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Em meados de 1969 , pouco mais de quatro anos após o início da guerra em Moçambique, o comandante-chefe general António Augusto dos Santos, tinha conseguido confinar a guerrilha às regiões fronteiriças do Norte. Um dos santuários dos guerrilheiros era o mítico Planalto dos Macondes, onde a FRELIMO instalara pelo menos quatro bases de apoio. A mais importante destas posições era a Base Limpopo - que funcionava como um grande paiol de material de guerra.
As bases da guerrilha estavam instaladas numa região de acesso muito difícil. O terreno acidentado, entrecortado por escarpas e ladeiras a pique, tornava as posições inimigas praticamente inexpugnável. Os únicos locais de passagem estavam defendidos por pontos altos donde os guerrilheiros flagelavam sem piedade qualquer aproximação. Várias unidades já tinham tentado sem êxito atravessar esta autêntica zona de morte.
Além dos incontornáveis caprichos da natureza, as tropas portuguesas contaram ainda com outra dificuldade sempre que atacaram esta zona do planalto. A longa distância que tinham de percorrer - desde os aquartelamentos até ao local de acção - impedia os ataques de surpresa. As deslocações das unidades, necessariamente por território pejado de guerrilheiros, não podiam deixar de ser detectadas - o que dava toda a vantagem ao inimigo. Nada jogava a favor das forças atacantes. De todas as vezes retrocederam debaixo de violento fogo de metralhadoras e morteiros.
Além dos incontornáveis caprichos da natureza, as tropas portuguesas contaram ainda com outra dificuldade sempre que atacaram esta zona do planalto. A longa distância que tinham de percorrer - desde os aquartelamentos até ao local de acção - impedia os ataques de surpresa. As deslocações das unidades, necessariamente por território pejado de guerrilheiros, não podiam deixar de ser detectadas - o que dava toda a vantagem ao inimigo. Nada jogava a favor das forças atacantes. De todas as vezes retrocederam debaixo de violento fogo de metralhadoras e morteiros.
Pântanos mortais
O povo maconde conhecia cada palmo do seu planalto -- e os macondes constituíam ali a espinha dorsal da guerrilha. A FRELIMO soube assim erguer o santuário numa zona perfeita cujas defesas naturais condenavam ao fracasso qualquer golpe executado por terra. A última esperança.
Só não havia escarpas a norte, na margem esquerda do Rovuma a escassos quilómetros da fronteira com a Tânzania. Mas também aí a paisagem pantanosa é uma fiel aliada dos guerrilheiros.
Só não havia escarpas a norte, na margem esquerda do Rovuma a escassos quilómetros da fronteira com a Tânzania. Mas também aí a paisagem pantanosa é uma fiel aliada dos guerrilheiros.
Os pântanos prolongam-se ao longo do rio e fecham-se em forma de meia lua ao redor das posições do inimigo. É uma proibida aos pára-quedistas. Largá-los sobre pântanos profundos seria condená-los à morte por afogamento. Ainda chegam ao quartel-general em Nampula mais informações desanimadoras.
É quase certo que a guerrilha em baterias anti-aéreas montadas para lá do rio Rovuma. Os aviões seriam facilmente atingidos durante o lançamento dos "páras"
Reconhecimento aéreo
A Força Aérea faz o levantamento fotográfico da zona pantanosa. As fotografias são minuciosamente examinados. O Capitão Moura Calheiros, oficial de operações Batalhão de Caçadores Pára- Quedista 32, descobre um torrão de terra firme no meio do pântano. É um rectângulo irregular com cerca de 90 metros de comprimento por 200 de largura - um alvo pequeno para colocar duas centenas de "páras" a partir dos aviões.
Os pára-quedistas correm menos riscos se soltarem de mais alto; caso haja problemas com a abertura do pára-quedas principal, ainda há tempo para accionar o de reserva. Mas os aviões não podiam voar muito alto naquela zona -- a fim de evitarem as baterias anti-aéreas inimigas instaladas mesmo ali no outro lado da fronteira. O salto teria que ser baixo, a 90 metros de altura, apenas o suficiente para a abertura completa do pára-quedas principal. Ninguém teria tempo para abrir o de reserva. O risco era considerável.
