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Livros da guerra colonial

Miandica terra do outro mundo


quarta-feira, 23 de junho de 2021

OS FANTASMAS DO COLONIALISMO

 Os fantasmas do colonialismo.
Assista ao começo do filme aqui: 











EE    Em seu documentário “Uma memória em três atos” (2018), o cineasta Inadelso Cossa propõe-se a retratar a história de seu país, Moçambique. O poderoso filme baseia-se em materiais de arquivo dos tempos da opressão colonial portuguesa e nos testemunhos de moçambicanos que sobreviveram à luta pela libertação. Aqui Cossa explica, através de cinco cenas, como seu filme se envolve com imagens e vozes do passado e do presente – trilhando um caminho para a reconciliação.










Uma falsa imagem de integração, evidência gritante de uma perspectiva colonial: encontrei esse material de filme Super-8, registrado por uma família colonialista, no arquivo nacional de Moçambique, o  (Instituto Nacional de Audiovisual e Cinema), em Maputo. As duas crianças evocam uma harmonia colonial despreocupada, distante da realidade moçambicana na década de 1960. Ao integrar essa cena na sequência de abertura do meu filme, apresento a imagem oficial apenas para desmascarar suas pretensões. Meu filme justapõe essas imagens com memórias de moçambicanos que viveram o passado colonial do meu país. Essa abordagem me permite acessar e narrar as camadas de um tempo que continua a moldar as identidades dos moçambicanos até hoje. Os fantasmas do colonialismo ainda estão nos assombrando


Como posso falar a vocês sobre a história colonial de Moçambique quando parece não haver fontes satisfatórias a partir das quais ela pode ser traçada? Onde encontrar o passado? Em Moçambique, você procura em vão por arquivos oficiais que recontem a história dos presos políticos da era do colonialismo. Se eu queria fazer este filme, tinha que ser ao mesmo tempo diretor e autor. Essa linha é traçada através de todo o filme – através de cada um de seus três atos. Folhear as páginas de uma revista dos tempos coloniais – o trabalho tátil da pesquisa e busca – introduz essa linha logo no início. Em vez de atuar como um cineasta que olha de uma distância analítica, sou um participante do documentário – um membro de toda uma geração de moçambicanos que não teve acesso à história que estou contando agora. A baixa luminosidade atesta minha experiência: procurar o passado foi um processo íntimo e solitário.


Aqui. A polícia política portuguesa PIDE (Polícia Internacional e de Defesa do Estado) torturou na década de 1960 inúmeros presos políticos, como o poeta José Craveirinha e a pintora Malangatana Ngwenya. Aqui, neste prédio: Vila Algarve, um lugar de dor e resistência. No meu filme, esse lugar é por si só um personagem, um arquivo, uma testemunha silenciosa de prisioneiros políticos sem voz. Não se pode falar da PIDE e de presos políticos sem mencionar a Vila Algarve. Abandonado, em ruínas, em meio à área abastada da capital de Moçambique, Maputo, o edifício também simboliza, hoje em dia, a abordagem do governo de nossa memória histórica.


A sala era escura, permitindo às vezes vislumbres dos rostos dos agentes da PIDE. O preso político Aurêlio Valente Langa estava nu – exposto a interrogatórios e torturas. Incorporado ao segundo ato do filme, “Memórias da violência”, Langa reencena e narra sua experiência na Vila Algarve. Na época, a polícia buscou suas respostas à força. O filme reverte essa dinâmica, deixando-o contar sua própria história livremente.


