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Livros da guerra colonial

Miandica terra do outro mundo


quinta-feira, 31 de maio de 2018

ANTÓNIO MARIA NOBRE, HERÓI DE pORTUGAL

segunda-feira, 6 de junho de 2011


ANTÓNIO NOBRE, UM HEROI DE PORTUGAL!

Por: António Campinas

CCAÇ.1560


Quem, dentro da CCAÇ 1560, não se lembrará do António 
Maria Nobre, da “BAZOOKA”?
Alentejano, de gema, integrado num grupo de combate constituído quase exclusivamente por alentejanos, era bem o protótipo do calmo e pachorrento dito “compadre”, a quem nada nem ninguém faz perder a fleuma a menos que…
Finda a comissão, o Nobre era apenas um herói. Modesto, apagado, humilde – mas um HERÓI !... Gravemente ferido em combate, por 3 vezes (!!!) foi condecorado, na mesma comissão por imposição, com duas CRUZ DE GUERRA (1ª e 3ª classes ), caso único nas Forças Armadas, nas campanhas do Ultramar pós 1961!
Ora acabou por ser precisamente o Nobre o protagonista do único incidente registado, em toda a comissão, entre pessoal da 1560 e elementos estranhos à mesma.
Estamos em Nampula, na noite de 10 AGO 68. O comboio que transporta o Batalhão 1891 a caminho de Nacala, onde embarcará no paquete Vera Cruz, de regresso à Metrópole, fez uma paragem de algumas horas naquela cidade.
O pessoal foi autorizado a ir dar uma última volta pela cidade, com recomendações e ordens taxativas quanto ao comportamento a ter, em todos os aspectos, e com hora de regresso à estação bem definida.


Ao aproxima-se essa hora limite, e com grande parte do pessoal da Companhia já na estação dos Caminhos de Ferro, chegou a notícia de que o NOBRE teria sido preso pela Polícia Militar, e levado para o quartel da mesma. Imediatamente e em bloco, todo o pessoal dos “Leopardos” já presente se dispôs a marchar para o Quartel da P.M. (ainda a uns bons 3/4Kms da estação) a fim de libertar o seu camarada.

Tendo o Comt da CCaç 1560, conseguido acalmar momentaneamente os ânimos, pois nada se sabia de concreto, foi decidido que ele, com alguns Oficiais e Sargentos da Companhia. Iriam à P.M., averiguar o sucedido e resolver o problema.
Tendo o grupo de graduados da 1560 chegado ao quartel da P.M., e após uma entrada mais ou menos intempestiva, por várias razões, foram descobrir o Nobre a ser duramente interrogado por um Tenente da P.M. e mais alguns elementos – tendo inclusive levado já alguns “caldos”.
Foi então dito pelo Tenente que o Nobre, interpelado por uma patrulha da P.M., havia resistido à detenção(?), tendo inclusivamente partido o nariz ao Cabo comandante da mesma e deslocado o braço a outro soldado. Tendo sido ouvido o depoimento do Nobre e também dum outro soldado da referida patrulha, ficaram os presentes com sensação nítida de que teria havido precipitação e até abuso, de autoridade por parte dos elementos da P.M., aos recém - chegados da Metrópole…Depois de muita troca de argumentos e de ter sido explicado Quem era o Nobre, conseguiu-se a sua libertação, tendo sido entusiasticamente recebido quando finalmente,  chegaram à  estação  dos Caminhos de Ferro.      Agora para terminar, só falta, de facto, contar-se a versão dosacontecimentos, pela boca do Nobre.


 Na sua castiça calma voz alentejana,(esta versão apenas deferia da P.M, ,num pequeno pormenor.
Em frente do Hotel Portugal, em plena baixa de Nampula, passeavam alguns militares da 1560. Tendo passado um Jeep da Polícia Militar, alguém do grupo teria gritado:- “Adeus, ó Chekas,”( nome dado aos militares recém chegados a Moçambique). O Jeep parou de imediato e os elementos da P.M. correram para eles.
Com receio de complicações sobretudo devido à proximidade do embarque, os militares da 1560 debandaram ( pela 1ª e única vez em toda a comissão!), com excepção do Nobre que, além de ter a consciência tranquila, não podia correr, por coxear devido ao seu último ferimento em combate.
“ Então, meu Capitão”, dizia o Nobre, eu que nada tinha feito, vejo vir o nosso Cabo, todo exaltado, direito a mim… Agarrou-me pelo colarinho e puxou-me para a frente com toda a força… Ora eu, que não tenho força nenhuma nas pernas, desequilibrei-me…e fui bater, sem querer com a minha testa no nariz do nosso Cabo!...
Escusado será dizer o esforço que, na altura, foi necessário aos graduados da CCAÇ 1560 presentes para não desatarem à gargalhada, numa situação tão melindrosa como aquela.

A DESCOLONIZAÇÃO PORTUGUESA

segunda-feira, 13 de junho de 2011


A descolonização Portuguesa!

