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Livros da guerra colonial

Miandica terra do outro mundo


segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

COMPANHIA DE ARTILHARIA 7256 -- "A FUGA"

Unidade Mobilizadora: GACA 2 -- Torres Novas
Comandante: Capitão Milº João António Esgalhado de Oliveira
Partida de Lisboa: 18 de Janeiro de 1973
Regresso a Lisboa: 31 de Outubro de 1974
A CART 7256, foi formada no GAGA 2 de Torres Novas em 19 de Setembro de 1972, tendo-se realizado a cerimónia da entrega do guião em 3 de Janeiro de 1973.
2º Embarcou no dia 18 de Janeiro de 1973 num avião Boeing 707 dos TAM, em Lisboa com destino a Beira /Moçambique, tendo desembarcado nesta cidade em 19 de Janeiro pelas 13 
horas.
3º No dia 22 -- Iniciou o seu deslocamento para Nangolo (Cabo Delgado)º do), saindo da Beira para Porto Amélia.
4º No dia 24 -- Iniciou a coluna, com cerca de 60 viaturas de Porto Amélia sendo a primeira paragem em Montepuez.
No dia 25 -- a coluna saiu de Montepuez com destino a Mueda.
No dia 2 de Fevereiro reiniciou-se a coluna com destino a Nangololo e para rendição da CART 3573 tendo demorado cerca de oito dias para percorrer 38 Kms, até ao destino final.
Durante a estadia no aquartelamento de Nangololo,  todos os Grupos de combate executaram quase diariamente tarefas de patrulhamento na zona, assim como operações de grande complexidade para executar assaltos em bases IN.
Ao longo deste tempo o  aquartelamento foi abonado  por 65 vezes com morteirada, canhão sem recuo, foguetão 122 o que provocou uma grande instabilidade e insegurança permanente.
Por diversas vezes fomos solicitados para apoios à Engenharia e outras operações em zonas fora do nosso aquartelamento, tais como Mueda, Macomia e Serra Mapé e no lado oposto da Baía de Porto Amélia.
Considerando as dificuldades de deslocação por via terrestre, só éramos reabastecidos por via aérea o que condicionava a nossa manutenção no aquartelamento.
Em Janeiro/Fevereiro de 1973 e com o aparecimento dos mísseis terra-ar por parte do IN, bloqueou quase por completo a nossa permanência naquele local, pois o reabastecimento já só era feito pela calada da noite e alturas que fosse possível para a aviação civil "CALDECO". Pontualmente fomos abastecidos por helicópteros militares Puma, quando se tratava de uma carga mais pesada.(Farinhas e outros bens alimentares)
Face ao que estava a acontecer a manutenção de mais de uma centenas de militares naquelas condições, era de todo impossível continuar, mas fomo-nos mantendo até que se deu a Revolução de 25 de Abril de 1974.
A partir dessa data foram canceladas todas as operações no exterior do aquartelamento, tendo-nos sido informado superiormente de que deveríamos fazer todos os possíveis para dialogar com o IN.
Em 2 de Agosto de 1974, recebemos via rádio informação de que deveríamos abandonar o aquartelamento e que a deslocação deveria ser a pé até Mueda.
Tendo conhecimento que no dia anterior uma companhia sediada em Omar tinha sido capturada e levada como reféns do IN, ficámos preocupados com a nossa situação pois já não tínhamos meios alternativos de deslocação e o percurso para Mueda era cortado por vários trilhos de grande movimentação In e que este naturalmente estava a prever essa mesma deslocação.
Face a todas estas situações acima expostas e denotando-se a grande perigosidade para todos os elementos da Companhia, entendeu-se fazer a "FUGA", para outro aquartelamento, que pela sua distância, relevo do terreno e vegetação densa era de todo impensável que nós assim o decidíssemos.
No dia 4 de Agosto de 1974, após embarcarmos em dois helicópteros Puma todos os nossos pertences pessoais, assim como material militar confidencial e percutores de obus e outros equipamentos militares de pouco peso.
À noite foram destruídas munições, granadas e mais algum material de guerra. Nessa noite, houve "Bar e Restaurante aberto".
Após esta situação abandonámos o Aquartelamento com destino ao Chai, tendo levado dois dias de um intenso e desgastante percurso agravado com o moral bastante abatido devido a esta "fuga" precipitada.
Duas fotos elucidativas da penosa caminhada Nangololo-- Chai
Em 7 de Agosto, saímos do aquartelamento Chai em coluna ??????até Macomia.
Em 9 de Agosto, data em que nos deslocámos em coluna auto até Porto Amélia, tendo embarcado na Fragata Pereira DEça com destino a Lourenço Marques.
Na deslocação marítima que estávamos a efectuar, recebemos informação via rádio de que deveríamos desembarcar em António Enes, pois já por lá haviam muitos conflitos entre brancos e negros e não havia tropa na zona. 
Fomos então alojados num armazém e constantemente éramos assediados pela população branca em pânico de que deveríamos actuar com firmeza junto da origem desses conflitos que eram nas cantinas junto aos aldeamentos.
Como não detínhamos informação superior de como deveríamos actuar, aguardávamos que nos dessem autorização para ir manter a ordem que estava completamente fora de controlo.
O sistema nervoso que já estava a chegar aos limites, assim como toda a solicitação intensa da população branca em pânico, deslocámo-nos ao aldeamento para manter a ordem, e então foi o caos pois nada nos fazia parar.
A muito custo lá se conseguiu que a companhia acalmasse e a ordem foi minimamente restabelecida.
Mantivemos-nos mais alguns dias e depois embarcámos novamente tendo chegado a Lourenço Marques  em 17 de Agosto de 1974.
Ficaram então dois Grupos em Lourenço Marques, um na Namaacha e o meu em João Belo.
Em Lourenço Marques assistimos e estivemos no RCM no 7 de Setembro e desta data até ao 21  de Outubro assistimos e com participação nos imensos tumultos ocorridos entre as tropas portuguesas, os civis e as forças da Frelimo.
A 31 de Outubro regressámos finalmente a Portugal.

