedi ao quartel (Nova Torres), que enviasse ajuda. No barco e ao sabor da corrente seguimos rio abaixo. No luso-fusco avistei numa curva do rio, gente que só mais tarde pude reconhecer como elementos da CCAÇ  3309, que quer por terra, quer por rio tinham vindo em nossa auxílio.
Juntos, continuamos rio abaixo tendo chegado ao quartel no avançado da noite.
Assim foi atingido ao inimigo uma grande derrota quer material, quer moral.

Texto e foto de:
Arlindo Gonçalves Rodrigues
Furriel Miliciano 17730770 da CCAÇ 3309

Agosto de 1971

Dia  04 - Dois Grupos de Combate da CCAÇ 3309, iniciaram a Operação "Barragem 3", interdição da fronteira e pesquisa do IN. No dia seguinte avistaram um grupo inimigo com cerca de 5 elementos aramados com Lança-granadas-foguete, numa picada da Tanzânia, dirigindo-se para o rio Rovuma. A Operação terminou a 7 de Agosto.
MEMÓRIAS
"Que me dera que a tropa fosse sempre assim!"


Tínhamos atravessado oMetumbué, afluente do rio Rovuma, para a instalação do novo aquartelamento no Tartibo, na margem direita daquele rio, já que na esquerda vislumbrávamos a Tanzânia e o nosso inimigo. Tudo isso nos deixou de rastos - corpos desnudos num calor infernal.
Não sei  como nem porquê, ficámos especados naquele imenso matagal.  O resto  da malta já havia destroçado para o aquartelamento. E nós, meia dúzia de gatos-pingados , ficámos  ali não seii  se esquecidos ou com guardas do material que ainda ali ficara. Com muito medo e  muito capim à nossa volta,perplexos e exaustos desconhecedores da picada, perguntámos:
E  agora?
Sair dali era perigo iminente, a emboscada espreitava a cada passo, embora fossemos portadores duma G3.
-- E o material?
O calor abrasava e a sede apertava Beber água do rio Metambué era suicídio certo, esta água imprópria para lavar a roupa...
-- "Eureka" -- gritou alguém que no meio daquele material vislumbrou umas   pipas amontoadas por entre o material. Era vinho.
Bebemos... e tanto bebemos que nos esquecemos de deixar de beber... depois, vendo vários trilhos, orientámos-nos pelo meio anteriormente recalcado pelos nossos camaradas.
G3 às costas ou a tiracolo. Posição de tiro "nem pó" ... risos provocados pelo elixir do Baco e a descontracção natural de qualquer turista de visita a terras de África.
Chegados ao aquartelamento (cerca de seis Kms) dirigi-me mais ou menos sóbrio ao Capitão e perguntei-lhe de tanta demora. Tínhamos sido esquecidos...
Recebemos uma menção honrosa pelo nosso destemor. No dia seguinte foram buscar o resto do material. Entre nós (os esquecidos e ainda estupefactos pela nossa pseudo-ousadia) houve alguém que comentou:
-- Quem me dera que a tropa fosse sempre assim...
Texto e foto de:
João da silva arteiro
Soldado condutor Auto rodas 15393470 da CCAÇ 3309
Aquartelamento de Tartibo
Tartibo fora um aquartelamento construído numa área onde outrora uma pequena base da FRELIMO, que um pelotão de reconhecimento da CCAÇ 3309 desmantelou, tendo feito 5 baixas aos seus guerrilheiros capturado algum material de guerra. Perante a necessidade de recuar as defesas oferecidas pelo aquartelamento de Nova Torres para uma posição mais estável e que oferecesse mais segurança  e evitasse a inundação doo aquartelamento, foram feitos vário reconhecimentos na área no sentido de procurar uma nova posição para um novo aquartelamento, devido às cheias que ocorriam esporadicamente devido à junção das águas dos rio Rovuma e Metumbué.
Foi precisamente neste aquartelamento conquistado á FRELIMO que a CENGª2736 e de outras forças empenhadas na mesma operação incluindo a CCAÇ 3309 que se construiu o novo aquartelamento de Tartibo. Foi precisamente neste novo aquartelamento que a CCAÇ 3309 veio a sofrer o seu pior ataque no dia 1 de Outubro de 1971. O ataque foi efectuado em quatro vezes e realizado em várias frentes, e iniciou-se pelas 17h50 tendo durado até às 18h30, com intervalos entre si de dez minutos entre cada uma das quatro ofensivas.
Desta intervenção da FRELIMO veio o a falecer o nosso companheiro o 1º Cabo atirador 13619570  Pedro Manuel Gaspar Augusto, mais conhecido pelo "Almada", que depois de ter resistido aos graves ferimentos durante toda a noite , dado que o helicóptero não pode efectuar a sua evacuação devido ao pedido de evacuação ter ocorrido já de noite, acabando por falecer no dia seguinte ( 2 de Outubro de 1971 ) a caminho do Hospital Militar de Lourenço Marques, como descreve o relatório do dia do ataque ( páginas 225,226, e 227) assinado pelo Capitão Miliciano da CCAÇ 3309 Hélio Augusto Moreira..

MEMÓRIAS
"Ninguém morre besuntado em azeite!"

"... Em data que não consigo lembrar-me, num fim de tarde , chegou ao Tartibo antigo uma coluna de abastecimentos. Não me pergunte se a coluna correu bem ou mal, não faço a mínima ideia. Do que eu me lembro bem é que nesse dia não, se conseguiu arrumar todo o material transportado, ficando a maior parte em pilhas junto do depósito de géneros e da secretaria.
Aconteceu que nessa noite, depois de passada a "hora Maconde" resolvi procurar o escriturário para abrir a porta da secretaria para ir lá escrever umas cartas e talvez algum aerograma. Lembro-me também de que à porta sa secretaria se encontrava a poucos metros um Unimog 404 parcialmente descarregado de bidões de vinho e azeite.
Estávamos na secretaria todos os três, bem calados, a escrever, eu, o escriturário e o outro militar acima referido, quando caiu bem perto dali uma morteirada. Fora de secretaria estava tudo às escuras, mas a reacção dos nossos Obuses de artilharia não se fez esperar e começaram logo a bater todos os pontos prováveis do ataque. Eu abriguei-me de imediato debaixo do Unimog 404 e suponho que o ponto o escriturário e o outro militar fizeram o mesmo.
Lembro-me como se fosse hoje, comecei a sentir que estava molhado numa das pernas. Apalpei e tive na altura a sensação de que estaria ferido porque confirmei que estava mesmo molhado, com um líquido quente e pegajoso e receei que naquele momento tinha chegado o meu fim. Presumo que desmaiei e a certa altura dei por mim quando alguém puxava por uma perna e perguntava:
--"... meu capitão. meu capitão, está ferido?  -- "Respondi que não, mas só depois de confirmar a minha integridade física dos braços e das pernas. Verifiquei no fim que não perdi sequer uma gota de sangue e que apenas me encontrava sujo de terra e azeite ou óleo alimentar ainda quente devido à exposição ao sol deste produto durante o percurso da coluna e que na altura se derramou por não se encontrar o bidão bem fechado, ou por efeito de algum estilhaço. Não indaguei por motivos óbvios por se tratar de uma história pouco edificante,
Texto e foto de:
Hélio Augusto Moreira
Capitão Miliciano 36048760 da CCAÇ 3309


MEMÓRIAS
"Nem só para lavar a roupa elas serviam!"

Um dia, não me lembro a data, quando ia com um pelotão doTartibo até à picada esperar uma coluna , que vinha de Palma e já tinha saído de Pundanhar com destino a Nangade , eu era o enfermeiro do pelotão. Depois de picar tantos Kms, de apanhar com um sol abrasado, com a água a esgotar-se e depois de várias paragens para descansar e esquecer o conselho dos mais velhos, procurava uma sombra de uma árvore, quando o meu Mainato que transportava a bolsa de enfermeiro exclamou:
--Minó é!!!... Então meti marcha atrás e, devagar devagarinho, fui colocando os pés nas pegadas que tinha deixado.O ainda Furriel Diamantino com uma faca de mato, esgravatou à volta da caixa tipo dominó um rectângulo no chão que mal se notava, e o Diamantino disse logo a frase rotineira:
-- "Pareces bruxo" . E lá estava a mina anti-pessoal com fornilho, que à distância foi rebentada. Deixou um buraco grande no chão, pelo que posso dizer que devo,àquele Mainota, que me acompanhava; o meu pé, perna, "tintins" e eu sei lá que mais...
Texto e foto de:
Manuel Inácio Cardoso
1º cabo Auxiliar de Enfermagem da CCAÇ 3309

MEMÓRIAS
"Nem mesmo naquele dia se fez milagre"
"... A outra história toda a gente conhece, principalmente o "Serrinha" por ter sido ele, segundo ouvi, o principal actor. Era mais ou menos assim: Em data que também não recordo, andava toda a gente na Companhia com um enorme desejo de comer batatas com bacalhau à maneira, mas havia grande dificuldade em arranjar batatas. Depois de porfiadas diligências consegui arranjar batatas graças ao esforço de um piloto chamado Quental que as entregou na Delegação da Manutenção Militar em Porto Amélia e que depois vieram para Palma e daí para Tartibo, creio que de avião ou helicóptero, já não me lembro bem disto.


Um belo dia fez-se uma coluna e aproveitámos, a par de outras coisas, trazer um bidão de azeite por causa do tal "bacalhau à maneira". Quando a coluna chegou ao rio Metumbué estava a anoitecer e houve alguém que teve a ideia peregrina de que se não fosse possível descarregar tudo ao menos que se levasse o bidão de azeite para o aquartelamento para temperar à maneira as batatas com o bacalhau. Com enorme esforço lá levaram o bidão aos robulões, durante a noite desde a margem do Metumbué até ao aquartelamento que ficava a pelo menos a 2 bons Kms.
Quando chegaram-- o bidão erade vinho em vez de azeite, porra!...
Texto e foto de:
Hélio Augusto Moreira
Capitão Miliciano 36048760 da CCAÇ 3309



MEMÓRIAS
"Um leão que era da FRELIMO"

Grupo Especial (GE) 201 do qual eu fazia parte e era Comandante o então Alferes Graduado Diamantino,fez um intervenção de 15 dias na "Base Beira".
No regresso, e como  a zona era "quente" forçámos o andamento para pernoitarmos já próximo de Nangade. Já numa zona que considerámos mais segura instalámos-nos para passar a noite. Como deves saber , fazíamos um círculo com o pessoal e nós graduados ficávamos no centro.
Tudo corria bem até que um leão (que pensamos ser solitário) aproximou-se sem que ninguém desse por isso e cravou as garras num braço e no "vazio" do Tomaz. Gerou-se uma confusão tremenda com o pessoal a gritar "Simba, Simba"  (leão em dialecto) seguiu-se um tiroteio medonho sem ninguém ver para onde estava a atirar.
No meio desta confusão o Diamantino tentou por-se em pé para mandar parar o fogo. Foi nessa altura que deitei-lhe as mãos nas costas e disse-lhe: 
-- Deixa-te estar deitado que ainda levas um tiro.
Entretanto o tiroteio parou, acendemos uma fogueira, e aquilo que era para ser uma noite tranquila foi uma noite de pesadelo
Texto e foto de:
José Manuel Sousa Pereira
Furriel  Miliciano 12635270 da CCAÇ 3309

A Propaganda como meio de persuasão.

