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Livros da guerra colonial

Miandica terra do outro mundo


segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

BRINFING SOBRE A ACTIVIDADE DOS FUZILEIROS ESPECIAIS NO NIASSA NO PERÍODO DE OUTUBRO DE 1963 ATÉ SETEMBRO DE 1964

 BRINFING

ACTIVIDADE OPERACIONAL DESTACAMENTOS ESPECIAIS FUZILEIROS.

De Setembro a Novembro as informações referentes a concentrações de populações fugidas e de acampamentos IN permitiram uma actuação dos Destacamentos com objectivos definidos. Assim,, em exploração imediata e com a utilização de guias, foram destruídas diversos acampamentos militares e muitos acampamentos civis. Devido a esse constante pressão e à destruição desses acampamentos, o IN começou a apresentar sinais de desorganização na zona ribeirinha. Como consequência das operações efectuadas, as populações que estavam quase todas no mato e sob controle do IN, começaram a apresentar-se nas povoações anteriormente abandonadas.

Entrou-se então numa nova fase. que ainda se sentem, com a realização de operações tendentes a contactos e defesa das populações e de operações sem objectivos definidos com a missão de afirmar a nossa presença e de evitar um clima de insegurança ao IN,. O DFE 12, devido a estarem concentrados na sua zona de acção todos os núcleos populacionais, tem tido uma acção particularmente feliz neste campo. Actualmente, com raras excepções, todas as  povoações da zona ribeirinha já receberam a visita das forças navais as quais têm sido muito bem recebidas.

Ultimamente o DFE 1, em operações na zona do CÓBUÉ tem deparado com grupos IN  ou colunas de reabastecimento que, apesar da presença constante de uma L/F em serviço de fiscalização, continuava a utilizar a via tradicional  de infiltração a partir da fronteira Norte caminhando para Sul junto à margem do Lago. Uma das vezes a L/F estava  a 20 metros da margem e não detectou um grupo que seguidamente foi atacado pelo DFE1 que estava  emboscado. Nos dois contactos ultimamente havidos na zona a Norte  de MANHAI verificou-se que o IN começa a actuar com mais técnica, sabendo retirar com ordem, protegendo-se nos acidentes de terreno e recuando em zig-zag, defendendo a retirada com fogo de retardamento. Além disso já não abandona todo o material como há uns tempos atrás.


Nas acções para Norte de MANHAI tem-se utilizado as LDP somente para transporte de e para o CÓBUÉ e o apoio às operações tem sido efectuado pela L/F em serviço. Com este procedimento tem-se alcançado surpresa pelo que a presença de L/F na área já se torna familiar, sabendo o IN que essa presença não implica acções em terra.

LDP
Em virtude da actual desorganização do IN e do seu pouco poder agressivo, a partir de DEZEMBRO, os Destacamentos têm começado a actuar fundamentalmente com aumento nítido de rendimento e diminuição de cansaço. Este sistema tem tido como inconveniente um esforço maior da LD que têm estado quase sempre em serviço permanente com muDELAS ito curtos períodos de descanso.
Tem-se procedido ao conhecimento sistemático da costa tendo em vista a realização de futuras acções ofensivas conjuntas em que os Destacamentos foram utilizados de um medo demasiadamente ofensivo, com marchas de grande duração e notáveis infiltrações para o interior. Numa delas o DFE 12 percorreu 120 Kms. Essas operações provocaram um menor rendimento do pessoal e aumento nítido do cansaço. Eram percorridos  grandes distâncias em períodos de tempo curtos o que obrigava o pessoal, contrariamente ao determinado, a utilizar carreiros ou atalhos. Daí resultaram 2 das baixas havidas.. Presentemente é doutrina deste Comando a duração das operações quando for necessário percorrer grandes distâncias.