      
General Duarte Silva: Julgo dever dizer-vos porque é que aqui estou: a minha relação com África não é tão pequena como isso.
No que julgo que interessa estive primeiro, em Dezembro de 1973, em comandante  do  CODCB (Comando operacional de Defesa de Cahora Bassa)  sobre o que posso responder a todas ou quase todas as perguntas.Depois pouco antes do 7 de Setembro ou mesmo no 7 de Setembro, quando houve aquelas sensaborias em Lourenço Marques , em que andaram aos tiros aos pretos por causa do Radio Clube de Moçambique e não sei que mais, o então coronel Egídio que estava em Tete, teve de ir para Lourenço Marques e eu avancei para Tete. A missão não foi alterada, isto é continuámos em guerra, mas já a meio vapor até Setembro. No dia 7 de Setembro , recebemos ordem para deixar entrar a Frelimo. A partir daí vivemos (eu vivi) até Fevereiro de 1975 em companhia da Frelimo, companhia respeitável e respeitada.Devo dizer que o meu contacto começou pelo meu comandante José Moyane, que a seguir foi governador de Vila Perry e , mais tarde de Lourenço Marques. Depois houve um pequeno pormenor: matou a mulher e desapareceu da circulação.  Mas o comandante José Moyane, logo no primeiro dia , começou por me tratar por camarada, e eu julgo que não há nada como explicar as coisas desde o primeiro dia. Eu expliquei-lhe que não era camarada dele de parte nenhuma, nunca tinhamos comido juntos, se ele que eu era do 25 de Abril, não era se julgava que eu era do M F A, também, portanto que nos respeitássemos um ao outro. Eu era senhor comandante, e ele era o senhor comandante  e vivemos como Deus com os anjos até Fevereiro de 1975-.........
Mas a realidade é que estávamos ainda em guerra..........
Numa guerra daquelas  é muito difícil o  cessar fogo. É tão difícil que  sucederam  vários casos e que a maldade das pessoas ainda não permitiu que se esclarecessem e que convinha esclarecer, porque está a honra de muita gente em jogo. um deles por exemplo é o caso de um alferes que recebe ordem para acabar com as acções de fogo. Esse alferes cai com o seu grupo de combate numa emboscada . Tiros para lá , tiros para cá . Além dos tiros, havia sempre um folclore de palavrões, dirigido a cada um . Mas no meio daquilo  o alferes conseguiu-se fazer ouvir e dizer aos do outro lado : " olha lá , já acabou a guerra ,e nós estamos aqui estupidamente aos tiros,". Ao que os outros responderam :" Está bem vai enganar outro"..." disse  mais o alferes: ...então vai informar-te junto dos teus chefes   e no dia tal encontramo-nos aqui. E no dia tal  encontraram-se.......É claro que o (fazem)  ainda com todas as seguranças e não houve desconfianças . Não entraram em contacto com os vossos: não:.. ainda não tenho contactos nenhuns, os nossos não fizeram fogo.....À terceira ou quarta vez, estava tudo aos abraços.
É dos nossos soldados, isto é assim mesmo. Simplesmente nessa altura foram desarmados, porque os nossos estavam de boa fé e os outros não. Isto depois aparece depois, como um grupo de combate que foi desarmado , que entregou  as G-3 ao inimigo. Mais importante do que isto(talvez o coronel Pinto Ferreira esteja em melhores condições de explicar), foi o que se passou com uma companhia no norte. Entram em conversações, muita confiança muitos abraços e a certa altura foram desarmados.Um dos argumentos nas conversações em Lusaca usados por Samora Machel, com o dr. Mário Soares era que as nossas tropas já não se batiam. Com certeza que a nossa tropa no dia 7 de Setembro não era a mesma, que no dia 26 de Abril. Aqui fez-se tudo a seguir ao 25 de Abril,  para dar cabo da nossa tropa. Na descolonização entrou o factor político e nem mais um soldado para o Ultramar. Nestas condições ninguém podia negociar, discutir e preparar uma descolonização inteligente.
Aquilo estava muito efervescente as pessoas andavam com armas na mão e a disciplina não era grande coisa, especialmente dentro da Frelimo. Eles tinham a disciplina do guerrilheiro.....matou morre.

José Pedro Castanheira: Quando é que foi esse primeiro encontro com o comando da Frelimo ?

General Duarte Silva: Foi no dia 7 ou 8 de Setembro de 1974. Só quando houve paz oficialmente, claro. Se não não havia conversa.

Fátima Patriarca: Retomando a pergunta do Manuel  de Lucena, seria possível explicar porque é que os colonos brancos reagem contra no fundo a quem está ali para os defender? O que sentiu que estava por de trás dessa hostilidade?
Tenente- Coronel Aniceto Afonso:  Isso pode ter várias explicações. 

General Duarte Silva:Eu tinha lá família e diria que os coca-colas sempre pensaram que a guerra era nossa, não era deles, o problema era este.

Tenente-Coronel Aniceto Afonso: Sim , sim . Talvez também nunca lhes tenha sido explicado, também nunca participaram.

General Duarte Silva :O instinto de conservação não precisa de explicações. Nó íamos daqui para lá , eles estavam sossegadinhos nas cidades , porque +e que deviam de arriscar.

Coronel Pinto Ferreira : Eu estava na Beira, quando foi o ataque à messe da Beira e vi o acontecimentos todos, do principio ao fim.
Quando eu cheguei à Beira em 1973 , a população não tinha qualquer noção da guerra que se estava a passar. sabia que existia, mas não vivia no meio da guerra.

Tenente- Coronel  Aniceto Afonso:Mas já havia batalhões de Janeiro.
General Duarte Silva: Pois. mas isso revela o estado de indisciplina que houve. Temos de o reconhecer! E depois quando chega Lusaca, o Samora Machel diz: Ah os senhores já não têm ninguém capaz de dar um tiro ."...não era completamente verdade, especialmente em Angola de maneira nenhuma. E é claro que as pagámos.

Coronel Pinto de Ferreira: Há uma questão de que o sr .tenente -coronel falou que eu ainda reforço. Nós em Moçambique, tínhamos chegado a este ponto: quando embarcávamos, os meus capitães operacionais  eram do mesmo curso dos alferes comandantes de pelotão. No meu batalhão foi assim. Eles estavam em Mafra , terminavam o curso como cadetes e eram promovidos promovidos a aspirantes , todos. Uns eram escolhidos para ser capitães, nem espúrios nem púrios. Não havia nada.

General Duarte Silva : mas isso eram milicianos! 

Coronel Pinto  Ferreira: Pois, mas isso não interessa. Era quem fazia a guerra.


General Duarte Silva: não era a mesma coisa.

Coronel Pinto Ferreira: eram oficiais , faziam a guerra e estavam a defender a  Pátria. Mas continuando.

General Duarte Silva: mais devagar.