No conflito colonial foram utilizados meios de persuasão para com as populações nativas, de forma evitar que elas funcionassem como uma retaguarda de apoio junto aos guerrilheiros da FRELIMO. Depois do exército português ter forçado o reagrupamento de todas as populações dispersas na mata junto dos aquartelamentos militares, passou posteriormente a desenvolver uma forte acção psicológicas junto das mesmas, de forma a desencoraja-las a darem qualquer apoio aos guerrilheiros. Periodicamente eram laçados de um avião Dakota, com recurso também a informação sonora, panfletos de propaganda de acção psicológica sobre os aldeamentos sob o controlo do exército, mas também sobre as zonas que se pensavam pequenas bases da guerrilha, e que visavam desmotivar e desmoralizar os seus combatentes incitando-os a que se entregassem às tropas portuguesas.
A FRELIMO também fazia a sua propaganda ideológica dirigida essencialmente aos soldados de forma a criar um fosso entre estes, os governantes e os oficiais generais, explorando a contradição existente entre uns e outros, denunciando os verdadeiros os verdadeiros interesses políticos e económicos que estavam subjacentes no desencadear do conflito colonial.
"OPERAÇÃO FRONTEIRA" tinha também esse objectivo. Para além da construção de novos aldeamentos, era o aliciamento das populações com algumas melhorias no seu bem-estar, tentando dissuadi-las de prestarem apoio aos guerrilheiros da FRELIMO:

MEMÓRIAS
"Eu  e o Guerrilheiro a quem não dei boleia!"
Como todos devem ter conhecimento em África, no período colonial e nos aldeamentos mais recônditos de Moçambique, quem tinha uma motorizada já gozava (mais que não fosse aparente) de um certo prestígio social em relação aos que possuíam apenas uma bicicleta (Ginga) assim como aos restantes que nada tinham como meio de transporte.
Em Nangade, o "Basuca" mainato que prestava serviço na oficina  da CCAÇ 3309, possuía uma Suzuki já um pouco desconjuntada e sempre com o depósito vazio, mas que, das raras vezes que se passeava com ela, lhe fazia rasgar um largo sorriso que deixava ver ao longe a sua dentição do branco tão branco, que constava com a sua pele preta, mas muito preta, como gostava de sublinhar e que dizia exibir com orgulho.
Desde que cheguei a Nangade e o "Bazuca" passou a prestar serviço nas oficinas da CCAÇ 3309,   estabeleceu-se entre nós uma espécie de contrato que era deveras desvantajoso para o "Bazuca", ao qual este teve que se submeter pois de outra forma não teria acesso às contrapartidas que eu lhe propus, dizendo-lhe:
-- Olha lá oh "Bazuca" ! disse-lhe eu com aquela pose de ocupante com que a maioria dos soldados se dirigiam aos nativos:
-- Vamos combinar uma coisa -- Enquanto o "Bazuca" ouvia meio desconfiado:
-- Eu posso arranjar gasolina para a moto, mas ando com ela durante o dia e tu só andas com ela à noite... está combinado?
Sabendo ele das facilidades e das formas como se obter combustível por parte dos soldados daquela especialidade, o "Bazuca",não teve outro remédio senão aceitar embora um pouco descontente com o negócio, aproveitando no entanto para retirar alguns dividendos do mesmo quando me disse a dado momento no seu português um pouco desarticulado:
--Eh nosso sordado ! --  se mesmo nos dias que tu não, eu poder andar nos mota pá?
Depois de achar imensa graça àquele português mal verbalizado respondi-lhe:
-- Está bem "Bazuca", -- eu estava a brincar, mas desde que não gastes toda a gasolina.
Como passou a ser frequente, eu dirigia-me por variadíssimas vezes à pista  de aterragem de terra batida para aí acelerar inadvertidamente até ao seu final, tendo sido avisado por várias vezes do perigo que corria, tendo em conta que a mesma era circundada por uma densa mata podendo ser alvo de uma emboscada por parte da FRELIMO.
Numa das vezes que o fiz, ao chegar o final da pista e já a acelerar de regresso ao aquartelamento sai repentinamente da mata um guerrilheiro da FRELIMO que me pediu boleia para Nangade ao qual eu, sem me aperceber do que se tratava nem da Kalasnhikov que o mesmo trazia a tiracolo, pensando eu que era um Machambeiro que vinha das suas lides, lhe disse:.
-- Vai a pé preto dum cabrão -- continuando eu a toda a velocidade sem me ter dado conta do que estava a ocorrer aquele momento
Depois de ter chegado à oficina e de ter ajudado os outros companheiros a montar um motor no Berliet, lá me apercebi da algazarra que se ouvia para os lados do Posto Administrativo de Nangade, assim como da correria desordenada que muitos soldados e oficiais faziam naquela direcção.
Quando eu cheguei ao local, já ali se havia concentrado uma multidão oriunda dos aldeamentos Macua e Maconde, assim como de alguns oficiais da CART. 2918 e o seu Comandante Tenente Coronel Vasconcelos Porto, que se fazia acompanhar (como já vinha sendo hábito)por um agente da PIDE/DGS e que tomava conta da ocorrência.
Depois de me ter apercebido do que realmente tinha acontecido, a mim apenas me restou uma ligeira sensação de que a história me teria passado um pouco ao lado e nela ser reconhecido, se não tivesse recusado a boleia àquele desconhecido no final da pista.
Tratava-se de um guerrilheiro da FRELIMO que acabava de se entregar às nossas tropas com a sua Kalasnhikov e alguma documentação , o que contribuiu para a identificação de alguns guerrilheiros que viviam infiltrados num dos aldeamentos e à localização de algumas das suas bases no interior da mata.
Lembro-me que o Pereira ("Garina") me disse logo na altura:
--Está a ver meu Alentejano de merda! -- Se tivesses dado boleia àquele turra  eras tu que levavas os louvores e eras agora um herói da pátria! 
Texto e foto de:
Joaquim António Aleixo Lobo
Soldado Mecânico da CCAÇ 3309
Novembro de 1971
Dia  02 - Foi iniciada mais uma coluna de reabastecimento. "OCTANA 13", de Palma a Nangade e regresso, escoltado por 2 Grupos de Combate. Chegou a Nangade a 3 de Novembro de 1971 e saiu no mesmo dia, chegando no dia seguinte a Palma. Ao longo do itinerário, foram efectuadas várias Operações para segurança do mesmo.
Estas Operações foram efectuadas por forças da CCAÇ Mocímboa da Praia, CCAÇ 2703, CCAÇ 3309 e CART.2745

Dia  12 - Durante a coluna de reabastecimento de Pundanhar a Nangade escoltada pelas forças CCAÇ 2703, CCAÇ 3309 e CART.2745 e GE206, uma viatura Berliet, 17ª viatura,accionou uma mina anti-carro entre Pundanhar e Nangade causando um ferido grave à CCS/BART. 2918. Enquanto as NT procediam à remoção da viatura minada, um grupo IN muito numeroso flagelou a coluna por duas vezes com armas automáticas, morteiro 60 m/me granadas de mão, causando 4 feridos graves, 2 da CCAÇ 2703, 1 da CCS/BART. 2918 e  1 da CCAÇ de Mocímboa da Praia
Dia  16 - Foi iniciada mais uma coluna de reabastecimento de Nangade para Palma e regresso -- Operação "OCTANA 15", escoltada por dois Grupos de Combate da CCAÇ Mocímboa da Praia. Chegou a Pundanhar no mesmo dia, saiu em 17 de Novembro de 1971 para Nangade onde chegou no dia seguinte. Pelas 9h20 saiu para Pundanhar e seguiu para Palma onde chegou no dia 19 de Novembro. Asseguraram protecção ao longo do itinerário forças da CART. 2745, CCAÇ 3309 e CCA Ç 2703.Durante a coluna "OCTANA 15"uma viatura Berliet accionaou uma mina anti-carro em coordenada 3959,7.1053,2, causando 1 ferido ligeiro. No mesmo local foi accionada uma mina anti pessoal que causou 1 ferido grave à   CCAÇ Mocímboa da Praia. Ainda no mesmo local foi posteriormente accionada pela viatura minada uma mina anti-pessoal.
Dia  16 - Visitaram Nangade S. Exª . O Comandante do Sector "B" e o Governador do Distrito de Cabo Delgado.



"... quando de repente houve um rebentamento e eu fiquei com a cara  e os olhos cheios de areia. O soldado que estava ao meu lado apanhou com um estilhaço, ou um pedaço de bota do Africano que perdeu uma perna. Quando olhei para o lado é que vi que ele estava com a perna cortada pelo joelho, e estava um pedaço de osso à mostra sem carne, a raspar pelo chão. Ele ficou logo estendido no chão com o peito e a cara cheia de sangue. Eu nesse dia parecia um maluco. O rebentamento  foi a uns dois metros de mim, e nesse instante eu deixei cair a minha arma para o chão, depois fui para a minha viatura  e não saí mais de lá... "