Das acções havidas há salientar as seguintes:

De Destacamento Fuzileiros Especiais nº 1

Durante a realização de uma operação  uma LDP capturou uma casquinha com dois tripulantes no extremo Norte da ilha de LIKOMA. Um dos tripulantes depois de interrogado declarou que conhecia a localização de um acampamento no rio UNGA. Foi preparada imediatamente uma operação. O desembarque efectuou-se de noite. Quando o Destacamento já estava perto do acampamento ao alvorecer, uma sentinela abriu fogo e logo a seguir mais tiros do IN. O DFE 1 abriu então fogo atingindo a sentinela que conseguiu fugir mas largou a arma. Logo a seguir precedeu ao assalto ao acampamento mas entretanto o IN conseguiu fugir. Foram detectados vários rastos de sangue o que prova que houve mais baixas do IN. Foi capturado muito material de guerra, e destruído o acampamento que era constituído por 80 palhotas.

Outra operação, também do Destacamento Fuzileiros Especiais nº 1 LIPOXE

O Destacamento emboscado num monte sobranceiro ao carreiro junto ao LAGO, detectou um grupo de 10 IN. Foi deixado que o grupo se aproximasse e na altura devida foi aberto fogo sendo imediatamente este correspondido pelo IN.
Alguns terroristas foram claramente atingidos mas apesar disso começou a retirada na maior ordem. Pedido o apoio da L/F MARTE que estava em serviço de fiscalização e de apoio à operação, esta abriu imediatamente fogo de QUERLIKON e de MG 42. O seu tiro regulado pelo pessoal de terra, revelou-se ao Destacamento avançar. Por vezes o fogo tinha que ser feito para 100 metros à frente do pessoal do Destacamento. A MARTE manobrou sempre para as zonas  de melhor campo de tiro qe eram também as mais expostas ao fogo que o IN pudesse fazer. O Destacamento teve que atravessar um rio caudaloso em que foi necessário formar um cordão de homens com mãos. Nessa altura foi severamente flagelado. O IN não foi alcançado mas foram encontrados muitos sinais de sangue, O DFE 1 mostrou muita decisão e vigor e o apoio da MARTE foi oportuno e eficaz.



OPERAÇÃO REALIZADA DE 14/15 DE NOVEMBRO DE 1965 (TECHIA)

O DFE 12 embarcou numa LDM efectuou o desembarque durante a noite. Apesar da desorientação do guia, foi ainda possível a detecção dum acampamento IN, em virtude da exploração imediata de informações obtidas por interrogatório de prisioneiros efectuados durante a operação,
Já muito próximo do acampamento o IN abriu fogo em retirada. O DFE 12 reagiu imediatamente e provocou 4 baixas ao IN.
Da operação resultou ainda a captura de bastante material de guerra, medicamentos e passes individuais. O acampamento do WASI foi destruído.

OPERAÇÃO DE BATIDA REALIZADANA REGIÃO DE TCHIA

O DFE 12 foi dividido em dois grupos, efectuando-se o desembarque à mesma hora , um a norte e outro a sul da zona a bater.
As LDF foram comboiadas por uma L/F, o que permitiu, certamente, a surpresa dos desembarques.
Um dos grupos detectou e destruiu um acampamento IN abandonado e capturou um indivíduo que veio a dar informações muito importantes e conduziu o Destacamento a outro acampamento.
O outro grupo detectou igualmente, durante a batida, um acampamento que foi abandonado precipitadamente. Perseguido o IN, foi aberto fogo e foram encontrados vestígios  de sangue, tendo-se causado possíveis baixas.
Neste acampamento foi capturado material especialmente armamento.
Além das operações propriamente ditas, ambos os Destacamentos têm sido usados  utilizados intensamente em serviços de defesas das bases, emboscadas nocturnas, acções de  polícia e obras de defesa o que aumentaria e muito, caso fosse considerada, a média mensal de operações, Essa utilização dos Destacamentos diminui quando chegou a CF6.