Coronel Pinto Ferreira: Não é nada mais devagar- temos de ser objectivos. Portanto sucedia que esses homens saíam da Escola Prática de Infantaria e eram promovidos a alferes. Iam para as unidades, para o seu batalhão fazer instrução e embarcavam como alferes . Um deles era promovido a tenente , era comandante de companhia , mas eram todos do mesmo curso de alferes, tratavam-se por tu. Oh pá não me chateies! Então  dás essa ordem? e na hora do embarque eram promovidos a capitães. Saíam todos da  Escola Prática de Infantaria  como aspirantes e, de repente , um aparecia como capitão e os outros eram alferes.
E era com isto que se tinha que fazer a guerra . Eu tinha quatro companhias na minha zona de acção , e os quatro capitães eram deste género. E quando davam uma ordem que alferes não gostavam, os alferes diziam: Eh pá não me chateies com essa! Eu não vou ! E na tropa não se pode trabalhar assim, não se pode actuar assim . mas era com isto que tinha de se fazer a guerra. isto é uma coisa que as pessoas aqui não sabiam! Quando chegámos à altura da descolonização e foi preciso contar espingardas onde é que se contavam, quem é que pegava nelas? Estavam todas no armeiro. Os problemas eram estes , e eram mais que muitos. em toda a província Moçambicana .

General Duarte Silva : estás a dar-me a razão.

Coronel   Pinto Ferreira : Não lhe estou  dar razão nenhuma.

General Duarte Silva: durante 13 anos fizemos a guerra sem problemas, de repente passou a haver problemas.

Extracto de entrevistas dadas por estes e outros militares sobre a situação em Moçambique  e nas outras Províncias Ultramarinas a seguir ao 25 de Abril de 1974.

Falta referir a situação dos Africanos que lutaram ao nosso lado e o que é feito deles, já que parece o Estado português se esqueceu da maior parte deles.

O INÍCIO DA GUERRA EM MOÇAMBIQUE

sexta-feira, 16 de setembro de 2011


O INÍCIO DA GUERRA EM MOÇAMBIQUE.

         


                                                                                                                                                                                                                               A guerra iniciou-se quase simultaneamente, em 1964, nos extremos nordeste (Niassa) e noroeste (Mueda) de Moçambique, e envolveu os povos que iriam ter o papel mais importante nos dez anos que ela durou: os Nianjas e os Macondes. 
Nesse ano ocorrem as primeiras acções da luta armada nos distritos do Niassa, de Cabo Delgado e de Tete. Em 21 de Agosto de 1964, ocorreu a primeira acção violenta na região de Cabo Delgado: «Pelas 18 e 15 horas do dia 21, na rampa de Esposende (Sagal) e na primeira ponte, no sentido Mueda-Mocímboa da Praia, foi atacada com dois tiros de canhangulo uma viatura civil conduzida por um europeu. Não foi atingido qualquer ocupante da viatura» (relatório do Batalhão de Caçadores 558). 
Em 24 de Agosto, morreu o padre Daniel, da Missão de Nangololo: «Pelas 20 horas do dia 24, um grupo inimigo feriu mortalmente um padre da Missão de Nangololo, tendo o autóctone Ernesto Dinagomo, que acompanhava o padre, sido ferido por um projéctil de canhangulo», como se refere no mesmo relatório. 
Contudo, a Frelimo considera que foram as acções de 24 e 25 de Setembro de 1964, que marcaram o início da luta armada. Estas acções foram determinadas pelo seu Comité Central, enquanto as anteriores foram atribuídas a grupos de guerrilheiros da MANU e da Undenamo. 

Acções da Frelimo em Cabo Delgado, em 24 e 25 de Setembro de 1964 :
- Colocação de abatises e abertura de pequenas valas nos itinerários Miteda - Nangololo - Muatide - Muidumbe -estrada das Oliveiras; 
- Destruição das pontes de Ouinhevo (junto a Mocímboa da Praia), Esposende (Sagal), rio Mueda, Nangade e Machoma; 
- Corte da linha telefónica nas imediações das pontes do Ouinhevo e de Esposende; 
- Ataque ao posto do Chai, na noite de 24 para 25 de Setembro, situado entre Macomia e o rio Messalo, acção considerada pela Frelimo como o primeiro acta da luta armada da guerra de libertação nacional de Moçambique. 

