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Livros da guerra colonial

Miandica terra do outro mundo


segunda-feira, 24 de setembro de 2018

MAJOR COSTA MATOS E DANIEL ROXO

TEXTO RETIRADO DO JORNAL "AEROGRAMA", EDITADO POR: ACUP DE CASTELO DE PAIVA
ESCRITO POR:
ANTÓNIO AUGUSTO

Major Costa Matos e Daniel Roxo

Visão e Eficácia
Francisco Daniel Roxo e Major Costa Matos e 1963
Decorria o ano de 1962 quando o então Major Costa Matos, foi nomeado governador da Província do Niassa. Nessa altura já Daniel Roxo percorria aquele território em actividades cinegéticas, acompanhado de um pequeno grupo de autóctones que o ajudavam nas suas sortidas pelas matas do noroeste moçambicano.
Natural de Lourenço Marques, o Major Costa Matos revelou-se o governador provincial que melhor entendeu o problema que o país então atravessava, percebendo que o conflito latente nas Províncias Ultramarinas, só se resolveria se fosse possível organizar as populações de forma a retirar à Frelimo o controle psicológico das mesmas. Isto equivale a dizer que o governador foi talvez dos primeiros a perceber que ganhava a guerra quem ganhasse a realidade local, ou seja, as populações. Costa Matos havia feito parte de um conjunto restrito de oficiais que observaram na Argélia, as técnicas de contraguerrilha. Associou a esse facto o seu enorme conhecimento de África e uma capacidade invulgar de decisão assertiva.
Costa Matos travou uma luta que foi antes de mais nada, contra o tempo. O conflito que decorria em Angola há mais de um ano era um mau presságio, e o governador sabia que se urdia em Dar-es-Salam, uma teia de conspiração para tornar possível uma guerrilha no interior de Moçambique. A fronteira norte era a mais vulnerável. O Niassa, de muito baixa densidade populacional, oferecia zonas onde os guerrilheiros facilmente poderiam construir os seus santuários, tão ao jeito dos ensinamentos das academias chinesas e soviéticas. A única forma de o impedir seria apostar na antecipação à acção psicológica-política da Frelimo.
O Crách do Grupo de Francisco Daniel Roxo

A primeira preocupação do novo governador é criar um sistema de informações local. Conta para isso com o apoio da 2ª Secção do Quartel General em Lourenço Marques, por onde terá de resto passado antes de ser nomeado. São enviados para o Niassa três homens, destinados a comandar pequenos grupos de sipaios. Estes militares deviam fazer-se passar por caçadores profissionais, financiar as suas actividades com os rendimentos gerados pela venda do produto das caçadas, enquanto recolhiam informações ulteriormente trabalhadas no governo provincial em Vila Cabral. Os tenentes Orlando Cristina e Gomes dos Santos, e o alferes Pestaquinni, deviam trajar à civil, jamais identificar-se como militares, para que a sua missão fosse bem-sucedida.
Francisco Daniel Roxo não fez parte destes grupos iniciais. Chegado a Moçambique há mais de uma década, ele continuava a percorrer a mata, caçando ao abrigo de uma licença outorgada pela Direção dos Serviços de Veterinária do Niassa. Não é claro o momento exacto em que os dois homens se conhecem, mas num meio tão pequeno tudo se acaba por saber, mormente se o governador busca incansavelmente, homens que estejam dispostos a ajudá-lo na missão de travar a influência do IN no espaço da sua jurisdição.
Orlando Cristina com Jorge Jardim à sua esquerda
Sabemos no entanto, que em 1963 o Major Costa Matos convenceu Daniel Roxo a aceitar um emprego como assistente no Censo da População da Província. Aproveitando o conhecimento profundo deste não só do terreno, mas também dos dialetos locais, o governador matou assim vários coelhos de uma só cajadada.
Em primeiro lugar experimentava as intenções de Daniel Roxo, que conheceria ainda mal, pese embora as boas indicações certamente recolhidas. Em segundo lugar ficava com dados objectivos de quem habitava o Niassa, e que movimentos de populações existiam através da fronteira norte, e se possível quem os fazia com alguma regularidade. Em terceiro lugar, percorrendo as aldeias do Niassa, o grupo do Daniel Roxo, ia recolhendo informações de todo o género, que compiladas e tratadas se revelariam fundamentais.
No final desse ano, o governador ordena ao Roxo que intensifique a recolha de dados nas aldeias no norte da província, junto ao Rovuma. Foi através deste trabalho que foi possível detectar movimentos de população em direcção à ilha de Likoma, no Lago, já em território do Malawi. Foi exactamente a partir de uma base nessa ilha que foi levado a cabo o ataque ao Cobué, que marca o início da luta armada naquela província
No primeiro trimestre de 1964 o Major sente o nível de ameaça subir. Demonstrando mais uma vez a sua capacidade de acção e decisão, e confiante já nas capacidades de Daniel Roxo, atribui-lhe outra missão. Teria agora de utilizar as suas deambulações para fazer contrainformação. Esta deveria visar o desmantelamento da propaganda dos Comissários Políticos da Frelimo junto das populações, e quando esta fosse detectada, conseguir discernir as linhas de penetração e bases de apoio dos mesmos.
Tudo isto é a demonstração cabal de que as informações chegavam em qualidade e quantidade ao palácio do governador, como talvez nunca tivessem chegado a nenhum outro congénere do antigo Império Português. O plano montado numa altura em que a organização da Frelimo se encontrava em movimento, resultou em pleno só não terá chegado foi a tempo de impedir a luta.
Roxo e o seu Grupo de Cipaios para mais uma missão
 O somatório da capacidade de decisão e visão do governador, e a eficácia do comandante de Milícias, profundo conhecedor das gentes e do terreno, dotado de uma coragem fora do comum, resultou na evidente contenção da Frelimo no distrito. Confrontada com um sistema organizado, o movimento independentista foi obrigado a enveredar quase exclusivamente por uma estratégia de dificultação da circulação dos meios militares portugueses, evitando no máximo possível o contacto directo. Nunca existiu real perigo a sul da linha Nova Coimbra –Metangula. Acresce que o Niassa foi a província moçambicana com menos actividade de forças especiais, (paraquedistas, comandos, GE’s e GEP’s), quando comparada com Cabo Delgado ou Tete, com a excepção da presença de fuzileiros no Lago que se revelou heróica.
Nada disto retira o brilho a quem ali serviu, e em zonas muitas vezes de pesadíssimo isolamento, cumprindo o seu dever e portanto tornando-se parte deste sucesso.
Nos meses imediatamente anteriores ao deflagrar do conflito, Daniel Roxo cria uma rede de informação nas aldeias do Niassa, que será sem dúvida a base do seu sucesso nos anos subsequentes, sobretudo nas diferentes operações militares que cumpriu. Muitos dos que serviram na província nos anos sessenta e setenta, foram testemunhos da fantástica capacidade operativa dos homens do Daniel Roxo -Milícias do Niassa. Para além dos atributos em campanha, os sucessos ficaram a dever-se a este trabalho preparatório, que permitiu a contra infiltração no IN.


PREPARAÇÃO PARA A OPERAÇÃO "MARTE"
A mais conhecida missão em que o grupo do Roxo participou, e que foi realizada sobretudo com as informações por eles recolhidas, foi a Operação Marte, no início de Agosto de 1968. Foi levada a efeito pelos homens da 4ª companhia de comandos de CIOE de Lamego, apoiados por alguns homens do grupo do Roxo. As informações foram tão boas, que foi possível ultrapassar a vigilância da base provincial no Niassa, (na zona a norte de Miandica), e atacá-la com surpresa e êxito total, destruindo material de guerra, capturando informações e militares, e recuperando populações que para ali tinham sido enviadas.
A vida destes homens ligou-se numa época particularmente difícil para Moçambique. Tinham com os meios de que dispunham, contornar um problema que já existia, e que apanhou a administração portuguesa a dormir a sono solto, na esmagadora maioria dos casos. Eles foram talvez a dupla mais bem-sucedida na organização de uma das mais remotas regiões que alguma vez formou o território nacional.