A média mensal de utilização os Destacamentos em operações foi o seguinte:

DFE   1 ----11.7 dias
DFE 12 ----10.3 dias  
 
O número de acções de fogo foram as seguintes:

DFE   1 ---- 4
DFE 12 ---- 8

Baixas havidas

DFE   1 ---- M -- F 2
DFE 12 ---- M - 1   F --1


Tem-se verificado a grande falta que um oficial de informações que se possa dedicar inteiramente a esse serviço.Existem muitas fontes de informações que não podem ser devidamente exploradas, os interrogatórios de prisioneiros  e suspeitos são sempre muito demorados. Impões-se a criação de uma  rede de informações. A burocracia e arquivos de SIM tem que ser devidamente sistematizados

O COMANDANTE

António Bénard da  Costa Pereira

Capitão de Fragata





domingo, 16 de fevereiro de 2025

ANÁLISE DOS ACONTECIMENTOS DO NIASSA. OUTUBRO DE 1963 ATÉ SETEMBRO DE 1964

 1 - FASES DA ACÇÃO DESENVOLVIDA

A - OUTUBRO DE 1963 ATÉ SETEMBRO DE 1964

Caracterizada por:

..Propagandista e introdução de ideias
..Mentalização e doutrina
..Bom acatamento das populações predispostas por vários motivos a aceitar ideias exteriores (principalmente as populações sem o contacto, influência ou controle das autoridades).
..Distribuição de  cartões da FRELIMO.
..Fase cujo início é indefinido - primeiros conhecimentos datam de Outubro de 1963.

B - Fase entre Setembro de 1964 e Março de 1965
caracterizado por:

Demonstração bélica mas de intuito propagandistico em Setembro de 1964com o ataque conjunto em CÓBUE e METANGULA, e em Dezembro a OLIVENÇA-
..Aparecimento IN armado e camuflado nas povoações.
..Demonstração de Março de 1965 em que cerca de 80 IN se deslocam armados e camuflados da fronteira ate MESSUMBA influenciando e executando demonstrações quixotecas junto das populações sem a nossa acção rápida e acertada.
..Populações sobre a forte influência IN e incitada a fugir para o mato e anão colaborar coma s nossas autoridades.
..Fuga das populações e primeiros recrutamentos em massas.
..Criação de bases IN no nosso território.
..Acção prematura do NCOMBE, pois o IN só tenta populações sem actuações contra s nossas Tropas.

Igreja Anglicana de Messumba

C Fase entre ABRIL -- JULHO 1965

Caracterizada por:

..Acções bélicas contra núcleos militares.
..Nitida vantagem para o IN devido ao efeito choque, pouca adaptação e insuficiência da Nossas Tropas.
..Criação e alastramento de vários de vários acampamentos IN.

C Fase entre AGOSTO-- OUTUBRO 1965

Caracterizada por:

..IN começa a sofrer pesadas baixas, recorrendo quase totalmente às minas, sem ataque como meio de destruição sem combate 
Nossas Forças reforçadas mais adaptadas e melhor conhecedoras do terreno  iniciam acções de destruição dos acampamentos do IN. obtidos por informações-
Período de perfeito serviço de informações que muita  valia tiveram.
..IN sente insegurança e instabilidade na zona, desloca-se e alastra-se para sul e para o interior agravando a situação em VILA CABRAL e a estrada de MEPONDA.

C Fase entre OUTUBRO 1965 e JANEIRO 1966

Continuação da fase com mais as seguintes características:

..O IN diminui francamente de forças na zona do Lago.
..Começou a regressar as populações ribeirinhas, para sul de NGO, sentindo a força do nosso lado, receando a época das chuvas e com acções da Nossas Tropas.
..Piora a situação em Vila Cabral  IN tenta bloquear esta cidade com o corte da estrada para o CATUR.
F. Fase presente em que o IN parece querer iniciar secções surgindo com aliciamento junto das povoações principalmente devido à diminuição substancial de acções, presentemente nulas, das Forças Terrestres nesta zona.
..Podemos sem muito receio de falhar prever com o terminar das chuvas uma pioria da situação na zona da circunscrição do Lago caso não se verifiquem novamente acções daForças TTerrestres e também devido ao facto de ter sido rendido o Batalhão  o que vem criar problemas de adaptação e conhecimento do terreno.