O armamento dos guerrilheiros era, no início, muito antigo: espingardas de repetição 7,7 mm Mauser, Lienfíeld, armas de caça, Remíngton, Wínchester, pistolas Parabellum, e incluía armas gentílicas, como canhangulos, catanas e arcos e flechas. 
Os guerrilheiros optavam preferencialmente pela colocação de abatises e abertura de valas nas estradas, de modo a dificultar o movimento das tropas portuguesas a partir de Mueda pelos vários itinerários de ligação à costa e a outras localidades. 
No mês de Outubro, as acções violentas continuaram: em 11 foram queimadas duas cantinas próximo da estrada para o rio Messalo, em 13 foi roubada e queimada uma cantina na estrada Mueda-Nacatar e, na noite de 17 para 18, foi arrombada e assaltada a loja de Ibarimo Ucuba, na povoação de Namulumba. 
Em 16 de Novembro de 1964, as tropas portuguesas sofreram as primeiras baixas no Norte de Moçambique, na região de Xilama, e à meia-noite de 8 de Dezembro um grupo atacou o posto de Muidumbe durante cerca de 20 minutos, já com armas automáticas e lança-granadas-foguete. 
A organização e o armamento dos guerrilheiros evoluíram rapidamente. A primeira acção violenta no Niassa ocorreu também em 24 de Setembro de 1964, com o ataque à secretaria do posto administrativo do Cobué, sendo a lancha Castor, da Marinha de Guerra, atacada logo no dia seguinte. 
Em Dezembro, foi assaltado o posto de Olivença. Todos estes ataques ocorreram no extremo noroeste da região, aproveitando a proximidade da fronteira com a Tanzânia. 
Tal como em Cabo Delgado, as dificuldades de comunicações, o acidentado do terreno, a baixa densidade das forças portuguesas e a fraca presença de colonos facilitaram a acção da Frelimo, que alargou a sua acção para sul na direcção de Meponda e Mandimba, para atingir o Malawi, com a intenção de descer para Mecanhelas de modo a alcançar a Zambézia e ligar-se a Tete. Por outro lado, estendeu ao mesmo tempo a sua acção para leste, em direcção a Marrupa, para chegar a Cabo Delgado. 
O Niassa foi, nos primeiros anos da guerra, a zona prioritária das acções da Frelimo, não só porque isso permitia alargar a base de apoio à guerrilha aos povos Ajauas e Nianjas, como constituía o corredor natural para sul, a caminho da Zambézia e daqui para Tete. 
A Frelimo beneficiou ainda, nos primeiros anos, do apoio do Malawi para o trânsito e refúgio de guerrilheiros. Esta situação veio depois a alterar-se, em boa parte por acção de Jorge Jardim, que apoiou, por métodos expeditos e pouco ortodoxos, o reforço de um aparelho mínimo de força naquele país, governado pelo autocrata pró-ocidental, Hastings Banda, formando unidades especiais comandadas por militares e ex-militares portugueses, como o ex-tenente Cristina, morto mais tarde em circunstâncias não esclarecidas na Rodésia (actual Zimbabwe), e uma pequena força naval malawiana do lago Niassa, comandada por um oficial da reserva naval da Marinha portuguesa. 
A intensidade da guerra no Niassa, cujo ponto alto ocorreu em 1967, não impediu a Frelimo de aumentar simultaneamente a sua capacidade de combate em Cabo Delgado. Neste distrito, o Planalto dos Macondes/ Mueda e a serra do Mapé/ Macomia constituíram duas zonas de combates intensos durante toda a guerra, especialmente até 1970/71. 
As principais bases da Frelimo em território moçambicano encontravam-se nesta zona, e a principal linha de infiltração dirigia-se da sua mais importante base no exterior, a de Naschingwea, para o núcleo central do Planalto dos Macondes. 
Em Tete, a Frelimo desencadeou, nos finais de 1964, algumas acções a partir do Malawi, sobre a região sueste do distrito, como em Mutarara, em Novembro, e no Charre, em Dezembro.

quarta-feira, 30 de maio de 2018

2014 A C.CAÇ 4141 "OS GAVIÕES" no Lunho de 1973 a 1974

domingo, 30 de novembro de 2014

A C.CAÇ 4141 "OS GAVIÕES" no Lunho de 1973 a 1974

Bernardino Peixoto, Soldado corneteiro da CCAÇ 4141 OS GAVIÕES

  A C.Caç.4141 os Gaviões partiram de Lisboa num avião da TAM a 12 de Novembro de 1972 com destino a Moçambique onde desembarcou na cidade da Beira a 13 de Novembro de 1972. O comandante da companhia foi o Capitão Mil.º António Cardoso.O Capitão com o 1º Grupo grupo seguiu de avião para Nova Freixo.O restante pessoal embarcou de comboio  com destino a Vila Cabral.A companhia foi de Vila Cabral em coluna até Meponda onde pernoitou uma noite no areal da praia esperando pelo embarque da lancha da marinha o que aconteceu pelas cinco horas horas da manhã do dia seguinte. Feito o embarque nas lanchas, a C.CAÇ 4141, rumou pelo lago do Niassa  até Metangula. Aqui e à nossa espera estava uma coluna Militar vinda de Nova Coimbra  que nos conduziu  para o inferno que se chamava (Lunho),onde chegámos a 19 de Novembro de 1972. Fomos render a C.CAÇ.3392 e um grupo de combate da CArt 3504 
No dia 01 de Janeiro 1973,foram vistos três guerrilheiros da FRELIMO ao redor do quartel a observar a vida no interior do mesmo.Foi feito um patrulhamento e aos primeiros tiros  puseram-se em fuga.
No dia 29 de Janeiro de 1973 realizou-se uma operação à BASE de SEGURANÇA De MEPÓTXE a nivel de companhia.Seguimos em direcção ao RIO da MEPÓTXE onde o Capitão Antonio Cardoso ordenou  uma pausa para escolher qual o grupo de combate iria fazer o assalto ao acampamento.Depois de uma reunião com os oficiais e furrieis presentes foi escalado o 2.º grupo de combate e o restante da companhia ficaram junto ao rio  MEPÓXTE.O  grupo de combate avançou  em direcção à base. O  trilho por onde seguíamos tinha uma inclinação muito grande e um gerrilheiro da FRÉLIMO deu pela nossa presença. Depois de denunciados avançamos com rapidez o  assalto.Depois de uma breve troca de tiros os homens da Frelimo fugiram.Foram aprendidos documentos e  destruídas cerca de trinta palhotas.No regresso ao descer o trilho fomos bombardeados com granadas do morteiro 82 até junto dos restantes colegas da companhia que se encontravam junto do Rio MEPÓTXE.No regresso feito um intervalo para o merecido descanso e fomos  surpreendidos por um grupo de guerrilheiros da FRÉLIMO que nos perseguia.De imediato a companhia reagiu com fogo de G.3 e de Morteiro "60", eles puseram-se em fuga.A companhia reorganizou-se  a ao quartel do Lunho. No percurso fomos atacados por um grande exame de abelhas em que ficou envolvido o sr comandante da companhia e o soldado António Varandas.O Capitão foi de imediato socorrido o 1.º cabo  Fernando Rocha e pelo 1.º cabo enfermeiro Pereira que de imedito accionou o evacuamento do Soldado António Varandas que se encontrou gravemente doente com muita febre devido ás imensas picasdas das abelhas.
 Depois da evacuação,retomámos a marcha de regresso ao Quartel e fomos surpreendidos por uma violenta tempestade que nos dificultou a travessia do Rio Lunho.No dia 15 de Fevereiro de 1973 apresentou-se no Lunho um guerrilheiro da Frélimo com a sua arma automática. Durante o interrogatório denunciou que durante o assalto feito á Base de MEPÓTXE foi abatido o chefe MACUMBA e três guerrilheiro e uma mulher da FRÉLIMO.
Lunho, Militares a rezar na Capela dos Bidons
O 1.º e 2.º grupo de combate saíram do quartel do Lunho para uma operação ao monte XISSINDO os dois grpos de combate seguiam o trilho em que o capim era demasiado grande que escondia o sol e a luz do dia, percorridos vários quilómetros encontrámos duas palhótas que estavam desertas e de imadiato foram logo destruídas.Tomando todas as deligências os dois grupos de combate fizeram  de imediato um patrulhamento para verificar se alguns guerrilheiros da FRÉLIMO se encontravam perto do local mas nada foi visto.De regresso ao Lunho seguíamos pelo trilho em fila indiana que poucos quilómetros encontrámos dois trilhos paralelos o pessoal seguiu em frente e o soldado do 1.º grupo de combate Rogério Sampaio seguia em ultimo da fila e se descuidou entrou pelo trilho errado e se perdeu no capim sem que ninguém desse pelo acontecimento.Quando chegamos ao quartel do Lunho verificamos que faltava um elemento que tinha partido e não voltou.Todo o pessoal da companhia choravam aos gritos que tinha-mos perdido um amigo.Como tinha escurecido e não nos foi possível ir ao encontro dele.No dia seguinte o 2.º grupo de combate ao nascer do dia, saiu à procura do nosso camarada desaparecido. Seguimos os trilhos e a uns poucos de quilómetros tivemos um sensação muito grande quando o avistámos logo corremos ao seu encontro, abraçamos-nos com lágrimas de alegria pois tememos o pior. Foi encontrado muito debilitado.Quando chegamos ao quartel do Lunho todo o pessoal gritou de alegria e  foi para o 2.º grupo de combáte mais uma vitóra.O 2.º grupo de combate era chefiado pelo alferes Carvalho Duarte e pelo furriel Serafim Afonso que nunca teve qualquer medo do mato nem dos gerrilheiros da FRELIMO foi um heroi.Era um combatente que nos dava muita força e coragem.