Texto e fotos de:
Duílio Caleça 
Alferes Miliciano da CART 7256

segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

OMAR -- 1 de AGOSTO de 1974.

A Traição de Omar fez correr lágrimas a Spínola!

A Traição de Omar fez correr lágrimas a Spínola!
O significado da queda Nametil * (Omar)
Rompia a manhã a 1 de Agosto de 1974, no aquartelamento do exército colonial, chamado de «OMAR»,mas cuja
 verdadeira designação era NAMEtTIL. Estava no seu comando interino o alferes José Carlos Monteiro. Para eles, certamente, a guerra já tinha acabado, perdidos num ermo de Cabo Delgado, com uma vista monótona para a fronteira com a Tanzânia. Haviam mesmo começado a destruir algum material, pois estava previsto o seu encerramento. Ignoravam que eram, há muito, objecto de especial atenção, e que iriam ficar registados na história.
Em Naschingwea, face ao impasse negocial, depois das falhadas negociações de Junho, era necessário realizar uma acção capaz de acelerar a marcha dos acontecimentos. Escolhe-se o posto de Omar. Estudam-se as suas envolventes e chega-se mes­mo a fazer uma maqueta do aquartelamento. Ou a operação re­sultava em pleno ou as suas consequências poderiam ser sérias e reacender a guerra, quando da parte de uma das partes existe um estado de cessar-fogo. Samora Machel, pessoalmente, estabele­ce a táctica. E recomenda, com alguma estranheza para alguns, que a acção seja gravada em som e imagem. A 31 de Julho as forças da FRELIMO, as FPLM, tinham cercado por completo o aquartelamento. Inclusivamente colocado artilharia. Era respon­sável por esta operação no terreno o comandante Salvador Mtu-muke. Bem próximo do local, numa montanha, encontravam-se, em atenta observação, o adjunto do Departamento de Defesa, Alberto Joaquim Chipande, assim como o comandante do de­partamento de Defesa de Cabo Delgado, Raimundo Pachinuapa. Tinham instalado um sistema de comunicações entre a fren­te de operações, a base de comando e a Tanzânia, onde Samora Machel aguardava com grande impaciência o desenrolar do pla­no estabelecido.
Quando rompe a aurora do primeiro dia 1 do mês de Agosto de 1974, os cento e quarenta soldados do aquartelamento de Nametil são acordados por megafones solicitando a sua rendição  Todos estes pormenores da tomada de Nametil foram gravados. A guarnição militar rende-se. Cento e quarenta homens são feitos prisioneiros e três conseguiram fugir. Seguirão para a Tanzânia, onde chegam a 6 de Agosto. Independentemente da controvérsia, se a rendição resultou de um equívoco ou simplesmente da tomada de decisão mais sensata do seu comandante de não combater, face à situação política que se vivia e mesmo tendo em causa a desproporção do equipamento e das armas, a tomada do quartel de Nametil (Omar)  não pode deixar de ser mencionada pelos reflexos que teve. Mais do que uma vitória militar era uma vitória política.
O presidente Spínola, com condição para uma ronda nego­cial, que se inicia a 15 de Agosto, em Dar-es-Salam, exige que a FRELIMO apresente desculpas pelo ocorrido em Omar. Samora que engenhosamente tivera a percepção de tudo gravar, faz com que a delegação chefiada por Melo Antunes escute essa grava­ção. O que foi suficiente.
O que se passou a 1 de Agosto, nesse aquartelamento, poder-se-ia passar em qualquer outro ponto do país. Havia, da parte do exército português, a total falta de vontade de dar mais um tiro e muito menos de continuar uma guerra. Há factos indesmentíveis dessa realidade. O próprio general António de Spínola o admite e escreve que a tomada de Omar era «uma arma decisiva para Samora Machel na mesa de negociações. De militar para militar efectivamente assim o foi.
494 António de Spínola, País sem Rumo – Contributo para a História de uma Revolução. Ed. Editorial SCIRE, p. 302
In MOÇAMBIQUE 1974 – O fim do Império e o Nascimento da Nação, de Fernando Amado Couto(2011)