CAUSA QUE JUSTIFICAM O BOM ACOLHIMENTO DO IN JUNTO DAS POPULAÇÕES

A aceitação e o acolhimento das publicações do Lago ao IN deve-se à sua pré-disposição em aceiar ideias exteriores e o próprio IN deve-se pelas seguintes razões principais.
..A patia, falta de gente, mais o empreendimento e ausência de fixação.
.. Quase nula presença das autoridades Administrativas nas povoações  da sua jurisdição, com a consequente falta de controle e descontentamento dos Regulos.
.. Mudança sucessiva de  autoridades administrativas que não chegaram a conhecer ou a interessar-se pela sua área (8 chefes de Posto no Cóbué em 2 anos).
....Promessas em série aos Regulos e suas povoações de melhoramentos (Postos Sanitários e Escolas) sem a sua concretização.
..Ausência de protecção de forças militares adequadas.
..Demonstração de força do IN junto das povoações, morte de alguns indígenas e chefes partidários da nossa causa perante reacção deficiente e tardia das Nossas Tropas.
..Tudo isto gerou o descontentamento dos Regulos e suas povoações e originou a sua comparticipação com o IN quer em alimentos como homens.
OBS:Tudo isto foi dado a conhecer via Aditamento ao SITREP CIRCUNSTACIADO nº 5/65 de 18 de Setembro de 1965 deste Comando. Frisava-se então que por razões desconhecidas raramente foram solicitadas os meios navais pelas Autoridades Administrativas e que em meados  de 1964 para se fazer um exercício em conjunto de Forças Navais e Forças Terrestres no Norte foi necessário o Comandante DMIM executar várias diligências junto do Exército para este aceder.

INIMIGO (Características)

Bons chefes na sua maioria NIANJAS treinados na Argélia, Israel e Tanzânia. Existem alguns MACONDES e indivíduos de raça não defenida  (Tez menos escura e cabelos mais lisos)

Soldados na sua maioria NIANJAS

Características da raça NIANJA:

Bastante inteligentes mais de aprender (pediam constantemente Escolas para aprenderem o português) facilmente receptivos na aprendizagem, mas pouco belicosos e valentes. Raça muito andarilha com uma resistência física e orientação em terrenos extraordinárias.
Destas características  resultam bons soldados teóricos  (alguns prisioneiros manejavam armas e equipamentos TSF com perfeição) mas pouco afoites ao combate.

Nos campos de treino IN o treino tem a seguinte organização:

1ª Fase: -- Treino físico e de mato; Manejo de armas e marcha em parada com armas de madeira; Mentalização e doutrina.
2ª Fase: -- Inspecção física para a entrada; Treino físico e militar; Manejo e conhecimento de armas, mentalização e doutrina.
Existe um horário que abrange diariamente parte física militar e doutrina. É dada grande importância à parte de doutrinação e pelos prisioneiros feitos verificou-se estarem fortemente mentalizados no papel a realizar. Este ponto é muito importante.
Praticamente o seu armamento está em igualdade com o nosso embora em muito menor número.
Tendência nítida para a criação de soldados regulares e ausência de TERRORISMO.
É pois de frisar que embora nos tenha auxiliado o facto do IN ser pouco beliçoso, ele não deve ser menos  presado sobretudo se for enquadrado por outras raças. Recorde-se que no combate com a L/F CASTOR em MAPUNDA os 6 IN eram chefiados por 2 MACONDES e o fogo feito à L/F foi a peito descoberto a cerca de 50 metros da L/F o que revela ousadia e coragem. Morreu um dos MACONDES e logo cessaram o fogo.
São também capazes de esforços sobrehumanos à sua resistência física extraordinária. Friza-se o aparecimento duma metralhadora pesada  12.7 m/m com base e cadeira cujo peso aproximadamente é de 150KG capturada em NOVA COIMBRA e que veio por terra da TANZÂNIA.