As primeiras horas da manhã do dia 6 de Junho de 1969, sexta feira o capitão Calheiros e um pelotão de "páras" são colocados de helicóptero naquela leira de terra batida. Têm a missão de balizar a zona de salto, São os percursores. Não têm tempo a perder. Um avião Nord Atlas e três Dakotas já deslocaram de Nacala com os "páras" a bordo rumo ao objectivo.
Os aviões de transporte voam para o Norte numa linha paralela à costa. O comandante da operação , tenente - coronel Curado Ribeiro, também está no ar a bordo de um monomotor Dornier 27. Nos pântanos, o precursores marcam a zona do salto. Estendem no solo grandes tiras avermelhadas de lona que formam um "tê" maiúsculo; a perna maior da letra está virada para
Este -- donde devem surgir os aviões de transporte.
O "T" a vermelho era o local indicado para os "páras" poisarem |
À beira do desastre
Antes do lançamento dos pára-quedistas, o planalto foi sacudido por tremendo bombardeamento aéreo executado por dois aviões PV-2 e oito T6. O alferes Fernando Ferrão, da Companhia de Cavalaria 2375, lembra de assistir `aproximação da esquadrilha. "O ataque foi muito intenso", recorda.
Quando os bombardeiros acabaram de largar as bombas os aviões de transporte dos pára-quedistas surgiram vindos do lado do mar; deslocaram de Nacala, voaram ao longo da costa até poucas milhas antes da foz do Rovuma - e só então, a escassos 90 metros de altura, tomaram o rumo da zona de salto.
O capitão Calheiros e os seus homens já têm a marca estendida em terra. Os quatro aviões vêm enfileirados. A visibilidade é boa e as lonas vermelhas em forma de T são facilmente observáveis do ar. Os pilotos já acenderam a luz verde no interior - sinal de que estão sobre o alvo. A bordo de cada avião segue um pára-quedista graduado com a missão de comandar a largada; às suas ordens, um atrás do outro, com intervalos de 10 segundos, os "páras" precipitam-se no vazio. Mas só dá a ordem se vir a marca lá em baixo. Se o T não for avistado, ninguém salta.
O primeiro avião larga os pára-quedistas antes do tempo. O capitão Calheiros, cá em baixo, vê horrorizado que os homens vão cair no pântano. É morte certa. Receia que os aviões de trás, levados pelo erro do da frente, se precipitem a largar os "páras". Moura Calheiros prevê uma tragédia. Agarra-se ao rádio e, com dificuldade, consegue alertar os pilotos. Mas os primeiros 40 pára-quedistas caem em zona de pantanosa. Aterram, por milagre, onde o pântano, onde o pântano é menos profundo. Carregam 30 quilos de equipamento - espingarda munições, granadas. Afundam-se até aos joelhos e conseguem chegar a terra firme.
Guerrilheiros em fuga
A operação foi um êxito total. O lançamento de pára-quedistas apanhou de surpresa os guerrilheiros - que acabaram por abandonar a Base Limpopo com toneladas de material de guerra. Os"pára" não chegaram a travar grandes combates. As forças de cerco, formadas por duas companhias de Cavalaria e uma de Comandos, abateram uma dezena de guerrilheiros em fuga.
A base tinha uma boa centena de palhotas. As tropas de assalto não encontram viva alma. A zona fora abandonada à pressa. Encontram grandes quantidades de arroz, mapira e folhas de tabaco.
É tudo queimado. O comandante da base tinha na cubata maços de cigarros lusos e lâminas de barbear fabricadas n Checoslováquia. Os depósitos subterrâneos de material de guerra, estavam dispersos por uma vasta zona de mato denso e tinham portas de alçapão camufladas. Esta posição da guerrilha era demasiado importante para os guerrilheiros; o material de guerra vinha da Tanzânia e daqui era distribuído para as outras bases na região do Planalto dos Macondes. A Operação Zeta foi um duro golpe na guerrilha. Não tanto pela destruição da Base Limpopo - mas pela quantidade de material de armamento apreendido; um morteiro 82, 179 espingardas Simonov, 59 pistolas-metralhadoras Spragin; 64 granadas de mão, 20 armadilhas; 1716 granadas de morteiro; 200 mil cartuchos
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