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Livros da guerra colonial

Miandica terra do outro mundo


domingo, 15 de dezembro de 2019

COMPANHIA de CAÇADORES ESPECIAIS 264

                                                  NAMIALO
                          
                                                                    
                                  O COMEÇO

A COMPANHIA DE CAÇADORES ESPECIAIS 264
No dia 11 de Abril de 1961 dei entrada no Batalhão de Caçadores 5, em Campolide-Lisboa, para cumprir o serviço militar obrigatório. Na formatura do dia seguinte o Comandante do Batalhão de Caçadores Especiais 260 traçou logo o nosso destino. Não sabem mas vão ficar a saber que estão  todos mobilizados para o Ultramar, disse ele. Depois foi a recruta e o aprender as mil e uma maneira de combater a guerra de guerrilha. Foram tempos muito duros que me iam dando cabo do físico.
Até que chegou o 23 de Agosto de 1961, o dia do nosso embarque para Moçambique, fazendo parte da Companhia de Caçadores Especiais (CCE) 264.
Embarcámos no Paquete "Príncipe Perfeitos" e foi uma viagem quase turística com paragem em Luanda, Lobito, Cape Town, Lourenço Marques, Beira e Nacala e aqui desembarcámos e por via férrea fomos até à povoação de Namialo, no Distrito de Moçambique, onde chegámos, no dia 16 de Setembro.
Comandaram a CCE 264:
Capitão António Tomás da Costa
E os oficiais:
Alferes António Carlos Fernandes Gomes
Alferes Milº José Manuel Mota Tavares Ferreira
Alferes Adelino da Costa Santos Leite
Alferes Milº José António Bertão ribeiro
Alferes Milº José Maria Braga F. Soares de Brito
Alferes Milº Emanuel Nunes
Alferes Milº Médico Henrique José Gonçalves
.
             O QUARTEL (CIRCO) NO NAMIALO

O Quartel no Namialo (CIRCO)
O Namialo não tinha quaisqueres condições para uma companhia do Exército. Quase nada havia à nossa espera . Não havia quartel, não havia viaturas, não havia armamento( apenas existiam meia dúzia de Mausers),
Ficámos alojados nos armazéns e nas casas que a Companhia dos Algodões nos cederam. O meu Pelotão ficou no posto médico. Não havia quartel, (estava a ser construído), não havia viaturas e não havia armamento para  distribuir. Enquanto ajudávamos na construção do quartel, ia-mos fazendo todo o serviço que o dever militar nos obrigava. Eram patrulhas de reconhecimento constantes

Na construção do quartel
O quartel foi por nós acabado de construir (esse quartel era conhecido por CIRCO devido a se parecer como tal).
Depois do quartel feito, o trabalho continuou e fomos fazer o parque das viaturas. Nas obras sempre tivemos o apoio da população para a sua execução.
Na primeira patrulha de que fiz parte fui armado com uma catana que um elemento da população me emprestou.
                                      A REDE CAMUFLADA           

Na foto, o Caldeira e o "Caparica" os autores da passarinhada
Quando me distribuíram o fardamento, para levar para Moçambique, dele fazia parte uma rede camuflada que servia para nos proteger dos mosquitos. Um de nós, que era como irmão, era o Caparica, que um dia chegou perto de mim e de rompante me perguntou:Gostas de passarinhos fritos?
Claro que sim, E há muito tempo que não os como.
Então vamos armar aos pássaros.
Resolvemos juntar as duas redes, a minha e a dele e fizemos uma rede de apanhar pássaros.
Como o meu amigo era pedreiro na vida civil, tratou logo de fazer uns bebedouros que todos os dias íamos encher de água e colocar migalhas de pão, para os acostumar ao lugar.
Depois de a passarada estar  acostumada foi altura de se armar a rede. Na primeira vez apanhámos 70, que depois de depenados e arranjados estavam prontos para fritar. E aqui surgiu o problema. Como os fritar. Fui ter com o cabo cozinheiro para ele entrar no petisco, com a condição de ele arranjar a frigideira e um pouco de azeite. E ele lá arranjou a frigideira, o azeite e acrescentou umas rodelas de chouriço. Foi feito o petisco que "marchou" bem regado com umas "bazucas" Laurentinas
                              FUTEBOL
A equipa de futebol da CCE 264. Sou o 1º  à esquerda e em baixo
No Namialo os dias iam passando quase todos iguais. Patrulhas de reconhecimento e contactos com as populações que viviam no mato eram constantes. Quando se estava no quartel não se estava escalado para qualquer serviço o futebol era o nosso entretenimento. Faziam-se torneios entre Pelotões, mas o que dava mais nas vistas era a equipa de futebol da Companhia  que ficou conhecida por todo o Distrito. por ter ganho ao Sporting e ao Benfica de Nampula..De tal maneira que o Sporting Clube de Nampula escolheu (digo escolheu porque  não era possível contratar) seis jogadores da nossa equipa, nos quais eu estava incluído. O Benfica escolheu quatro. E foi graças ao futebol que fiquei a conhecer muitas localidades do Distrito.