Mês de FEVEREIRO de 1973.

 De 05 a 10 de Fevereiro efectuámos a operaçãoJAGUADI em direcção à base de segurança (OCHA) quando lá chegámos,destruímos uma palhota e cerca de 500m2 de culturas de milho.Feito o patrulhamento foram vistos dois guerrilheiros da FRELIMO armados. De imediato fizemos uma emboscada e o comandante dos dois grupos de combate o Furriel Rapôso de operações especiais (RANG.)  colocou-se por detrás de uma árvore e apontou a sua G.3 em ponto de rajada.Um dos guerrilheiros vinha a comer uma raiz de mandioca e quando se aproximou o  Furriel Raposo disparou a sua arma com uma rajada de tiros que o abriu de cima abaixo ficou morto no local com a raiz na boca e com os olhos abertos.Foi feito por nós um pedido de clemência ao Furriel Raposo pois éramos muitos e conseguíamos a sua captura sem haver necessidade de o abater mas o Furriel não nos deu ouvidos e o outro guerrilheiro  pôs-se em fuga.Foi feita a retirada do local e caminhámos em direcção ao Lunho em silencio total com o troféu que era a arma do guerrilheiro.Esse dia ficou marcado na memória de todos aqueles que assistiram a tanta crueldade.
A 15 de Fevereiro ,estava eu passeando pela parada do quartel do Lunho debaixo de um sol abrasador senti uma sede terrível fui de imediato em direcção a um barraco  feito de tijolos e coberto com chapas de zinco que tinha o nome de cantina.Entrei e pedi ao cantineiro  uma Laurentina uma  fresquinha . Acendi um cigarro e fui à secretaria onde fui ver a escala de serviço e lá se encontrava o meu n.º017516/72 Soldado corneteiro Bernardino Peixoto que tinha de fazer guarda ao posto de sentinela junto do depósito de géneros. No dia seguinte,13 de Fevereiro às 14 horas, pus as cartucheiras de munições á cinta e peguei na G.3 e me dirigi para o posto de sentinela levando comigo uma revista (crónica feminina)para ler e ajudar a passar as duas horas que tinha de estar naquele posto de guarda.De repente olho para o fundo da pista de aviação e vejo um vulto se aproximar e fiquei alertado. Peguei na G.3 e não mais desviei o olhar do vulto que se estava apróximar.Já muito perto de mim verifiquei que era um guerrilheiro da FRELIMO que se vinha render. Trazia a sua arma com as duas mão acima da sua cabeça.De imediáto corri para ele com a G.3 em punho e o gerrilheiro sem qualquer reacção  entregou-me a  arma  abraçou-me,chamando-me irmão.Fiquei muito comovido e com carinho fui entregá-lo ao Comando. O guerrilheiro chamava-se  SAMUEL. Conversando um pouco comigo ele contou-me  que não me alvejou porque não quis.Teve oportunidade de o fazer. A partir desse dia sempre que vinha ao Lunho para fazer de guia no mato ele vinha sempre à minha procura.Abraçávamo-nos.Nunca mais me esqueci desse homem que não quiz roubar a minha vida.
No dia seguinte 
15 de Fevereiro 1973,quando terminou a minha função de guarda, fui em direcção da minha caserna e deitei-me  na minha cama fumando mais um cigarro e escrevendo um aerograma para a minha noiva que muitas saudades já tinha
Em 28 de Maio de 1973,chegou ao Lunho a primeira parte do pessoal e de máquinas da 2.ª C. de Engª. O restante pessoal e material chegaram nos dias 29 e 30 . A C.cac.4141 de imediato suspenderam todas as operações para fazer a protecção à 2.ª C. Eng. A Operação Intervalo tem por finalidade a construção de uma picada do Lunho para Miandica e aqui recontruír um novo aquartelamento.
A 29 de Junho de 1973 um grupo de cinco guerrilheiros da FRÉLIMO atacaram com armas automáticas  e emboscaram uma viatura da nossa companhia sem consequências.A viatura seguindo a sua marcha foi detectou uma mina anticarro  que de imediáto foi levantada. 
A 04 de Setembro de 1973  detectámos  duas minas anticarro que de imediato foram levantadas. 
Em 31 de Janeiro de 1974 um grupo de gerrilheiros da FRELIMO atacaram durante 40 minutos o 
aquartelamento de Miandica com morteiro 82 BAZOOCA e armas automáticas ligeiras e pesadas sem consequências para as nossas Tropas
No dia 06 de Fevereiro de 1974 durante o trabalho da reconstrução do aquartelamento de Miandica  guerrilheiros da FRÈLIMO atacaram-nos e no final  foi capturada uma espingarda automática uma mina antigrupo 7 porta granadas de canhão sem recuo e não tivemos consequências.
Miandica, Capitão Cardoso da CART. 4141 e Silva Santos da 2ª BCAÇ 8420
A 13 de Fevereiro de 1974 a Frelimo com cerca de 10 elementos atacou durante 10 minutos a companhia de engenharia que se encontrava a desatascar uma viatura na picada do Lunho para  Miandica.De regresso ao Lunho uma viatura berliett da C.caç.4141  na picada da Miandica para o Lunho accionou uma mina anticarro a qual ficou praticamente destruída. Nessa viatura viajava algum pessoal que felizmente  só tiveram  ferimentos ligeiros. A picada do Lunho para Miandica começou a ficar intransitável sendo o pessoal reabastecido por  Helicóptero.
A 19 de Março de 1974 A C.Ç 4141 foi rendida no Lunho pela C.Art.7260 que tomou conta da zona, e a C.ca.4141  seguiu para Malema-Entre os Rios. 
De Malema-Entre os Rios embarcámos para a Cidade de Nampula para o regresso à Metrópole tendo chgado a Lisboa no dia 16 de Outubro de 1974.Foi o dia mais feliz da minha vida. 