segunda-feira, 17 de setembro de 2018

HISTÓRIA DO DISTRITO DO NIASSA

          TEXTO RETIRADO DO LIVRO:
LIVRO DE OURO DO MUNDO PORTUGUÊS - Moçambique  
VILA CABRAL, NOS ANOS DE 60 DO SÉCULO XX
Os território do Niassa que estavam sob a administração da Companhia do Niassa, foram reintegrados na administração directa do Estado, e separados em dois distritos, em Setembro de 1929. Assim ficaram constituídos os Distritos de Cabo Delgado e do Niassa.
VILA CABRAL, capital do Distrito do Niassa, está situada a cerca de 1300 metros de altitude e a meia centena de kilómetros do Lago Niassa. O atraente e progressivo centro dos nossos dias teve a sua origem na antiga povoação de Lichinga, pertencente à Circunscrição de METONIA . Em 17 de Novembro de 1945, recebeu oficialmente a designação de Vila Cabral, numa homenagem ao antigo Governador-Geral José Ricardo  Pereira Cabral. Por Portaria de 23 de Setembro de 1962 foi elevada à categoria de cidade, em reconhecimento do progresso verificado e da tenacidade de todos os que com a sua presença e trabalho preserverante, contribuíram para o desenvolvimento da capital  do Distrito.
Hospital de Vila Cabral
Vila Cabral, pelo clima ameno e pela sua situação geográfica, mereceu a distinção que lhe foi conferida. O arranque  de desenvolvimento posto em execução pelo Governo tem justificado as esperanças postas nestes distritos , geográfica e economicamente importante. O Estado tem ali erguido várias construções, sendo de destacar o Palácio das Repartições, a Escola técnica e a Aerogare; por sua vez, a iniciativa particular tem colaborado com entusiasmo.
Com a extensão do caminho de ferro do Catur até à capital do distrito, mais um passo decisivo foi dado para a valorização da jovem cidade e do Concelho, cuja população era, pelo censo oficial de 1962 de 81.763 indivíduos.
De Vila Cabral irradiam as estradas que a ligam com Metangula e Maniamba e que entroncam na estrada que segue para Port Johnson, no Malawi. De Vila Cabral, as estradas estabeleceram também ligação para Nova Freixo, Nampula e litoral, que fica a cerca de 800 Kms de distância.
Pode dizer-se, do Distrito do Niassa, que é << uma terra nova que se encontra na fase de arranque para o progresso>> . O Distrito é receptivo às mais variadas actividades agrícolas: do algodão, em Omaramba e Marrupa, ao trigo nos planaltos, ao café, tabaco, leguminosas  e fruteiras, estando a ser efectuados ensaios com soja, trigos e milhos.
PORTO ARROIO (Meponda em 1964
Dentro deste plano de arranque, foram já projectados os seguintes trabalhos: estudo do reajustamento administrativo do distrito: estudo e ampliação da  rede de Radiocomunicações; electrificação dos Postos Administrativos: compra de tractores e alfaias para auxílio da assistência técnica ao agricultor.
Está a ser encorajada, dada as condições favoráveis de que se reveste, a instalação de pequenas industrias: enlatados de frutas, salsicharia e lacticínios. Neste campo, prevê-se o aproveitamento industrial do Lago Niassa, em especial com a criação duma industria de pesca que terá os seus pontos de apoio em Metangula e Porto Arroio (Meponda) respectivamente a 120 e 60 Kms de Vila Cabral.
Está a ser incentivada em grande escala a construção de escolas e postos sanitários em vários pontos de distrito e foram instalados na sede delegações doInstituto dos Cereais, da Junta do Comércio Externo e dos Serviços de Agricultura.


BASE NAVAL DE METANGULA NOS ANOS 60 DO SÉCULO XX
Metangula, no Lago Niassa, possui hoje uma capitania de Portos com boas instalações , oficinas, plano inclinado, etc... Entretanto procura-se desenvolver Porto arroio (Meponda) igualmente nas margens do Lago, principalmente sob o ponto de vista turístico.
AO CENTO O GOVERNADOR GERAL SARMENTO RODRIGUES.
LADEADO PELO MAJOR COSTA MATOS E POR UM GRUPO DE
COLONOS DE NOVA MADEIRA.
Desenvolve-se na região conhecida por Nova Madeira um colonato formado por famílias madeirenses. Cada agricultor tem a sua casa sendo tecnicamente auxiliado pelos organismos do Estado.

ABÍLIO DE SOUSA CRISTINA

ABÍLIO DE SOUSA CRISTINA
ABÍLIO DE SOUSA CRISTINA, é natural de Loulé, província do Algarve.Iniciou a sua vida no Ultramar, em Comissão de serviço, como militar, em Macau, com a patente de 1º Sargento, onde se manteve durante seis anos, após o que voltou à Metrópole.
Em nova comissão de Serviço, veio para Moçambique, onde esteve durante seis anos, reformando-se nessa altura em 1946.
ABÍLIO DE SOUSA CRISTINA, conhecedor do Niassa, vendo que havia grandes possibilidades de fixação, resolveu fixar-se em Vila Cabral, dedicando-se à profissão de caçador. Mais tarde, em virtude da região ser fecunda em caça, vieram muitos outros caçadores. SOUSA CRISTINA deu por finda a sua vida de caçador.
ESTABELECIMENTO DE SOUSA CRISTINA
Como nessa época não existiam lojas no mato, a não ser nas povoações grandes, e como espírito de iniciativa não lhe faltava, resolveu montar, com o que dispunha, construindo casas de construção primitiva - montando, assim, quatro lojas em diversos pontos  da região do Alto Niassa, em pleno mato.
Anos antes de ABÍLIO DE SOUSA CRISTINA, ter tomado esta iniciativa, havia saído uma lei que favorecia a abertura dessas lojas, lei com o que o Estado procurava ajudar a fixação dos colonos.
Iniciou a sua actividade comercial em 1947, adquirindo, para poder vigiar o seu negócio, um automóvel usado, marca <>, que nessa época lhe custou sete mil e quinhentos escudos, e com ele percorria através de picadas, as distâncias que mediavam entre as suas várias lojas. Sempre prosperando, acabou acabou por possuir doze lojas, todas dispersas pelo mato.
ABÍLIO DE SOUSA CRISTINA, possui, actualmente, sete lojas no mato e duas em Vila Cabral, sendo a maior a sede do seu comércio.
Votou,se de alma e coração à terra virgem mas fecunda desta bela região do Alto Niassa, que ama mais que a sua província natal o Algarve.
SOUSA CRISTINA, é um pioneiro convicto e feliz. Nada mais desejando do que continuar a sua vida de comerciante, e de verificar com os seus próprios olhos, numa romagem de saudade, o progresso do Algarve, e regressar, depois, às terras do Niassa, que passaram a ser parte integrante dele próprio, que ama, e ajudou com o seu esforço, a civilizar e a progredir.


VALIMAMADE JAMAL
VALIMAMADE JAMAL
VALIMAMADE JAMAL é filho de pais paquistaneses que se fixaram  próximo da Ilha de Moçambique, numa área próximo do Mossuril, chamada Motomonho, tendo sido dada por seus pais a nacionalidade portuguesa. Nasceu a 15 de Agosto de 2027. Seus pais são comerciantes.
VALIMAMADE JAMAL quis seguir a vida de comerciante, estabelecendo-se em Vila Cabral, no ano de 1953, no comércio geral e a retalho.
Iniciou a sua vida de comerciante com um estabelecimento. Presentemente possui três. Um é dedicado ao comércio para indígenas ; outro a artigos orientais e para indígenas; e o terceiro para armazém de atacado.
CASA JAMAL
Em 1953 casou com uma portuguesa da região de Iapala, no Distrito de Moçambique.
Tem actualmente três filhos.
VALIMAMADE JAMAL é um espírito progressivo, homem trabalhador, que pretende continuar a aumentar a sua vida comercial, sentindo-se satisfeito por se ter fixado nesta região do Alto Niassa., que atravessa um período de grande desenvolvimento.
A esposa de VALIMAMADE JAMAL colabora  com o seu marido, encontrando-se à frente de um dos seus estabelecimentos, a atender a clientela.
O prédio onde se encontram os armazéns por atacado é sua propriedade, e foi concluído em Janeiro de 1964, contribuindo com o seu esforço e perseverança para o progresso da cidade de Vila Cabral.
   JOSÉ ALVES COTRM DA SILVA GARCEZ

