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segunda-feira, 22 de outubro de 2018

GRUPOS DE COMANDOS DA NAMAACHA

domingo, 7 de junho de 2015

Comandos Tropa de Elite do Exército Português
CONSTITUIÇÃO DE COMANDOS EM MOÇAMBIQUE:
Texto de:
Fausto Lages Proença Garcia
Alferes Comando

Naquele território, a ideia da criação de uma tropa especializada em contra-guerrilha, foi tomando forma durante a época em que era Comandante da Região Militar o General João Alexandre Caeiro Carrasco. Podemos precisar que já em 1962, altura em que a subversão ainda não se tinha manifestado na sua fase armada, havia já a perfeita noção de que nem todos os militares, sobretudo os quadros, se encontravam mentalizados para o tipo de guerra subversiva que já despoletara em Angola e que se previa eclodiria também em Moçambique.

Este breve artigo, em discurso directo, resulta de um desafio lançado pelo Dr. Lobo do Amaral, Presidente da nossa Associação de Comandos, e está organizado em duas partes, a primeira aborda o curso na Quibala e, na segunda parte, falamos sobre a criação da Especialidade ”Comando” na então Região Militar de Moçambique.  Naquele território, a ideia da criação de uma tropa especializada em contra-guerrilha, foi tomando forma durante a época em que era Comandante da Região Militar o General João Alexandre Caeiro Carrasco. Podemos precisar que já em 1962, altura em que a subversão ainda não se tinha manifestado na sua fase armada, havia já a perfeita noção de que nem todos os militares, sobretudo os quadros, se encontravam mentalizados para o tipo de guerra subversiva que já despoletara em Angola e que se previa eclodiria também em Moçambique. Conhecedor de que em Angola se iria proximamente realizar um curso de Comandos, no CI 16 na Quibala-Norte, Caeiro Carrasco resolveu mobilizar para a frequência deste curso os seguintes oficiais:
• Cap. Inf. Flávio Martins Videira, do CCE 313
• Cap. Inf. António Rosado Serrano, do BCLM
• Ten. Inf. Armando Pereira Marcelino, do BCLM
• Alf. Mil. Fausto Lages Proença Garcia, do ER Nampula
• Asp. Mil. José António Marques Jacinto, do CI Inf Nampula
• Fur. Inf. José Granjeio Fragoso, da companhia de caçadores de Vila Manica
• Fur. Cav.. António José Cadete da Silva, da d. Infantaria 162
• Fur. Eng. António Ferreira Vasques, do CCA Nampula 
• Fur. Cav. José Maurício Teixeira, do ER Nampula
• Fur. Inf. Jacinto António Rodrigues, do Batalhão de Caçadores de Lourenço Marques (BCLM)
• Fur. Inf. João Gonçalo Raínha, do CCE 313
• 1º. Cabo 55/61/RD Joaquim Afonso Moreira, do B. Caç. Porto Amélia