Isabel Langa, filha do ex-agente do PIDE moçambicano “Chico Feio”, viu seus vizinhos decapitarem e matarem seu pai em 1974, no período de transição após a FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique) ter vencido a guerra de libertação e antes de Moçambique obter a independência. Isabel tinha 13 anos. Ela e a mãe tiveram que fugir e se esconder para salvar as próprias vidas. Ainda hoje Isabel tem pesadelos. Chico Feio torturou numerosos presos políticos, alguns dos quais morreram em decorrência das torturas. De acordo com sua filha, que o conhecia como um pai carinhoso, a família não tinha conhecimento de seu papel como agente da PIDE. Decidi integrá-la, com suas emoções e seu trauma, na história do meu filme, porque ela representa a necessidade de uma reconciliação com a história colonial. Isabel também é vítima da violência colonial e ainda vive com sua memória desse passado.



segunda-feira, 21 de junho de 2021

O DR. EDUARDO CHIVAMBO MONDLANE, EM FOTOGRAFIAS

 


Há um certo hábito, que pessoalmente considero algo mórbido, de celebrar a vida das pessoas, assinalando não o dia em que nasceram, mas o dia em que morreram.

Em Portugal, já no século XX, em plena ditadura salazarista, e a partir dum mais ou menos obscuro feriado republicano celebrado em Lisboa após o derrube da monarquia, inventou-se um feriado nacional digamos que “isento de pecado” para o qual, provavelmente por uma questão de economia, se arrolaram mais temas, se achou dever passar a ser o “Dia de Portugal”.

Temática que, consoante de onde os ventos sopravam, e sendo sempre o Dia de Camões, era, por acrescento, o Dia da Raça, o Dia das Forças Armadas (durante a Guerra Colonial), e, mais recentemente, o Dia das Comunidades Portuguesas (aka os emigrantes).

Para que conste, o dia 10 de Junho do Ano de Deus de 1580, foi, segundo os registos, o dia, numa terça-feira, em que o poeta português do séc. XVI, Luis de Camões, que compôs, entre outros, a épica Os Lusíadas, em que hiperventila majestosamente em poema, os portugueses daquela altura, morreu na cidade de Lisboa. Tinha 56 anos de idade. Na realidade, não se sabe em que data ele nasceu.

Mas no caso de Moçambique, e do Dr. Eduardo Mondlane, sabe-se perfeitamente que ele nasceu na localidade de Manjacaze (Gaza) num domingo, dia 20 de Junho de 1920. Seria simpático, a meu ver, celebrar essa data, se se quiser celebrar a sua vida, e não o dia em que uma carta-bomba entregue não se sabe bem como e não se sabe bem por quem, em casa de Betty King na capital da Tanzania, Dar-es-Salaam, ceifou a vida do então Presidente da Frente de Libertação de Moçambique.

Como exemplo do que falo, temos o caso do Dr. Martin Luther King, Jr., americano, que faleceu (também assassinado) no dia 4 de Abril de 1968, mas cujo feriado nacional, improvavelmente instituído pela administração de Ronald Reagan nos anos 80 do Século XX, foi fixado para o dia em que ele nasceu – 15 de Janeiro (ele nasceu em 1929).

Mas quem sou eu para discutir feriados, aliás um tema muito na moda em Portugal estes dias, em que os hiperdinâmicos rapazes de Pedro Passos Coelho estão num verdadeiro frenesim para arranjar formas de extrair mais trabalho e impostos da populaça, incluindo -claro- a eliminação de nada menos que quatro feriados nacionais, pontes, férias e coisas afim.

Em Moçambique, o dia 3 de Fevereiro, que este ano decorreu ontem, é o Dia dos Heróis de Moçambique. O critério de base para se ser herói em Moçambique até esta data (e que ser feito por decreto governamental) tem necessariamente que incluir ter-se andado aos tiros na guerra pela Independência – excepto o caso do Sr. José Craveirinha, que usava a caneta.

Efeméride que, afinal, se calhar era mais adequadamente celebrada no dia 25 de Junho, a data em 1975 acordada (ver item 2 do Acordo) entre a Frelimo e os representantes do então governo provisório de Portugal em Lusaka (por proposta da Frente, claro) para a formalização da independência do então território português.