JOSÉ ALVES COTRM DA SILVA GARCEZ
JOSÉ ALVES COTRIM DA SILVA GARCEZ, nasceu na Metrópole, na freguesia de Rio Cimeiro, concelho de Ferreira do Zêzere.
Veio para Moçambique com 25 anos de idade, empregando-se nas Obras Públicas, como assalariado, em Namapa, distrito de Moçambique.
Após um ano de trabalho nas Obras Públicas, colocou-se numa firma comercial, em Malema, onde se manteve durante nove anos. De Malema veio para Vila Cabral, onde comprou uma quota numa firma existente, tornando-se por esta forma sócio dessa firma.
Sete anos volvidos, JOSÉ GARCEZ, comprava as restantes quotas, ficando-lhe a pertencer a firma.
CASA COMERCIAL de JOSÉ GARCEZ
As suas actividades comerciais não ficaram por aí, dividindo-se por vários sectores, dedicando-se ao comercio geral, vendas a retalho para europeus e indígenas. Possui também um talho e uma padaria.
Igualmente se dedica à pecuária, possuindo mais de quatrocentas cabeças.
JOSÉ GARCEZ é casado com uma metropolitana, nascida na mesma freguesia de Rio Cimeiro, tendo cinco filhos.
Para este pioneiro das terras do Niassa, Moçambique é a sua terra, a quem vota um amor de filho, que tudo tem feito para o seu progresso e desenvolvimento, sonhando sempre em vê-la cada vez mais engrandecida.
É um homem que tem dado tudo por tudo, e revela, constantemente, esse amor à terra moçambicana, que ele adoptou como sua, dela falando com entusiasmo e carinho
Não é homem de letras, mas exprime nas suas palavras simples e claras, que sabe dizer o que sente e o que quer. É um homem rude mas de alma sensível, manifestando de forma inequívoca o seu portuguesismo.
PRÉDIO GARCEZ
Tem sido com homens da têmpora de JOSÉ GARCEZ, de espírito empreendedor, de sacrifício e amor pátrio, de autênticos pioneiros, que as nossas Províncias Ultramarinas se construíram e ergueram e serão pelos tempos fora um padrão imortal de gente lusa.
José Garcez construiu um prédio para habitação, comercio e industria, empreendimento com o qual muito valorizou a cidade de Vila Cabral.

MANUEL BRAZ DA COSTA

PROPRIEDADE AGRÍCOLA BRAZ DA COSTA
MANUEL BRAZ DA  COSTA nasceu na província do Alentejo, em Santo António das Areias no concelho de Marvão.
Veio de Lisboa para Moçambique. Estivera empregado na capital e tinha então 23 anos.
Fixou-se na cidade da Beira, colocando-se na serração de um tio. Volvidos seis meses BRAZ DA COSTA estabeleceu-se, passando a trabalhar por sua conta, comerciando em madeiras que eram vendidas para a Rodésia.
Nove anos depois, veio fixar-se no Niassa, na intenção de continuar o comércio de madeiras, mas em virtude das dificuldades que então existiam, sobretudo nas comunicações e também as grandes distâncias existentes, passou a dedicar-se à caça. Assim, foi caçador profissional durante nove anos
1963 - 1ª EXPOSIÇÃO-FEIRA de VILA CABRAL

Foi em Dezembro de 1958 que obteve uma concessão de trezentos hectares para fomento agrícola. MANUEL BRAZ DA COSTA cultiva: milho, feijão e trigo.
Igualmente se dedica à pecuária possuindo cento e trinta cabeças de gado, bem como langero, com sessenta cabeças.
BRAZ DA COSTA tem sido um verdadeiro pioneiro do Niassa, muito contribuindo com a sua actividade para o desenvolvimento agrícola e económico deste distrito

ÁLVARO PASSOS PORTUGAL
O pioneiro ÁLVARO PASSOS PORTUGAL nasceu na freguesia de Avelar, Distrito de Leiria. Em Maio de 1931 foi em comissão militar para a Ilhsa de Fernando Pó, onde se manteve até regressar à Metrópole em 1936.
Foi em maio desse ano que se veio fixar na província de Moçambique, empregando-se na Companhia dos Algodões, que nesse tempo era uma empresa luso-luxemburguesa, onde trabalhou durante quatro anos.
Depois colocou-se noutra firma, como gerente que se dedicava à serração de madeiras, aí se mantendo durante cinco anos.

ESTAÇÃO DE SERVIÇO DE PASSOS PORTUGAL
Foi no ano de 1945 que veio para o Niassa, Vila Cabral, onde se estabeleceu com comércio geral e uma plantação de tabaco, em regime de sociedade.
ÁLVARO PASSOS PORTUGAL, actualmente possui duas lojas de comércio geral e uma garagem com estação de serviços e oficinas.
Durante estes anos que tem permanecido em Moçambique, apenas foi uma vez à Metrópole no ano de 1959. Casou em 1940, tendo duas filhas: a mais velha já casada, fixou-se em Moçambique e a mais nova é estudante.
A firma de ÁLVARO PASSOS PORTUGAL tem a designação de QUEIROZ&PORTUGAL Ldª
Este é um dos homens que igualmente tem contribuído com o seu esforço para o progresso da Província, e nomeadamente, no Distrito do Niassa, na cidade de Vila Cabral, onde se fizou há mais de duas dezenas de anos.

JOAQUIM ROBALO SALVADO

JOAQUIM ROBALO SALVADO
JOAQUIM ROBALO SALVADO é natural da freguesia de Medelim, concelho de Idanha-a-Nova. Veio para Vila Cabral em Março de 1953 com 24 anos.
A sua primeira colocação  foi como empregado comercial na firma de Álvaro Cruxinho, em Vila Cabral, onde se manteve durante seis anos, ao fim dos quais se estabeleceu sozinho, no comércio geral.
Faz parte do seu comércio, uma casa de modas, uma mercearia e papelaria,uma de ferragens e materiais de construção.

ESTABELECIMENTO DE ROBALO SALVADO
É agente da Sonap de Moçambique, Companhia de seguros "A Mundial"; máquinas de costura Singer; pneus Mabor; e relógios Ómega e Tissot. é distribuidor de rádios Philips e frigoríficos Electrolux.
Tem a trabalhar como seu colaborador,um irmão, além de sete empregados europeus JOAQUIM ROBALO SALVADO é casado, tem dois filhos. Igualmente pertence ao Conselho Legislativo de Vila Cabral,

MANUEL FRANÇA DE LIMA
MANUEL FRANÇA DE LIMA
MANUEL FRANÇA DE LIMA, nasceu na Ilha da Madeira, em 1922. Veio para Moçambique em 1950. É casado, tendo quatro filhos nascidos na província. O primeiro lugar que teve quando chegou a Moçambique, foi como feitor agrícola, durante dois anos no Distrito de Lourenço Marques. O seu sonho no  entanto, era tornar-se agricultor por conta própria.
Procurando melhor oportunidade, partiu para a Zambézia,onde trabalhou durante cinco anos,procurando economizar durante esse tempo o necessário para poder realizar os seus sonhos.
Em 1957, ouvindo falar nas possibilidades do planalto de Vila Cabral, deixou a Zambézia com destino ao Niassa, onde se fixou na propriedade da firma Socigel, passando, alguns meses depois, para uma concessão que pedira, e assim se estabeleceu como agricultor, seu desejo de sempre.

PROPRIEDADE AGRÍCOLA DE FRANÇA DE LIMA
Os três primeiros anos foram muito duros, de grandes lutas. Após seis meses de iniciados os trabalhos agrícolas, já FRANÇA DE LIMA tinha esgotado as suas economias, que eram de quarenta e seis contos. Esta quantia tinha sido gasta só nos trabalhos de derruba e capinagem dos terrenos.
Devido à sua enorme persistência e grande força de vontade, auxiliado por uns e encorajado por outros, conseguiu vencer todas as grandes dificuldades que se lhe depararam,passando, após anos negros de lutas, que a muitos quebraria o ânimo o desejo de prosseguir, a tirar, finalmente,os frutos da sua propriedade e do seu labor,

EXPOSIÇÃO FEIRA DE VILA CABRAL EM 1963
A princípio trabalhou a terra à enxada, depois, a lavrá-la com uma junta de bois,o que tornava as culturas bastantes oneradas, com o pouco rendimento desse sistema. Hoje, com um tractor e respectivas alfaias, cultiva 100 hectares, com culturas de trigo,milho, grão, batata e outros.
Há dois anos antes, o rendimento da propriedade, nãoia além de oitenta contos.  Actualmente possui, também,um estabelecimento comercial e tem uma moagem de milho e respectivos armazéns.

