A COMPANHIA DE CAÇADORES ESPECIAIS 264 |
Até que chegou o 23 de Agosto de 1961, o dia do nosso embarque para Moçambique, fazendo parte da Companhia de Caçadores Especiais (CCE) 264.
Embarcámos no Paquete "Príncipe Perfeitos" e foi uma viagem quase turística com paragem em Luanda, Lobito, Cape Town, Lourenço Marques, Beira e Nacala e aqui desembarcámos e por via férrea fomos até à povoação de Namialo, no Distrito de Moçambique, onde chegámos, no dia 16 de Setembro.
Comandaram a CCE 264:
Capitão António Tomás da Costa
E os oficiais:
Alferes António Carlos Fernandes Gomes
Alferes Milº José Manuel Mota Tavares Ferreira
Alferes Adelino da Costa Santos Leite
Alferes Milº José António Bertão ribeiro
Alferes Milº José Maria Braga F. Soares de Brito
Alferes Milº Emanuel Nunes
Alferes Milº Médico Henrique José Gonçalves
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O Quartel no Namialo (CIRCO) |
Ficámos alojados nos armazéns e nas casas que a Companhia dos Algodões nos cederam. O meu Pelotão ficou no posto médico. Não havia quartel, (estava a ser construído), não havia viaturas e não havia armamento para distribuir. Enquanto ajudávamos na construção do quartel, ia-mos fazendo todo o serviço que o dever militar nos obrigava. Eram patrulhas de reconhecimento constantes
Na construção do quartel |
Depois do quartel feito, o trabalho continuou e fomos fazer o parque das viaturas. Nas obras sempre tivemos o apoio da população para a sua execução.
Na primeira patrulha de que fiz parte fui armado com uma catana que um elemento da população me emprestou.
A REDE CAMUFLADA
Na foto, o Caldeira e o "Caparica" os autores da passarinhada |
Claro que sim, E há muito tempo que não os como.
Então vamos armar aos pássaros.
Resolvemos juntar as duas redes, a minha e a dele e fizemos uma rede de apanhar pássaros.
Como o meu amigo era pedreiro na vida civil, tratou logo de fazer uns bebedouros que todos os dias íamos encher de água e colocar migalhas de pão, para os acostumar ao lugar.
Depois de a passarada estar acostumada foi altura de se armar a rede. Na primeira vez apanhámos 70, que depois de depenados e arranjados estavam prontos para fritar. E aqui surgiu o problema. Como os fritar. Fui ter com o cabo cozinheiro para ele entrar no petisco, com a condição de ele arranjar a frigideira e um pouco de azeite. E ele lá arranjou a frigideira, o azeite e acrescentou umas rodelas de chouriço. Foi feito o petisco que "marchou" bem regado com umas "bazucas" Laurentinas
FUTEBOL
A equipa de futebol da CCE 264. Sou o 1º à esquerda e em baixo |
A AVARIA
A "CANADIANA" avariada |
Lá chegou a ajuda pedida, que reparou a a avaria e retomámos a viagem.
Chegámos a Quitaxe, uma povoação à beira-mar e fomos falar com o Administrador a quem se fez o relato do acontecido. O Administrador fez então uma pergunta:
E já comeram alguma coisa? O que o nosso Alferes, um pouco atrapalhado disse que sim.
Eu não me contive e contei toda a verdade. O Administrador apenas respondeu: Estejam à vontade que eu volto já. Quando regressou convidou todo o pessoal para ir para o salão, onde já estava uma mesa posta para todos nós. Ficámos em dúvida, pois o nosso aspecto não era o melhor para entrarmos naquele salão, mas perante a insistência do Administrador lá entrámos.
Apareceram os "Mainatos" (empregados) com várias travessas de comida. Peixe fresco da praia local, cervejas, pão, frutas e doces.
Depois dos agradecimentos e da despedida confirmou-se o ditado: Não há fome que não deu em fartura.
AS GALINHAS
Devem pensar, mas esta malta só vivia para os petiscos. Nós éramos uns meninos na flor da idade e o apetite era maior do que a nossa idade.Nos vários patrulhamentos que se faziam comprava-se aos autóctones algo para o petisco, galinhas ou cabritos.