Alguns instrutores dos Comandos da Namaacha
Não nos foi explicado qual o motivo da escolha – presumimos que teve por base informações das respectivas Unidades – e também porque a maioria já tinha frequentado na Metrópole, em Lamego, o então curso de Caçadores Especiais, a quem era atribuída uma boina castanha. Juntámo-nos no Quartel-General (QG) em Lourenço Marques, onde aí sim, o General nos explicou a missão de que nos incumbia, da sua importância, dificuldade e perigo, mas também da esperança que em nós depositava para a constituição de um Centro de Instrução de Comandos na Região Militar de Moçambique, a criar após o nosso regresso.
No dia do embarque, o General veio despedir-se de nós fazendo mais uma intervenção sobre a importância e perigos da missão e da novidade e utilidade dos Comandos em missões de contra-subversão, para o que a maioria das unidades não se encontrava preparada, uma vez que a abordagem da instrução a que eram sujeitos na Metrópole era ainda a como de uma guerra clássica se tratasse. Chegados a Luanda fomos recebidos por uma delegação do QG, onde nos conduziram, e onde fomos também recebidos pelo General Comandante. Ficámos em Luanda cerca de oito dias, após o que fomos integrados numa coluna de reabastecimentos com destino ao Ambriz, onde ficámos uma noite. Na manhã seguinte, fomos convenientemente armados, pois a coluna de reabastecimentos dirigia-se à Quibala. A picada, por onde seguimos, ladeava a famosa mata da Sanga e aqui, os ataques do inimigo eram frequentes. Pelo caminho foram inúmeras as paragens para se efectuarem reconhecimentos e depois continuarmos. Chegámos à Quibala sem incidentes de maior. Tinham sido designados Comandante e Instrutores do Centro oficiais com larga experiência e provas dadas em combate; alguns deles tinham estado na CI 21 (Zemba). Entre eles recordo o Comandante Maj Inf Adelino Antunes de Sá; os Cap. Art Gilberto Santos e Castro e Júlio de Oliveira; o Ten. Mil. Cav. Álvaro Manuel Alves Cardoso; os Ten. Mil. “Comando” João Vieira Pereira e Jaime Adolfo Abreu Cardoso e, ainda, o Ten. Médico António Resina Rodrigues; todos eles agora bem conhecidos de todos os Comandos. A instrução teve início a 15 de Junho de 1963 e durou até 15 de Setembro do mesmo ano, tendo sido atribuída a insígnia Comando a todos os elementos do grupo vindo de Moçambique.


A nossa presença no CI 16 trouxe um conjunto de preocupações ao comando, pois, tal como hoje, não é de ânimo leve que se planeia a instrução de oficiais e sargentos. A instrução foi idêntica à dos grupos de combate anteriores tendo sido acrescida a informação sobre os meios, os sistemas, os processos e métodos seguidos pelo Inimigo. Tínhamos também a chamada informação geral, com palestras de carácter político e de estudo da evolução da guerra que suportávamos.
Devo aqui realçar que o chefe da nossa missão e futuro comandante do Centro de Instrução da Namaacha, foi gravemente ferido em combate por um estilhaço de granada que o atingiu na cabeça, tendo sido evacuado para a África do Sul.

Pairava sobre o curso a ideia de que a personagem enigmática de Dante Vachi, jornalista italiano, talvez repórter de guerra, aventureiro e ao que se dizia ao serviço do Paris Match, com experiência na Argélia e na Indochina. Este terá influenciado as chefias militares no sentido de se reformularem os métodos de actuação nacionais.

Tinha já estado em Nóqui onde fizera umas experiências com bons resultados, não só tácticos como também psicológicos.

Nesta última área recordo a influência dos cartazes espalhados pelo aquartelamento, cartazes figurativos, entre eles um muito sugestivo, pois era um soldado russo a roubar o mapa de Angola, além de outros com frases políticas com idêntico significado.Durante a noite as camaratas eram invadidas por música com marchas militares, que apelavam à mentalização para o combate. Este tipo de mentalização, juntamente com palestras de teor idêntico, deram naturalmente os seus frutos, que se concretizavam no cada vez maior empenho dos instruendos.
De regresso a Moçambique, e apresentados no QG em Lourenço Marques, foi o Capitão Videira encarregado de dar início à formação do Centro de Instrução de Comandos na Namaacha.

Daí partimos, pelo menos um grupo de três elementos, para fazer o recrutamento de voluntários em todas as Unidades da província. Os oferecidos eram logo sujeitos no local a provas de selecção. Os mais de 200 apresentados, foram reduzidos para 80 que iniciaram a formação; chegaram ao final 51 Comandos, que foram distribuídos por dois grupos de combate, os Vampiros e os Sombras. O Curso teve a duração de 5 meses e decorreu de 17 de Fevereiro a 17 de Julho de 1964.
Saliento que nem em todas as Unidades por onde passámos, para a 1ª. selecção, fomos bem recebidos, dado que os seus comandantes receavam ficar sem os melhores elementos.
Na recepção aos novos elementos, o Capitão Videira, na sua alocução, chamou a atenção de todos que o viver perigosamente seria o lema; que a vida seria dura, com riscos, com sacrifício de toda a ordem, sem horários de qualquer natureza durante as 24 horas; que seriam forçados a viver em instrução por períodos superiores a um dia e forçados a viver durante a noite. Preveniu também para os aspectos disciplinares, o atavio, a limpeza da arma, companheira de todos os momentos do combatente.