Ainda que, na realidade, e nos termos dos pontos 3 e 7 do mesmo Acordo, que foi anunciado na noite do dia 7 de Setembro de 1974, a Frelimo efectivamente passou a governar Moçambique no dia 21 de Setembro – apenas 14 dias após a assinatura do Acordo em Lusaka – com uma equipa cujo elenco incluia individualidades conhecidas como Armando Emílio Guebuza, o Dr. Mário Fernandes da Graça Machungo e Joaquim Chissano – o primeiro e o terceiro por inerência futuros “heróis”.

3 de Fevereiro é o dia em que o Dr. Eduardo Mondlane foi assassinado.

Mas aqui em baixo, assinalando a data, e questões “feriadais” aparte, venho recordar a vida de Eduardo Mondlane, com umas fotos que algo laboriosamente restaurei.

 Mondlane nos tempos de estudante no Oberlin College na Amérca


Foto tirada em Dar es Salaam, 1965. Da esquerda, o Dr. Pascoal Mocumbi, Dr. Mondlane, a Sra. Cora Wiess, uma legendária activista de esquerda norte-americana, e o não menos carismático Amílcar Cabral. 




A 14 de Fevereiro de 1965, o Dr. Mondlane recebe, na sede fa Frelimo em Dar-es-salaan, o conhecido líder cubano (bem, argentino) Ernesto Che Guevara. A coisa correu mal, eles não se deram bem e a visita de Guevara a África não deu em nada. Mondlane não era comunista nem anti-americano, nem era a Frelimo naquela altura. Mas ficou esta fotografia.



O Rev. Uria Simango, então creio que nº2 da Frelimo (e pai de David Simango, actual líder municipal da Beira) com o Dr. Mondlane.

Eduardo-Chivambo-Mondlane


O funeral do Dr. Mondlane em Dar, após o assassinato, Fevereiro de 1969. Na imagem podem-se ver Julius Nyerere, então líder da Tanzânia, creio que quem está a falar é o Rev. Uria Simango, ao fundo em primeiro plano a família Mondlane, as duas filhas, Janet e Eduardo Jr.

Já depois da reviravolta em que Uria Simango foi excluído e Samora Machel assumiu a liderança da Frente, uma visita à campa do Dr. Mondlane. Aqui, Rui Nogar coloca umas flores na campa, enquanto (da esquerda) Matias Mboa, Josefarte Machel, Jorge Rebelo e Samora observam. Após a Independência, os restos mortais do Dr. Mondlane foram trasladados para Maputo.


janet Mondlane, numa fotografia recente. Janet é oriunda dos Estados Unidos, onde conheceu e se casou com Eduardo Mondlane.


Eduardo Mondlane, Jr., o único filho do Dr. Mondlane, numa fotografia  recente.
Empresário, nunca se envolveu na política em Moçambique.





segunda-feira, 7 de junho de 2021

ENTREVISTA CONCEDIDA A UM JORNALISTA ESPANHOL PROVAVELMENTE EM JUNHO DE 1974 A MIGUEL MARRUPA E ÚRIA SIMANGO

 MIGUEL MARRUPA


P.-- Pode dar-me um breve resumo dos seus dados biográficos?                                                                        R.-- Chamo-me ARTUR MARRUPA, sou natural de PEBANE, Baixa Zambézia, exactamente nas margens da foz do rio Molócué, onde nasci a 8 de Janeiro de 1939.
Estudei no Seminário do ZOBUÉ, no Liceu PERO DE ANAIA, na BEIRA, tendo trabalhado no extinto DIÁRIO DE MOÇAMBIQUE, de 1959 a 1962.
Nesse ano fui para o o então TANGANICA e para o GANA, onde trabalhei como locutor do RÁDIO GANA, secção portuguesa durante cerca de 1 ano. Em 1963 fui para os ESTADOS UNIDOS  DA AMÉRICA como bolseiro do programa norte-americano, conhecido por S.A.S.P.E., e frequentei as universidade de LINCOLN e HARWARD, nesta última bacharelei-me em ECONOMIA E FINANÇAS e em SOCIALOGIA, nos ESTADOS UNIDOS.
Em 1968, por insistência de EDUARDO MONDLANE e de URIA SIMANGO, então respectivamente presidente e vice-presidente regressei à TANZÂNIA, com a promessa de ser professor do INSTITUTO MOÇAMBICANO, e a garantia de regressar aos ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA, para continuar os estudos, 1 ano mais tarde.
Uria Simango e Eduardo Mondlane em Dar-es-Salam em 1963