NOSSAS FORÇAS
Principais defeitos

Mentalização quase nula,  desconhecimento do seu papel, preparação espiritual, conhecimento de ÁFRICA e dos pretos no geral, ou seja, resumindo e como porquê e para quê de nossa acção em ÁFRICA. No Exército ainda é mais notório esta feita de conhecimento.
O Exército principalmente demonstra fraca preparação para fazer face aos acontecimentos, com poucas excepções de algumas companhias que com um bom núcleo de oficiais tiveram actuação muito boa na zona. 
Um dos pontos principais a que se deve o desgaste prematuro do pessoal do Exército é a sua deficiência alimentação e condições de habitabilidade que permitam o restabelicimente físico e espiritual nos períodos de repouso.
No capítulo de fraca adaptação e preparação há que focar o desgaste em série  de vidas e viaturas que houve na época das minas sem que tivessem sido tomadas medidas.

TÓPICOS

Tópicos que resumem os pontos importantes:

-- O IN diminuiu a sua acção em face das dificuldades de reabastecimento em grande parte por causa da época das chuvas. A época das se é má para nós é muito pior para o IN.
-- As populações embora tenham regressado às povoações não significa  por si que estejam do nosso lado; apenas fugiram para o lado mais forte de momento, da fome e das chuvas


O aldeamento de Chuanga (Messumba) em 1972

-- Há conhecimento de campos de treino na TANZÂNIA e ZÂMBIA preparando genntes aguerridas para actuarem no NIASSA.
-- A falta de meios, fixação, empreendimentos. obras enfim e atraso ccivilizador do NIASSA facilita ao IN o seu papel.
-- Todas as povoações no Norte encontravam-se fugidas no interior em LIKOMA e TANZÂNIA e só voltam quando lhes garantirem protecção.
Todo o norte encontra-se desabitado sem fixação..
-- Uma das melhores acções tomadas foi a distribuição de vários efectivo militares ao nível de companhia por diversas áreas do interior na zona do LAGO, controlando-as.
Toda a zona Sul, continua habitada mas sem protecção de forças militares fixas já pedido diversas vezes pelos Regulos. É urgente esta ocupação para não se repetir o caso de MANHAI última povoação a abandonar o Norte (Outubro de 1965). Só após a sua fuga as NT colocaram lá um pelotão que presentemente tem uma acção e utilidade quase nula.
 -- Recorda-se que em 1963 quando a MARINHA se instalou em METANGULA o EXÉRCITO retirou um pelotão que desde 1962 vinha mantendo no CÓBUÉ. Se este pelotão lá tivesse ficado muitos incidentes iniciais se teriam evitado e atalhado oportunamente. À diminuição das NT poderá reflectir-se consideravelmente  da situação.


Outro ponto que prejudica bastante as operações são as constantes alterações e trocas das FORÇAS TERRESTRES na área sem que se veja motivo premente e do qual resultam novos períodos de conhecimento do terreno.
A rendição do Batalhão irá criar uma nova fase de treino e adaptação das nossas tropas na área. Embora pareça inexplicável essa rendição foi feita num dia sem se dar tempo a que os antigos dessem a conhecer o terreno e o ambiente aos novos.