                             A AVARIA 
A "CANADIANA" avariada
Nos muitos reconhecimentos que tomei parte utilizávamos as viaturas que tínhamos. Eram as "Canadianas" (que tinham estado na 2ª guerra Mundial), alguns jeeps e Hunimogs. Quando se ia para o mato não se levava comida (ainda não havia por lá a célebre ração de combate)e todo o pessoal ia abonado com dinheiro para comprar comida, desde que houvesse onde a comprar. Num desses reconhecimentos, em que tomei parte, ia uma "Canadiana" e um Jeep. A certa altura a "Canadiana" avariou, mas logo numa de desenrascanço se passou um cabo como o Jeep a puxar. Só que o Jeeep, talvez devido ao "esforço" deu o "berro". Ficámos apeados em plena picada. Tentámos o contacto com o quartel, a pedir ajuda, mas só muitas horas depois de conseguiu o contacto. Entretanto a fome começou a apertar, pois estávamos numa zona onde nem mandioca havia. Um dos meus  camaradas teve que entrar no mato para fazer uma necessidade fisiológica e quando voltou vinha com uma abóbora. Foi de imediato assaltado e a abóbora soube a melancia.
Lá chegou a ajuda pedida, que reparou a a avaria e retomámos a viagem.
Chegámos a Quitaxe, uma povoação à beira-mar e fomos falar com o Administrador a quem se fez o relato do acontecido. O Administrador fez então uma pergunta:
E já comeram alguma coisa? O que o nosso Alferes, um pouco atrapalhado disse que sim.
Eu não me contive e contei toda a verdade. O Administrador apenas respondeu: Estejam à vontade que eu volto já. Quando regressou convidou todo o pessoal para ir para o salão, onde já estava uma mesa posta para todos nós. Ficámos em dúvida, pois o nosso aspecto não era o melhor para entrarmos naquele salão, mas perante a insistência do Administrador lá entrámos.
Apareceram os "Mainatos" (empregados) com várias travessas de comida. Peixe fresco da praia  local, cervejas, pão, frutas e doces.
Depois dos agradecimentos e da despedida confirmou-se o ditado: Não há fome que não deu em fartura.

                          AS GALINHAS
Devem pensar, mas esta malta só vivia para os petiscos. Nós éramos uns meninos na flor da idade e o apetite era maior do que a nossa idade.Nos vários patrulhamentos que se faziam comprava-se aos autóctones algo para o petisco, galinhas ou cabritos.
Uma vez comprámos alguns frangos, que andavam sempre à solta no quartel, comendo o que encontravam. Um dia, reparámos, que os frangos que já eram galinhas ou galos tinham desaparecido. alguém os comeu foi o pensamento. Mas não. Verificámos que uma das galinhas tinha aparecido com os pintos atrás. E lá foram crescendo, os pintos já eram grandes quando um dia fomos surpreendidos com a notícia que a Companhia tinha ordem para seguir para Nacala para rumar a Mueda. O transporte de Nacala até Mocímboa da Praia seria na fragata de guerra "D.Francisco de Almeida"