Chegado à TANZÂNIA fui enviado para o campo de treinos da guerrilhas em NASH, mas reconhecidas as minhas aptidões para missões diplomáticas, fui nomeado ADJUNTO DE DEPARTAMENTO DAS RELAÇÕES EXTERIORES DA FRELIMO, e passei a fazer parte da COMISSÃO CENTRAL e da COMISSÃO EXECUTIVA  daquela organização.
Nessas funções me desloquei a diversos países da EUROPA. E 2 de MAIO de 1970, fui preso a pedido da FRELIMO, pela polícia TANZANIAN, encerrado durante 1 semana na PRISÃO POLÍTICA  da TANZÂNIA e entregue depois como prisioneiro político africano à FRELIMO.
Acompanhado por uma escolta policial armada num avião militar, propositadamente fretado para esse efeito, fui enviado para o CAMPO DE NASH onde estive prisioneiro durante cerca de 1 mês .
Condenado a trabalhos forçados, tendo sido espoliado de todos os seus haveres. Dali tentei fugir para alcançar o KÉNIA, mas fui novamente capturado e enviado sob prisão para as florestas ao Norte de Moçambique, onde deveria ser abatido, após um julgamento sumários dos chamados TRIBUNAIS DO POVO, pelos guerrilheiros que operam no PLANALTO DOS MACONDES.
Aqui porém aproveitando-me da grande perturbação causada pela operação militar "NÓ GÓRDIO", e animado pelas mensagens comunicadas pelas TROPAS PORTUGUESAS às populações e aos guerrilheiros, apresentei-me a uma patrulha militar, no SAGAL, no PLANALTO DOS MACONDES, em 6 de Novembro de 1970.
MIGUEL MARRUPA é actualmente Subdirector do semanário VOZ AFRICANA.
R.--Quero dizer: pertenço a um MOVIMENTO que ainda está em preparação, que só mais tarde se pode anunciar ao público.
Este MOVIMENTO tem exactamente a finalidade de unir todos os outros MOVIMENTOS de Moçambique, para formar uma FRENTE INTERNA diferente da FRELIMO.
A FRELIMO tem a sua ideologia, que não é a nossa, com a qual nós não concordamos, e achamos que em os que fazer aqui outra FRENTE com outra ideologia. Isto quer dizer que diz respeito à FRELIMO  temos praticamente um objectivo comum, que é a independência. É o único objectivo que temos com a FRELIMO aqui: Queremos a independência mas no que respeita a ideologia, somos diferentes.
P.--Que ideologia é  a deste movimento, o qual será o seu nome, uma vez que se constitua?
R.-- Bom. Ainda não se sabe, porque os outros GRUPOS POLÍTICOS  é que poderão determinar qual será o seu nome. Nós o que queremos formar exactamente, é uma FRENTE.
Sobre ideologia, a FRENTE em si não tem senão aquela ideologia com que todos os outros vão concordar. Uma cois é certa,é que não é MARXISTA, e não será uma FRENTE comunista, embora com orientação social. Eu acho que a orientação que todos aceitam, é a SOCIAL DEMOCRATA
P.-- E diga-me, neste MOVIMENTO, integrar-se-ia CONVERGÊNCIA DEMOCRÁTIC? 
R.-- Sim,todas as outras, quer dizer, os movimentos brancos e negros que existem em Moçambique.