*Omar, para as autoridades portuguesas.
NOTA:
Se se comparar este texto com o que o Comandante Almeida e Costa relata, tanto Almeida Santos, como Melo Antunes mentiram ao General Spínola, além de não lhe fazerem a comunicação imediata dos acontecimentos de 1 de Agosto de 1974.
Diz Almeida e Costa: “Não só pelas três sessões de trabalho mas, sobretudo, pelo teor das surpresas que os esperam. A começar pela notícia de que a Frelimo tinha capturado uma companhia inteira de militares portugueses em Omar, no norte de Moçambique. Como se isso não bastasse, Samora insistiu que se ouvissem as gravações e as entrevistas feitas com os soldados capturados, apelando à rendição das forças portuguesas. «Foi muito confrangedor», explica Almeida e Costa. Incluindo para o terceiro-mundista Melo Antunes, que não resistiu a um desabafo: «Merda, assim não se pode fazer nada». In http://macua.blogs.com/moambique_para_todos/2005/08/1_de_agosto_de__2.html
Assim a cassete veio para Portugal a 3/4 de Agosto e não a 17/18 de Agosto.
Porque a não apresentaram de imediato ao General Spínola?
Escreve o General Spínola:
“Assim, quando em 15 e 16 de Agosto, a Delegação Portuguesa (13) se sentou à mesa das negociações em Dar-es-Salam, a facção predominante do MFA, ali repre­sentada pelo Major Melo Antunes, já estava ao lado do chamado Movimento de Libertação e, para que ainda se retirassem às forças políticas todas as possibilidades de soluções razoáveis, recorreu-se a formas de pressão impen­sáveis e só possíveis num quadro de alta traição.
“Na mesma ocasião fui informado de que aquela reunião havia sido aberta com a audição de uma fita gravada da «rendição» de uma companhia metropoli­tana no Norte de Moçambique, num cenário concertado com as cúpulas marxistas do MFA e conhecido pela «traição de Omar» (14), gravação que ficará a assinalar uma das páginas mais vergonhosas da História do Exér­cito Português ao oferecer a Samora Machel, na mesa das negociações, uma arma decisiva. As afirmações pro­duzidas no «acto da rendição», designadamente as sau­dações à FRELIMO, como libertadora de Moçambique e do próprio povo português, constituíram prova irrefu­tável do índice de prostituição moral a que haviam che­gado alguns militares portugueses.” (In O PAÍS SEM RUMO, de António Spínola).
Ora, a fita gravada, segundo Almeida e Costa, já fora ouvida por ele e Melo Antunes na anterior estadia entre 31 de Julho e 3 de Agosto.
Agora escutem o que Almeida Santos diz sobre a reunião de 15/16 de Agosto à SIC emhttp://www.macua1.org/blog/sicalmeidasantos.html
Para quê este “teatro”?
Mas porque é que “Samora Machel, pessoalmente, estabelece a táctica. E recomenda, com alguma estranheza para alguns, que a acção seja gravada em som e imagem.”(In Moçambique 1974, de Fernando Amado Couto)
Porque era preciso impressionar e levar o General Spínola a aceitar o que há muito já estava combinado entre o PS, PCP e FRELIMO, desde uma célebre reunião em Paris, onde, entre outros, a FRELIMO esteve presente. Recorde emhttp://macua.blogs.com/moambique_para_todos/2010/04/a-outra-face-do-25-de-abril.html#more
E, para que não restem dúvidas, o autor da Newsletter aqui reproduzida, ainda felizmente vivo, me confirmou todo o seu conteúdo.
Resta ler-se a entrevista do Alferes Comandante em OMAR na altura, para se poder comparar do que é real do que é ou foi forjado.
Negando o então Alferes comandante de Omar ter proferido as afirmações que lhe são atribuídas por Almeida Santos, porque nunca foi tornada pública a cassete apresentada ao General Spínola? Será que ainda existe? Porque nunca foi ouvido qualquer dos elementos da companhia aprisionada?
OMAR e WIRIAMU são dois acontecimentos cuja génese ainda não foi totalmente dissecada. Mas que serviram na perfeição para a descolonização que foi feita.

