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segunda-feira, 11 de junho de 2018

ANTÓNIO MARIA NOBRE - PERIPÉCIAS EM NAMPULA

PERIPÉCIAS EM NAMPULA

TEXTO DE:
ANTÓNIO CAMPINAS
CAPITÃO DA CCAÇ 1560



Quem dentro da CCAÇ 1560, não se lembrará do António Maria Nobre, da "bazooka"?
Alentejano, de gema, integrado num grupo de combate constituído quase exclusivamente por alentejanos, era bem o protótipo do calmo e pachorrente dito "compadre", a quem nada nem ninguém faz perder a fleuma a menos que...
Finda a Comissão, o Nobre era apenas um herói. Modesto, apagado, humilde - mas um herói !...
Gravemente ferido em combate por três vezes (!!!), foi condecorado, na mesma comissão por imposição, com duas Cruzes de Guerra (1ª e 3ª Classe), caso único nas Forças Armadas nas campanhas do Ultramar pós-1961.
Ora acabou por ser precisamente o Nobre o protagonista do único incidente registado em toda a Comissão, entre pessoal da 1560 e elementos estranhos à mesma.
Estamos em Nampula, na noite de 10 de Agosto de 1968. O comboio que transporta o Batalhão 1891 a caminho de Nacala, onde embarcará no paquete Vera Cruz, de regresso à Metrópole, fez uma paragem de algumas horas naquela cidade.
O pessoal foi autorizado a ir dar uma última volta pela cidade, com recomendações e ordens taxativas quanto ao comportamento a ter, todos os aspectos, e com hora de regresso à estação bem definida.
Ao aproximar-se essa hora limite com  grande parte do pessoal da Companhia já na estação dos caminhos de ferro, chegou a notícia de que o Nobre teria sido preso pela PM, e levado e levado para o quartel da mesma. Imediatamente e em bloco, todo o pessoal dos "LEOPARDOS" já presente se dispôs a marchar para o quartel da PM, (ainda a 3/4 Kms da estação) a fim de libertar o seu camarada.
Tendo o Comt. da Companhia conseguido acalmar momentaneamente os ânimos, pois nada se sabia de concreto, foi decidido que ele, com alguns oficiais e sargentos da Companhia, iriam à PM, averiguar o sucedido e resolver o problema.
No entanto, todos os restantes militares da Companhia garantiram que, se dentro de uma hora não estivessem de volta com o Nobre, marchariam sobre o quartel da PM!.
Tendo o grupo de graduados da 1560 chegado ao quartel da PM, e após uma entrada mais ou menos intempestiva, por várias razões, foram descobrir o Nobre a ser duramente interrogado por um Tenente da PM e mais alguns elementos - tendo inclusivamente levado já alguns "caldos".
Foi então dito pelo Tenente que o Nobre, interpelado por uma patrulha da PM, havia resistido à detenção (?), tendo inclusivamente partido o nariz ao cabo comandante da mesma e deslocado o braço a outro soldado.
Tendo sido ouvidoo depoimento do Nobre e também dum outro soldado da referida patrulha, ficaram os presentes com a sensação nítida de que teria havido precipitação e até abuso de autoridade por parte dos elementos da PM, aliás recém chegados da Metrópole... Depois de muita troca de argumentos e de ter sido explicado quem era o Nobre, conseguiu-se a sua libertação, tendo sido entusiasticamente recebido quando, finalmente, chegaramà estação do CF.
Lisboa, 10 de Junho de 1969. O Nobre a receber as suas Cruzes de Guerra
Agora para terminar, só falta, de facto, contar-se a versão dos acontecimentos, pela boca do Nobre, na sua castiçamente calma voz alentejana...(esta versão apenas diferia da PM , e óbviamente, num pequeno pormenor...
Em frente do Hotel Portugal, em plena baixa de Nampula, passeavam alguns militares da 1560. Tendo passado um Jeep da Polícia Militar, alguém do grupo teria gritado: - Adeus, ó chekas (alcunha dada aos militares recém chegados a Moçambique). O Jeep parou de imediato e os elementos da PM correram para eles.
Com receio de complicações  - sobretudo devido à aproximação do embarque - os militares da 1560 debandaram (pela 1ª e única vez, em toda a Comissão), com excepção do Nobre que, além de ter consciência tranquila, não podia correr, por coxear devido ao seu último ferimento em combate.

"Então meu Capitão", dizia o Nobre "eu, que  nada tinha feito, vejo vir o nosso cabo, todo exaltado, direito a mim... agarrou-me o colarinho e puxou-me para a frente com toda a força... Ora eu, que não tenho força nenhuma nas pernas, desequilibrei-me ... e fui bater, sem querer, com a minha testa no nariz do nosso cabo!...

Escusado será dizer o esforço que, na altura, foi necessário aos graduados da CCAÇ 1560 presentes para não desatarem a rir à gargalhada, numa situação tão melindrosa quanto aquela!.















1 comentário:

  1. Eu acredito na versão do Nobre, esse herói alentejano. Também por lá andei. Vila Cabral, Metangula, Nova Coimbra, Lunho e Cobué, desde Novembro de 1963 a Fevereiro de 1966.

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