CONCLUSÕES

Urgente a colocação e fixação de FORÇAS TERRESTRES em algumas povoações habitadas, não só para protecção mas também com funções civilizadoras.
Esperar um novo regresso do IN melhor treinado armado e aguerrido, Bastante possível que se verifique após a época das chuvas (ABRIL).
URGENTE iniciarem-se e acelararem-se aldeamentos, vinda de colonos, desenvolvimento da agricultura, empreendimentos que tragam fixação e progresso nesta zona dificultando assim a actuação do IN no campo mental e belico.
MUITO IMPORTANTE a preparação espiritual e doutrinação às forças militares durante o seu recrutamento e treino na METRÓPOLE.

METANGULA, 10 de FEVEREIRO de 1966

Sérgio Augusto Vicente Ribeiro Zilhão
1º Tenente

domingo, 9 de fevereiro de 2025

MARINHA DE GUERRA PORTUGUESA NO MALAWI -- MANUEL PINTO AGRELLOS E FRANCISCO MANUEL LHANO PRETO

 

Manuel Pinto Agrellos

Durante seis anos, entre 1968 e 1974, Marinha de Guerra do Malawi, no Lago Niassa, foi secretamente comandada por oficiais Armada Portuguesa. Esta operação, uma das mais bem sucedidas acções encobertas levadas a cabo durante a Guerra Colonial, foi inspirada por Jorge Jardim - influente empresário estabelecido na Beira, Moçambique, fascinante jogador no tabuleiro dos serviços secretos, agente especial que durante a guerra tratou dos mais sensíveis 
assuntos de Estado com os países vizinhos como o Malawi, a Tanzânia, a Zâmbia a Rodésia e a África do Sul.
O Malawi não tinha meios para patrulhar o imenso Lago Niassa. O presidente Hastings Banda temia as ameaças temia as ameaças dos opositores refugiados na vizinha Tanzânia. O amigo Jorge Jardim encontra uma solução - e convence o Governo de Lisboa a fornecer ao país vizinho uma lancha e secretamente, um comandante português.
A operação só trazia vantagens, As autoridades do Malawi, em troca do favor, davam informações preciosas sobre as movimentações dos guerrilheiros da FRELIMO e fechavam os olhos a operações militares no interior das suas fronteiras - além de que a lancha controlava as embarcações que serviam de apoio à guerrilha a partir da Tanzânia.
Em 5 de Agosto de 1968, uma segunda-feira, a base naval de Metangula, na margem moçambicana do Niassa, é palco de uma cerimónia simbólica. A Lancha Casstor, agora com bandeira do Malawi e rebaptizada John Chilombwe, zarpa para outra margem do Lago rumo a Nkata Bay. É comandada por um português, Manuel Pinto Agrellos, que aceitou o desafio de Jorge Jardim para participar na perigosa aventura.

Lancha Castor

Agrellos era oficial era oficial da Armada e comandava uma lancha idêntica no Lago Niassa - a Mercúrio. Assinou um documento a pedir a demissão da Marinha e tornou-se, como convinha para a segurança da operação, num mercenário sem pátria. Se alguma coisa corresse mal, Portugal diria que não o conhecia e abandonava-o. Estava por sua conta e risco.
O Malawi pagava-lhe o ordenado através de Jorge Jardim, que depositava o dinheiro numa conta bancária. O assunto era segredo de Estado

Além do comandante, mais dois tripulantes também eram portugueses - o telegrafista, Cordeiro, e o maquinista, Martinica, graduados em sargentos da Marinha de Guerra do Malawi. O resto da guarnição pertencia aos Young Pioners, a organização militar que servia como guarda pessoal do 
presidente Banda.
Manuel Pinto Agrellos terminou a comissão em 1969. Abandonou África e regressou a Lisboa. Mas a Marinha de Guerra do Malawi, até 1974, nunca mais deixou de  ser comandada por portugueses - todos recrutados na Armada por   Jorge Jardim. O  último foi Lhano Preto. A 
revolução de 25 de Abril de 1974 apanhou-o no cumprimento da missão secreta.
Foi preso no Malawi e atirado para um campo de concentração. Mas Jorge Jardim mexeu-se como só ele sabia -- e Lhano Preto lá conseguiu evadir-se e chegar a Moçambique em segurança.