FRANÇA DE LIMA, ACOMPANHADO PELOS GOVERNADOR GERAL
SARMENTO RODRIGUES E PELO GOVERNADOR DO NIASSA
MAJOR COSTA MATOS
MANUEL FRANÇA DE LIMA foi um homem muito trabalhador e honesto, considerado no meio agrícola do Niassa, não só pelos europeus como pelos nativos.Foi um verdadeiro pioneiro das terras do Niassa, que mercê do seu espírito empreendedor, conseguiu vencer todas as dificuldades que se lhe depararam, trazendo com o seu esforço, o progresso e o desenvolvimento agrícola a esta região da Província de Moçambique,onde sucumbiu,por grave desastre,já depois de escrita a sua biografia.

TEXTO RETIRADO DO LIVRO:
LIVRO DE OURO DO MUNDO PORTUGUÊS - Moçambique  
VILA CABRAL, NOS ANOS DE 60 DO SÉCULO XX
Os território do Niassa que estavam sob a administração da Companhia do Niassa, foram reintegrados na administração directa do Estado, e separados em dois distritos, em Setembro de 1929. Assim ficaram constituídos os Distritos de Cabo Delgado e do Niassa.
VILA CABRAL, capital do Distrito do Niassa, está situada a cerca de 1300 metros de altitude e a meia centena de kilómetros do Lago Niassa. O atraente e progressivo centro dos nossos dias teve a sua origem na antiga povoação de Lichinga, pertencente à Circunscrição de METONIA . Em 17 de Novembro de 1945, recebeu oficialmente a designação de Vila Cabral, numa homenagem ao antigo Governador-Geral José Ricardo  Pereira Cabral. Por Portaria de 23 de Setembro de 1962 foi elevada à categoria de cidade, em reconhecimento do progresso verificado e da tenacidade de todos os que com a sua presença e trabalho preserverante, contribuíram para o desenvolvimento da capital  do Distrito.
Hospital de Vila Cabral
Vila Cabral, pelo clima ameno e pela sua situação geográfica, mereceu a distinção que lhe foi conferida. O arranque  de desenvolvimento posto em execução pelo Governo tem justificado as esperanças postas nestes distritos , geográfica e economicamente importante. O Estado tem ali erguido várias construções, sendo de destacar o Palácio das Repartições, a Escola técnica e a Aerogare; por sua vez, a iniciativa particular tem colaborado com entusiasmo.
Com a extensão do caminho de ferro do Catur até à capital do distrito, mais um passo decisivo foi dado para a valorização da jovem cidade e do Concelho, cuja população era, pelo censo oficial de 1962 de 81.763 indivíduos.
De Vila Cabral irradiam as estradas que a ligam com Metangula e Maniamba e que entroncam na estrada que segue para Port Johnson, no Malawi. De Vila Cabral, as estradas estabeleceram também ligação para Nova Freixo, Nampula e litoral, que fica a cerca de 800 Kms de distância.
Pode dizer-se, do Distrito do Niassa, que é << uma terra nova que se encontra na fase de arranque para o progresso>> . O Distrito é receptivo às mais variadas actividades agrícolas: do algodão, em Omaramba e Marrupa, ao trigo nos planaltos, ao café, tabaco, leguminosas  e fruteiras, estando a ser efectuados ensaios com soja, trigos e milhos.
PORTO ARROIO (Meponda em 1964
Dentro deste plano de arranque, foram já projectados os seguintes trabalhos: estudo do reajustamento administrativo do distrito: estudo e ampliação da  rede de Radiocomunicações; electrificação dos Postos Administrativos: compra de tractores e alfaias para auxílio da assistência técnica ao agricultor.
Está a ser encorajada, dada as condições favoráveis de que se reveste, a instalação de pequenas industrias: enlatados de frutas, salsicharia e lacticínios. Neste campo, prevê-se o aproveitamento industrial do Lago Niassa, em especial com a criação duma industria de pesca que terá os seus pontos de apoio em Metangula e Porto Arroio (Meponda) respectivamente a 120 e 60 Kms de Vila Cabral.
Está a ser incentivada em grande escala a construção de escolas e postos sanitários em vários pontos de distrito e foram instalados na sede delegações doInstituto dos Cereais, da Junta do Comércio Externo e dos Serviços de Agricultura.

BASE NAVAL DE METANGULA NOS ANOS 60 DO SÉCULO XX
Metangula, no Lago Niassa, possui hoje uma capitania de Portos com boas instalações , oficinas, plano inclinado, etc... Entretanto procura-se desenvolver Porto arroio (Meponda) igualmente nas margens do Lago, principalmente sob o ponto de vista turístico.
AO CENTO O GOVERNADOR GERAL SARMENTO RODRIGUES.
LADEADO PELO MAJOR COSTA MATOS E POR UM GRUPO DE
COLONOS DE NOVA MADEIRA.
Desenvolve-se na região conhecida por Nova Madeira um colonato formado por famílias madeirenses. Cada agricultor tem a sua casa sendo tecnicamente auxiliado pelos organismos do Estado.

















segunda-feira, 10 de setembro de 2018

MAJOR COSTA MATOS GOVERNADOR DO DISTRITO DO NIASSA - 1962 a 1966

ESTE TEXTO FOI RETIRADO DO LIVRO DE OURO DO MUNDO PORTUGUÊS - MOÇAMBIQUE (NIASSA)

ESCRITO POR:
JAIME LUÍS.