De Nacala para Mocímboa da Praia
Tratámos de preparar a bagagem, sem esquecer as ditas galinhas que iam num caixote arranjado para o efeito. Ao chegara a Nacala logo nos foi dito que as galinhas não podiam embarcar, só a bagagem pessoal de cada um. Resolvemos matar as galinha, fizemos uma fogueira no cais e toca a comer, perante a admiração dos presentes. E, foi assim que ass galinhas "embarcaram" connosco.
                                MUEDA
Vindos de Nacala desembarcámos em Mocímboa da Praia com destino a Mueda em Fevereiro de 1963.
Fevereiro de 1963 a CCE 264 a chegar a Mocímboa da Praia
A tranquilidade terminou quando nos deslocámos para Mueda a fim de reforçar a Companhia de Caçadores Especiais 367 que já lá estava. Aqui o nosso trabalho aumentou substancialmente. Conheci todas as aldeias e picadas do Planalto dos Macondes.
Era nosso hábito, quando alguém do nosso grupo fazia anos, tinha que haver festa de aniversário. Não havia bolos nem velas, mas havia sempre almoço ou jantar reforçado.  E em Mueda mantivemos o osso hábito. O petisco era sempre galinhas ou cabritos que se compravam nas patrulhas de reconhecimento. Um belo dia em Mueda um dos elementos do grupo, um 1º Cabo, natural de Matosinhos fazia anos. Temos que fazer o almoço, foi o pensamento geral. Mas tínhamos um problema, não havia galnhas nem tão pouco cabrito. Eu resolvo este "milando"- disse eu. Fui ter com o Administrador de Mueda, que tinha um rebanho de cabras e cabritos e contei-lhe o que costumávamos fazer.
-  O que é que o nosso Cabo pretende- perguntou
-Pretendia peir ao Sr. administrador que nos emprestasse um cabrito do seu rebanho  que nós, no próximo reconhecimento trazemos para o darmos ao Sr.
- Muito bem, assim seja, vou dar ordem ao guardador do rebanho para vos dar o cabrito.
O petisco foi realizado e comido no depósito de captação de águas de Mueda.

Posto de águas de Mueda. O cabrito foi aqui degostado
Foram muitos meses em Mueda, onde também pouca coisa havia e, entre o que havia citamos o quartel, a administração, a cadeia o aeroporto e o célebre China.
A Companhia recebeu ordens em 14 de Setembro de 1963 ordem para abandonar Mueda e regressar a Namialo e o pagamento do cabrito não foi cumprido. O Administrador, não se deve ter preocupado muito com isso, o seu rebanho era enorme.

              AEROPORTO DE MUEDA
No meu tempo em Mueda havia um pequeno aeródromo, que apenas tinha um avião que era pilotado pelo meu grande amigo, o Sargento Freitas, que teve a desventura de cair no mato, onde faleceu. O sargento Freitas, quando regressava de patrulha tinha o hábito de sobrevoar o quartel e com as suas acrobacias fazia a delícia do pessoal. Um dia, em que estava de serviço ao aeródromo, disse-lhe que não compreendia a razão de ao aterrar ter de ir até ao final da pista e depois voltar para trás e entrar no hangar. Bem observado respondeu ele, amanhã vou tentar entrar directo. Claro que não entrou, uma das asas do avião arrancou muitos metros da rede....Resultado, mas de um mês sem avião em Mueda.

               REGRESSO AO NAMIALO 
De regresso ao Namialo onde ficámos até 22 de Fevereiro de 1964. Neste dia deslocámos-nos para Nacala, onde nos espera o Paquete "Niassa" para nos trazer de volta a Portugal. Chegámos a Lisboa em 15 de Março de 1964.
No cais de Alcântara fui descartado como a mercadoria fora do prazo de validade.
Segui para casa com os meus familiares que estavam à minha espera, para no dia seguinte ir ao Batalhão de Caçadores 5, fazer o espólio do fardamento que me havia sido confiado.

Texto e fotos de:
António Caldeira 
1º Cabo da CCE 264





















































1 comentário:

  1. Em Setembro de 1975 vim de Angola no navio Niassa. Também fui descartado, o barco atracou ao cais, põe a escada e aí vai ele para casa. Não fizemos espólio porque na viagem deitamos as fardas ao mar, salvo erro, só ficamos com a farda de saída.

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