Texto e foto de.
Manuel Teixeira Gonçalves
Soldado condutor auto da CCAÇ 3309
Picada Pundanhar-Nangade. 17 de Novembro de 1971
Dia  26 - Saiu uma coluna de Nangade para Palma onde chegou no mesmo dia. Durante a coluna foram efectuadas várias Operações ao longo do itinerário para protecção do mesmo, levada o cabo por forças CART. 2745, CCAÇ 3309 e CCA Ç 2703.Durante esta "OCTANA", foram detectadase destruída entre Nangade e Pundanhar, por forças da CCAÇ 2703, 1 mina anti-pessoal e 1 mina anti -carro, sem consequência
Dezembro de 1971
Dia 2- Iniciou-se a coluna "OCTANA 17", de Palma a Nangade e regresso, escoltado  por 2 Grupos de Combate da CCAÇ de Mocímboa da Praia. Chegou no mesmo dia a Pundanhar seguiu para Nangade no dia 3 de Dezembro de 1971 onde chegou no dia 4 do mesmo mês; neste dia saiu de Nangade e chegou a Palma pelas 17H30..
Ao longo do itinerário asseguraram protecção, executando várias operações, forças da CCAÇ 2703 e CCAÇ 3309. No dia 3 durante esta Operação, as forças da CCAÇ 2703, detectaram e destruíram uma mina anti-carro montada em gaveta, entre Pundanhar e Palma, em coordenadas 3959,7.1053,9. Pouco depois, detectaram e destruíram na mesma zona uma mina anti-carro e outra anti-pessoal que estavam montadas sobre um saco de terra dos utilizados nas nossas viaturas
Dia  12 - 2 Grupos de Combate da CCAÇ de Mocímboa da Praia iniciaram a coluna de reabastecimento"OCTANA 18" de Palma a Nangade e regresso. Esta chegou a Pundanhar em 12 de Dezembro, saindo para Nangade onde chegou no dia seguinte; saiu no dia 14 para Palma onde chegou no mesmo dia. Ao longo do itinerário asseguraram protecção forças da CCAÇ 2703e CCAÇ 3309
Dia  13 - Um grupo IN de cerca de 40 a 50 elementos, vindos da Tanzânia, flagelou o estacionamento de Tartibo (CCAÇ 3309)com cerca de 50 granadas de morteiro 82 m/m e canhão sem recuo. Foram encontrados 15 invólucros de canhão sem recuo 10,6 e vestígios de 4 morteiros 82.Após o ataque, o IN regressou à Tanzânia. Apenas duas granadas caíram dentro do perímetro do Aquartelamento, sem consequências.
Dia  14 - A coluna de reabastecimento saiu de Nangade para Palma onde chegou no mesmo dia. Ao longo do itinerário asseguraram protecção forças de CCAÇ 2703 e CCAÇ 3309. As primeiras detectaram e destruíram em 13 de Dezembro de 1971, entre Pundanhar e Nangade, uma mina anti-carro e outra anti-pessoal; a CCAÇ 3309 detectou e destruiu na mesma zona, em coordenadas 3952,2.1057,3, uma mina anti-carro reforçada com uma mina anti-pessoal e com latas de gasolina. No mesmo dia, um grupo IN, não estimado, emboscou a coluna em coordenadas 3957,9.1055,7, com um tiro de bazooka e granadas de mão, seguidos de de tiros de armas automáticas, sem consequências.
Ainda no dia 13 de Dezembro de 1971
Dia  21 - Forças da CCAÇ 3309 e do GE 212 que seguiam para Nhica do  Rovuma, detectaram abatizes no local com as coordenadas 4011.1050,5.
No mesmo dia 2 Grupos de Combate da CCAÇ de Mocímboa da Praia iniciaram a coluna de reabastecimento "OCTANA 19", de Palma a Nangade e regresso, no dia seguinte os mesmos 2 Grupos de Combate seguiram de Pundanhar para Nangade tendo pernoitado no  itinerário; chegou a Nangade no dia 23 e saiu no mesmo dia para Palma tendo passado por Pundanhar, aqui deixou algumas viaturas a fim de transportar para Palma o 1º Escalão da CCAÇ  2703 que vai ser rendida pela CCAL 3472. Ali chegou no mesmo dia. Asseguraram protecção do itinerário forças da CCAÇ 3309, CCAÇ 2703 e CART. 2745.
FOTO 229
Dia  23 - Durante esta "OCTANA", uma viatura Berliet accionou uma mina anti-carro entre Pundanhar e Nangade, ficando parcialmente destruída. No mesmo local foi accionada e destruída uma mina anti-pessoal por forças da CCAÇ 2703. Forças da CCAÇ 3309 destruiram outra mina anti-carro el local de coordenadas 3951,2.1057,2. Ainda durante esta Operação foi accionada uma armadilha que causou 2 feridos graves e três ligeiros à CCAÇ 2703. No  mesmo local foi detectada e destruída 1 mina anti-pessoal. Na região de Lagoa Namioca foram encontradas abatizes para ambos os lados daquela, num total de 2 Kms de extensão, além de uma profunda vala transversal à picada. No dia 23 de Dezembro de 1971, durante  a mesma coluna, uma viatura Berliet accionou uma mina anti-carro em região de coordenadas 3851,5.1054., ficando destruída. No mesmo di,as forças da CART. 2745 que se encontravam a montar segurança do itinerário, detectaram a passagem de 2 a 3 elementos caçados com botas, num trilho antigo, de Sul para Norte em direcção à Tanzânia

JANEIRO de 1972

Dia 19 - 2 Grupos de Combate da CCAÇ de Mocímboa da Praia iniciaram a coluna "OCTANA 22", chegando a Pundanhar no mesmo dia. No dia seguinte chegaram a Nangade e no dia 22 de Janeiro de 1972 regressaram a Palma, onde chegaram no mesmo dia. Montaram segurança no itinerário e fizeram picagem as forças da CCAÇ 3309, CCAÇ 3472 e CART. 2745. Uma viatura accionou no dia 20 de Janeiro de 1972 uma mina anti-carro entre Pundanhar e Nangade. No mesmo dia foram detectadas e destruídas em coordenadas 3952,51056,3 por forças da CCAÇ 3309. Ainda durante a coluna "OCTANA 22" foi detectada e destruída no dia 21 de Janeiro de  1972 uma mina anti-carro e outra accionada, que provocou parcial destruição de uma viatura.
Dia 25 - 2 Grupos de Combate da CCAÇ de Mocímboa da Praia iniciaram nova coluna de Palma a Nangade a "OCTANA 23". No dia seguinte  saíram de  Pundanhar e chegaram a Nangade. No dia 27 de Janeiro de 1972  regressaram a Palma. Durante esta Operação à qual montaram segurança do itinerário forças da CART. 2745, CCAÇ 3472 e CCAÇ 3309, foi detectada e destruída por esta Companhia uma mina anti-carro.no mesmo dia. 

MEMÓRIAS
"Nascido para viver!"


 Apesar de ser uma zona que sempre motivava alguma preocupação às nossas tropas devido ao acidentado do terreno, e a picada situar-se numa zona rodeada de pequenas elevações que facilitavam a ocorrência de emboscadas, naquele dia aquele obstáculo parecia que ia ser transposto sem qualquer incidente. Nessa coluna realizada no dia 3 de Janeiro de 1972, eu seguia no "Rebenta Minas" e, aos 25 Kms de Palma e após ter desfeito uma curva e entrado na recta da picada. Ouviram-se três rebentamentos de minas anti-carro, e somos alvos de uma emboscada que envolveu derca de 8 elementos da FRELIMO que disparavam na direcção das primeiras viaturas. Como a Berliet  onde eu seguia estava guarnecida com bidões de areia como protecção lateral, nem sequer saltei da viatura colocando-me em posição de fogo, disparando na direcção da emboscada. Apercebendo-se de que as duas viaturas da frente da coluna se encontravam isoladas das restantes que tinham ficado para trás, dois guerrilheiros aproximaram-se cada vez mais do "Rebenta Minas" continuando a disparar. Como a distância entre os guerrilheiros e a primeira Berliet já era relativamente próxima e enquanto eu disparava na sua direcção para evitar a sua aproximação, fui atingido por um tiro na mão direita que me imobilizou os movimentos e o outro companheiro da CCAÇ 2703 foi ferido gravemente num ombro. 
Aconteceu tudo durante alguns minutos, e as consequências não foram mais graves porque entretanto o resto da coluna chegou ao local do conflito aos que os guerrilheiros se puseram em fuga. Procedeu-se de imediato à desmatação de uma área da mata para permitir ao helicóptero fazer a evacuação, sendo eu e o companheiro da CCAÇ 2703 e outro soldado gravemente ferido evacuados para o hospital de Mueda.
Texto e foto de:
Carlos Alberto Correia Braz Vardasca
Soldado Condutor da CCAÇ 3309

FEVEREIRO de 1972

Dia 2 - Chegou a Nangade a CCART.3506 que vai render a CCAÇ 3309 no aquartelamento de Tartibo.
Dia 8 - Foi louvado pelo Ex-mo Comandante do BART. 2918 o 1º Cabo Eduardo Manuel da Silva Trinta da CCAÇ 3309.




















Dia 3 - Foi na madrugada do dia  3 de Fevereiro de 1972 que iniciámos a coluna que nos levaria ao aquartelamento onde fomos colocados, com o nome de Tartibo..
Escoltados por dois Grupos de Combate da Companhia que íamos render, a CCAÇ 3309, deslocámos também só dois grupos nossos tendo os dois restantes ficado em Nangade durante mais alguns dias a fim de fazer sobreposição. A chegada ao Tartibo deu-se nessa mesma manhã sem qualquer novidade. Nos olhos de cada um, via-se um ar de tristeza e abatimento psicológico por nunca se ter idealizado que o Tartibo era um quadrado com pouco mais de oitenta metros de lado, as instalações eram em zinco e barracas de lona de campanha, não haviam camas e colchões, somente a paisagem para a Tanzânia que fica a menos de 2 Kms de meio de de distancia que nos absorveu um pouco o pensamento, com a e mais junto de nós o Metambué.
Passámos desde então ao isolamento e os 2 Grupos de Combate da CCAÇ 3309, durante quinze dias encarregaram-se de nos iniciar no sentido operacional e nos ministrar alguns conhecimentos mais fundamentais sobre a zona operacional a que passámos a pertencer. 113
113) BART. 3876, CART. 3506. História da Companhia , primeiro fascículo de 25 de Janeiro a 25 de Abril de 1972 (páginas 6,7,8,9 e 10) Arquivo Histórico Militar de Lisboa.







































Dia 17 -  Decorridos que foram os quinze dias de sobreposição, mais precisamente no dia 17 de Fevereiro de 1972, os restantes Grupos de Combate e o restante pessoal componente da Companhia juntaram-se tendo os dois Grupos de Combate da CCAÇ 3309 dado por fim a sobreposição e regressado a Nangade. 
 Fevereiro de 1972 Neste mês a CCAÇ 3309 conjuntamente com a CART. 3506 efectuou as seguintes operações: Lançada 3; Lira 2; Bailarina 1; Obra 2; Lançada 5 e Lira 4. Todas elas terminaram sem qualquer contacto com o IN.