P.-- Quer então fazer-me um pouco da história destes grupos que há com maioria preta, branca, (oh, perdão), negra, anteriores, e que podem englobar-se aqui, como por exemplo : "O GRECOMO", "O GUMO". como foi tudo isso?
R.-- Bom. Nós ainda estamos a negociar com eles, sobre as formas da integração. É claro, é difícil falar da história porque neste momento só nos preocupa conversar com eles e ver quais são os pontos comuns que nó temos, a fim de fazer essa integração. O mais importante para nós,é que, achamos que um MOVIMENTO verdadeiramente moçambicano, tem que partir de Moçambique, e não partir daqueles grupos que nós conhecemos, que utilizam a violência.
Quer dizer: nós aceitamos a FRELIMO mas não como um MOVIMENTO VIOLENTO. então será bem vinda. Desde o momento em que a FRELIMO deixe de representar certos interesses que nós consideramos estrangeiros, como são os CHINESES e  os RUSSOS, que sustentam a FRELIMO então, serão bem vindos.
Como vê, historiando as coisa básicas desse GRUPO, é que não queremos utilizar a violência como meio de obter a independência. Também não queremos ser subjugados a interesses estrangeiros. E quando digo estrangeiros, não me rifiro só`aos CHINA e  à RUSSIA, refiro-me também a todos os outros países estrangeiros. Queremos portanto, construir  um MOVIMENTO interno, a depender dos seus próprios meios internos, e não externos.
Evidentemente que também nos interessa um movimento multirracial, temos de englobar todas as raças. E ainda ter em consideração as diferentes étnias, que existem em Moçambique.
P.-- Como, exactamente, tê-las em  consideração a cada uma delas?
R.-- Bom, há vária étnias, por exemplo: a étnia MACONDE, a MACUA, a RONCA, etc...
O SAMORA MACHEL é simplesmente um guerrilheiro ambicioso, mas sem capacidades governativas nenhumas. Portanto, é um homem que não nos interessa para governar Moçambique. Além disso, eu acho que ele está terrivelmente comprometido com os CHINESES.
P.-- E que opinião nos dá acerca de URIA SIMANGGO?
R.-- Como sabe ele é um homem muito importante aqui, e sabemos que elementos da FRELIMO e dos DEMOCRATAS DE MOÇAMBIQUE, têm feito todo o possível para o atacar pessoalmente, mas atacam por causa do medo, o medo que eles têm por o homem ser capaz de arrastar multidões a seu lado, e nesse caso tornar a vida da FRELIMO difícil, impossível.
Atacam-no, mas eu acho que é um político iminente. Até será bom falar com ele, pois será muitíssimo útil.
P.-- Como poderei falar com ele
R.-- Podia combinar uma hora para lhe falar, e eu contactava com ele, porque onde ele está, não quer que ninguém lá vá.
(Reporter)-- Interessa-me muitíssimo
(Entrevistado)-- Então eu proporciono-lhe uma oportunidade
P.-- Que opinião me dá acerca de JOANA SIMEÃO?
R.--Não sei. Ela é boa política mas é muito precipitada, não sabe fazeras coisas com medida.É muito precipitada, e por isso estraga todo o seu trabalho
JOANA SIMEÃO