Governou durante vários anos, com invulgar capacidade de inteligência e apurado tacto político, o vasto Distrito do Niassa, o Major CARLOS DA COSTA MATOS, oficial distinto do Exército Português, natural da Província de Moçambique, onde o seu pai Capitão Rodrigo  Albano de Matos exerceu, de 1907 a 1940, funções militares e civis, tendo-se distinguido na Campanha do Niassa durante a I Grande Guerra.
O Major Costa Matos no seu gabinete de trabalho
O Major COSTA MATOS - como mais afectuosamente é conhecido pela população que governou- iniciou os seus estudos em Lourenço Marques - onde nasceu - na antiga Escola 1º de Janeiro, tendo feito o curso secundário no Colégio Militar, onde foi aluno distinto. Tirou ainda os preparatórios na Universidade de Coimbra, mas, atraído pela carreira das Armas, que seu pai servira com tanta distinção, ingressou na Escola do Exército. Da sua brilhante folha de serviços constam 12 Louvores (dos quais 7 que lhe foram concedidos por Oficiais-Generais e 5 por Comandantes de unidades que serviu). É condecorado com a Ordem Militar de Aviz. Medalha de Mérito Militar e Medalha Comemorativa da Expedição à Índia, onde serviu nos anos mais cruciantes da agitação anti-portuguesa, lançada pela União Indiana, ou seja de 1948 a 1952.
Durante esse  período percorreu, em missões delicadas de serviço, todo o território de Goa, que conhece de ponta, tendo estudado cuidadosamente os seus problemas. Frequentou, posteriormente, o Curso de Estado Maior, exercendo funções no Estado Maior no Comando Militar dos Açores.
Integrado em missões de Estado Maior, visitou os estabelecimentos militares na Alemanha e na Bélgica. Fez ainda parte da Missão Militar portuguesa que se deslocou a Argélia em observação, tendo frequentado o Curso de Pacificação e de Contra Guerrilha. Teve deste modo, ensejo de se familiarizar-se com os métodos de guerra subversiva e no combate à subversão.
Esta síntese biográfica do homem que esteve alguns anos à frente dos destinos do Distrito do Niassa, dos mais expostos de Moçambique a possíveis infiltrações de agentes inimigos que nos incomodam em África, tornou-se necessária para se aquilatar da verdadeira estatura  militar e política do Major COSTA MATOS, que se multiplicou em actividades em benefício do progresso do distrito que lhe esteve confiado e segurança das populações, que nele inteiramente confiaram.
É difícil - confessamos - fazer-se o cômputo perfeito dos anos de governo do incansável Governador COSTA MATOS, tão vasta é a sua obra, nos mais diversos campos de acção. Sob a sua superior orientação fez-se o estudo do reajustamento administrativo do vasto distrito, para uma mais efectiva ocupação administrativa. Fez-se o estudo e implantação da rede de Radiocomunicações. Cada Posto Administrativo dispõe de tractores para a manutenção e conservação das estradas e outros serviços. Electrificaram-se todos  os Postos Administrativos . Fez-se a distribuição e fixação em condições próprias, de colonos, que vieram para trabalhar a terra com o esforço produtivo do seu braço. 
Major Costa Matos na Missão de Massangulo com o Padre Calandri e o
Governador-Geral Sarmento Rodrigues
Construíram-se aeródromos, estradas, pontes completadas.
Foram iniciadas obras de abastecimento de água a Marrupa. Com verdadeiros; milagres; de boa vontade do dinâmico Governador, sempre atento aos problemas prementes do distrito e sempre presente em locais onde a sua pessoa se tornava necessária, realizaram-se no vasto  campo de acção social e educativa, trabalhos de alto sentido de oportunidade, que fizeram ainda mais respeitado o seu nome e de sua esposa D. Isabel costa Matos, que da cepa das antigas damas portuguesas, que junto aos seus maridos realizavam obra salutar em benefício das populações, ela também se dedicou com sacrifício do seu bem-estar, a obras de promoção social e de benemerência para elevação do seu nível de vida e de civilização das populações mais atrasadas. Ela soube ser, deste modo, um digno prolongamento da acção governativa de seu marido e seu verdadeiro amparo nas horas difíceis da governação.
Não há dúvida de que com o Major COSTA MATOS, o grande Distrito do Niassa veio a conhecer um novo surto de progresso em todos os ramos de actividade humana, estabelecendo pelo seu bom critério, sentido de oportunidade, inteligência e firmeza de decisão, em ocasiões que tal se torne necessário. Um exemplo a seguir..
O Major Costa Matos acompanhado pelo Régulo MATAKA
Pelo que observamos , directamente, sob o seu governo austero e justo, as populações viviam confiantes e tranquilas, prontas a enfrentaem o futuro com determinação firme, que lhes soube inspirar o o Chefe do Distrito.
Não queremos terminar estas linhas, com as quais pretendemos prestar o tributo  de justiça que é devido ao MAJOR COSTA MATOS, a quem admiramos, desde que directamente observámos a obra extraordinária de valorização do Niassa, que realizou com acerto e elevado sentido de patriotismo sem uma referência especial.
Ela reflecte a sua preocupação honesta de acertar e honrar a distinção que mereceu de vir governar um Distrito de uma Província onde nasceu e que por isso mesmo mais pesadas se tornam as suas responsabilidades, pois sobre si incidiram as atenções, não só dos que dirigem o Governo da Nação e da Província como milhões de naturais de Moçambique, para quem foi grata homenagem poder contar com o primeiro Governador de Distrito, natural de Moçambique.
Essa afirmação encontramo-la em declarações que fez, então para a imprensa moçambicana, nas quais sintetizou, desta maneira, as suas preocupações governativas.
 A situação actual do Niassa, no sempre delicado campo das relações humanas é francamente boa, não só pelos sentimentos que animam toda a população como também pela recta e isenta política social, que se está traçando e ainda pela intensa actividade de contactos que se têm estabelecido entre todos os sectores das populações. Isto é bem visível a quem visita o Niassa como já o têm feito entidades estrangeiras que me têm abertamente transmitido as suas agradáveis impressões por tudo o que têm visto. Esta situação muito contribui, portanto, para que se processe nas melhores condições o progresso de uma terra, que dará, desde que os homens de boa vontade a ela se dediquem afincadamente como está sucedendo>>

Numerosos melhoramentos  caracterizaram o Governo do MAJOR COSTA MATOS, do que destacamos: a elevação à categoria de cidade, Vila Cabral, capital do Distrito do Niassa; criação da Escola Técnica Elementar; renovação total da electrificação da capital, cujas ruas foram asfaltadas durante o ano de 1965. Promoveu a criação da praia de Porto Arroio (Meponda), nas margens do Lago Niassa, local muito apreciado por moçambicanos e rodesianos; a urbanização de Metangula e a criação da Diocese de Vila Cabral.
Muito teriamos ainda a dizer da obra extraordinária de valorização e progresso realizada por este Governador, que, amando entranhadamente a terra onde nasceu, com o pensamento fixo na Pátria, realizou uma tarefa por todos compreendida e aplaudida.
O Niassa essa região maravilhosa de Moçambique, esteve por muito tempo votada ao esquecimento. Graças à acção desenvolvida pelo Governador COSTA MATOS, ela encontra-se em franco desenvolvimento, vindo assim, contribuir para a valorização económica da Província e do próprio Niassa.
Tudo quanto nos foi dado ver e apreciar nos deixou as melhores impressões.
Major Costa Matos  com um Cipaio
Sucedeu-lhe na chefia do distrito o coronel Nuno de Melo Egídio, que igualmente tem dado o melhor do seu saber e esforço, continuando e valorizando a obra de ressurgimento iniciado pelo seu antecessor.



























terça-feira, 4 de setembro de 2018

RECORDAÇÕES, ANGÚSTIAS, TRISTEZAS e ALEGRIAS

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

A MINHA VIDA COMO MILITAR , (recordações ,angustias, tristezas e alegrias)! !Recordações, Angústias, Tristezas e Alegrias


Por Amadeu Neves da Silva
CCAÇ 1558


Recordo, com muita precisão, que quando estava em ÉVORA no R.I 16 e fui mobilizado para Moçambique, pouco mais era que um adolescente (20 anos), alheio ao que se passava no antigo Ultramar. Não tinha noção daquilo que iria encontrar e enfrentar em África. Sendo assim, encarei com naturalidade e despreocupação a mobilização militar para a guerra em Moçambique.
Foi em Évora que conheci o Pinto e o Garcia, dois bons companheiros. O primeiro, ainda mais novo, era tal como eu, leviano, despreocupado e inconsequente. O Garcia, mais velho, era o nosso oposto.











Recordo, com saudade (nunca mais o vi) o Ex.alferes Pontes. Tivemos uma relação tumultuosa, respeitadora e disciplinada. Em suma, uma relação que hoje catalogo de amor e ódio. Gostava, francamente, de lhe dar um grande abraço.
Recordo, SANTA MARGARIDA, onde fizemos o I.A.O. As incursões no velho “carocha” do Júlio a Alferrarede onde devorávamos uns belos frangos no churrasco. Foi neste Campo Militar que estreitei os laços de amizade, em particular com os elementos do Grupo de Combate a que pertenci e em geral com todos os membros da CCAÇ 1558.

Recordomuito bem que na véspera do embarque, o Récio tinha-se excedido na bebida e ao vomitar para a sanita perdeu a sua dentadura.
Recordotoda a madrugada de 29 de Abril de 1966 e a chegada a Santa Apolónia, onde a deparar com o meu pai fiquei profundamente abalado.
Recordo, a despedida de familiares e amigos que foram marcados por cenas lancinantes na Rocha Conde de Óbidos, local do embarque.
Recordo, o desfile e o embarque no paquete “Pátria” e à medida que nos íamos afastando do cais saíam das chaminés uns roncos medonhos que provocavam, na generalidade dos militares. Grande desconforto e tristeza, tendo sido amparado por palavras e pelo ombro amigo do Garcia. Jamais esquecerei!!!.

Recordo, a chegada a Lourenço Marques, cidade muito bonita. Com Avenidas grandes e largas e muito bem traçadas. Mas a frieza e a indiferença dos Laurentinos deixaram-me bastante surpreendido.
Recordo, a chegada a NACALA, destino final da viagem marítima. Aqui encontrámos em contacto pela primeira vez com as populações autóctones. Seguimos por via férrea, que mais parecia da pré-história, até NAMIALO onde ficámos alguns dias. Com grande surpresa nossa, vimos mulheres com a cara totalmente pintada de branco e com um cigarro com a parte acesa dentro da boca. Novamente em comboio, deslocámo-nos até IAPALA para finalmente em camionetas (Machimbombos) seguirmos até ao ILE-ERRÊGO de boa memória onde ficámos até Março de 1967.
Recordo, que inicialmente ficámos em bivaque numa antiga fábrica de algodão. Passados alguns dias fomos inaugurar um excelente quartel. Aqui no ILE-ERRÊGO houve uma grande empatia entre nós e a população civil em especial com o José Rodrigues e o Fernando Marques dos quais ainda hoje somos amigos.