ENTREVISTA DO ALFERES JOSÉ CARLOS MONTEIRO,COMANDANTE INTERINO DA 1ª COMPANHIA DO BATALHÃO DE CAVALARIA  8421

Ex-comandante da Base de Omar desmente Almeida Santos e chama-lhe traidor
Almeida Santos está na mira de tiro dos militares portugueses que, em Agosto de 1974, caíram nas mãos dos terroristas da Frelimo, em Omar (Moçambique). 
No centro da polémica está o segundo volume do livro «Quase Memórias», há diaspublicado, onde o dirigente socialista acusa de «traição» os homens da 1Companhia de Cavalaria-Batalhão 8421. A versão relatada por um dos principaisresponsáveis pela trágica «descolonizaçã exemplar» é rejeitada liminarmente por quem viveu «in loco» os acontecimentos. Chocado e indignado, mais de trinta anos depois o ex-alferes miliciano Costa Monteiro, à altura comandante interino da Base de Omar, dispôs-se a abrir a «gaveta» das memórias em nome da verdade.De «traição à Pátria» o antigo militar acusa Mário Santos, Melo Antunes, Otelo Saraiva de Carvalho e o próprio Almeida Santos

O DIABO — O que é que realmente aconteceu em Omar na madrugada de 1 de Agosto de 1974?

COSTA MONTEIRO — Nessa madrugada, na orla da mata do estacionamento ouviram-se vozes, através de megafones, que diziam: «Atenção aquartelamento de Omar, nós não estamos contra vocês, lutamos contra o fascismo e o colonialismo, e esses terminaram no dia 25 de Abril. Queremos falar com vocês. Mandem um mensageiro à pista, pois nós estamos sem armas. Não queremos mais derramamento de sangue»
Em consequência destas palavras, insistentemente repetidas, o soldado Joaquim da Silva Piedade ofereceu-se como voluntário para ir à pista como mensageiro. O restante pessoal continuou nas valas e em diversas posições de fogo. Quando o nosso soldado estava próximo da pista, voltaram-se a ouvir vozes, igualmente através de magafones, pedindo para que o comandante fosse também à pista. Perante a insistência acedi deslocar-me com o soldado Piedade. Surgiu, então, cerca de uma dezena de indivíduos, desarmados, munidos com gravadores portáteis, máquinas fotográficas e de filmar. Quando me encontrava a conversar com o comandante do grupo, este pediu, pelo megafone, para falar com os soldados da Companhia na pista. Face à insistência e recordando-me da mensagem 2008/01/74, do Comando do Sector B, sugeri que poderiam entrar e falar com todo o pessoal no interior do aquartelamento. A minha proposta não foi aceite alegadamente por recearem qualquer reacção das nossas tropas ou da Força Aérea. Como não foi notada a presença de indivíduos armados, aceitei que parte da Companhia fosse até à pista, ficando nas posições as secções de obuses 8,8, morteiros e postos de sentinelas.Quando uma parte dos nossos militares estavam na pista, surgiu uma força de cerca de cem homens, que pela porta de armas traseira, entraram de assalto, tomando as nossas posições no interior do quartel. A reacção das secções de obus não era possível, pelo que o grupo da força invasora entrou obrigou o pessoal das restantes posições a sair. No mesmo momento em que o quartel foi tomado, outra força, emboscada
na orla da mata da pista, cerca todo o pessoal que ali se encontrava. A Companhia não se entregou e muito menos se bandeou com a Frelimo, como alguns políticos e meios da comunicação social referiram. Foi emboscada. Se não fosse o 25 de Abril isto não teria acontecido.

Que instruções recebeu na mensagem que referiu?