P.-- E de JOÃO MARCO?
R-- Ah ! Esse, pode falar com ele, pois é um político muito bem sucedido, muito moderno, e sabe o  quue faz. É da CDM (Convergência Democrática Moçambicana)
P.-- E sobre JORGE JARDIM, que opinião me dá?
R.-- Eu acho que também é uma pessoa importante, muito político, embora nesta os DEMOCRATAS tenham feito o possível para o pôr de lado. Mas eu acho que a importância de JORGE JARDIM, virá depois, não nesta altura.
Depois há-de vingar a sua importância. Mas talvez não vingue agora porque os DEMOCRATAS procurarão fazer tudo, para o caluniar e difamar etc..., nos jornais, pois é um orgão em que o povo acredita. É uma maneira de destruir um político, embora não seja uma maneira honesta.
No entanto acho que num futuro, a sua presença política em Moçambique, há-de vingar.
P.--Porquê este ódio contra o JARDIM, por parte dos DEMOCRATAS de Moçambique? e da FRELIMO? Porque é que, por exemplo, agora não pode entrar em Moçambique?
R.-- Eu não entendo. Eles é que se podem explicar, porque andam a atribuir-lhe coisa que não fez-
Acho que há duas coisas de que têm medo. A possibilidade que ele tem de criar uma força de brancos e pretos, e pode obstar à presença da FRELIMO . A presença, não, mas pelo menos a força da FRELIMO. Esta é a principal razão que eu vejo.
Ele como não é racista, tem possibilidade  de unir brancos e pretos, para um determinado futuro. Ao passo que os se intitulam DEMOCRATAS, não fizeram nada em ÁFRICA, não fizeram nada em Moçambique, pelo africano. Só agora é que saltaram de uma vez para dizerem que estão ao lado do africano.
O Engº JORGE JARDIM pode mostrar obras reais que ele fz 
P.--Por exemplo?
R.-- O facto e nas empresas dele, haver pretos em altas posições. Nenhumaempresa dos DDEMOCRATAS tem isso.
Nas empresas onde o  foi chefe o ENGº JARDIM foi chefe, há sempre possibilidade de haver pretos em altas posições, a ganhar da mesma maneira que o branco ganha, quuando ocupa a mesma posição.
P.--Que empresas são essas, por exemplo?
R.-- Aqui no NOTÍCIAS DA BEIRA, como vê eu estou cá, e ganho como qualquer outro.
Uma das calúnias contra o ENGº JORGE JARDIM, é que tem um grupo que deita bombas.
Pois é ! Dizem uma estúpida mentira. A própria polícia não pode provar isso.
P.--Então porque é que não o deixam entrar aqui?
R.-- Não o deixam entrar, porque o GOVERNO que está hoje em Moçambique é o GOVERNO DOS DEMOCRATAS. Portanto é um impedimento para ele?
O ministro interterritorial, ALMEIDA SANTOS é um democrático. Quando veio a Moçambique veio só escolher amigos dele para formar GOVERNO.
É um GOVERNO que não representa as opiniões de Moçambique, não representa as raças de Moçambique. Representa um grupo político, mais nada, que se chama DEMOCRATAS DE MOÇAMBIQUE.
P.-- ...?...
R.-- Mas como? Eu estava na prisão da FRELIM. Está a perceber? Como prisioneiro numa altura em que os militares chegaram no mato para atacarem, eu fugi.
Portanto é estúpido! o ENGº JARDIM estava na FRELIMO? 
Se eles disseremque o ENGº JARDIM estava na FRELIMO que o provem. Eu fugi da FRELIMO para aqui.
O que lhe digo. é que mais tarde eles de provar todas estas acusações, prerante um TRIBUNAL imparcial.
P.-- Como é que você explica os acontecimentos aqui na BEIRA, desde o passado 25 de ABRIL? Essas manifestações que houve. Esse pedido de armas, pela parte dos sectores brancos, e tudo isso, O que é que se passou?
R.-- O que se passou é o seguinte:
É que nós, depois do 25 de ABRIL, deu-se a entender que o GOVERNO PORTUGUÊS ia entregar isto à FRELIMO. O que muita gente não pode aceitar.
Por isso querem formar organizações, ou armarem-se, porque não querem a FRELIMO aqui. Isso é o motivo mais importante!
Outros como os DEMOCRATAS, correram logo a DAR-ES-SALAM, para verem se arranjavam uma amizade com a FRELIMO, para o caso da FRELIMO os olhar como amigos.
Engº JORGE JARDIM
P-- Quando tiveram lugar aquelas manifestações, e como foram?
R.-- As manifestações ocorreram em diversos casos. Para uns, a malta pequenina, pensam que quando vier a FRELIMO hão-de ter carro, hão-de ter prédio grande, dinheiro no Banco, e por isso viram para a FRELIMO. Há desses!
Outros são  aqueles que, sobretudo por parte dos DEMOCRATAS que têm medo que a FRELIMO tome conta disto e depois os expulse ou vai acusá-los, ou lhe vai cortar a cabeça, e portanto viram-se a favor da FRELIMO com medo, disfarçados, porque ainda há pouco tempo, antes do 25  de ABRIL,todos falavam mal contra a FRELIMO. Agora estão todos a favor, porque lhe têm medo..
Há outros que não querem a presença da FRELIMO aqui. Quer dizer a FRELIMO pode estar, desde que não esteja armada. E essaé a opinião dos grupos que dizem que a FRELIMO só é bem-vinda, quando não tiver armas. S eles estiverem armados, nós também temos de ter armas, senão, será um partido armado.

