Bem vindo

bandeira-portugal-imagem-animada-0007 bandeira-mocambique-imagem-animada-0006

Livros da guerra colonial

Miandica terra do outro mundo


segunda-feira, 23 de setembro de 2019

"CHEKA"


           

A chegada de um cheka caloiro na arte espartana era deveras interessante e divertida para aqueles que não estavam habituados a grandes obras de divertimento.Apareceu numa terciária, todo enfiado amarelo branco pálido, bem uniformizado de galões ou  divisas a brilhar, A cara, deixou transparecer o  seu cogito, a sua alma. Na alma, que transparecia no rosto lia-se adeus vida, adeus namorada, adeus civilização, estava no Lunho, estava no buraco, estava simplesmente tramado.


Não era preciso ser-se psicológico, bastava-me  fazer um exame introspectivo com efeito retroactivo e avaliar o que comigo se passou, Diziam os velhinhos, que cheka era pior que turra, não chegarei a tanto, porque o cheka era mais benevolente que o turra, embora fosse mais ignorante. Os velhinhos, começaram a fazer a sua psico. Chegaram a incutir na massa cinzenta do recém chegado, que poças com origem nas intemperes, passagem de viaturas, natureza do terreno eram resultado de explosões de material inimigo. Enfim uma gama de coisas sem nexo.
Mas, o cheka começou a ficar velhinho (KOKUANA) . Um dia era um voluntário escalado para tomar parte em mais uma rotineira passeata por Mepotxe. Comandou um grupo com todas as precauções teóricas que os seus instrutores lhe incutiram na memória. Os soldados dado que já eram veteranos na mata começaram a rir-se e a ver com ar ridículo as atitudes do cheka. Contudo, o cheka foi mesmo ao objectivo dado que  é caloiro. Necessitando de meter "gasolina" no aparelho digestivo, mandou montar um pequeno alto para o efeito. O Zé turra gostava muito de seguir as nossas tropas e nesse dia foi o que sucedeu. Entre os nossos houve um que vê aparecer no meio do capim aquelas cabeças com cabelo encarapinhado. Avisa o seu comandante de secção que era das operações difíceis. Fez a pontaria e esperou a aproximação do alvo e prime o gatilho na hora exacta. Foi mais um dos elementos subversivos que tombou. Era ainda manhã o sol ainda não se tinha afastado do horizonte. O moribundo trazia na mão além da arma que não chegou a utilizar uma cana de açúcar com a qual tomava o seu pequeno almoço. O cadáver caiu por terra e a sua mão abriu e a cana ficou entre os dedos do moribundo. O caçador especial que atingiu o rebelde foi procurar a arma, viu a cana, viu o sangue, viu um homem sem vida, viu os buracos dos projecteis da sua arma. Voltou para junto dos seus camaradas de campanha a transpirar mas sentindo bastante frio que lhe causou arrepios.


Sentiu glória, sentiu frustração, sentiu remorsos, sentiu-se mal, sentiu uma mistura de reacções que acabou por ficar emocionado. A operação tinha terminado, voltamos ao aquartelamento e na hora da chegada, parecia mais um grande hotel que um bairro de latas. O homem das operações difíceis levou o seu troféu do campo de batalha. Os que ficaram no aquartelamento rodearam o homem que matou para não morrer. Pediram explicações ele falou mas, notou-se que estava emocionado. Sentou-se à mesa, não comia, pensava, meditava e pronunciava palavras como: O seu pequeno almoço era uma reles cana de açúcar e os seus sapatos eram tão velhos como ele, a suafugir, tudo isto  arma não funcionou, logo fui eu que o fiz tombar. Sim, é difícil descrever o que um inofensivo sente depois de matar um homem. Acto esse que nunca tinha praticado. Tudo isto podia ter sido evitado se o guerrilheiro não tenta-se fugir, tudo isto seria evitado se ele o moribundo não tivesse abraçado conscientemente ou inconscientemente a vida da rebeldia. Nunca a perceber porque razão havia gente que viveu na mata, gente que viveu primitivamente, gente que estava em pé de guerra e só porque não queriam viver em paz à sombra da bandeira verde e vermelha.

Texto de:
Bernardino Peixoto
CCAÇ 4141

2 comentários:

  1. No texto acima escrito neste mágnifico blog.que eu enviei para o seu autor Amadeu Silva é verdadeiro eu estive presente nessa operação.Esse dia ficou marcado na minha memória aínda hoje eu consigo descrever tudo o que aconteceu.Foi horrivel ver um moribundo prostado morto por terra o que não havia necessidade de o abater eramos um grupo de combate fizemos o cerco e fácilmente era feira a sua captura.Tudo isto se teria evitado se o guerrilheiro não tenta fugir.Eu sei que esta subeversão era do exterior oriunda e alimentada mas quem sofreu as suas funesta e consequências foram os que lá viviam foram os inocentes foram os inconscientes fomos todos nós.

    ResponderEliminar
  2. "A Guerra do Ultramar"
    Para uns,ou Guerra Colonial para outros teve inicio no ano de 1961 perfazendo actualmente cinquenta e oito anos.Por outro lado,decorridos que estão quarenta cinco anos após o 25 de Abril eu combatente do Ultramar sou hoje confrontado,com um sentimento de abandono e de desprezo,por uma Pátria madrasta.
    Certamente que o sr comandante do Supremo das forças armadas,que sabe que existem um sentimento de revolta,e descontentamento generalizado,em todos os combatentes do Ultramar.Sentimento esse que vai ao ponto extremo de vários heróis antigos combatentes,entregar as suas cruzes de guerra,ao Ex.º.Fui para além mar onde a Pátria foi,lutei com um clamor imortal de mar em mar,de rio em rio,de serra em serra subindo vales e serras por trilhos armadilhados,sempre em prol de uma Pátria que eu julgava ser a minha porque foi ela que me obrigou a lutar por ela.Hoje essa mesma Pátria olha para mim como um inútil,como um traidor,ou até mesmo como um mercenário.

    ResponderEliminar

Páginas

Páginas

Armamento e comunicações

Clique em play-in memories dos camaradas falecidos.