Recordo, que pouco tempo depois, duas secções do meu grupo de combate, foram deslocados para NAMARRÓI. Mais tarde, a minha secção juntou-se-lhes e aí recomeçaram os meus problemas com o Alferes Pontes.
Recordo que vindo de uma operação recebi já noite o correio e entre ele vinha uma carta da minha prima Luísa a anunciar que tinha passado de ano escolar. Fiquei satisfeito.
O tempo aqui passados foram muito bons, designadamente quando frequentávamos a piscina, junto à casa do Adjunto do Administrador , Graciano Nunes. As idas à Missão Católica igualmente eram muito proveitosas. Passado algum tempo retornei ao ILE-ERRÊGO, onde de novo fui muito feliz. Foram momentos de grande amizade e de camaradagem com a população civil. Mais tarde, fui transferido para o pelotão do Alferes Monteiro e fomos destacados para o GILÉ. Aqui a estada foi curta, mas ainda deu para patrulhar NICOADALA e
MOMA. Esta última era uma bonita povoação.
Recordo, que regressámos ao ILE-ERRÊGO nos finais de Fevereiro de 1967 e no início de Março todo o Batalhão foi destacado para o Distrito do NIASSA. Novamente de Machimbombo, até IAPALA e daqui de comboio até ao CATUR e novamente em Machimbombo até VILA CABRAL, com passagem pelo “célebre” caracol do CATUR. Depois, seguimos até MEPONDA, onde fomos transportados no LAGO NIASSA por lanchas da Marinha até METANGULA. De novo em coluna auto chegámos a NOVA COIMBRA no dia 4 de Março de 1967.
Minutos antes da nossa passagem uma pequena coluna da CCAV 1506 sofreu uma violenta emboscada que provocou nas nossas tropas 5 mortos e muitos feridos entre os quais o meu amigo de infância Gustavo. "Bonita" recepção.













Recordo que fomos encontrar em NOVA COIMBRA, uma realidade bem diferente daquela a que estávamos habituados.
NOVA COIMBRA era um campo militar sem quaisquer condições sanitárias e de segurança. Coahabitavam naquele exíguo espaço a CCAÇ 1558 e a CENGª 1531, que era comandada pelo Capitão Cepeda.
Mais tarde chegou a 1ª do BCAÇ 16 (VIET_BEIRA) que tinha como missão fazer a protecção à Engenharia que estava a construir a picada Nova Coimbra-Lunho. A esta Companhia pertenciam 2 militares que se tornaram grandes ícones em todo o Niassa. Foram ele o Alferes Carvalho "100", autor do HINO do LUNHO e o então 2º Sargento Bigone, que em Tenente comandou em Nova Coimbra o GE 101

Recordo, que em bivaque entre NOVA COIMBRA e o LUNHO, o Alferes Carvalho “100”, autor dos celebérrimos versos que com música dos “Vampiros” de ZECA AFONSO, tiveram entre os militares um sucesso enorme. Quem não se lembra do: são os reizinhos do Niassa todo/ senhores por escolha/mandadores sem lei/aceitam cunhas, dizem que não/passam as rondas sobre os céus do Lunho/.Quantas Mercedes Sr. Capitão/ até agora, foram fornicadas/e eu bem lhe disse que pusesse os homens/rebentando minas, fazendo emboscadas.












De notar que estes versos foram “FEITOS” talvez em Julho de 1967, no bivaque anteriormente referido.
Recordo, a Vivenda Fox de tão boa memória. Era uma palhota debaixo de uma frondosa árvore, nos seus ramos à noite, passeavam-se ratazanas algumas delas bem grandes. Em frente da “Vivenda”, estava o Posto Rádio e a cozinha. Quem lá dormia? Forçosamente eu, o Pinto, o Garcia, o Júlio, o Gonçalves (o que é feito dele) e o Vasco. Em suma a “nata” da 1558.Era a desorganização total, muito por culpa do Pinto e do Júlio.
Recordoum dia o Capitão por acaso entrou na “Vivenda”, bem entrar é um exagero, não passou da soleira. De imediato convocou-nos e depois de mais um “raspanete” mandou de imediato fazer a limpeza à palhota. À noite, ao jantar na Messe, o Júlio teve mais uma das suas infelizes ideias, leu de pé e com solenidade que na “Vivenda Fox” tinham sido abatidos ao Exército Português milhares de vários insectos. A leitura do documento tirou o Capitão do sério. De imediato mandou calar o Júlio e este arrependeu-se de tanto atrevimento. Mas, entre nós, serviu durante algum tempo de motivo de galhofa e de gozo. Lembro os esforços que o Gonçalves fazia para que o seu cão, o “Leão”, fosse “pai”. Debalde, o cão era como o dono.
Recordo, em NOVA COIMBRA com um misto de tristeza e angústia. Vi a 22 de Maio de 1967, após o rebentamento duma armadilha seguida de uma mina anti-pessoal, o Cabo Leão morrer, O Alferes Sancho muito maltratado nas pernas, o Furriel Moutinho gravemente ferido no abdómen lutar contra a morte, que felizmente venceu. Outros 17 camaradas ficaram feridos com mais ou menos gravidade. Foi um pesadelo. Nunca tinha visto tanto sangue, dor, desespero e sofrimento.













Recordo, um fim de tarde, encontrava-me doente, quando recebo ordens para ir com uma secção +, auxiliar uma coluna auto que tinha rebentado uma mina. Chegados lá, foi fácil concluir que era impossível trazer de volta naquele dia a viatura acidentada. A coluna prosseguiu a viagem e nós montámos a segurança da Berliet acidentada. Como era um trabalho de rotina, não levámos ração de combate. Chovia muito, éramos poucos, por isso estávamos ligeiramente dispersos. Durante a noite, fomos flagelados e ouvimos com clareza ruídos de pessoas. Via rádio, avisámos o quartel do que se estava a passar. Durante a noite tivemos algum medo e muita Angústia. De manhã bem cedo, para nosso alívio chegaram reforços e material para rebocar a Berliet sinistrada. Terminados os trabalhos dirigimos-nos com o Vasco para a viatura da frente onde já se encontrava o “Zequinha”. Pedi-lhe que fosse para a outra viatura, contrariado lá foi.











Recordo, como fosse hoje, decorridos alguns quilómetros, passávamos uma curva perigosa e voltando-me para trás disse ao Vasco “se a Berliet acidentada passasse íamos comer ao quartel”. Dito isto oiço um estrondo medonho e vejo a segunda viatura e o “Zéquinha” a irem pelos ares. Corremos de imediato para eles e após uma violenta troca de tiros socorremos os camaradas atingidos pela explosão da mina. O “Zéquinha” tinha a cara totalmente coberta de sangue provocado pelo rebentamento dos sacos de areia que estavam na cabine da viatura. Ao ver-nos limitou-se a dizer em completo desespero: “Ó meu furrielzinho veja como estou”. Hoje esta cena tem uma certa comicidade mas na época foi bem dramática para todos.












