5 - AS
MINHAS COMICHÕES EM MOÇAMBIQUE-1973
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Acarinhando uma criança de Pundanhar |
Em
Pundanhar fazia um calor húmido do caraças. Um gajo acabava de tomar banho e já
estava de novo todo empapado de suor. No meio daquela sauna toda, havia já uns
dias que vinha sentindo uma chata comichão na barriga da perna direita. Eu ia
coçando aquela coceira e assim coçando e recoçando foram passando alguns dias,
até que notei que tinha eclodido uma pequena erupção, ali no sítio das
“coçagens”. Fiquei preocupado com aquela tumescência e exibi-a a um dos meus
soldados, o macua Amidjai, que quando tal viu assim reagiu:
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Retirar a matacanha |
Quando
lhe perguntei o que era isso de matacanha não me respondeu e saiu correndo
afastando-se de mim. Fiquei perplexo, preocupado. Estaria eu acometido de
alguma doença pegadiça e ele estaria fugindo do eminente contágio?
De
repente voltou de faca na mão, afiando um troço de madeira, uma braça que tinha
sacado de uma árvore. Sentou-se frente a mim e quando o cavaco estava
perfeitamente “ajagunçado”, pontiagudo, pôs as mãos à minha pantorrilha e com
aquele punção em riste vai de escarafunchar aquele incómodo furúnculo abrindo a
pele até retirar com grande espanto meu um estranho bicho arredondado do
tamanho de uma ervilha.
Foi a
sua melhor resposta à minha pergunta Fiquei a saber o que era aquilo de
matacanha. Uma “tunga penetrans”.
Já tinha sido atacado por abelhas, já tinha sofrido as picadas das talacas, já tinha coçado outras coceiras, a do feijão macaco, também a dos percevejos e ainda a comichão das micoses. Porra foram muitas comichões que apesar de chatas eram coisas insignificantes perante a guerra, as minas, as morteiradas e as emboscadas da Frelimo
Deus
estava do outro lado, era moçambicano, era Frelimista mas naquele dia havia
sobrado uma centelha divina para mim, foi o macua Amidjai a partir daí
alcunhado de “ O Matacanha”
*Manuel Neves Silva- Furriel Miliciano GE ( O Siliva da história)
-Criança
de Pundanhar
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