No dia 12 de Novembro de 1972, embarquei para a região militar de Moçambique, num avião dos transportes aéreos militar até à cidade da Beira. Onde desembarquei, à minha espera estavam viaturas do nosso exército, para me transportar para a Unidade militar da cidade, onde estive à espera de embarque para outro destino. No dia 15 de Novembro, embarquei com o 1.º escalão, num avião fretado, com destino a Nóva Freixo. No mesmo dia fui transportado, para a estação dos caminhos-de-ferro, onde embarquei num comboio velho, puxado a carvão, que se encontrava lotado, por homens, mulheres, e crianças Africanas, de raça negra. Fiquei estalado na carruagem da frente, junto à locomotiva, onde seguia o arrebenta minas. Segui um dia de comboio, para percorrer os sete centos e tal quilómetros de via-férrea, com os soldados que iam junto ao rebenta minas, a fazer a protecção, iam constantemente aos tiros de G.3 todo o trajecto, eu era chéca vivi momentos de muita ansiedade, e medo, vi várias carruagens tombadas nas ravinas, junto da via-férrea até Vila Cabral, capital da Província do Niassa, conhecida na gíria da tropa, (ESTADO DE MINAS GERAIS). Daqui eu ainda percorri cerca de 12 horas, os 60 quilómetros que faltavam até Meponda, junto do lago do Niassa, estrada em que foram “picados,” todos os palmos de terra, que os rodados das bérlietes, haveriam de percorrer. A coluna chegou ao seu destino, desembarquei e me dirigi para a linda praia, onde vi a água do Lago do Niassa, muito limpa sentei-me, descalcei as minhas botas, para refrescar os meus pés, que estavam tão cansados, de imensas horas de viagem. A refulgência do astro rei, deixara de brilhar, sobre a linda praia, para dar lugar à escuridão da noite, vislumbrei um guarda-sol, construído em palha, onde jantei, a dita (ração de combate), o alimento que me acompanhou nesta longa viagem. Depois deitei-me sobre o areal da praia, debaixo do guarda-sol, onde adormeci com o som das ondas do lindo Lago do Niássa. 19 De Novembro de 1972, quando o sol, se declinava suavemente, como uma bola de fogo, sobre as cálidas águas do Lago do Niássa, vislumbrei junto do areal, uma lancha da marinha, para transportar mais uma companhia de militares, que iam povoar as densas e perigosas matas do Lunho. O veículo que me ia transportar, seguiu a sua marcha, abandonou aquele local, dando lugar não menos belo crepúsculo, que encontrei com lividez, a lancha baloiçava suavemente, sobre o atapetado manto, formado pelas águas do Niassa. Vi o rosto dos meus camaradas, debruçados sobre o tombadilho do veiculo, observando atónitos, a algazarra que recrudescia, à medida que se aproximava de uma outra praia, a quem lhe chamavam Metangula. O ar trépido estampado, no meu olhar, quando desembarquei para terra, vi os soldados já velhinhos, que ali se encontravam, com o seu camuflado, todo gasto e roto, transportando nas mãos, latas e garrafas de cerveja. Saltando de alegria, ao verem mais uma companhia de tropas, com o seu camuflado reluzente, acabados de chegar da Metrópole. Aqueles velhinhos, nos deram vários conselhos, e nos avisaram que o Lunho ficava a Noroeste do Niássa, era um sítio muito duro de roer. Contudo no meu íntimo uma perene esperança, confidenciou-me que o meu regresso seria uma incerteza. Aproximou-se a hora de abandonar aquele local, fui encaminhado para uma das viaturas, que formava já na picada. Uma coluna auto as viaturas, começaram abandonar aquele local, segui o seu destino por uma picada muito perigosa, que cheirava a trotil e a morte, onde vi soldados apeados, na frente das viaturas, com uns paus onde tinham, uns pequenos ferros afiados na ponta, fazendo a picagem, para detectar algum engenho explosivo. Passei por um aldeamento, a quem lhe chamavam de Nova Coimbra, vi várias palhotas ,onde viviam homens, mulheres, e crianças de raça negra. Vi um aquartelamento das nossas tropas, que à nossa passagem gritaram bem alto! chéka é pior que turra! vai para o mato vai para o inferno do Lunho. A coluna lá seguiu em marcha lenta, e já se notava a refulgência do astro rei, a deixar de brilhar sobre a picada, foi então quando vi um aglomerado bairro de latas, em chapas de zinco, e outras em artesanal, em blocos de cimento, e tijolos, cercado por matagal. A coluna chegou ao destino, desembarquei segui para o interior do aquartelamento, onde encontrei no seu interior, e exterior, repleto de militares, emprestava há aquele ambiente, um misto e policromia, quadro irradiado das fardas camufladas, onde o brilho da minha farda ainda reluzente envergada, no meu corpo, sobressaía das do “Kokuánas” (velhos) já desbotadas com muitos meses de uso. Tinha acabado de chegar, era chéka de todo, era a palavra que em Moçambique designava por maçarico, o novato, o recém-chegado. Estava no período de adaptação à guerra propriamente dita, até ali não passava de teoria, depois as coisas foi mesmo a sério, muito diferente de tudo o que eu tinha aprendido, durante meses de prática, no pacífico rectângulo Europeu. Agora era mesmo a minha vida que se encontrava em jogo. Os conselhos dos velhinhos, eram escutados atentamente, cada um procuravam tirar, destes conselhos o maior partido possível. “Velhinhos” eram os militares que nós chékas, íamos render às respectivas missões, e que já tinham muitos meses de guerra, e por isso muita experiência. Ouvi-los era um ato de muita inteligência, e pelo menos me poderia trazer alguma vantagem. Os heróis do arame farpado, limitavam-se a fazer as tarefas, que o Comandante da Companhia designava.
O corneteiro, Bernardino Peixoto, à direita, no seu posto de sentinela |
Gostei de ler. Também passei por todos esses sítios excepto Meponda. No Lunho estive acantonado três meses ainda antes da construção desse aquartelamento. Estive em Nova Coimbra, em Vila Cabral e de Junho de 1965 a Fevereiro de 1966, em Metangula.
ResponderEliminarCheguei a este blogue, quando procurava o emblema da companhia do meu pai e qual é o meu espanto que encontro um antigo colega. A descrição que faz, vai de encontro ao que o meu pai sempre me contou :)
ResponderEliminarQual foi a companhia do teu pai e o nome dele.
EliminarA companhia era a 4141, o meu pai é o Nelson que era condutor.
ResponderEliminarConheço bem o Nélson meu camarada de guerra Lunho Moçambique
ResponderEliminarTodas as histórias são de minha autoria.
ResponderEliminarCláudia pesquise no google a C.Caç.41 41 os Gaviões.
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