MIANDICA O SEGREDO

quarta-feira, 29 de abril de 2009

MIANDICA, O SEGREDO

MIANDICA, O SEGREDO.

Por: Eduardo Mendonça
C.Caç 1559

Depois de termos percorrido a sinuosa serra do Catur chegámos finalmente a
Nesta localidade assistimos, imediatamente após a nossa chegada ao primeiro
acto bélico que nos deixou completamente perplexos por antevermos o que iria ser o nosso
futuro por terras do Niassa.
Fazendo um barulho ensurcedor, acabava de dar entrada em Vila Cabral uma
patrulha de milícias, comandada pelo lendário Daniel Roxo, que além de vário material
apreendido traziam também alguns prisioneiros.
Passado algum tempo fomos informados, pelo Cap.Veiga, que um pelotão
(reforçado) da nossa Compª iria render um outro, de Cavalaria,( C.CAV. 1607 ) sediado em
Miandica.
O escolhido foi o 1º pelotão comandado pelo Alf.Coelho, os Furriéis
Milhinhos, Dias, Lacerda e nós próprios.
Recebida a “ordem de marcha” seguimos, em coluna auto, rumo a Meponda
povoação que pela sua situação geográfica ( junto ao Lago de Niassa) e a curta distancia de,
cerca de 20 Kms, que a separa de Vila Cabral, se tornou antes da guerra, numa aprazível
estância balnear.
Nesta povoação, zona de intensa acção subversiva, encontrava-se a C.CAV.
1601, comandada pelo actual Major Mário Tomé mais conhecido, então, por “Capitão Inglês”.
Pelas 15 Horas do dia seguinte embarcámos em lanchas LDM que foram
fazendo escalas a fim de deixarem as outra unidades do Batalhão.
Nós, 1º Pelotão, desembarcámos no N`goo, pequeno aldeamento contituído
apenas por algumas palhotas.
Levando como bagagem a inseparável G3, cantil e 2 rações de combate,
iniciámos, assim, a dura caminhada rumo ao grande segredo que era MIANDICA.
Dada a nossa qualidade de estreantes no verdadeiro “palco” da guerra, à
medida que a marcha prosseguia mais os nervos se apoderavam de nós ao ponto de desconfi-
armos da nossa própria sombra…
Durante a noite enquanto descansávamos, uma fortíssima trovoada caiu
sobre nós provocando ainda mais o desânimo entre a rapaziada.
Pelas 17 horas, avistámos o local que nos iria acolher durante 2 infindáveis
meses.
O barulho, de alegria, feito pelo pessoal substituído (CAV 1507) era enorme deixando-nos por isso completamente atónitos : - Como iria ser possível viver em tais condições!
O destacamento, protegido por barreiras de terra, feitas pela máquina dum
pelotão CEngª 1531 que ali se encontrava a laborar a construção duma futura pista de aviação,
era constituído por abrigos escavados no chão e com 












chapas de zinco a cobri-los. Serviam, ao
mesmo tempo, para o pessoal dormir. Os mais afortunados tinham como cama uma saca de
batatas vazia, atada a dois paus evitando-se, assim, o contacto com o solo.
A comida escasseava, pois, além de latas com chouriço, carne de porco
Conservada em barricas com sal e pacotes de massa, alguns já com bicho, pouco mais
Poderíamos encontrar no nosso reduzido stock alimentar.
A água, elemento essencial para a sobrevivência de qualquer ser humano,
também era escassa visto o local de abastecimento ser, por um lado, de difícil acesso e perigoso
uma vez que, “Unimog” e secção de apoio terem de percorrer uma zona de pouca visibilidade,
por outro, a água ser recolhida num riacho e os bidões de 200 L serem cheios com púcaros o
que tornava a operação bastante morosa e perigosa.
Certo dia, já ao cair da tarde, regressava a secção do Milhinhos ao
destacamento, após ter efectuado a segurança à máquina de engenharia, quando foi surpreendida
por um intenso tiroteio vindo do interior da mata. Viso que a progressão da secção ser efectuada
em campo aberto receámos o pior, mas, graças à pronta intervenção dos elementos que se
encontravam aquartelados, com especial destaque para o soldado mec. de engª o “Alfama”
e o homem da bazuca de seu nome “Marinheiro”, o inimigo pôs-se em fuga, chegando os nossos amigos são e salvos.
Recordamos ainda o dia em que tivemos a visita, inesperada, do Comandante
do sector “A”. Provavelmente, terá sido esta a recepção mais “sui generis” de toda a sua carreira militar.
Após verificarmos de quem se tratava, foram dadas ordens a todo o pessoal, não
se descorando a segurança . Devidamente “ataviados” (tronco nu, em cuecas, barba e cabelos
compridos) assim o fizemos.
Com olhar indignado, perguntou o Ten.Cor.: 