URIA SIMANGO

URIA SIMANGO

Eu nasci aqui na BEIRA. Estudei aqui. Formei-me como PASTOR EVANGÉLICO, tive uma missão como MISSIONÁRIO na Rodésia, e em 1958, começámos actividades políticas, dentro de Moçambique clandestinamente, enquanto na Rodésia formámos uma organização, que tendia a organizar as populações de Moçambique.
Muitos foram membros activos dessa organização que incluía, por exemplo, alguns elementos importantes da Revolução Moçambicana, como FILIPE MAGAIA, que foi assassinado, MIGUEL MARRUPA, que ainda existe, na Beira e Silvério Mungo também assassinado, e muitos outros.
Mais tarde esses núcleos que formámos, foram a base fundamental de organizações verdadeiramente políticas, como a ADEMANO, MAMO  e  outras, que mais tarde ao fundiram em 1962 em DAE-ES-SALAM para a FRELIMO.
FILIPE MAGAIA

Começámos a trabalhar, organizámo-nos dentro de Moçambique, formámos EXÉRCITO e em 1964 declarámos o começo da LUTA ARMADA.
Nessa altura o DRº EDUARDO MONDLANE era PRESIDENTE DA FRELIMO, eu continuei vice-presidente e muitos camaradas que presentemente se encontram connosco, participaram desde o início.
P-- Qual a sua ideologia?
R.-- A minha concepção da política, é esta: Que existem fases. Há uma fase da luta, que é a libertação. Que em princípio não é baseada numa orientação ideológica, seja CAPITALISTA, seja SOCIALISTA ou COMUNISTA.para sua vitória, que engloba todas as organizações da MASSA com ou sem ideologia.
Esta é a 1ª fase.
Uma vez atingido o objectivo, que é a libertação, aí começa a 2ª fase de orientação das estruturas, por exemplo, a estrutura económica, estrutura social cultural, educacional, etc...etc....
Já necessita, portanto, uma nova orientação, já baseada numa situação concreta, atingida depois da vitória.
Eu penso então que, para um desenvolvimento rápido económico, em Moçambique, não se baseia na ideia, que alguns dos amigos, que se encontram nas outras zonas, por exemplo MARCELINO DOS SANTOS, que pensa que é preciso unicamente,, estabelecer um sistema rígido comunista como base de recepção.
Marcelino dos Santos, Samora Machel, no julgamento de Uria Simango