MEMÓRIAS
"Um descuido podia ser fatal!"
... Pois bem aqui vai a notícia.
Como sabes encontrava-me em Nangade a fazer a manutenção do armamento e a reabastecer o helicóptero para o Tartibo onde se encontravam os nossos camaradas. No dia 20 de Janeiro de 1972 pela manhã fui contactado via rádio pelo nosso Capitão para me deslocar ao Tartibo, visto ter que reparar algum armamento que se encontrava enterrado já há algumas semanas devido às inundações que alagaram o acampamento.
No dia 21 de Janeiro de 1972, quando me preparava para reparar o armamento que se encontrava numa tenda de lona que servia de arrecadação do material danificado, pelas 07h30 da manhã, peguei nalgumas G3 e reparei-as mas uma delas estava com ferrugem e com a culatra encravada. Ao pegar na G3 bati com a coronha no chão acabando por provocar o seu disparo.
Como tinha o dedo no tapa-chamas e o ombro muito próximo do cano fiquei ferido nesse incidente.
Fui assistido pelo enfermeiro Cardoso, e de imediato transportado de helicóptero para Mueda e mais tarde para Nampula onde fui tratado muito bem .... 



















Texto e foto  de:
Manuel da Silva Ribeiro
1º Cabo Mecânico  de armamento da CCAÇ 3309

















Março de 1972
Neste mês 2 Grupos de Combate da CCAÇ 3309 efectuaram as Operações Lira 5, 6, 7 e 8. Todas elas do tipo de picagem de itinerário, nomadização e emboscada, tendo todas elas terminado sem contacto com o IN.
Dia 16 - S. Exª O Comandante da Região Militar de Moçambique louvou por despacho o Furriel Miliciano Adelino Gonçalves Rodrigues; o 1º CaboPortugal Henrique Barreto e o Soldado Manuel de Jesus da CCAÇ 3309



















Abril de 1972
Neste mês 2 Grupos de Combate da CCAÇ 3309 efectuaram mais quatro Operações, que foram Lira 9, 10,11 e 12  tendo todas elas terminado sem contacto com o IN.
Dia 1 -
 Foi agraciado com a Cruz de Guerra de 4ª Classe o 1º Cabo Auxiliar de enfermagem, José Fernando Pinto da Silva da CCAÇ 3309. 

















Maio de 1972

Dia 07 - Dá-se início com 2 Grupos de Combate da CCAÇ 3309 a Operação Lira 13. Esta Operação destinava-se à picagem do itinerário correspondente e à protecção da coluna de reabastecimento Onda 13. Terminou sem contacto com o IN.
Dia 16 - CCAÇ 3309 participou na Operação Lira 14 com a finalidade e o mesmo tipo da anterior. Terminou a 19 de Maio de 1972 sem contacto com o IN.
Dia 27 - A CCAÇ 3309 participou em mais uma Operação, a Lira 15 igualmente para picagem do itinerário e nomadização terminou a 29 de Maio de 1972 sem contacto com o IN.

Junho de 1972
Dia 04 -  2 Grupos de Combate da CCAÇ 3309 efectuaram a Operação Lacre, fazendo a picagem do itinerário correspondente e montando a segurança para a passagem da coluna de reabastecimento Oásis 1. A Operação terminou no dia seguinte sem contacto com o IN
Dia 09 - Nangade sofreu a 1ª tentativa de flagelação, caindo as granadas de morteiro 82 m/m na encosta do lado do Rio Litinguinha, sem consequências.
Dia 12 - Nova tentativa de flagelação a Nangade com o insucesso da anterior.
Dia 12 -  Força da CCAÇ 3309 - conjuntamente com 1 Su-Grupo do GE 205 detectaram na região do Lago Nangade 15 petardos de 125 e 250 gramas, 2 metros cordão detonante, 3 detonadores e uma armadilha. Neste dia realizou-se nova tentativa de flagelação a Nangade com o insucesso anterior

















Dia 13 -  O 1º Cabo Domingos de Sousa Pereira, da CCAÇ 3309 baixou à classe de soldado por ter sido punido com 20 dias de prisão disciplinar agravada.
Dia 14 a 24 -  Efectuou-se a Operação INTEGRAL comandada pelo Capitão Barros ( Gabriel Monteiro Barros, mais conhecido pelo "Capitão Pistolas".
Dois Grupos de Combate da CART. 3506 deram protecção às máquinas de Engenharia na abertura do itinerário entre Tartibo e as coordenadas 1059-3959, onde foi aberto o Aquartelamento de Muidine. Os outros dois Grupos de Combate desmontaram o Aquartelamento de Tartibo, carregaram e transportaram todo o material da Companhia em coluna-auto para Muidine onde a Companhia ficou instalada.



















Julho de 1972
Dia 01 - Muidine foi flagelada com 6 granadas de morteiro 82mm sem consequências. Fizeram-se imediato patrulhamentos à volta, sem resultados
Dia 02 - 2 Grupos de Combate da CCAÇ 3309 começam a Operação Lacre 3, com abertura do itinerário e protecção à Coluna Osga 1.
Terminou a 6 de Julho de 1972 sem contactos com o IN.
Dia 04 - 2 Grupos de Combate da CCAÇ 3309 efectuaram a Operação Lacre, fazendo a picagem do itinerário correspondente e montado a segurança para a passagem coluna OÁSIS 1. A Operação terminou no seguinte sem contacto do IN.
Dia 05 - Uma viatura da CCS que se deslocava de Nangade para Muidine accionou uma mina anti-carro, causando 14 feridos, sendo 13 da CCAÇ 3309 e 1 da CCS.
Foi neste acidente que faleceu o 1º Cabo António José Pereira o "Alentejano", e ficaram feridos 13 elementos do 1º Pelotão da CCAÇ 3309,, 4 deles com alguma gravidade; o iº cabo Portugal Henrique Barreto, Vaz... Sousa...e o soldado João Carlos Sanches.







MEMÓRIAS
"Quando a azinheira deixou de fazer sombra!"

Numa manhã solarenga partimos de Nangade com destine a Muidine, para mais uma operação militar rotineira, em duas viaturas, uma Berliet à frente e uma Mercedes atrás.
Eu era o enfermeiro da viagem; ia na Mercedes com alguns soldados e o Capitão "Cheka" mais conhecido por capitão "pistolas" da CART. 3506. tínhamos acabado de sair   de Nangade e andado poucos quilómetros (cerca de nove) quando num ápice se deu um rebentamento.
Aviatura onde eu ia, circulava a cerca de duzentos da viatura da frente por motivos de segurança, e devido ao pó que se levantava da picada.
O cenário que me ficou na retina nunca mais o vou esquecer. Triste, desolador, pó era mato, bocados de viatura voavam a bastantes metros de altura e, de seguida, fez-se silêncio por alguns segundos. Fui ver de mais perto, aproximei-me da viatura minada já o capitão "pistolas" verificava o terreno, verificando que tinham ficado mais duas minas anti-carro por rebentar.
No rebentamento explodiram duas minas anti-carro no lado esquerdo do  rodado, e as outras duas eram supostamente para rebentarem no rodado detrás, também no lado esquerdo pela forma como estavam montados.
Mesmo assim, ficou um buraco na picada e a Berliet ficou totalmente danificada como se pode verificar na foto. Havia muitos feridos, alguns sentados na berma da picada. Todos eles olhavam-me nos olhos pois nenhum falava pois pareciam que não sabiam onde estavam nem o que faziam ali pois estavam atordoados com os rebentamentos.
Dirigi-me de seguida para o lado direito da viatura onde se encontrava o "Alentejano" e encontrei-o deitado ao comprido na valeta da picada, com o cinturão das munições da metralhadora à cinta. Tinha a cabeça partida e os miolos inteirinhos estavam no chão.
Foi o único morto confirmado no local. Nesse acidente evacuei 14 ou 15 militares na viatura para Nangade, entre os quais o Portugal, que tive alguma dificuldade em o reconhecer, devido ao estado em que se encontrava, pois tinha a cara toda preta. Todos os feridos bem como o falecido "Alentejano" foram depois evacuados paro hospital de Mueda 
Texto e foto  de:
Manuel Inácio de Aguiar P. Cardoso
1º Cabo Auxiliar de Enfermagem da CCAÇ 3309





































Dia 19 - 2 Grupos de Combate da CCAÇ 3309 empenharam-se na Operação LACRE 2. Terminou a 20 de Julho de 1972 sem contacto com o IN.
Dia 26 - 2 Grupos de Combate da CCAÇ 3309 empenharam-se na Operação ORCA 3, Terminou a 28 de Julho de 1972 sem incidentes.
Dia 27 - O Exmo Comandante do BART. louvou por proposta do Comandante da CCAÇ 3309, o Soldado auto-rodas António Duarte da Silva Pereira






































MEMÓRIAS

"Nem sempre havia camaradagem!"

(...) eu tinha acabado de sair de  reforço do abrigo junto à pista de aterragem e, como sabia que ia sair uma coluna para o Aquartelamento de Mudine com elementos da CCAÇ 3309 a fazer a escolta à mesma, antes de ir para a caserna decidi passar pelas casernas do atiradores e assistir aos vários preparativos daquela operação.
Ao entrar numa das casernas ouvi um furriel a dizer para o "Alentejano" (que ainda estava deitado)o porquê que ele ainda não estava despachado. 0"Alentejano" respondeu que se sentia um pouco doente (talvez paludismo) ao que o furriel respondeu para que se deixasse ficar sentado, pois confirmou, devido ao seu aspecto amarelado e ao calor que exalava da sua testa o verdadeiro estado de saúde daquele militar. Ainda o furriel não tinha acabado de sair da caserna ouviu-se alguém ao lado de fora que disse em tom agressivo:
- Meu furriel, aquilo é tudo ronha, o gajo não quer ir para o mato. Ao ouvir aquela observação o "Alentejano" levantou-se, preparando-se para  também participar naquela operação, ao que o Furriel, estranhando aquela atitude insistiu para que se deitasse, ao que o "Alentejano" respondeu:
-- Deixe lá meu Furriel, isto com um LM passa e eu vou na coluna só para calar aquele galego de merda. Entretanto a coluna saiu e eu fui para a caserna, e como não tinha sono pois tinha ficado impressionado com aquela falta de camaradagem, retirei de um conheto de munições que fazia de estante o livro "A Rua" de Manfred Gregor que já tinha iniciado a ler, e mergulhei na sua leitura na ânsia de o acabar. De repente ouve-se um enorme estrondo vindo do lado da picada para Muidine e disse para comigo:-- Já ouve merda na coluna ! O Nabais, que se encontrava também na caserna correu logo para junto do posto de rádio para saber notícias, acabando por confirmar que tinha sido o rebentamento de duas minas anti-carro numa Berliet, havendo até ao momento um morto e vários feridos, alguns deles com alguma gravidade.


