Francisco Manuel Lhano Preto
Destacamento de Fuzileiros Especiais nº9
Comissão em Moçambique 1971—1973
Comissão Especial em Moçambique 1973—1974

Deixei de ser o Francisco Preto passei a ser o Mr. Lhano

No final da primeira comissão, foi convidado para participar numa missão secreta no Malawi: comandar a Marinha no Lago Niassa.
Durante mais de um ano viveu como um inglês, incorporado nas forças do regime dr Hastings Kamuzu Banda. Até que foi preso depois do 25 de Abril.

Cheguei a Moçambique em 1971. Era o 2º Comandante do Destacamento de Fuzileiros Especiais nº9.
Nos dois anos de Comissão só tivemos um morto e foi por azar por azar. Íamos em direcção a uma base inimiga quando fomos emboscados. Reagimos muito bem e eles ao fugir começaram a disparar as AK voltadas para trás. Geralmente essas balas vão para o chão ou para o ar. Dessa vez acertaram num dos nossos marinheiros. Atingiram-no no coração. Foi azar.
Na guerra é preciso ter sorte, porque para mim heróis fomos todos. Eu levei um tiro numa perna e podia ter levado noutro lado qualquer. Ninguém sabe de onde vêm as balas. Em Tete quando estávamos a fazer uma patrulha no rio, houve umas rajadas da margem e nós abicámos o bote em direcção ao inimigo. No meio da confusão, vi o carregador da G3 do camarada que ia ao meu lado saltar, atingido por um tiro. Outro acertou-lhe na coronha da arma que ia junto à cintura. Eu também as senti passar ao lado e por cima . Mas ninguém foi ferido. Foi sorte,


No final da minha primeira comissão, fui convidado para participar numa comissão especial já em curso: a criação da “Marinha do Malawi”. Quando precisava de se deslocar para Sul do Lago Niassa, a FRELIMO saía da Tanzânia e entrava em Moçambique através do Malawi.
Era preciso controlar o Lago. Foi o que fez o CEM da marinha, o Almirante Reboredo e Silva, através de negociações com o governo malawiano. Aceitei a proposta, o ministro da Marinha deu-me baixa de serviço e assinei um contrato com o Jorge Jardim, que era o cônsul do Malawi na Beira e tornei-me o comandante da Marinha do Malawi no Lago Niassa.Mas, sem as autoridades malawianas saberem, tínhamos assinado um acordo secreto com a Marinha portuguesa onde garantíamos que se houvesse problemas do lado de lá da fronteira, voltávamos com as lanchas para Moçambique.
Deixei de ser o Francisco Preto e passei a ser o Mr Lhano. Para o cidadão comum era um inglês que vivia no Malawi.
Na altura era segundo-tenente e auto promovi-me a “Captain”, com três riscas iguais às de Mar e Guerra inglês. Estavam comigo mais um oficial, três cabos e dois marinheiros que foram promovidos a Sargentos.