Recordo, Messumba onde estive destacado com uma secção +. Estávamos numa palhota situada numa pequena elevação a poucos metros da estrada que nos levava até às residências do Padre Peaul, das freiras, à Igreja Anglicana e nos conduzia até Mondué já no Lago Niassa. A segurança nocturna era feita por quatro militares, ficando um em cada extremo da palhota. Eram 23.45 horas do dia 4 de Agosto de 1967. Sei as horas porque o meu relógio de pulso parou. De repente um estrondo medonho, e por cima dos que se encontravam no interior da palhota caiu matope e capim do telhado. Devido ao intenso tiroteio e lançamento de várias granadas vindas do inimigo tivemos muitas dificuldades em atingir o exterior.
Pareceu-nos uma eternidade o tempo que durou o tiroteio. Foi um resto de noite terrível, angustiante e de medos. Ao alvorecer deparámos com a palhota parcialmente destruída e com um inimigo morto a poucos metros de nós e com muito armamento em seu poder, designadamente granadas mão. Após o reconhecimento à zona circundante, capturámos armamento abandonado e observámos muitos vestígios de sangue. O que pressupõe que o inimigo fugiu desordenadamente e com alguns feridos. Penso que se não fosse a atenção do “Manel”, estaríamos todos mortos.
O Manuel dos Santos, natural do Barreiro era condutor da CCAÇ 1558, foi o autor do disparo que vitimou o inimigo. No nosso 25º Convívio do BCAÇ 1891, fiquei a saber o que de facto aconteceu. O “Manel” não estava de serviço, mas jovem como era tinha necessidades fisiológicas e nessa noite, resolveu ir para um canto no exterior da palhota,”fazer” sexo à mão. Quando estava no acto, ouviu ruídos e de imediato disparou, e fê-lo com tanta precisão que o inimigo morreu. Foi a sorte de todos os 13 jovens que lá se encontravam. Desde sempre que estou convicto que aquele assalto estava planeado para morrermos todos ou então os sobreviventes eram aprisionados.
Curioso, e hoje deixa-me intrigado o facto de dias após o ataque terem lá ido interrogar-nos dois agentes da DGS acompanhados pelo Major Esteves, e mais tarde, a Missão ser visitada por um Bispo Anglicano, que mostrou interesse em falar comigo e para tal convidou-me para um chá na casa do padre Peaul que não estava presente. A conversa versou alguns temas, mas o ataque não foi abordado. Eu é que me senti lisonjeado pelo convite do Bispo. Mas, a angústia, essa manteve-se durante muitos dias, principalmente quando se aproximava o anoitecer, cada um de nós refugiava-se nos silêncios e nos receios e a vontade de jantar não era muita. Mais angustiados e tristes ficámos, quando soubemos que em NOVA COIMBRA o Furriel Freitas tinha morrido e o Furriel Cardoso e o 1º cabo “Cheka” António Barata tinham ficado gravemente feridos.
Recordouma operação com dois grupos de combate, comandados pelos Alferes Machado e Monteiro. Operação de rotina igual a tantas outras. Indo eu à frente, de repente apercebi-me dum caminho com utilização recente e vozes de pessoas. Para não se perder o efeito de surpresa, não tivemos tempo para pensar no perigo de minas e armadilhas, corremos e entrámos de chofre no acampamento. Fui o primeiro a entrar, foi tudo muito rápido. Tiros, gritos, pânico e de repente vejo no chão e aos meus pés uma cena que ainda hoje me atormenta. Uma criança de tenra idade com o corpo esfacelado. A sua carne tinha a coloração roseada. Nunca tinha visto nada igual, nem em animais. Uma mulher, presumo mãe da criança, apesar de ferida, fractura exposta numa perna, cobria com o seu aquele pequeno corpo dilacerado. Foi horrível. Alguns soldados, sob o comando do Alferes Monteiro, que tinha sido estudante de Medicina, trataram o melhor que puderam e sabiam os ferimentos da mulher. À criança, essa, a esvair-se em sangue, ninguém sabia o que fazer. A restante população estava em pânico com a surpresa e violência da acção. Finalmente, o Alferes Monteiro, num acto de grande coragem e acompanhado pelo Alferes Machado e por um soldado, levou o corpo da criança ao colo para o interior do mato. Ouviu-se um tiro. No seu regresso, passados largos minutos, somente regressaram os três militares. Todos percebemos o que aconteceu e fez-se um silêncio sepulcral. Ainda hoje a incerteza e a angústia me acompanham. Teria sido eu? Se fui, Deus sabe que foi um acidente e quanto já me penitenciei.
Recordo, a ida para, MIANDICA. O meu grupo de combate, foi o primeiro da CCAÇ 1558 a ir para lá. Foi uma deslocação penosa visto que do Lunho para lá não havia estrada e as Berliets, que transportavam víveres e material de guerra tiveram que se embrenharem no mato até, MIANDICA. Foram muitos e vários os acidentes naqueles malfadados 40 Kms. Se não estou enganado a coluna sofreu 1 morto (cipaio) e 29 feridos.

Recordo, MIANDICA como um pesadelo, (neste Blog está exaustivamente descrito o que era MIANDICA). Foram desumanos os 70 dias lá passados. Mas, foi lá que em grandes diálogos com o Alferes Monteiro, percebi o porquê das suas sistemáticas fugas e desculpas em “fazer” operações. Tudo passava pelas lutas estudantis pelo seu irmão Daniel em 1962 e mais tarde as suas. Os problemas que seu irmão teve na Guiné enquanto Militar e os motivos da sua prisão para Boane em Moçambique.

Recordo, com ternura, a leitura em conjunto de uma carta enviada de LISBOA pelo Daniel em que ele escalpelizava o belo filme (já o vi) de Jacques Tatti “As férias do sr. Hulot”.
Recordo, que em MIANDICA tudo faltava. Desde comida, tabaco, notícias, actividade, os dias eram monótonos, cerca de 40 homens confinados a um espaço reduzido, água para a higiene diária não existia, a pouca que havia era somente para bebermos. Muito perto do acampamento, num vale profundo e de difícil acesso, corria um pequeno riacho, era aí que recolhíamos a água para bidons de 200 litros. A operação era feita com poucos homens, muito demorada e os perigos eram enormes. Daí a opção da água recolhida servir somente para beber


Recordo, que as carências eram muitas e diversas, mas uma afectou-nos e muito. Foi a falta de tabaco. Até as beatas desaparecera. O Alferes bem enviava mensagens para Nova Coimbra e para Vila Cabral, onde estava o Comando do Sector a reclamar as faltas. Em vão. Um dia poisou uma avioneta de reabastecimento, o piloto foi literalmente “assaltado” pelos seus cigarros. Foi notório o seu espanto. Um dia, e por causa do tabaco o Alferes Monteiro, pediu ao Movimento Nacional Feminino de Vila Cabral uma estátua de Nossa Senhora de Fátima. A este pedido foram rápidos, ao tabaco só o tivemos quando chegou a MIANDICA uma coluna de reabastecimento.











Recordo, que a coluna descrita anteriormente além de reabastecimento, também trazia matéria de Artilharia pesada. Foi uma grande operação comandada pelo Cap. Delgado à Base Central do Niassa, em que foram utilizados meios aéreos, artilharia e infantaria. Os meus companheiros da 1558, mais uma vez tiveram um comportamento bastante meritório, comprovado com a captura de muito material de guerra e documentação.
Recordo, o regresso a NOVA COIMBRA em meados de Dezembro de 1967. Foi uma longa caminhada, cerca de 40Kms, para quem estava bastante fragilizado por 70 dias mal alimentados. Fizemos uma curta pausa no quartel do LUNHO recentemente inaugurado. Como já disse, a água era um bem escasso e precioso em MIANDICA e por isso não nos lavávamos e assim quando chegámos tínhamos um aspecto andrajoso.

















Recordo, quando a companhia capturou um inimigo. O Vasco com os seus métodos “persuassivos” aconselhou-o a denunciar a sua base.
Lá fomos poucos dias antes do Natal. A suposta base era nas proximidades do RIO LUNHO. Foi frustante, o homem andou-nos a enganar vários dias e por isso teve a sua “recompensa”

Recordo, que em meados de Janeiro de 1968, finalmente fui em gozo de merecidas férias. O Capitão concedeu-me uns míseros 20 dias. Em METANGULA, apanhei o NordAtlas. Era um enorme avião de tranporte. Nunca tinha utilizado este meio de transporte. Eu era o único passageiro, no seu bojo transportava Jeeps e muitos caixotes. A sorte foi que a viagem foi curta. Chegado a VILA CABRAL, tive tempo para telefonar para a família em Lisboa. Foi uma conversa emocionante. Daqui segui para a BEIRA, cidade onde só estive 3 dias por manifesta inaptidão. Da BEIRA fui até INHAMBANE, aqui sim. Foram maravilhosos os dias passados nesta bela cidade. A população civil foi inexcedível.




















Recordo, que nos últimos dias de Fevereiro de 1968, a Companhia recebeu ordens para regressar à ZAMBÉZIA. Desta feita para o ALTO MOLÓCUÉ. O meu grupo de combate, incumbido da secção de quartéis, foi o primeiro a sair de NOVA COIMBRA, e o trajecto foi o mesmo da 
vinda um ano antes.

Recordo, que chegámos na véspera do Carnaval, a população convidou-nos para os tradicionais festejos. Depois de instalados, fui com o Alf. Monteiro ao ILE-ERRÊGO , que dista cerca de 200 Kms visitar os nossos amigos. Que festa. Encontrámos o Fernando Marques já casado e o José Rodrigues sempre disponível para nos ajudar no que necessitássemos. Pernoitei na casa da família Pereira onde esquecemos as nossas missangas e a placa de identificação.
Recordo, a notícia do soldado Fernandes, quando o seu Grupo de Combate, comandado pelo Alferes Quintas, estava a ser rendido em Miandica. Neste blog a morte está descrita na crónica de António Carvalho, “O ÚLTIMO ATAQUE A MIANDICA”. A sua morte revelou-se muito dramática. Eu conhecia bem o Fernandes e o seu percurso de vida. Era natural do Distrito de VISEU como o Pinto. Bastante jovem partiu a “salto” para terras de França. Na expectativa de poder regularizar a sua situação de clandestino naquele país, apresentou-se em PORTUGAL para fazer o serviço militar. Encontrou a morte e com ela o sonho desfeito de ter uma vida melhor em França. Foi doloroso para o Pinto, eram bastante amigos.