Sabendo depois do ocorrido, fui para junto do Posto Médico para assistir à chegada das vítimas daquela explosão, e fiquei bastante impressionado com o cenário que presenciei. Amontoados num Hunimoh 404 , os seus corpos pareciam um monte de destroços que agonizavam à espera de assistência. O corpo do "Alentejano" todo desarticulado e com o crânio desfeito, jazia inerte, quando faltavam apenas quatro meses para a CCAÇ 3309 abandonar o Planalto dos Macondes e rodar para Balama.
Texto e foto de:
Carlos Alberto Correia Braz Vardasca
Soldado Condutor da CCAÇ  3309
Agosto de 1972
Dia 26 -O Exmo Comandante do Batalhão louvou o soldado Radiotelegrafista Mário Joaquim Ferreira Serrano da CCAÇ 3309.
Agosto de 1972 -- A CCAÇ 3309 empenhou neste período 2 Grupos de Combate de  picagem em cada uma das quatro colunas realizadas no mês de Agosto. A parte que lhe correspondia era a picagem era a picagem e protecção na parte do itinerário Nangade//Muidine, até à linha de água (cerca de uns 20 Kms) .
Neste período não se registaram incidentes. Diariamente colaborava em Nangade na defesa do Aquartelamento, montava segurança à pedreira , às Águas e seus acessos e aos trabalhos do aldeamento novo.
Setembro de 1972 -- Neste período 2 Grupos de Combate da CCAÇ 3309 empenharam-se nas 3 colunas, ORCA 7, 8 e 9, de reabastecimento em Nangade fazendo a picagem e protecção da picada Nangade/Muidine, até à zona da Linha de Água . Não houve incidentes a registar 
Desempenhou diariamente tarefas de rotina: segurança ao Aquartelamento, pedreira a águas ; segurança e picagem aos trabalhos e materiais do aldeamento novo.
Ainda neste mês a CCAÇ 3309 empenhou-se com 2 Grupos de Combate nas 3 colunas ODE (1,2 e 3) realizadas no período, fazendo a picagem e protecção da picada até à Linha de Água.
Dia 31-- A CCAÇ 3309 foi informada por um caçador nativo que em coordenadas 3933.1103 se encontrava 1 mina anti-pessoal. Deslocou-se ao local levantando esta e  destruído mais uma mina anti-carro que se encontrava debaixo daquela.




















Outubro de 1972 
Dia 2-- Foi abatido ao efectivo da  CCAÇ 3309 1º Sargento de Infantaria Joaquim Eduardo Carvalho Barreto, por ter sido colocado no BART.3876
Dia 3-- O IN, com um efectivo de 200 a 300 homens tentou flagelar Nangade, utilizando para o efeito 8 morteiros de 82 m/m e 2 canhões sem recuo. 4 granadas do canhão sem recuo caíram nas proximidades do arame farpado, espalhando estilhaços pelo aldeamento sem consequências.


















Dia 6-- 1 Grupo de Combate da CCAÇ 3309 picou e fez protecção à coluna que transportou parte da CCAÇ 4243 para Muidine.
Dia 12-- Chegou a Muidine, integrado na coluna, o resto da CCAÇÇ 4243, que se encontrava em Palma.














Dia 13 -- Seguiu para Palma o resto do pessoal da CCAÇ 3309, que foi rendida em Nangade pela CART 3506 que por sua vez era rendida em Muidine pela CCAÇ 4243 após dias de sobreposição
Dia 20 -- Novo grupo IN, desta vez mais pequeno tentou flagelar Nangade com 2 morteiros m/m sem consequências
Dia 23 -- Nova tentativa de flagelação a Nangade. Sem dúvida que neste mês o IN estava decidido a acabar com este estacionou. Utilizou 5 morteiros de 82 m/m sem consequências.
Dia 25 -- 3º Grupo de Combate da CCAÇ 3309 chega a Nangade vindo de Muidine de onde tinha saído no dia 23 de Outubro de 1972.

















BAIXAS ( Junho a Outubro  de 1972)
Neste período a CCAÇ 3309 sofreu as seguintes baixas:
1 Furriel Miliciano ferido devido à acção do IN
1 Praça morta devido à acção do IN
12 Praças feridas devido à acção do IN

CONDECORAÇÕES
Foram condecorados com a Cruz de Guerra de 4ª Classe os seguinte militares da CCAÇ 3309:
Furriel Miliciano Graduado Portugal Henriques Barreto
1º Cabo José Fernando Pinto Silva (Por terem participado na captura do barco da FRELIMO no dia 25  de Junho de 1971).
LOUVORES:
Neste período foram louvados pelo Comandante do BART.  os seguinte militares da CCAÇ 3309:
Soldado condutor, António Duarte da Silva Pereira
Soldado radiotelegrafista, Mário Joaquim Ferreira Serrano
Alferes Miliciano, Ernesto de Almeida Mendes
1º Cabo António Manuel Ferreira Lopes de Sousa
E por proposta do Comandante  da CCAÇ 3309 o mesmo oficial louvou:
1º Sargento, António Joaquim Ferreira de Oliveira 
Furriel Miliciano, Felisberto de Almeida Costa
Furriel Miliciano, José António Garraia Calha
Furriel Miliciano, José Maria Garcia
Soldado, António Albino Leal Moreira
Soldado António João Pinto
Dia 31 - Grupo de Combate da CCAÇ 3309, comandado pelo Alferes Miliciano Bernardino Rocha Cassiano, seguiu por via marítima para Palma.

Novembro de 1972 



















Dia 3-- Em 3 de Novembro de 1972, transportada em aviões da FAP seguia a CCAÇ 4243 para Nangade. No mesmo dia, abordo do NordAtlas, segue de Nangade para Balama o 1º escalão da rotação da CCAÇ 3309.
Chegou a Muidine a CCAÇ 4243, que rendeu a CART. 3506, que por sua vez rendeu a CCAÇ 3309 em Nangade, que rodou para Balama.













Dia 6-- A CCAÇ 4243 integrada em coluna auto dirigiu-se para Muidine onde chegou no próprio dia, onde veio a render a CCART 3506
Dia 7-- O 3º Grupo de Combate da CCAÇ 3309 fez a protecção às "Águas" sendo o seu último serviço nesta frente de batalha.
Dia 12-- O 3º Grupo de Combate da CCAÇ 3309 fez protecção à Companhia de engenharia que procedia à construção da picada nova Nangade. Muidine, sendo o seu último serviço naquela frente de combate.
Dia 13-- Depois de ter sido rendida pela CCAÇ 3506 em Nangade, a CCAÇ 3309 parte em coluna militar para Palma onde chega no mesmo dia sem problemas.





























Dia 15--  No âmbito da Operação"BAGA 6"efectuada pelo Grupo Especial 212 aquartelado em Nhica do Rovuma, é morto em combate o Furriel Miliciano, João Manuel de Castro Guimarães. O seu corpo, posteriormente, foi levado pelos guardas fronteiriços para território tanzaniano onde se supõe que esteja sepultado.


















MEMÓRIAS

"Desaparecido em combate!"

(...) Tínhamos obtido informação que em Kitaya, povoação tanzaniana nas margens do rio Rovuma, haviam machambas comunais, destinadas ao reabastecimento das forças da FRELIMO. Estas machambas eram tratadas essencialmente por populações moçambicanas que tinham sido coagidas a abandonar este território, para ali, promover várias culturas tendentes a abastecer de víveres os guerrilheiros, que reentravam de novo em Moçambique.

O GE 212 que eu comandava, sediado no Aquartelamento de Nhica do Rovuma, estava situado em posição estratégica para controlar a fronteira naquela posição.Foi assim que, e no âmbito da "Operação BAGA 6" realizada de 14 a 16 de Agosto de Novembro de 1972, instruí o Furriel Miliciano, João Manuel de Castro Guimarães, para, com um Sub-Grupo, nomadizar durante 4 dias nas coordenadas daquela povoação tanzaniana e trazer o máximo de informação, numa perspectiva de um envolvimento futuro. tendente ao resgate da população existente do outo lado. Em cativeiro ou não, pois não se sabia.
Este Furriel, cumprindo as minhas orientações, emboscou no local e ali permaneceu em absoluto silêncio até ao dia seguinte. Aos primeiros raios de sol do dia 15 de Novembro de 1972, sou informado pelo operador de rádio que o Guimarães tinha desaparecido. Foi assim que chegou até mim a informação. Soube mais tarde, que o mesmo, aproveitando as extensas zonas de areia que constituíam o leito do rio Rovuma que se encontrava em época de seca, se aproximou da outra margem. Tinha antes porém, deixado ficar com o Grupo, toda a documentação que o identificava, na eventualidade de ter algum percalço com a FRELIMO ou com forças tanzanianas. Na verdade, assim aconteceu, pois já detectada a sua presença do outro lado da fronteira, ao entrar na zona da morte dali o balearam com dois tiros certeiros. É aí já com o Grupo sem Comando, que me pedem apoio e directrizes operacionais.

Para resgatar o Guimarães, ferido ou morto,seria necessário apoio da Força Aérea que me foi perentoriamente negado por Nangade e Mueda, dado tratar-se de uma área extremamente melindrosa.
Permanecemos na zona e, no dia imediato, apercebemo-nos também que o corpo do nosso militar já lá não se encontrava no local onde foi abatido. Ouvimos mais tarde, na rádio tanzaniana em emissão  Swali (língua daquela região de África) "... que tinha sido abatido um mercen´rio branco (de farda negra) , armado, e que naquela localidade da Tanzânia as suas forças passaram ao estado de alerta para se precaverem de uma eventual invasão dos portugueses...)
Do Guimarães nunca mais tive notícias, mas da família, sim. Há uns anos atrás, não muitos, entrei em contacto com a Escola Secundária de Fafe,onde sua mãe era Directora, e fiquei gelado dos pés à cabeça quando surpreendentemente, a pessoa que me atendeu o telefone ( funcionário da secretaria da escola) ,me perguntou: "-- não me diga, que o filho da Doutora ... ainda vai aparecer??..."
A voz embargou-se-me e tive que resistir muito, para explicar àquela senhora que ... não.
...Ele era um desaparecido em combate 
Texto e foto de:
Filipe Manuel Santos Cardão
Furriel Miliciano da CCAÇ  3309
Comandante do GEs 212 em Nhica do Rovuma

Dia 16-- Deslocamento em coluna auto de 2 Grupos de Combate desta Companhia de Muidine (CCAT. 3506) para Nangade onde ficaram aquarteladas a partir desta data tendo sido rendida a CCAÇ 3309.
Dia 21-- A CCAÇ 3309 embarca em Palma a bordo da Corveta NRP "General Pereira D`Eça com destino a Porto Amélia onde chegou às 20h do mesmo dia.
Dia 22-- CCAÇ 3309 parte para Balama em coluna militar onde chega pelas 24h.
Dia 25-- Os dois Grupos de Combate da CART 3506 permaneceram em Muidine fazendo sobreposição durante três semanas com a CCAÇ 4243 e os outros Grupos de Combate que permaneceram em Nangade fazem sobreposição com a CCAÇ 3309. Todas as operações executadas neste período foram à base destas duas Companhias.
Dia 30-- Muidine sofreu uma tentativa de flagelação com 30 granadas de morteiro 82m/m, sem consequências.