Mas que é isto? Será que estou na presença de um bando de marginais?
Depois de devidamente elucidado da forma como a ida do pelotão para
Miandica se processou, sem hipótese de levarmos qualquer objecto pessoal, louvou-nos o Com.de Sector pelo espírito de sacrifício patente em todos nós.
Não seria justo falarmos de Miandica e não recordar uma figura que nos
Acompanhou desde a estação de Mutuali. Referimo-nos, ao “Leão” nome dado ao cão, de raça
pastor alemão, que quando embarcámos na estação de comboios de Mutuali, rumo ao Niassa,
entrou na nossa carruagem nunca mais nos abandonando. Além de excelente sentinela, era ainda
quem nos avisava que dentro de momentos estaria a chegar a avioneta de reabastecimento.
Infelizmente, para nós, que este alerta foi dado poucas vezes…
Já vão longos, estes respigos sobre a nossa viagem e estadia em Miandica.
Porém, estamos convictos que tudo o que foi escrito não passa duma pálida imagem do que foram os dois meses passados naquela região.
Por isso, ainda hoje decorridos todos estes anos recordar MIANDICA se torna
Um verdadeiro pesadelo!!!

Texto transcrito da Revista nº 2 “O Batalhão” de 1996

Eduardo Mendonça

MORTE EM MIANDICA

Por: António Carvalho
CCAÇ 1558

Fiz parte do ultimo grupo da Companhia Caçadores 1558 que foi destacado para Miandica.

Não vale a pena descrever as más condições, a todos os níveis, que lá passámos nos 3 meses que durava o destacamento, pois isso é do conhecimento de uma grande parte dos ex-militares que compunham o Batalhão de Caçadores 1891. Desde a falta de comida, correio, tabaco que foi muitas vezes a nossa única companhia.

Mas vou descrever um episódio, o último naquele lugar longe de tudo.

No dia 25 de Fevereiro de 1968, estava para chegar o novo grupo de combate que nos ia substituir, para podermos regressar a Nova Coimbra já que o nosso tempo de comissão estava a terminar.

Antes da chegada, combinamos com todos , o Alferes Quintas, que substituiu o alferes Sancho por ter sido ferido em combate, resolveu pregar uma partida aos “Checas”, trocando todos os postos, tendo ele passado a soldado e cabendo a mim o galão de Alferes.

Quando chegaram os novos, depois de termos recebido as instruções para o novo desempenho de funções, dirigi-me ao Alferes que comandava os “Checas” e apresentei-me como sendo o Alferes Quintas.
Todos com os Postos trocados
Depois de uma curta conversa, comecei a mostrar as instalações, que eram fáceis de visitar, pois quase nada havia.

Andei por cima da barreira que nos protegia, com o já citado novo comandante, explicando-lhe quais as zonas consideradas mais perigosas e de possíveis ataques.

Passado algum tempo e conforme já previamente combinado, separei-me por uns momentos do meu interlocutor e rapidamente voltámos aos respectivos postos, coloquei os meus óculos escuros, graduados, para não ser facilmente reconhecido e então o verdadeiro alferes Quintas tomou o seu posto e foi ter com o seu homologo, contando-lhe a brincadeira a que tinha sido submetido.

Eu fui ter com o meu colega enfermeiro que me ia render e entabulei então a conversa normal de mais Kokuana para Cheka, dizendo-lhe que a zona era perigosa, sujeita a ataques, que ainda não tínhamos tido nenhum por sorte, e que a vida ali era dura.

Recebi como resposta “isso é conversa de Kokuanas para nos meterem medo, pois em Nova Coimbra disseram-nos que havia muitas minas pelo caminho e nada nos aconteceu” .

Cerca das 16.50 horas, quase mal tínhamos acabado esta conversa, sofremos sim um ataque, como penso ainda não se tinha registado por ali, a partir do mato junto à pista de aterragem, com morteiros, bazucas e canhão sem recuo.

Com a surpresa e porque os novos, segundo penso que foi essa a informação que eles me transmitiram, tinham chegado directamente da metrópole, não tendo qualquer experiencia de guerra, muitos, tiveram como reacção deitarem-se no chão não crendo no que lhes estava a acontecer.

Coube-nos a nós, KOKUANAS, rechaçar o ataque, e não me esqueço daquele acto do nosso colega, que não me lembro o nome mas a alcunha “França” que saltou para cima da barreira de protecção e a descoberto, com raiva descarregou os carregadores da G3 para a zona de onde provinha o ataque.












Mas, infelizmente a primeira granada que é disparada pelo inimigo cai dentro do acampamento e mata o meu grande amigo Fernandes, que era o padeiro e que ao sentir o ataque desloca-se á barraca que nos servia de abrigo, buscar a G3 e quando ia para a barreira foi atingido, ficando com a cabeça quase desfeita, (o Fernandes está na foto ao lado a almoçar e com uma caneca na mão).

Mas o pior estava para acontecer, como o ataque tinha sido perto das 17 horas, e o inimigo também sabia, a aviação já não nos podia socorrer, embora tenha sido pedida a evacuação via rádio, ainda a 25 de Fevereiro.

