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Livros da guerra colonial

Miandica terra do outro mundo


segunda-feira, 4 de novembro de 2019

PERIPÉCIA "II" DA CCAÇ 4141 no LUNHO


Entrei na arrecadação pela porta que dava para o posto da “Breda”
A porta da frente fechada e o Perdigão através da rede do postigo olhava
para a parada.
Que se passa? ...Indaguei
A custo lá foi dizendo ...
O Alferes veio aqui com um rolo de fita adesiva e levantou umas
“verdinhas”.... e atou-as. Espera que já vais ver!!
E sem arredar da porta olhava para o lado do quarto pelotão.
E mais não adiantou.
Fiquei naturalmente curioso e a partir daquele momento também me
posicionei como espectador, tentando observar tudo e todos que andavam
pela parada e esperando o resultado que calculei seria ruidoso.
A manhã ia a meio.
Estava no mato a decorrer uma operação operação a nível de companhia e um grupo
tinha saído em duas viaturas para o lado de Nova Coimbra, se a memória
não me falha.
No quartel quase só “aramistas”, como os ossos companheiros designavam
todos os não profissionais do gatilho e os que com regularidade não saiam
do quartel para as operações na mata ou na picada.
Talvez nesse dia lá estivéssemos poucos mais que dezena e meia.
Hoje a nove dias de comemorarmos quarenta e cinco anos do nosso
regresso a Lisboa, relato o que observei e que por certo será uma pequena
parcela desta história que companheiros aqui presentes mais saberão.
Para quem mais privou com o nosso segundo sargento sabe que ele
parodiava um pouco com as palavras e com as situações. Foi o que fez
quando um dia me falou de um ataque sofrido durante uma comissão que
tinha feito salvo erro em Angola.
Comigo a conversa foi sobre a hipótese de a qualquer momento levarmos
umas morteiradas e da observação que lhe fiz acerca das vigas de ferro e
dos sacos de areia no telhado da caserna, onde ele e o nosso primeiro
habitavam e que os protegia, em contraste com as restantes.
Proteção suficiente no meu entender em caso de ataque para eles nada
sofrerem.
Olhou-me e com ar sério e com resposta rápida afirmou.
Não senhor!
A velha ponte do Lunho
Que correria para o abrigo subterrâneo e que era muito rápido a correr ...
que em Angola tinha sido tão rápido a chegar a um que passaram a
conhecê-lo pelo “Zatopek da mata”. Saiu-lhe aquela para parodiar comigo
por certo.
Achei graça com a comparação feita ao grande corredor Checo e nem por
sombras imaginei a cena que no futuro observaria no Lunho.
Naquela manhã entre a caserna do quarto pelotão e o monte da lenha no
meio da parada, andava o nosso primeiro em calções e troco nu com a
dificuldade conhecida, (obra do reumático segundo dizia) e ao mesmo
tempo ia rodando as mãos sobre o peito. Gesto frequente durante os
passeios que fazia pelo quartel.
Eu e o Perdigão continuávamos a olhar para a parada sem saber o que
iríamos ver ou ouvir.
O estrondo foi enorme, as chapas do telhado rangeram e a coluna de pó era
bem alta acima dos telhados por detrás das transmissões.
Não sei quantas granadas rebentaram ao mesmo tempo.
O nosso primeiro correu com tal velocidade em direcção ao abrigo entre a
cantina e a messe que eu juraria até aquele momento, ser impossível
alguém com tanta dificuldade de movimentos conseguir.
Os calcanhares batiam nas nádegas.

A nova ponte do Lunho
Lembrei-me do Zatopek e da conversa do nosso segundo, mas não me
recordo se também ele testou na prática a fama de velocista.
Eu e o Perdigão rimos a bom rir com a cena. Por certo também mais alguns
e uns tantos apanharam um valente susto.
Deste exercício de fogo real, efetuado pelo nosso alferes para testar a
reação dos aramistas em caso de ataque, aqui vos deixo o relato do que
vimos através da janela da arrecadação num dia em meados do ano de
1973.

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