 A cena repetiu-se, mas desta vez em sentido contrário. A Corveta da Marinha de Guerra NRP " General Pereira D`Eça" da marinha portuguesa, comandada pelo  Pelo Capitão de Fragata Fernando Paiva Vilhena de Mendonça, esperava-nos ao largo na Baía de Palma, dado não haverem condições de desembarque de atracagem. Como a maré baixa dificultava também a aproximação das lancha de desembarque devido aos bancos de areia dispersos, "repetiu-se o mesmo filme" de 23 de Fevereiro de 1971 e que ainda estava projectado nas nossas memórias.                                            Embora exaustos pelos meses de sofrimento e de angústia passados nos diversos aquartelamentos por onde passaram (Nangade, Nova Torres, Tartibo, Pundanhar e Muidine) os militares da CCAÇ 3309 faziam-se de novo às águas o Índico, de mochilas, malas e armamento bem levantados, com água pela cintura, mas desta vez com uma imensa alegria no peito, por saberem que o trajecto que os levaria de regresso às suas aldeias se iniciara ali na praia de Palma.









Decorria agora o 21 de Novembro de 1972, e parte da CCAÇ 3309 efectuava a sua rotação de Palma para Balama (onde já tinham chegado os restantes militares desta Companhia que para ali se deslocaram em Nord Atlas no dia 3 de Novembro de 1972 ao embarcarem naquela Corveta que os levaria com destino a Porto Amélia, seguindo posteriormente em coluna auto até Balama seu destino final                                                                                                                                                      Vivia-se de facto uma ligeira sensação de alívio, porque a CCAÇ 3309 com aquele embarque se afastava aos poucos do centro do conflito, com troar dos canhões a soar cada vez mais distante.










AQUARTELAMENTO DE BALAMA

Depois de ter sido rendida pela CART.2506 em Tartibo , a CCAÇ 3309 voltou a Nangade onde durante  cerca de oito meses participou em vária operações de protecção às colunas de reabastecimento , às "Águas", à pedreira e à construção do novo aquartelamento de Nangade, sendo posteriormente rendida pela CART. 4243 que tinha chegado a Nangade em 3 de Agosto de 1972 para render a CART 3506 em Muidine.                                                                                                                Quando acabou a sua Comissão em Nangade em 13 de Novembro de 1972, pare da CCAÇ 3309 foi transferido desta zona operacional , tendo-se deslocado em coluna militar para Palma, onde embarcou na corveta da Marinha de Guerra NRP " General Pereira D`Eça" até Porto Amélia, seguindo em coluna militar para o aquartelamento de Balama.                                                                       Entretanto, e correspondendo à primeira fase da rendição da CCAÇ 3309 em Nangade, um outro grupo de elementos desta Companhia já tinha embarcado num NordAtlas em 3 de Novembro de1972 com destino a Balama.                                                                                                                     








Esta povoação ficava situada a 60 Kms de Montepuêz onde ficava o Quartel General so Sector "B" e o quartel do Batalhão de Comandos , que eram chamados a intervir na zona de Cabo Delgado, mais propriamente no Planalto dos Macondes.

MEMÓRIAS

"Já longe da guerra, mas que cagasso...!"

Tínhamos chegado a Balama à cerca de três dias e ainda não tínhamos ido às"meninas"  e então decidimos ir ao aldeamento, pois disseram-nos que haviam umas mulheres dos Milícias locais que, na ausência destes e para arranjarem uns trocos, iam para a cama com a malta. Eu e o Dias no aldeamento encontrámos duas pretas jeitosas e fomos com elas, cada um para a sua palhota                  Depois do "serviço" feito e ao sairmos das palhotas, já noite a dentro, vimo-nos cercados por 5 Milícias (dois deles eram maridos eram maridos das mulheres com quem tínhamos ido) que nos questionaram em todos ameaçador o que é que tínhamos ido fazer dentro daquelas palhotas.                  Como eles se se aproximavam cada vez  mais de nós e prevendo que aquilo ainda iria dar conflito, tanto eu como o Dias tirámos dos bolsos cada um a sua granada (que que nos acompanhava sempre quando íamos para locais duvidosos) retirámos a cavilha mas mantendo o punho apertado, enquanto encenávamos que as íamos lançar na sua direcção dizendo em tom de ameaça.                                         --"... Nós podemo-nos foder mas vocês também ide com o caralho..."                                                        O que é certo que perante a nossa determinação o grupo de Milícias afastou-se deixando-nos passar. Naquele dia apanhámos um cagasso do caraças mas chegámos ao quartel em bem.

Texto e foto de:
Eugénio de Sousa Fernandes
Soldado Apontador de Metralhadora da CCAÇ 3309

Dezembro de 1972 
Dia 1-  Um Grupo de Combate da CCAÇ 3309, com a duração de 5 dias, executou a Operação Bainha 1 de nomadização com montagem de emboscadas na região compreendida entre o rio Messalo, meridiano 3824-3836 e paralelo 1300. Sem contactos nem vestígio do inimigo.
Dia 2-  Uma Secção do 3º Grupo de Combate da CCAÇ 3309 parte numa missão de Acção Psicológica nos aldeamentos de Mualia, Muape, Mepiche, Tupula e Camala.
Dia 10-  3º Grupo de Combate da CCAÇ 3309 executa uma operação de 5 dias ao longo do rio Messalo, com passagem por Morrola e Chipembe e chegada ao quartel de Balama no dia 14 de Dezembro se 1972 às 15h00.



 












Dia 25--   3º Grupo de Combate da CCAÇ 3309 sai para uma operação em Mapupuloe regressa no dia 29 de Dezembro de 1972.




                            










                         Condecorações:

Por sua Exª O General Vomandante Chefe da Região Molitar de Moçambique, foram agraciados com a Cruz de Guerra de 4ª Classe os seguintes militares da CCAÇ 3309
Furriel Miliciano Arlindo Gonçalves Rodrigues
1ª Cabo Enfermeiro José Fernando Pinto da Silva
(Por terem participado na operação de captura do barco da FRELIMO NO Rio Rovuma, no dia 25 de JUNHO DE 1971 em Nova Torres).











Janeiro de 1973
Dia 1- Foi alvo de mais uma tentativa de flagelação por parte do IN. Esta, a única vez, foi feita com Lança Granadas Foguete, lançando apenas 4 granadas que não causaram danos pessoais nem materiais.
Dia 8 -- Com a duração de quatro dias, um Grupo de Combate da CCAÇ 3309 executou a Operação Bainha 2 de nomadização na região compreendida pelo rio Messalo, meridiano 3839 e paralelo 1257. Terminou sem contacto com o IN.
Dia 27 -- Aniversário da CCAÇ 3309 no Clube de Balama





























Dia 30 -- Chegam a Balama a Secção de Quarteis da CCAÇ 3395 às 22 horas, que vem proceder ao inventário do material e render a CCAÇ 3309.

MEMÓRIAS

"Balama, 05 de Novembro de 1972...!"

Queridos Pais
"... Como já devem saber, já me encontro em Balama na tal zona de descanso.
Aqui estamos mesmos descansados, e a noite passada foi a noite que dormi melhor, porque à vinte e um meses que não dormia com tanta tranquilidade como ontem-
Para divertimentos temos aqui um Clube onde podemos jogar ténis de mesa. Enfim,é pouco, mas sempre é melhor do que onde estávamos. Também existem aqui dois restaurantes (um deles é o Zavala) onde podemos comer o que quisermos, se a comida não prestar, mas como aqui comemos melhor já não é preciso irmos lá muitas vezes.
Como lhes digo, já estou em melhores condições, pois aqui até temos lençóis na cama, coisa que não via há vinte e um mês..."
Pequeno extracto de um aerograma escrito em Balama aos meus pais
Texto e foto de:
Carlos Alberto Correia Braz Vardasca
Soldado Condutor da CCAÇ 3309





































MEMÓRIAS

"Aprendiz de enfermeiro...!"

(...) Quando a CCAÇ 3309 rodou para Balama, o meu pelotão ficou em Montepuêz para efectuar patrulhamentos aos aldeamentos vizinhos, ao mesmo tempo que efectuava junto dos mesmos visitas de "Acção Psicológica" para sensibilizar as populações. Nesse dia estava o 1º Pelotão a 15 Kms do  aldeamento de Namagico, quando fomos informados via rádio para avançarmos para o local para proteger o aldeamento, tendo já seguido antes de nós um jeep da polícia local.Quando chegámos a cerca de 800 metros da entrada do aldeamento, deparámos com um jeep virado "de penas para o ar" e ao seu lado estava o chefe da polícia deitado no chão a tremer e cheio de pó, e com uma perna toda esfacelada.                                                             De imediato descemos da Berliet e organizámos a segurança em redor do local, não fossemos também surpreendidos por qualquer emboscada.. Entretanto, pelas 13h30 a Berliet arrancou com os graduados à procura de socorro e de reforços, uma vez que não havia rádio para comunicar o ocorrido.                        Passadas cerca de duas horas e sem o socorro chegar, o chefe da polícia gravemente ferido começou a delirar e com bastantes dores, foi quando decidi fazer alguma coisa para o socorrer, embora não percebesse nada de enfermagem. No jeep da polícia havia uma caixa de primeiros socorros, onde verifiquei que havia no seu interior seringas e ampolas de Petidina, tendo-lhe injectado uma dose. Mas não havia nada a fazer. O sangue não havia meio de estancar e passado uma hora o polícia já respirava com bastante dificuldade, pedindo-me que lhe desse respiração boca a boca.                       Eu e os meus camaradas de pelotão passámos momentos de grande tristeza, pois mais nada pudemos fazer por ele, acabando o chefe da polícia por falecer junto de nós.                                                   Eram 16h30 quando os reforços chegara, sendo o corpo do chefe do polícia removido para a viatura e transportado para Montepuêz, tendo nós seguido para o aldeamento de Namgico que tinha sido atacado pela FRELIMO, onde encontrámos dois elementos da população mortos e uma grande quantidade de palhotas destruídas. Pernoitámos no aldeamento nessa noite para garantir a segurança e regressámos no dia seguinte a Montepuêz

Texto e foto de:António Manuel Ferreira Lopes de Sousa

1º Cabo Atirador da CCAÇ 3309











Fevereiro de 1973
Dia 2 -- 3º Grupo de Combate da CCAÇ 3309 sai para uma operação de 3 dias na localidade de Namagico (cerca de 120 Kms a norte de Balama), numa zona 100% operacional, onde a FRELIMO dias antes tinha incendiado 60 palhotas e minado as duas entradas da povoação e onde morreram dois membros da população.
Dia 4 -- O 3º Grupo de Combate da CCAÇ 3309 regressa a Balama pelas 06.h00 sem contacto com o IN.
