Era a transcrição da mensagem 7165/P da 5.a Repartição, que dizia: «Devem todos os comandos tentar criar condições locais passíveis de conduzir ao cessar fogo na sua ZA. Para o efeito lançarão campanhas de panfletos, cartas deixadas no mato, e acima de tudoservir-se como intermediários, bem como todos os meios achados convenientes. Só deve ser prometido respeito e confiança mútuos e desejo para a paz. Todos os militares serão esclarecidos destes acontecimentos e finalidades, tendo em vista evitar quaisquer incidentes ou atitudes inconvenientes e todos os resultados alcançados serão comunicados a este Comando». Baseado nesta mensagem e sob o mesmo espírito, o Comando Militar de Mocimboa do Rovuma elaborou um comunicado para ser distribuído durante os patrulhamentos efectuados por forças do BCAV 8421, onde era referido que «as Forças Armadas estão dispostas a não atacar o povo da Frelimo, se esta força não atacar as picadas e quartéis portugueses».

Os militares portugueses foram feitos prisioneiros?
A fuga dos cinco

O cativeiro dos militares de Ornar iniciou-se a 1 de Agosto, em Moçambique, e terminou a 19 de Setembro, na Tanzânia.Daquela guarnição militar cinco soldados lograram fugir.

Ainda se recorda dos nomes desses militares que conseguiram escapar às garras da Frelimo?

Sim, ainda me lembro. José António Cardoso Gonçalves, Joaquim da Silva Piedade e Vasco Ponda, que vieram a apresentar-se no dia 2 em Nangade; Sumail Aiupa e Laquine Puanhera, que se apresentaram no dia 3, igualmente em Nangade, e no mesmo dia apresentou-se Mário Andrade Moiteiro, em Mocimboa do Rovuma.

Como foi possível o êxito da cilada montada pela Frelimo?

A nossa Companhia estava — como reconheceu Melo Antunes no livro «Melo Antunes — O sonhador pragmático» — numa situação extremamente delicada e difícil, junto à fronteira com a Tanzânia, praticamente isolada, sem grandes possibilidades de informação e de comunicação. A mensagem oficial que havíamos recebido e que anteriormente referi, chegou a notícia de que, na sequência dos contactos havidos entre as autoridades militares e civis portuguesas com os dirigentes da Frelimo, estava-se à beira de atingir o desbloqueio das negociações então em curso e que a paz era dada como certa. Quanto ao êxito de que me fala, deveu-se às condições que acabo de referir e à mensagem 7165P da 5.a repartição.

O que é que lhe disse o comandante dessa operação da Frelimo?

Quando lhe perguntei o que é que se passava, ele respondeu que iria falar com o comandante Joaquim Chipande, que estava no interior da mata. Pouco depois fomos levados para uma base avançada da Frelimo, de que eram responsáveis Silésio e Joaquim Chipande. No dia 2 seguimos para outra base da Frelimo, onde permanecemos dois dias. Aí tivemos a primeira reunião com uma comitiva da Frelimo, chefiada pelo Chipande. Foi-nos lido o teor das con-versações de Lusaca onde Chipande havia estado presente. Aquele comando da Frelimo explicou-nos, então, que a razão ou uma das razões porque tinham tomado Omar foi pelo facto de não só ser uma base de importância vital, mas também porque já haviam escrito uma carta ao Comandante do Sector B/AV (Mueda), tenente-coronel Andrade Lopes, onde a Frelimo exigia como condições a retirada de determinados quartéis e a reunião dos mesmos em Mueda. Como não foi satisfeita essa exigência e a Frelimo sabia, pelo barulho de rebentamentos e por uma mainato civil, que desertara da nossa Companhia, que Omar estava a destruir material de guerra. Após esta explicação seguimos, escoltados por guerrilheiros da Frelimo, para outra base dos guerrilheiros, onde nos juntamos aos outros soldados, pois havíamos sido divididos em dois grupos. No dia 5 levaram-nos para o Distrito de M'Napa, onde pernoitamos. No dia seguinte rumámos em direcção à base Limpopo, da Frelimo, onde nos distribuíram sopa, arroz e água. No dia 7 de Agosto estávamos em território tanzaniano. Trocaram os nossos uniformes por fardamento presumivelmente pertença do exército da Tanzânia. No mesmo dia fomos transportados em viaturas do exército tanzaniano para Newala, onde pernoitamos numa prisão em construção. No dia seguinte houve um encontro dos prisioneiros com o presidente da Frelimo, Samora Machel, que fez questão de nos cumprimentar, um por um. Na tarde desse mesmo dia fomos levados para Nashinguwea. Ficámos instalados num quartel do exército da Tanzânia, onde permanecemos presos até aos dia 19 de Setembro de 1974.

Quando regressaram a Moçambique quem é que vos recebeu e que tratamento tiveram?