No dia 26 de manhã, apareceu o helicóptero para a fazer a evacuação, só que não havia feridos, mas um morto.

O Alferes Quintas recebeu como resposta que não evacuavam mortos e que teríamos de o enterrar no mato em Miandica, tendo o mesmo dito que isso não faria, mas o carregaríamos mais de 40 km a corta mato, às costas, até Nova Coimbra, já que íamos regressar no dia seguinte aquele quartel para regressarmos a Portugal.

O comandante da aeronave, penso que tocado no coração, resolveu levar, contra todas as ordens, o corpo para Nova Coimbra.


António Carvalho
CCAÇ 1558

terça-feira, 29 de maio de 2018

2014 Operação Atum :Transporte de Lanchas,para o lago Niassa!

terça-feira, 2 de dezembro de 2014


Operação Atum :Transporte de Lanchas,para o lago Niassa!


Finalmente. A Lancha em terra
Em 1963 foram inauguradas as instalações do (Comando da Defesa Marítima dos Portos do lago Niassa). Quase um ano antes do início do conflito armado na província do Niassa, (Setembro de 1964 – Cobué), a marinha portuguesa, aproveitando a lição recolhida com os acontecimentos de Angola, antecipou-se às previsíveis dificuldades no noroeste moçambicano e criou uma estrutura que se revelou de capital importância até aos últimos dias do conflito.
Trabalhos épicos. A transposição de lanchas"LDM" e "LDO"sobre uma ponte ferroviaria

Agregado a este comando foi mais tarde criado o CELN, (Comando de Esquadrilhas de Lanchas do Niassa). Esta estrutura visava manter a vigilância e controlo das águas territoriais do lago Niassa; apoiar no transporte e cooperação de forças terrestres e aéreas; assumir a defesa do apoio logístico às bases da Marinha no lago, assim como aos Destacamentos de Fuzileiros ali presentes. Deveria ainda promover apoio aos serviços e missões hidrográficas. 
Na foto de cima. a LFP "REGULUS" na estação de Belém. Em Baixo a demonstração de mais uma grande obra de Engenharia. A LDM 404 a atravessar um Ponte

Os primeiros navios que ficaram colocados sob comando do CELN foram as LFP (Lanchas de Fiscalização Pequenas), “Castor” e “Régulus”, em 21 de Novembro de 1963 e 23 de Novembro de 1965 respectivamente. O transporte desta última revestiu-se de particular dificuldade, não só porque foi o primeiro realizado com o conflito armado já em curso, mas também porque durante a viagem ocorreu um descarrilamento da plataforma ferroviária que suportava a lancha o que provocou um deslocamento da embarcação cuja reposição se revelou difícil. Com estes dois navios chegaram ainda 2 LDM e 2 LDP, (Lanchas de Desembarque Médias ou Pequenas). Estas duas LFP vieram a ser cedidas ao Malawi, em 1970, ao abrigo de um acordo secreto, que obrigou a novo baptismo das embarcações para “John Chilembwe” e “Chibisa” respectivamente. A 20 de Maio de 1975 foram cedidas a título definitivo àquele país africano.
Nos primeiros dias de Setembro de 1965 chegaram ao porto de Nacala mais duas LFP, a saber, as lanchas “Mercúrio” e “Marte”. As tentativas de encalhe dos navios nas plataformas ferroviárias resultaram num fracasso, pelo que os Caminhos-de-ferro de Moçambique desistiram da operação, tendo as lanchas voltado ao mar. O Comando Naval de Moçambique lança então uma grande operação, envolvendo forças de terra e mar, para realizar o transporte das embarcações até Meponda, onde seriam colocadas nas águas do lago. A operação recebeu o nome de código “Atum”e teve início a 13 de Setembro de 1965.
Chegada ao Catur. Transposição do transporte ferroviário para o rodoviário. Na foto de cima a LFP "MERCÚRIO".Na de baixo a LDM "404"

O problema do encalhe das embarcações foi resolvido pelo Engº Lino Ferreira e pelo Capitão de Mar e Guerra Pedro Mouzinho, que construíram para o efeito uma linha férrea literalmente até dentro de água do Oceano Índico. Foi depois necessário esperar pela maré alta para que os carris ficassem submersos, colocando-se as embarcações sobre estes e esperando pela vazante para que aquelas ficassem na posição certa quando os carris estivessem novamente fora de água.
A operação de transporte decorreu sob comando de um oficial do Comando Naval de Moçambique, e contou com escolta do agrupamento de Comandos formado meses antes na Namaacha, que garantiu a segurança a homens e material. Ao oficial que comandou esta força do exército, Alf. CMD Cabral Sacadura, foi ainda atribuída a responsabilidade de autorizar ou não, a circulação de comboios entre o Lumbo e Catur, para que esta não colidisse com o transporte das lanchas.
Finalmente Meponda. AS Lanchas no seu habitat natural
Ao longo do percurso foi necessário destruir alguns muretes que serviam de guardas das pontes, dando largura suficiente para que as lanchas atravessassem aquelas obras de arte. Em alguns locais construíram-se autênticos castelos com travessas em madeira, para elevar as embarcações e vencer dessa forma os obstáculos no percurso. Deve-se salientar que a tracção manual foi a única utilizada nos momentos em que surgiram dificuldades de circulação do género das descritas, numa operação verdadeiramente épica.
A Operação“Atum” terminou a 19 de Dezembro de 1965, quando as lanchas navegando desde Meponda, chegaram a Metangula, e a escolta regressou ao Lumbo. O percurso incluiu aproximadamente 500km em via-férrea, e depois 250 km por via terrestre, quantas vezes sinuosa, onde a improvisação foi a solução para cada contratempo.
Em 1967 o CELN recebeu as últimas embarcações, duas LFP, “Saturno” e “Urano”, assim como 2 LDM. Estas embarcações completaram a força naval no lago Niassa. 

Viagem de Meponda para Metangula
Chegada de tropas a Metangula. Quantos milhares de Portugueses fizeram este percurso


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