Dia 21 --  A CCAÇ 3309  sai de Balama com destino a Nampula onde chega no dia seguinte depois de ter pernoitado em Namapa, ali permanecendo até ao dia 27.
Dia 28 --  A CCAÇ 3309  sai de Nampula com destino  à cidade da Beira onde fica até ao dia 5 de Março..
Março de 1973
Dia 5 --  A CCAÇ 3309 embarca no aeroporto da cidade da Beira num Boeing da Força Aérea Portuguesa com destino a Lisboa
Dia 5 --  A CCAÇ 3309 desembarca no aeroporto de Lisboa onde chega às 01h00, indo de imediato para o RAL 1 onde efectua o espólio e dá por concluída a sua comissão em Moçambique.
Dia 8 --  Os militares que compõem a CCAÇ 3309 entraram de licença das NNCCMU por 28 dias desde 8 de Março de 1973. Vieram pagos de T/V pela Região Militar de Moçambique até 31 de Março. Foram pagos pelo BCAÇ 10 até 4 de Abril de 1973 inclusive, último dia de licença.
















Em homenagem "aos que não regressaram"

Albino Dias de Sousa                                                                                                                                  Soldado dos Serviços Básicos 07013070     


           







Depois de ter passado toda a noite de reforço num dos postos de defesa do aquartelamento de Nangade, Albino Dias de Sousa dirigia.se para a sua caserna para descansar quando o Victor Manuel Silva (1º Cabo condutor)que seguia num Unimog 404 com destino ao posto avançado das "Águas" o convidou para lhe fazer companhia..Sempre prestável como era sua característica, o Sousa subiu de imediato para a viatura, que tinha como missão levar a população para os trabalhos agrícolas na machamba situada no Rio Litinguinha , junto ao posto avançado de captação de água que era fornecida ao aquartelamento de Nangade. A meio  do trajecto da picada de acesso ao posto avançado cuja extensão era cerca de 3 Kms, dá-se uma violenta explosão. O Unimog 404 tinha accionado uma mina anti-carro fortemente reforçada, e vitimou aqueles dois militares da CCAÇ 3309 no dia 20 de Julho de 1971, assim como 8 elementos da população, ferindo gravemente outros 3 e dois feridos ligeiros onde se incluía um Furriel adido à CCS do BART.2918..                                                                                                                                                  




















Albino Dias de Sousa nasceu em 17 de Fevereiro de 1949 na Freguesia de Lavra, concelho de Matosinhos. Era filho de Júlio Alves de Sousa e de Maria Dias da Silva.Na altura do seu falecimento era casado com Ana de Sousa Rosas e morava na Rua Caminho Novo, nº 30, Pampelido, Lavra. Ainda muito criança e apenas com 10 anos de idade, foi trabalhar como servente na construção da Petrogal em Matosinhos. Quando ingressou no serviço militar era operário da construção civil com a profissão de estucador, e foi incorporado em 20 de Julho de 1970 no Regimento de Infantaria 14.                                 



António José Pereira ("Alentejano")                                                                                      1º Cabo Atirador  11934670                                                                                                   


 







A coluna de reabastecimento estava prestes a partir de Nangade para Muidine onde estava aquartelada a CART 3506 que fora render a CCAÇ 3309 a Tartibo. Para se efectuar a escolta à coluna, um dos Furrieis foi à caserna para reagrupar os elementos do 1º e 2º Pelotões escalados para a escolta, deparando com com o António José Pereira (Alentejano) deitado na cama e com alguma febre.                                                                  Depois de se ter certificado do seu estado de saúde o Furriel disse-lhe para ficar deitado pois a missão não implicava grandes riscos dispensando a sua presença. Um soldado do mesmo pelotão que estava próximo, ao presenciar aquela situação disse (em jeito um pouco agressivo) ao Furriel que aquilo "era tudo fingimento e que estava a fazer ronha" só para não fazer parte da coluna de reabastecimento.                                                                 O "Alentejano", admirado com a observação do camarada do mesmo pelotão e para que não pensassem que de facto estava a fingir que estava doente, disse ao Furriel que não se preocupasse e que contasse com ele para fazer parte da escolta às viaturas, dizendo, em jeito de graça : "Isto com uma LM passa".                                                                                      Aos nove quilómetros aproximadamente, na nova picada Nangade--Muidine, a Berliet onde seguiam accionou duas minas anti--carro (outras duas não rebentaram) que feriu 14 soldados (13 eram da CCAÇ 3309 e um da CCS do BART. 2918). Era dia 5 de Julho de 1972e de entre os elementos da escolta esta o 1º Cabo António José Pereira do 1º Pelotão da CCAÇ 3309 que teve morte imediata. No mesmo acidente ficaram gravemente feridos o Portugal, Sousa e Sanches.

António José Pereira nasceu em 16 de Janeiro de 1949 na Freguesia da Senhora da Graça de Padrões, concelho de Almodôvar. Era filho de Manuel Anacleto Pereira e de Maria Inácia e morava nas Minas de São João, 1129 em Aljustrel.                                                                 O seu estado civil era solteiro e tinha como profissão, operário da construção civil.                                  Foi incorporado em 20 de Junho de 1970 no Regimento de Infantaria 3 

Pedro Manuel Gaspar Augusto ("Almada")                                                                          1º Cabo Atirador  13619570

















Pedro Manuel Gaspar Antunes  faleceu no dia 2 de Outubro de 1971 em consequência de um ataque da FRELIMO ao aquartelamento de Tartibo no dia anterior.
FRELIMO tinha flagelado o aquartelamento no dia 1 de Outubro de 1971, com ataques consecutivos de morteiros de 82 mm, assim como de espingardas automáticas que duraram na sua totalidade desde as 17h45 às 18h40. O "Almada", como era conhecido, foi atingido por uma granada de morteiro quando se refugiava numa vala sem protecção, uma vez que os abrigos subterrâneos ainda não tinham sido construídos, pois a CCAÇ 3309 tinha acabado de chegar àquele local vindo de Nova Torres, que teve de abandonar devido às cheias e ao aumento do caudal dos rios Rovuma e Metumbué, que alagavam constantemente aquele aquartelamento, conforme descreve o relatório do dia do ataque  nas páginas 225, 226 e 227.
O "Almada" só foi efectuado de helicóptero para o hospital de Mueda no dia seguinte devido o adiantado da hora que terminou o ataque a Tartibo, e veio a falecer a caminho do Hospital de Lourenço Marques (Maputo) por não ter resistido aos ferimentos graves de que fora vítima em consequência daquele ataque.




















Pedro Manuel Gaspar Augusto nasceu em Lisboa no dia 20 de Julho de 1949  na Freguesia de Santa Engrácia, e residia na Rua Lourenço Pires de Távora, nº 27 Cave em Almada.
Era filho de José Augusto e de Isilda Alves da Silva Gaspar e  tinha dois irmãos, José Francisco Gaspar Augusto e Maria Fernanda Augusto.
Antes de ingressar no serviço militar trabalhava no negócio da família que era uma empresa de fabricação de toldos denominada "Toldos e encerados José Augusto".
Foi incorporado em 21 de Julho de 1970 no RAL 1 em Lisboa. 

MEMÓRIAS

"Não podámos ter feito melhor por ele...!"

(...) O "Almada faleceu em Tartibo.

Estávamos lá há poucos dias e ainda não havia  abrigos, somente havia valas, e nesse dia fomos atacados à morteirada .
O "Almada" ao refugiar-se do ataque e ao meter-se na vala, uma granada de morteiro caiu na vala, precisamente onde o "Almada" se encontrava, o que o eixou em coma e cheio de estilhaços que lhe provocaram algumas hemorrogias.
Passou a noite numa tenda, onde foi assistido por toda a equipa de enfermagem numa constante respiração artificial e respiração boca a boca, pois tinha frequentes e prolongadas faltas de respiração.

Foi evacuado pela madrugada do dia seguinte no helicóptero da Força Aéreapara o Hospital de Mueda, deste foi para Nampula, daqui foi para Lourenço Marques (Maputo), e a informação que chegou na altura foi que faleceu a caminho da Metrópole (Lisboa).
Texto e foto de:
Manuel Inácio Cardoso
1º Cabo enfermeiro da CCAÇ  3309

Victor Manuel da Silva ("Didiá")                                                                                                              1º Cabo Condutor 11694170  


No dia 20 de Junho de 1971, Victor Manuel Silva e o Albino Dias de Sousa ambos da CCAÇ 3309 seguiam numa viatura Unimog 404, que se dirigia à machamba, junto ao rio Litinguimha (no vale de Nangade) para levar elementos da população de Nangade aos trabalhos agrícolas. Aos cerca de 2 quilómetros do trajecto a viatura accionou um engenho explosivo altamente reforçado, ficando a viatura totalmente destruída e que causou de imediato a morte do Sousa.
O Victor, que fora cuspido para fora da viatura indo cair na mata sem qualquer ferimento, veio a falecer de seguida, dado que que o Unimog 404 onde seguia, devido ao impacto da explosão, foi ao ar e, ao cair, caiu em cima dele o que provocou a sua morte. O mesmo acidente provocou ferimentos ligeiros num Furriel que estava adido ao BART. 2918 e que participava na construção da Estação de Tratamento de Águas, e fez também cinco feridos graves e dois ligeiros assim como a morte de mais seis civis. Mais tarde vieram a falecer dois dos feridos graves. 
Victor Manuel da Silva nasceu em 10 de Maio de 1949 na Freguesia do Lumiar em Lisboa, e era filho de António Petronilo da Silva (Estivador) e de Natalina Augusta da Silva (Vendedeira). Morava no Bairro Drº Mário Madeira, Lote 24  nº 188 na Pontinha.
Ainda jovem foi estafeta num escritório em Lisboa e mais tarde, até ingressar no serviço militar, foi vendedor de roupas em mercados e feiras onde ajudava a mãe nessa actividade. Foi incorporado em 26 de Janeiro de 1970 no Grupo de Companhias do Trem auto (GCTA) em Lisboa.






