Fomos recebidos em Nampula pelo coronel Travassos, na altura comandante do Sector B. Fomos bem acolhidos. Deram-nos novos fardamentos e dinheiro.





AVILTADA E TRAÍDA
A sua CompaNHia foi traída?

Foi aviltada e traíDA. Se querem saber a verdade sobre o que aconteceu na madrugada de 1 de Agosto de 1974, em Omar, consultem os arquivos militares portugueses. Lamento que ninguém se tenha preocupado em transcrever o que está registado no Arquivo do Exército sobre os acontecimentos de Omar. A verdade de Omar não é a que Almeida Santos escreveu.

Recorda-se do nome do comandante da força da Frelimo que capturou a guarnição militar portuguesa de Omar, também conhecida por Namatil?

Salvador Mutumuke.

Essa acção da Frelimo em Omar terá tido alguma influência nas conversações de Lusaca?

Desconheço. Mas poderá ter servido de moeda de troca em termos de prisioneiros.

No livro que escreveu, Almeida Santos faz alusão à existência de uma cassete de vídeo que supostamente prova que os militares portugueses se entregaram voluntariamente à Frelimo. É verdade?

Não sei de que cassete se trata. Não tenho conhecimento da existência de qualquer cassete. Nunca vi nem ouvi esse registo. O que tem sido escrito sobre o que aconteceu em Omar não corresponde à verdade.

Escreve também Almeida Santos que o general Spínola, então Presidente da República, terá ficado «perturbado» com a audição da cassete, que entretanto fora entregue a Melo Antunes pela Frelimo. Segundo as palavras de Almeida Santos, o
general Spínola recusou aceitar que tão vergonhosa rendição traduzisse o espírito das
Forças Armadas portuguesas em Moçambique. Como comenta?

As ordens transmitidas pelo general Spínola não foram cumpridas pelos seus emissários e isso é que, certamente, o terá enfurecido.

Na qualidade de comandante interino da guarnição de Omar foi ouvido pela hierarquia militar?

Não.

E pelo poder político?

Também não.

Foi-lhe instaurado algum inquérito ou sofreu alguma punição pelo que aconteceu em Omar?

Nada.
«Os verdadeiros traidores»
Fica claro das suas palavras que os militares portugueses estacionados em Omar e que o senhor comandava não foram traidores.

Nós, os militares portugueses em momento nenhum fomos traidores. Traição houve por parte do poder político português da altura, no quadro da trágica descolonização das ex-províncias ultramarinas.

Quer referir os nomes?


Mário Soares, Almeida Santos, Melo Antunes e Otelo Saraiva de Carvalho, entre outros. Estes é que são os grandes e verdadeiros traidores da Pátria portuguesa.

O que é que acha que Almeida Santos procura com o livro que escreveu?

A meu ver procura encontrar bodes expiatórios, procura sacudir a água do capote, eximir-se às muitas responsabilidades que teve.

Ainda por cima recorrendo a mentiras...

É vergonhoso! O livro descreve factos sem que ele, Almeida Santos, tenha procurado averiguar da sua veracidade. Escreveu coisas sem se preocupar em buscar a verdade. É lamentável e vergonhoso. Mas ainda há mais de uma centena de pessoas vivas, ex-mi-litares, que podem testemunhar toda a verdade.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

OPERAÇÃO "NÓ GÓRDIO"

Kaúlza de Arriaga e Armindo Videira, comandante do COFI

A situação em Cabo Delgado,em finais de 1969,era de acentuada pressão sobre os aquartelamentos militares Portugueses,com a minagem dos itenerários e ataques às colunas tácticas e logísticas,tentando a Frelimo expandir as suas acções para Sul do Rio Messalo.Espalhava-se a ideia de que o planalto central era zona inacessível às tropas Portuguesas depois de,no final desse ano,unidades de Páraquedistas e Comandos não terem coseguido alcançar as grandes bases da guerrilha,Gungunhana e Moçambique.No primeiro trimestre de 1970,verificou-se a intensificação da guerra,com a Frelimos a ultrapassar o Rio Messalo,em direcção ao Lúrio,e a confirmação de acções em Tete/Cahora Bassa.A actividade da guerrilha aumentou mais de 40%,continuando a caber a maior percentagem ao emprego de minas.O contínuo agravamento da situação militar e a impossibilidade de aumentar o esforço de guerra,quer em efectivos Metropolitanos quer em material de combate,levaram o Gen.Kaúlza de Arriaga,ainda como Comandante do Exército,a intensificar a formação de unidades de recrutamento local,que utilizaria intensamente como Comandante-Chefe.Nos finais de 1969 ,foi formado o Batalhão de Comandos e formada a 1ª Companhia de Comandos de Moçambique.