Eu penso que para isso então, o que que dizer isso? Significa uma imposição duma ideologia que não respeita, que não toma em conta a realidade interna de Moçambique.
Então são essas variedades de situação que eu penso que é preciso que haja um sistema misto, em que o GOVERNO faça parte e COMPANHIAS privadas joguem também um papel importante.
Isto quer dizer, portanto, que continuaremos a aceitar investimentos de fora enquanto o GOVERNO por sua parte, vai continuar a jogar o seu papel para completar a situação  social, económica e cultural do País.
Isso tomada dessa maneira, existe uma forma de pragmatismo na solução dos problmas. Quer dizer: Cada problema , deve ser olhado concretamente e uma solução encontrada, na base de uma orientação e atingir um certo objectivo, um certo  fim.
P--Depois desta ruptura com a FRELIMO que fez o senhor?
R.-- Fui obrigado a deixar a FRELIMO porque conclui que estavamos a seguir, nos fazia afastar do povo.
A FRELIMO nas zonas onde lutou, não teve sempre as simpatias da população. Teve as simpatias das cidades onde não  actuou, porque aí não conhecem a FRELIMO.
Estive contra essa situação, que na população onde actuamos não tinhamos a simpatia nem o apoio do povo, porque a nossa política não vai em conformidade com os interesses, com a ajuda da população, que nós queremos libertar.
Ora isso significa, portanto,  que nós seríamos derrotados. E então depois disso, ao estar fora da FRELIMO, continuei a trabalhar, no sentido de encontrar uma melhor forma de resolver o problema da independência de Moçambique.
Então o que eu fiz? Estive no CAIRO, contactei com os estudantes que estavam fora e contactei com outras organizações políticas COREMO, GUMO, MOUMO, MANO, com interesses de unificação de forças, e que nasça uma organização  mais aceite, pela população e capazes de defender o interesse do povo.
E finalmente encontro-me  agora em Moçambique e tenho o mesmo fim, que  as organizações estejam unidas, e se processe o processo da independência o mais rapidamente possível.
Eduardo Mondlane e Uria Simango
P--
Quem assassinou Mondlane?
R.-- É difícil determinar o responsável pela morte dele, porque apareceu pelo correio o livro que continha a bomba, mas é muito difícil saber quem mandou o livro, embora se saiba o País de onde veio o livro.
P--Qual organização, a COREMO?
R.-- A COREMO
P--Quem mandou o dinheiro?
P--Não é preciso dizer?
...Existe, embora tivesse dificuldades recentes, porque o Governo da Zambia atacou as bases da COREMO, capturou os seus soldados, e fechou os escritórios da COREMO em LUSAKA.
Esses militantes da COREMO, ainda não estão livres, encontram-se sob control nas prisões da ZAMBIA.
P--Em que ano foram presos?
R.-- Há dois meses. Por altura das negociações do Sr. SOARES com a FRELIMO
P---Que pensa da FIRECOMO? QUE, AGORA, O IMPORT
R.-- FIRECOMO foi formada pelas organizações O CONGRESSO AFRICANO, pelo GUMO, da camarada JOANA. E o importante é tentar unificar todos. Todos deveriam estar unidos
P--Poderiam unificar-se mesmo como CONVERGÊNCIA DEMOCRÁTICA?
R.-- É muito difícil dizer isso presentemente, mas nós não estamos contra a ideia de ter uma cooperação larga com outras organizações, sejam elas políticas, sociais ou de qualquer outro ggénero, uma vez que apoiam a nossa causa que é a independência totale imediata de Moçambique.
P--Pensa que a FRELIMO é anti-branco?
R--
Só a  FRELIMO pode dar a resposta correcta. No entanto, a minha opinião é de que a FRELIMO está interessada em estabelecer um regime COMUNISTA. Nós podemos deduzir isso, se quer estabelecer se quer estabelecer um sistema comunista...
Qual é a filosofia de um sistema COMUNISTA? Sabendo que é em relação às RAÇAS...
P--Eu não conheço. Qual é?
R.-- Eu penso que o sistema que o sistema comunista aceita todos e marca um poder na classe operário, que quer dizer: nacionalização de tudo, eliminar COMPANHIAS com sistema de economia privado, as quais serão imediatamente nacionalidades se a FRELIMO tomar conta. Automaticamente todo o branco terá que sair, porque, em vez de expulsar fisicamente, toma conta de tudo, os brancos ficam sem nada e saiem.





























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