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Livros da guerra colonial

Miandica terra do outro mundo


quarta-feira, 28 de agosto de 2024

BREVE HISTORIA DA " VIAGEM " DA CCAÇ 1710 DO BCAÇ 1916

 TEXTO E FOTOS DE JOSÉ FERNANDO PASCOAL MONTEIRO

FURRIEL MILICIANO DA CCAÇ 1710


A nossa " VIAGEM " começou em Março de 1961, com o inicio da luta armada dos movimentos de libertação e com a convicção de Salazar de manter "PORTUGAL DO MINHO A TIMOR", consubstanciado na célebre frase "PARA ANGOLA RAPIDAMENTE E EM FORÇA". Estávamos ,então, nos anos 60 que foram varridos, por toda a Europa Ocidental, por contestações estudantis a que se juntaram pessoas mais politizadas. Foi, também neste período, e na década anterior, que começou em África a independência de alguns países. Entretanto, no nosso cantinho, começou a mobilização geral de toda uma juventude, com o único objectivo de formar "carne para canhão", dizendo-nos que defenderíamos o nosso território. Com esta atitude politica, toda uma geração foi trucidada, mutilada. Uns não acabaram os seus cursos, outros foram impedidos de sair do seu país, para trabalharem nos países que tinham acabado a segunda guerra mundial e que necessitavam de mão de obra, outros, ainda, saíram clandestinamente. Foi neste ambiente, que nos encontrámos pela primeira vez em CHAVES, estávamos, entretanto, em 1967. Aqui o nosso batalhão começou a estrutura de corpo e foi iniciado um novo ciclo de relações humanas. Com a formação das Companhias e destas em Pelotões, começa, na realidade, a constituir-se uma nova família, com novos anseios, novos desafios e, também, novas preocupações. Terminada, em CHAVES, a formação militar e como a máquina de guerra não podia parar, fomos para Vila Real esperar embarque. Chegado o mês de Abril - dia 12 - , encaminharam-nos para Lisboa, onde estava á nossa espera o navio Niassa, para a nossa grande viagem rumo a Moçambique. 
12 de Abril de 1967. o embarque do Bcaç 1916
Navegando pelo Atlântico, tivemos a primeira paragem em Luanda, onde estivemos cerca de dois dias, e pela primeira vez sentimos o " cheiro " de África. A viagem prosseguiu pelo Atlântico, e todos nós nos lembrámos dos nossos antepassados, quando da passagem para o Índico. Finalmente desembarcámos em Lourenço Marques ( Maputo ), onde todo o Batalhão desfilou na praça Mouzinho de Albuquerque. Foi aqui que, verdadeiramente, começámos a " cheirar " África, pois era aqui que iríamos dar mais dois anos das nossas vidas. A viagem continuou por Nacala, Porto Amélia ( Pemba ), e Mocímboa da Praia, onde desembarcamos. Desta localidade, entrámos nas estradas de pó e lama ( picadas ) onde o Batalhão se foi espraiando pelas localidades de Diaca, Sagal e finalmente a " cabeça da guerra ", Mueda, onde ficaram sediadas a CCS e a Companhia 1710. 
Mueda
Na chamada " terra da guerra " , ficámos cerca de um ano. Foi ali, Mueda, que o grupo ficou mais forte, mais unido e que se forjaram verdadeiras amizades. Fizemos inúmeras operações de combate, vimos populações famintas, camaradas ficarem feridos e alguns mortos. Através das adversidades, ficámos mais fortes como homens e também mais responsáveis. Foi aí, também, que começaram as primeiras interrogações. O que fazemos aqui?. Que causas ?, que interesses defendemos?. 
O que fazemos aqui? Que causas? Que interesses defendemos?

O tempo ia passando e na mente de todos só um pensamento - SUL - , o que representava descanso fisico e mental e sobretudo ficar longe da guerra. Ai vamos nós, finalmente, para a estrada Mueda/Mocimboa da Praia, e então foi com enorme contentamento que voltámos a passar pela curva da morte, Sagal, Diaca , Mocímboa e finalmente o tão esperado navio que nos iria levar para a Beira. A descompressão de todos nós era notória, já parecíamos outros, estávamos mais " leves ". Embarcámos, numa viagem fantástica, de comboio que durou cerca de dois dias, Beira/Moatize, entrando no distrito de Tete, rumo a Vila Coutinho. 

De férias na ilha de moçambique

Aqui começou uma nova etapa do nosso destino Africano. Agora, em vez de contarmos os dias, passámos a contar os meses. Aqui a ocupação do tempo foi muito mais fácil, pois além das patrulhas para marcar presença territorial, havia contactos 
com as populações e visitas a várias missões de cariz religiosas. Finalmente chegou o dia 8 de Maio de 1969 , em que embarcámos no Império, regressando a Lisboa no dia 31 do mesmo mês. Terminou aqui a nossa " viagem " , no entanto só em ABRIL de 1974, se fechou o ciclo da " Grande Viagem " de todos nós.

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