MEMÓRIAS

"Uma feira no Planalto dos Macondes...!"

O nosso "Didiá" era de uma humanidade e de uma bondade que a mim sempre me fascinou. Relacionava-se com uma desenvoltura com todos nós que cada frase que nos dirigia era sempre era sempre tomada em consideração. Porque também era um bom comunicador e valendo-se da sua habilidade na arte de bem vender (porque no Lumiar onde vivia acompanhava a sua mãe de feira em feira para a ajudar a vender as mercadorias que eram o seu sustento), o Victor não perdia uma oportunidade apesar de estar em Moçambique, para treinar a sua arte de bem apregoar ao mesmo tempo que também nos divertia.
Quando o tempo se proporcionava e enquanto nós dormíamos na caserna, e logo pela madrugada, ele, sem que nós déssemos conta das suas intenções , juntava todas as nossas roupas que estavam penduradas nas nossas camas, nas botas e até no nosso armamento e em tudo que pudesse servir para ele propagandear, e lá nos acordava ao som do seu apregoar como se estivesse numa das feiras onde participava com a mãe:
-- Comprem minhas meninas comprem! -- aqui vende-se tudo barato;
-- quem comprar uma G3 leva ainda e sem pagar mais nada, um par de botas, umas cuecas e um bornal...
Apesar do incómodo daquelas alvoradas um pouco atribuladas e que se tornaram rotinas  durante o período que connosco conviveu, até falecer no dia 20 de Julho de 1971 nas circunstâncias que todos nós sabemos, o Victor habituou-nos a conviver com as suas brincadeiras, que até nós estranhávamos quando não acordávamos ao som do seu pregão que o fazia com grande profissionalismo, ao ponto de nos fazer esquecer por momento a guerra, transportando-nos para uma qualquer feira bem distante, dada a alegria que nos transmitia apesar do ambiente de guerra que se vivia.



Texto e foto de:
Carlos Alberto correia Braz Verdasca
Soldado condutor da CCAÇ  3309

Quadro Geral da relação dos mortos e feridos, louvores, condecorações e punições ocorridos no BCAÇ 3834

Mortos em consequência da actividade do IN

Companhia Comandos e Serviços (CCS) --  0
Companhia de Caçadores 3309                 --  4
Companhia de Caçadores 3310                 --14
Companhia de Caçadores 3311                 --  1

Feridos em consequência da actividade do IN

Companhia Comandos e Serviços (CCS) --   3
Companhia de Caçadores 3309                 -- 23
Companhia de Caçadores 3310                 --44
Companhia de Caçadores 3311                 --10

Condecorações e louvores atribuídos à CCAÇ 3309

Condecorações

Por despacho de 15 de Junho de 1972, foram condecorados com a medalha de Cruz de Guerra de 4ª Classe, o Soldado Mário Augusto da Silva Carlão da CCAÇ 3309 DO BCAÇ 3834.

Por despacho de 25 de Junho de 1972, foi condecorado com a medalha de Cruz de Guerra de 4ª Classe, o 1º Cabo Portugal Henriques Barreto e o Soldado Manuel de Jesus ambos da CCAÇ 3309 DO BCAÇ 3834.

Por despacho de 20 de Novembro de  1972, foi condecorado com a medalha de Cruz de Guerra de 4ª Classe, o Furriel Miliciano Arlindo Gonçalves Rodrigues da CCAÇ 3309 DO BCAÇ 3834.

Por despacho de 15 de Dezembro  1972, foi condecorado com a medalha de Cruz de Guerra de 4ª Classe, o 1º Cabo Auxiliar de Enfermagem José Fernando Pinto Silva da CCAÇ 3309 DO BCAÇ 3834.

















Outros  Louvores

Pelo Exmo. Comandante do BART. 3876, o Furriel Miliciano, José António Garralo Calha, da CCAÇ 3309 DO BCAÇ 3834, pela forma como comandou o pelotão, durante a operação "BARRA 1. Tendo detectado um acampamento IN, durante a referida operação, articulou rapidamente e eficientemente o pessoal sob o seu comando de forma a adoptar o dispositivo mais adequado a um golpe de mão. No decorrer da acção lançou-se ao ataque , à frente dos seus homens, galvanizando-os com o seu exemplo e conseguindo causar a baixa de 2 elementos do IN armados. O Furriel Calha demonstrou apreciáveis qualidades de comando, capacidade de decisão, coragem e sangue frio, que o tornam um óptimo chefe e condutor de homens

Pelo Exmo. Comandante do BART. 3876, o Furriel Miliciano, José Maria Garcia, da CCAÇ 3309 DO BCAÇ 3834, pela forma como comandou o pelotão, durante a operação "BARRA 1. Distinguiu-se pela sua coragem e sangue frio que revelou durante a limpeza e busca no acampamento IN que acabara de assaltar, operação que foi executada debaixo de intenso fogo de morteiro por parte do IN.                                                                                                                                                                  


                                                                          Louvado em 1 de Outubro de 1971, pelo EXMº Comandante do BART. 2918, o Rádio Telegrafista Álvaro Cunha Almeida da CCAÇ 3309

Louvado em 26 de Agosto de 1972, pelo EXMº Comandante do BART. 3876, o Soldado Rádio Telegrafista Mário Joaquim Ferreira Serrano da CCAÇ 3309

O Início do regresso
































Chegados ao RAL 1, na ânsia de nos livrarmos de vez de toda a indumentária militar, alguns de nós nem nos importámos da pagar aquilo que nos era exigido por já não sermos possuidores de alguns daqueles utensílios, perante o olhar ansioso dos nossos familiares que desesperavam por nos levar de volta ao aconchego familiar de onde nos retiraram para participar naquele conflito de mau agoiro.          Depois de todo o material entregue e antes que todo o pessoal se dirigisse para as suas terras de origem, as despedidas foram deveras emocionantes.                                                                                                Cada abraço forte e um olhar demorado nos olhos de cada companheiro, representava, para além da alegria do regresso, a esperança de que aquela despedida não representava um adeus definitivo mas tão só um até breve:                                                                                                                                             -- Epá malta! Não me digam que, depois de termos "passado as passas do Algarve" naquela maldita guerra, não nos iremos encontrar um dia destes --  dizia um soldado emocionado enquanto abraçava o companheiro de 26 meses de incertezas.                                                                                     -- Claro que vamos! Mais que não seja anualmente, para a malta matar as saudades da nossa camaradagem e recordarmos os momentos difíceis que nos obrigaram a passar naqueles malditos matos! -- dizia um outro mais optimista enquanto abraçava a namorada.                                                      E assim. num silêncio cúmplice, cada um foi devolvido às sua terras para retomar de vez o caminho que fora interrompido "sem jeito nem prosa", e a CCAÇ 3309 terminava assim desta forma a sua "odisseia trágico-marítima" de má memória  
























MEMÓRIAS

"Foi um tempo que nos foi roubado...!"

Com o eclodir do conflito colonial, fruto das aspirações dos povos colonizados da Guiné, Angola e Moçambique à independência, a nossa juventude viu-se confrontada durante cerca de 14 anos com um drama, que era a sua mobilização para uma guerra, com as implicações que daí adviriam para a sua vida profissional e afectiva.
Os navios que atracavam no Cais de Alcântara ou no Cais da Rocha Conde de Óbidos (ao contrário do que vinham fazendo até aí, transportando turista em viagens de cruzeiro) passaram a encher os seus porões não de carga para ser consumida em países longínquos, mas a atulhá-los de tropas que ali se amontoavam até ao seu desembarque num cais distante ou numa qualquer praia do Atlântico ou Índico. 
Enviados para as várias frentes de batalha, acampados em aquartelamentos sem o mínimo de condições de habitabilidade, inundados devido às cheias do rio Rovuma onde por vezes até o acesso do helicóptero era dificultado pelas condições naturais que os obrigou a dormir em cima das árvores , foram forjando amizades nos intervalos dos vários medos que eram partilhados no dia a dia, ou aprendendo a suster a revolta por verem tombar em combate u companheiro seu.
Foram 14 anos de incerteza para os seus familiares, que a todo o momento (apesar das mentiras do regime que calava a intensidade do conflito nas diversas frentes de combate para os tranquilizar) aguardavam por uma carta oficial que lhes noticiava a perda de alguém " que partira numa viagem de ida mas sem regresso".
Por vezes, acantonados em minúsculos aquartelamentos, cercados por um amontoado de terra barrenta tentando disfarçar as insónias de uma noite mal dormida no fundo de um abrigo subterrâneo, coberto de troncos de árvores arrancadas à mata circundante, cercados por arame farpado e por valas que os protegiam dos ataques constantes que transformavam o aquartelamento num inferno e que os isolava do mundo exterior, isolamento só quebrado pela chegada do helicóptero, que semanalmente trazia abastecimentos frescos e o correio anunciando alegrias longínquas ou outros amores bastas vezes traídos.
No desaconchego das tendas de lona debaixo de um sol abrasador, iluminados à noite por uma luz muito  ténue que mal iluminava um pequeno aerograma onde se rabiscavam saudades ou amores ou amores adiados, riscando diariamente nos seus calendários os dias que simbolizavam a distância do seu regresso. Foi esta juventude que ao longo dos anos que durou o conflito laboral viu o seu futuro adiado, ou inesperadamente interrompido por um sopro de uma bala que os remeteria para uma lápide informe num qualquer cemitério de uma aldeia distante.
Sem qualquer sentimento saudosista (até porque me opus à guerra colonial desde muito cedo, não tendo sido necessário ter participado nela para a contestar) eu também fiz parte dessa juventude que sentiu, no meu caso, que os vinte e seis meses que  me envolvido naquele conflito foram "um tempo que me foi roubado sem jeito nem prosa " e onde tombaram cerca de 10 mil jovens e outros tantos vieram de lá estropiados, impossibilitados de refazer a sua vida profissional , ou vítimas de perturbações emocionais que ainda hoje lhes têm prejudicado e destroçado a sua vida afectiva.
Por esse facto, e porque este livro está a ser editado quando fazem precisamente 36 anos do regresso da CCAÇ 3309 do norte de Moçambique, mais precisamente do Planalto dos Macondes nas margens do rio Rovuma, na fronteira com a Tanzânia , não queria deixar que este evento passasse em branco, dedicando-o, e apenas em jeito de homenagem, a todos aqueles que tombaram naquele conflito, em especial aos meus companheiros da CCAÇ 3309 que faleceram em combate ou após onosso regresso , deixando aqui para todos eles um abraço solidário de quem sobreviveu.
Texto e foto de:
Carlos Alberto correia Braz Verdasca
Soldado condutor da CCAÇ  3309






















FIM





















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Armamento e comunicações

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