Este processo não só ajudou a controlar os guerrilheiros, como também resolveu o problema do transporte de combustível para a Base de Metangula, para abastecer geradores, lanchas e botes que tínhamos no Lago. Levar os combustíveis através das picadas, era como transportar explosivos numa Berliet, de cada vez que rebentasse uma mina, explodia tudo. Para isso era preciso entrar no Malawi.
Quando lá cheguei já tinha sido feito um contrato com a OILCOM, que nos fornecia combustível através do Lago. Para o transporte, íamos a Dakota numa lancha de desembarque, que tinha sido transformada e pintada com as cores da SONAP, um empresa de combustíveis.
Além das informações precisávamos essencialmente, de controlar o Lago Niassa. Por isso Portugal cedeu três lanchas. Duas de combate, JOHN CHILLOMBE (antina CASTOR) e a Chibisa (antiga RÉGULUS), e uma mais pequena de treino e pesca, a LIMPASA.
A responsabilidade pelo que se passava na maior parte do Lago era nossa. Podíamos inspeccionar os navios de grande porte que percorriam a costa a transportar mercadorias e pessoas e impedir a infiltração no Malawi a partir da Tanzânia.
Nós estávamos a maior parte do tempo em Nkhata Bay, onde tínhamos a base naval e em Monkey Bay, que era mais sossegado.  Havia lá um motel e um restaurante que foi comprado por um sul africano que, para mim, era espião. Foi ele que me disse que tinha havido o 25 de Abril, como já vinha ouvido nas rádios, de outras tentativas de golpe, muitas delas inventadas pela FRELIMO, continuei a patrulhar e fui para norte.
Uns dias depois, como ninguém se entendia em Portugal, eles quiseram saber o que se iria passar. E perguntaram-me: como é? Porque nós é que dominávamos o Lago. Eles tinham umas boas lanchas pequenas, atribuídas à polícia, mas as grandes, com armamento pesado e metralhadoras, eram as nossas. Só que nessa altura quem é que sabia em Lisboa o que se passava  no Malawi  e que nós estávamos e missão secreta? Tive de resolver o problema e garantir que iria manter a esquadra mesmo que houvesse problemas em Portugal. A coisa aliviou. Mas depois, o Presidente Banda disse à polícia para me levar a Blantyre.
No Malawi isso significa prendam esse gajo e tragam-no. Assim foi. Nesse final de tarde estava co a JOHN CHILOMBWE fundeada e Limpasa atracada ao lado quando comecei a ver indivíduos
fardados de polícias a entrar nas lanchas sem autorização.Vinham com o pessoal da minha guarnição.Entrámos em negociações.Combinei que ia com eles,mas que a LIMPASA saía logo para Moçambique.Depois de falar com Metangula dei ordens para a JOHN CHILOMBWE zarpar no dia seguinte com a guarnição se eu não voltasse.
No caminho para Blantyre, parámos para almoçar em LILONGWE. Fui à casa de banho e pedi à recepcionista para me ligar para o número do Embaixador Português. Atendeu-se sua esposa e quando cheguei a Blantyre,as coisas já estavam mais ou menos conversadas.
Depois disso,o comandante-chefe mandou-me ir a Moçambique. Eu tinha contrato até 15 de Junho, mas eles pediram-me para continuar mais tempo. Fiquei só com um cabo e o Berbereia Moniz. Quando regressei, o governo do Malawi tentou convencer-me a permanecer lá depois da independência de Moçambique.Quando estive em combate recebia uns cinco mil escudos mensais. Ali ganhava 25 mil, mais sete mil KWACHAS para despesas.
Com as negociações para a entrega de Moçambique à Frelimo,foi decidido que as nossas lanchas ficavam no Malawi. Então em Julho fui a Blantyre para a entrega oficial e depois deveria regressar a Moçambique.na véspera ao telefone o Embaixador:Amanhã esteja às 07H00 na embaixada para tirar um passaporte Português que às 15H00 vamos cortar relações diplomáticas com o Malawi. Claro que já não houve entrega nenhuma.
Nós deveríamos regressar a Moçambique numa lancha Portuguesa que em princípio iria transportar um jeep, que seria entregue ao Malawi e trazer de volta as armas pesadas da JONH CHILOMBWE e da CHIBISA.
Em Moçambique tiveram a informação que tínhamos sido presos. Por isso, foram preparados para tudo, Estávamos em Monkey Bay ,a 27 de Julho, quando vimos uma quantidade de fuzileiros a colocar os zebros dentro de água. Fizemos sinal e eles perceberam que estava tudo bem e desembarcaram como se fosse uma coisa pacífica. Acabámos por entregar as lanchas mesmo ali e voltar para Moçambique. Sem cerimónias.





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