Uma vez comprámos alguns frangos, que andavam sempre à solta no quartel, comendo o que encontravam. Um dia, reparámos, que os frangos que já eram galinhas ou galos tinham desaparecido. alguém os comeu foi o pensamento. Mas não. Verificámos que uma das galinhas tinha aparecido com os pintos atrás. E lá foram crescendo, os pintos já eram grandes quando um dia fomos surpreendidos com a notícia que a Companhia tinha ordem para seguir para Nacala para rumar a Mueda. O transporte de Nacala até Mocímboa da Praia seria na fragata de guerra "D.Francisco de Almeida"
De Nacala para Mocímboa da Praia |
MUEDA
Vindos de Nacala desembarcámos em Mocímboa da Praia com destino a Mueda em Fevereiro de 1963.
Fevereiro de 1963 a CCE 264 a chegar a Mocímboa da Praia |
Era nosso hábito, quando alguém do nosso grupo fazia anos, tinha que haver festa de aniversário. Não havia bolos nem velas, mas havia sempre almoço ou jantar reforçado. E em Mueda mantivemos o osso hábito. O petisco era sempre galinhas ou cabritos que se compravam nas patrulhas de reconhecimento. Um belo dia em Mueda um dos elementos do grupo, um 1º Cabo, natural de Matosinhos fazia anos. Temos que fazer o almoço, foi o pensamento geral. Mas tínhamos um problema, não havia galnhas nem tão pouco cabrito. Eu resolvo este "milando"- disse eu. Fui ter com o Administrador de Mueda, que tinha um rebanho de cabras e cabritos e contei-lhe o que costumávamos fazer.
- O que é que o nosso Cabo pretende- perguntou
-Pretendia peir ao Sr. administrador que nos emprestasse um cabrito do seu rebanho que nós, no próximo reconhecimento trazemos para o darmos ao Sr.
- Muito bem, assim seja, vou dar ordem ao guardador do rebanho para vos dar o cabrito.
O petisco foi realizado e comido no depósito de captação de águas de Mueda.
Posto de águas de Mueda. O cabrito foi aqui degostado |
A Companhia recebeu ordens em 14 de Setembro de 1963 ordem para abandonar Mueda e regressar a Namialo e o pagamento do cabrito não foi cumprido. O Administrador, não se deve ter preocupado muito com isso, o seu rebanho era enorme.
AEROPORTO DE MUEDA
No meu tempo em Mueda havia um pequeno aeródromo, que apenas tinha um avião que era pilotado pelo meu grande amigo, o Sargento Freitas, que teve a desventura de cair no mato, onde faleceu. O sargento Freitas, quando regressava de patrulha tinha o hábito de sobrevoar o quartel e com as suas acrobacias fazia a delícia do pessoal. Um dia, em que estava de serviço ao aeródromo, disse-lhe que não compreendia a razão de ao aterrar ter de ir até ao final da pista e depois voltar para trás e entrar no hangar. Bem observado respondeu ele, amanhã vou tentar entrar directo. Claro que não entrou, uma das asas do avião arrancou muitos metros da rede....Resultado, mas de um mês sem avião em Mueda.
REGRESSO AO NAMIALO
De regresso ao Namialo onde ficámos até 22 de Fevereiro de 1964. Neste dia deslocámos-nos para Nacala, onde nos espera o Paquete "Niassa" para nos trazer de volta a Portugal. Chegámos a Lisboa em 15 de Março de 1964.
No cais de Alcântara fui descartado como a mercadoria fora do prazo de validade.
Segui para casa com os meus familiares que estavam à minha espera, para no dia seguinte ir ao Batalhão de Caçadores 5, fazer o espólio do fardamento que me havia sido confiado.
Texto e fotos de:
António Caldeira
1º Cabo da CCE 264
Em Setembro de 1975 vim de Angola no navio Niassa. Também fui descartado, o barco atracou ao cais, põe a escada e aí vai ele para casa. Não fizemos espólio porque na viagem deitamos as fardas ao mar, salvo erro, só ficamos com a farda de saída.
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