Recordo, um Domingo, talvez o último de Março de 1968. Íamos jogar futebol com a Missão Católica do ALTO MOLÓCUÉ. Eu era o responsável pelo Desporto na Companhia e um dos jogadores da equipa era o “Zé” Martins. E estava convocado para jogar. De manhã na esplana da da Residencial pediu-me com muita insistência para não ir jogar, visto que partia um hunimog para uma viagem ao ILE-ERRÊGO e queria ir como condutor. A contragosto deixei-o ir. Na viagem também ia o Furriel Higino Cunha.


 A este pedi-lhe que trouxesse as missangas e a placa de identificação que tinha deixado em casa da família Pereira. Morreram os dois num despiste do hunimog. Foiterrível.




















Recordo, O mês de Abril foi passado no GURUÉ, já integrado de novo sob o comando do Alferes Pontes. Foi um tempo muito bem passado. Semana sim, semana não deslocávamo-nos para o LIOMA, localidade muito próxima do Distrito do NIASSA.

Recordo, que nos primeiros dias de Maio, foi ordenado à Companhia a ida de 3 Grupos de Combate para o NIASSA, desta feita para NOVA VISEU. Foi um choque, já tínhamos terminado a Comissão, esperávamos a todo o momento o regresso à Metrópole e afinal íamos de novo para zona de combate.
Quem ficou no ALTO MOLÓCUÉ foi o Alferes Monteiro com os dois Furrieis “CHEKAS” que tinham chegado à Companhia em Janeiro. Não achei justo e reagi muito mal. Resignado mas não convencido e revoltado, partimos para NOVA VISEU com uma pequena estada em VILA CABRAL.




















Recordo, que durante o trajecto de IAPALA até ao CATUR, os militares residentes insinuavam que nós íamos de novo para VILA CABRAL, por castigo, devido à morte (assassínio) do Furriel Cunha. Foi um boato que nos magoava mas que tivemos que suportar. Era inédito uma Companhia vinda há 2 meses do Norte e já com a Comissão terminada, regressasse ao Norte. Algo se passou, daí até ao boato foi um pequeno passo.

Recordo, que quando estávamos em Vila Cabral, ainda realizámos uma operação em redor da Cidade. Entretanto chegaram várias Companhias “CHEKAS” que tal como nós ficaram a aguardar transporte para as suas localidades. Os Furrieis duma dessas Companhias, quiseram afrontar-nos na Messe de Sargentos do quartel de Vila Cabral. Eles queriam comer na “1ª Mesa” nós dizíamos que esse direito era nosso por sermos mais antigos, ou seja KOKUANAS. Eles não levaram a sério os nossos avisos., sós os reconheceram quando virámos a mesa derramando a sopa por cima deles. Foi um grande MILANDO para nós. Felizmente que estávamos de partida.












Recordo, que a ida para NOVA VISEU foi acidentada, bastante chuvosa que nos atrasou significativamente a marcha, um acidente quando um soldado manuseava uma granada de mão que felizmente não provocou vítimas. Chegados, ouvimos do Capitão da Companhia residente a ordem de “para esses gajos não há nada”. Foi uma decepção. De facto nada houve, vivemos de Maio a finais de Julho em tendas e comíamos em marmita porque nem os pratos nos emprestavam.

Recordo, que ninguém em VILA CABRAL nos enviava víveros frescos, correio e dinheiro, em suma estávamos esquecidos e abandonados. Para obtê-los tivemos que a nossas expensas alugar um Taxi-Aéreo para que o Capitão fosse a VILA CABRAL adquirir estes bens essenciais. O correio então era fundamental. Foram dois meses de intensa actividade recompensados com a captura de matéria de guerra e recuperação de muita população. Aqui, cabe uma palavra ao exemplo do Capitão Delgado, que além de ser ferido 2 vezes em combate foi aquele em que mais operações participou, nomeadamente as mais perigosas. Ele manteve a 1558 disciplinada e aprumada e se assim não fosse a nossa ida para a INTERVENÇÃO em NOVA VISEU, tinha sido problemática e não tinha sido o sucesso que foi.
Recordo, quando o Capitão para manter o moral das tropas o mais elevado possível, cantava connosco o”Tombe la Neije” de Adamo era engraçado nós de noite no mato Africano pedirmos que caísse neve.
Recordo, que em termos militares a Companhia apesar das vicissitudes teve um comportamento bastante meritório com o resultado da captura de vário e diverso armamento e a recuperação de muita população.
Recordo, o regresso, mais uma vez feito por via férrea, mas desta feita o comboio já chegava perto de VILA CABRAL. Desembarcámos de novo em IAPALA a 29 de Julho de 1968. Chegados aqui, exaustos e exangues por mais de dois meses de intensa actividade física e psicológica e enquanto esperávamos pelos machimbombos para o regresso ao ALTO MOLÓCUÉ, sentei-me despreocupado no chão. Reparo então num jovem civil, branco a olhar-me com desdém. Fiquei revoltado e furioso e só muito a custo me contive, não sem que antes lhe tivesse proferido algumas palavras feias e duras. Chegámos ao ALTO MOLÓCUÉ e dias depois o Alferes Pontes ter oferecido um jantar a todo o seu grupo, só tivemos tempo de embalar os nossos pretenses e de novo em comboio fomos de IAPALA até NACALA, onde nos esperava o “VERA CRUZ” para nos trazer de regresso à Metrópole.














Recordo, que quando fizemos uma pequena paragem em NAMPULA, a 11 de Agosto, tivemos conhecimento que na estrada NOVA COIMBRA-METANGULA, tinha morrido o Capitão Horácio Valente da 4ª Companhia de Comandos. Ficámos tristes, conhecíamos por várias vezes eles terem ido combater à zona de NOVA COIMBRA.

Recordo, na viagem de regresso a passagem por LOURENÇO MARQUES, onde tínhamos à espera vários amigos, residentes naquela Cidade, que estiveram connosco no LUNHO. Mostraram-nos a Cidade que é muito bela.

Recordo, a paragem em Luanda, paragem técnica, esperavam-nos vários familiares que depois do almoço em sua casa, mostraram-nos a Cidade da qual além da Baía não gostei.
 Recordo, a madrugada de 4 de Setembro de 1968. Ninguém dormiu, a ansiedade era enorme. Como sou natural de Lisboa, o Capitão Delgado, incumbiu-me para acompanhar a descarga da bagagem de porão e depois enviá-las para ÉVORA.
Recordo, que o Batalhão 1891 ficou perfilado no lado bombordo do paquete, o que era óptimo visto que esse era o lado de onde se avista LISBOA. Mas, a maré estava a encher e o “VERA CRUZ” foi forçado a atracar na ROCHA CONDE DE ÓBIDOS, com a proa virada voltada para a barra. Todo o pessoal se deslocou para estibordo, ficando no lado contrário eu e um punhado de camaradas. Como não desfilava por causa das bagagens, desloquei-me ao camarote para recolher os meus haveres. Resolvi espreitar pela vigia e a dois metros estava o meu pai (era trabalhador portuário e tinha acesso àquela zona). A surpresa foi de tal monta que caí para trás. Recompus-me e quando fui de novo espreitar já não estava lá.

Recordo, que fui dos primeiros se não o primeiro a desembarcar e depressa vislumbrei os meus familiares. Foi indiscritível a alegria sentida a alegria sentida. Não encontro palavras para a descrever. Foi um momento único na minha vida. Jamais esquecerei o 4 de Setembro de 1968.
Recordo, que quando ia a atravessar a Av 24 de Julho, cruzei-me com as viaturas que transportavam os meus camaradas da 1558. Numa delas seguia o meu bom AMIGO, GUSTAVO MONTEIRO. Dissemos adeus um ao outro. Foi a última vez que o vi. Que Deus o tenha em Paz.











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