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Livros da guerra colonial

Miandica terra do outro mundo


segunda-feira, 29 de abril de 2024

2ª PARTE (6º CAPÍTULO) DO LIVRO: O FIM DA LUTA DE LIBERTAÇÃO NACIONAL EM MOÇAMBIQUE. "OPERAÇÃO OMAR" 1 DE AGOSTO DE 1974 . LIVRO DE ATANÁSIO SALVADOR TUMUKE


 8.3.2. Negociações Locais

Os contactos com os comandantes de alguns quartéis portugueses, em Moçambique, tiveram início no mês de Julho de 1974, altura em que recebemos o primeiro sinal para as negociações. Os comandantes dos quartéis, estacionados nas províncias de Cabo Delgado, Niassa e Tete emitiram uma série de cartas, em busca do cessar-fogo local. Tínhamos recebido uma missiva, na Base Beira, com a designação "Quem Assina", dirigida a Aníbal Malichocho, na qualidade de Chefe do Departamento de Defesa Provincial. A mesma fora enviada pelo comandante de Mueda, Coronel António de Andrade Lopes, que viria a ser substituído pelo Tenente Coronel Vilhena de Andrade.      A resposta à missiva recebida em Julho, foi respondida a 15 de Agosto, depois da Operação Omar. Seguidamente, preparámos um emissário, nomeadamente, Jacob Bragança Daniel para contactar o Comando de Mueda. Depois deste, chegou a vez da nossa deslocação a Mueda, uma delegação que integrava a mim, o camarada Salésio Nalyambipano, João Vingambude e Cesário Nantimbo (Operador de rádio). Fazia-mo-nos acompanhar por 1 pelotão de guerrilheiros que, entretanto permaneceu escondido na mata, em prontidão combativa. Nas proximidades da vila fomos recebidos pelo Capitão Carvalho, pára-quedista, na qualidade de emissário do Comandante do Sector B, Tenente Coronel Vilhena de Andrade. Já tinha havido entendimento entre os beligerantes para a fixação de um lugar, nas proximidades so Quartel de Mueda, a partir do qual os guerrilheiros, poderiam acenar para a tropa colonial, com um pano branco, como sinal de Paz.

Da esqª para a dirª Atanásio Mtumuke, Capitão Carvalho (pára quedista)        Armando Abel Assikala (com gravador) e Salésio Nalyambipano


Em Mueda recebeu-nos o Comandante do Sector B, para uma reunião que culminou com o estabelecimento  de um tácito cessar - fogo local (Cabo Delgado). Foi um encontro cordial. Lembro-me que o Presidente Samora tinha nos orientado para que aceitássemos tomar bebidas espirituosas, caso nos servissem, para não nos fazerem passar por boçais. Por conseguinte, entre outras bebidas, fomos servidos com wisky. Eu, que na minha vida nunca tivesse consumido este tipo de bebida, acabei tomando, mas com moderação, misturando-o com GingerAle, tanto mais que não nos sentíamos seguros naquele ambiente de desconfiança mútua.

                              Primeiras conversações locais em Mueda: Atanáso Mtumuke,                              Ten,Cor. Vilhena de Andrade e Cap. Carvalho

Eternizando estas negociações, Nalyambipano, no seu livro "A minha contribuição para a Independência e  Edificação do Estado Moçambicano, refere que um dos aspectos aflorados foi o interesse da FRELIMO em terminar a guerra., desde que a contraparte colaborasse.                      Ainda em Mueda, tínhamos agendado um encontro para a Base Beira, em retribuição à convivência sã havida na Vila. Convidámos os comandantes militares portugueses, mas por razões pouco claras, estes não compareceram, não obstante os preparativos nesse sentido. Recordo-me que a pista para a aterragem dos helicópteros estava completamente limpa. Suspeitámos que a desconfiança no que toca à sua segurança terá motivado esta ausência Porém, a situação foi ultrapassada, e outros encontros, essencialmente de confraternização, teve lugar em Nangade.

No centro e de costas o Major Fernando Augusto Ferro , Armando Abel Assikala, Atanásio Mtumuke ladeados por dois capitães


A respeito da visita a Nangade, Matilde Estevâo Bento, que integrava o grupo cultural que levámos, deixou a seguinte memória:

Lembro-me que eu, a Hilária Duarte e outros camaradas fomos mandados para Nangade para acompanharmos os chefes. De entre eles estava o Chefe Salésio, o Chefe Mtumuke e o Chefe Assikala. Fomos com os nossos fotógrafos, o José Soares e o Artur Torohate.                                      Retenho na minha memória o convívio que tivemos com os soldados portugueses, o que antes era impossível.

Enquanto estávamos em Nangade, houve revolta no quartel colonial de Meluco. Os soldados portugueses exigiam a presença de um representante da FRELIMO, para dirimir o conflito. A pedido d Tenente Coronel Vilhena de Andrade, destacámos Armando Abel Assikala, que o acompanhou a Meluco. Ao se aproximarem à pista tiveram dificuldades na aterragem do avião, porque  os soldados portugueses tinham colocado abatis (obstáculos). Retiraram-nos depois de terem  tomado conhecimento da presença do nosso representante, na aeronave.                                 No diálogo, Assikala mobilizou a tropa colonial no sentido de parar com a rebeldi,rea, explicando-lhe que estávamos em conversações para o alcance de um cessar fogo local. É interessante notar que a tropa colonial acatou as palavras de Assikala, regressando ao clima de normalidade. Ainda em Meluco, o Comandante da Companhia irritado, ameaçou o Vilhena de morte a tiro. Estem em jeito dede resposta àquela atitude, manifestando uma certa vergonha perante o nosso Comando, já em Nangade, dirigiu-se ao Chefe Salésio, nos seguintes termos:

"Desculpe Sr. Comandante, aquele homem de pistola, eu ou limpar"

Estes episódios denotam o cansaço que pairava no seio dos soldados portugueses, manifestamente pela desordem e perca de confiança em relação aos seu superiores hierárquicos. O paradoxal pedido de apoio à FRELIMO, pode ter significado o reconhecimento do papel vital que esta desempenhava no processo do cessar fogo local.

À esqª o edifício, residência do Comando do Secto B. 



Matilde Estevão Bento

Da esqª para a Dirª Artur Torohate, Daniel Maquinasse e Simão Matias 
Fotógrafos da FRELIMO




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