O famoso BIGONE a desfilar em Lourenço Marques, com os
seus GE de farda preta e boina amarela
Logo em Janeiro de 1970, a Região Militar anunciou a formação dos primeiros seis Grupos Especiais (GE) de milicias com o total de 550 homens.
Em Abril de 1970, foi referenciada a presença de Samora Machel em Cabo Delgado, para apresentar os planos de uma grande ofensiva a executar em Junho e Julho. Esta visita fez aumentar a actividade militar da Frelimo a nível nunca igualado. De facto, enquanto no segundo trimestre de 1969 o movimento realizou 154 acções, das quais 98 foram minas, no primeiro trimestre de 1970 essas acções subiram para 685, sendo 646 de minas e no segundo para 759 e sendo 652 de minas.
Com este cenário em pano de fundo, o Genrral Kaúlza deArriaga, já como Comandante-Chefe decide lançar a operação "NÓ GÓRDIO", atribuindo a sua execução ao Comando Operacional das Forças Armadasa (COFI), criado em Novembro de 1969 para o emprego conjunto de forças do Exército, Marinha e Força Aérea em missões de grande envergadura em situações de emegência e em operações especiais.
A preparação para a operação "NÓ GÓRDIO" foi iniciada com a primeira experiência do COFI em Maio de 1970, na condução de uma grande operação ao longo da picada Mueda -- Mocímboa da Praia, (OPERAÇÃO ZETA) envolvendo unidades de Comandos, Pára-quedistas e Fuzileiros, apoiados por artilharia e aviação, a qual serviu de treino ao Estado - Maior do COFI e permitiu aliviar a pressão sobre um território fundamental para o apoio logístico à grande operação que se preparava.
Entretanto desde a tomada de posse do General Kaúlza de Arriaga que o seu quartel general em Nampula trabalhava nos preparativos que iriam concretizar o seu conceito de manobra em acções de contra-guerrilha: executar operações de grande envergadura sobre objectivos materializados no terreno, com o máximo de forças. Para tal processou-se intensa actividade de reparação e reunião de materiais, sobretudo artilharia e auto metralhadoras; transferiram-se depósitos de munições, combustíveis para o norte; prolongou-se a pista de Mueda, de modo a nela poderem operar aviões FIAT G 91, e em Nangololo, para receber NORD-Atlas de transporte; deslocaram-se efectivos de sul para norte, incluindo algumas unidades em fim de comissão: receberam-se novos materiais, especialmente alguns detectores de minas e rádios; e preparou-se finalmente, um plano de acção psicológica destinado às populações e forças portuguesas.
O início da operação "Nó Górdio" foi marcado para o dia 1 de Julho de 1970, com a presença do General Comandante-Chefe e do seu Estado Maior em Mueda, prolongando-se até 6 de Agosto. Nela participaram mais de 8.000 homens, que representavam cerca de 40% dos efectivos das tropas de combate que eram de cerca de 22.000 homens, uma concentração que esgotou as reservas disponíveis, pois empenhou a totalidade das unidades de forças especiais, (Comandos, Pára-quedistas e Fuzileiros) e os Grupos Especiais (GE) recém criados, mais a quase totalidade de Artilharia de campanha, unidades de reconhecimento e de Engenharia.
O conceito da operação assentava num cerco e batida com grandes meios, prevendo o isolamento da área do núcleo central do planalto dos Macondes, onde se encontravam as grandes bases GUNGUNHANA, MOÇAMBIQUE e NAMPULA, através dum cerco ao longo dos itinerários MUEDA-SAGAL-MUIDUMBE-NANGOLOLO-MITEDA-MUEDA, com a extensão de 140 Kms e, após conseguido o isolamento da área, o assalto e destruição dos principais objectivos do núcleo central.

OBJECTIVO A -- BASE DE ARTILHARIA GUNGUNHANA
OBJECTIVO B -- BASE PROVINCIAL MOÇAMBIQUE
OBJECTIVO C -- BASE NAMPULA


A manobra seria apoiada no terreno com fogos de artilharia e de aviação, em acções de flagelação e de concentração sobre os objectivos
MAPA DA OPERAÇÃO NÓ GÓRDIO
Para criar condições de aproximação a estes e actuar sobre eles, seriam organizados agrupamentos de forças para procederem à abertura simultânea de picads em direcção aos objecticos "A" e "B", o mesmo sucedendo posteriormente para atingir o objectivo "C" e, por fim, previa-se manter o cerco e continuar a bater e eliminar todas as organizações referenciadas ou a referenciar.
As acções militares deveriam ser conjugadas com intensa campanha de acção psicológica, para provocar a rendição e desmoralização do inimigo.
Os agrupamentos de cerco seriam constituídos por unidades de caçadores e por unidades de reconhecimento, realizando as primeiras emboscadas em permanência, enquanto as segundas patrulhariam os itinerários.
Os agrupamentos de assalto disporiam de uma composição inter-armas, do tipo task-force, incluindo unidades de de forças especiais, forças regulares, de apoio de fogos de artilharia e morteiros e de engenharia. A esta cabia papel de grande sacrifício e risco na abertura das picadas tácticas desde as estradas MUEDA- MITEDA e MITEDA-NANGOLOLO, até à proximidade dos objectivos, onde seriam criadas as bases de ataque para as forças de assalto.
A operação concebida como manobra de tipo convencional, em que se pretendia alcançar com uma ataque em força o que do antecedente não fora conseguido, empregando a surpresa. 

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                          EXECUÇÃO DA OPERAÇÃO

Para  cumprimento do plano foram constituídos sete argumentos: dois  para o cerco (norte-Sul) e quatro de intervenção, um para cada objectivo  e um para reserva.   

 1 de JULHO. IInício. Os agrupamentos de cerco começaram a sua instalação. Os agrupamentos de assalto "A" e "B" principiaram o movimento para o objectivo. 
3 de JULHO. O agrupamento de assalto "B" (Pára-Quedistas) iniciou a progressão de Nangolo para o objectivo "B" Base Moçambique, com o apoio da Engenharia na abertura da picada desde CAPOCA até GOLE
4 de JULHO. O agrupamento de assalto "A" (Comandos) chegou à base de ataque, a 2 Kms do objectivo - base Gungunhana.
5 de JULHO.  Realizou-se a primeira tentativa de assalto à base Gungunhana, que não se encontrava na localização prevista.
6 de JULHO. Foi localizada e assaltada a base Gungunhana, que fora abandonada recentemente.
Estava localizada na encosta de uma pequena colina, na base Moçambique o interior de mata densa, ocupava uma área de 100x500 metros, dispunha de mais de 100 palhotas, era circundada por uma vala e tinha abrigos contra morteiros e ataques aéreos.
Foi assaltada a base Moçambique pelas forças Pára-Quedistas. Era constituída por cerca de 200 palhotas e encontrava-se abandonada há cerca de 2 meses
12 de JULHO. O  agrupamento de assalto "C" (Fuzileiros) iniciou o deslocamento de MUEDA para o objectivo "C" Base Nampula.
15 de JULHO. Foi atingido o objectivo "C" a base de Nampula era constituída por cerca de 50 palhotas e encontrava-se abandonada há cerca de 2 meses
16 de JULHO a 6 de Agosto.Realizaram-se acções de permanência. Após os ataques aos objectivos "A"-"B"-"C" foram organizadas bases temporárias nas suas proximidades e atribuídas áreas de responsabilidade aos agrupamentos de ataque, com a finalidade de eliminar da zona as unidades de guerrilha ainda activas. As forças de cerco mantiveram-se em posição até 2 de Agosto, realizando emboscadas e implementarem armadilhas, para completar e melhorar a manobra. Em coordenação com as acções militares.
Em coordenação com as acções militares foram realizadas operações psicológicas com a finalidade de separar as populações dos guerrilheiros, desmoralizar os combatentes e fomentar as apresentações, considerando que a Frelimo controlava cerca de 60.000 pessoas na zona do planalto.
Para esse efeito, foi instalada em MUEDA uma secção de apoio psicológico, constituídas equipas de recepção de refugiados em SAGAL, DIACA, MITEDA e MUIDUMBE e equipas de acção psico-social em MUEDA e SAGAL. Também as autooridades administrativas receberam instruções para armazenar reservas de víveres, a fim de fazerem face às necessidades imediatas de apresentados e capturados. 



A FRELIMO, apesar da Operação "NÓ GÓRDIO", não foi impedida de actuar em qualquer dos teatros de operações. A sua actividade no terceiro trimestre de 1970 provocou as seguintes baixas e destruição às forças portuguesas, nas zonas não abrangidas pela Operação.
No Distrito do Niassa: 17 mortos, 77 feridos graves e 14 viaturas destruídas
No Distrito de Cabo Delgado: 25 mortos, 70 feridos graves e 33 viaturas destruídas.
Distrito de Tete: 51 mortos, 192 feridos graves e 60 viaturas destruídas.







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