GRUPOS DE COMANDOS DA NAMAACHA 


O primeiro Centro de Instrução de Comandos de Moçambique, ficou instalado na NAMAACHA (povoação fronteiriça com a Suazilândia a cerca de 70Kms de Lourenço Marques). Foi nomeado comandante da instrução o então Capitão de Infantaria Flávio Martins Videira. A equipa de instrução era constituída por:

INSTRUTORES e MONITORES

Cap. António Rosado Serrano
Cap. Rui Amândio Pereira Marcelino
Ten. Milº Médico Luís António M.P.C.S. Pereira
Alf. Milº Fausto Lopes Proença Garcia
Fur. Milº João Pombo Rainha
Fur. Milº António Fernandes Vasques
Fur. Milº José Granjeio Fragoso
1º Cabo Joaquim Afonso Moreira

O Curso teve início em 13 de Fevereiro de 1964 e terminou em 7 de Julho do mesmo ano.

Do guia do Comando do C.I. da NAMAACHA, distribuído a todos os instruendos no dia da chegada transcrevemos:
Que sejas, à C.C.E 313
E sejas benvindo, pela alegria que todos sentimos na previsão do vosso  convívio e na esperança da vossa glória.
Viver perigosamente vai ser o teu lema! Mas se a vida será dura como convém ao militar que és ao COMANDO que desejas ser, não te deves esquecer que é no sofrimento e na dor que se tempera a alma do militar e se caldeia a força da sua fé.
É a tua vontade, na alegria da tua juventude e na generosidade do teu temperamento, que virá o fiel da tua actividade e o orgulho da tua consciência. E quando, por esforços a sacrifícios, ao longo de riscos sem par, sentires merecer o título a que aspiras, ou sentires a alegria de ver brilhar no teu peito a insígnia que te distingue, então compreenderás o verdadeiro significado de um COMANDO. E saberás que esse título corresponde ao termo de uma luta que travaste contigo próprio, a uma vitória da tua vontade sobre o teu instinto.
Que sejas BENVINDO À C.C.E. 313. E que, quando daqui saíres, na certeza de um dever cumprido, leves contigo e na consciência a honra de merecê-la.

Algumas indicações 

A instrução a que te irás sujeitar desenrolar-se-à , na sua maior parte, sem que conheças o seu horário ou a sua natureza. Isto quer dizer que num período de 24 horas estarás pronto, à mais pequena indicação, a apresentares-te no teu local habitual de formatura, para dali seguires ao cumprimento do que for determinado pelo instrutor. Poderá até suceder que te mantenhas em instrução por periodo superior a um dia, e serás forçado a viver de noite, isto é, a fazeres a tua vida normal durante o período nocturno do dia.
Tudo, portanto poderá aqui suceder sem que o estranhes e, sobretudo sem que deixes de dominar as reacções que, de certo modo, seriam normais se não tratasse de um COMANDO.
Um outro aspecto que julgamos dever prevenir-te, é o aspecto disciplinar do teu comportamento. Se o seu rigor poderá considerar-se um exagero para a tropa normal, para um COMANDO tornar-se de tal modo habitual que irás estranhar, no futuro, como te foi possível viver de outro modo. E não te esqueças, de que as exigências feitas não são obrigações que cumpres, mas a afirmação permanente da tua vontade e do teu desejo de ser COMANDO.
Um factor a que se dá grande importância, afinal a importância que mereces, é o atavio. Se as condições existentes não favorecem neste pormenor, elas só poderão ser uma mais forte razão para que os cuidados se redobrem e as exigências aumentam.
Por este factor não estranharás a permanente vigilância a que te sujeitas e, sobretudo ao permanente cuidado que deves ter. E neste continuar de revoluções e elucidações parece-nos o momento de referir os cuidados com a tua arma. Ela representa, bem o sabes, o teu mais forte argumento no combate: e porque assim é, a tua arma deve ser a tua maior preocupação. Se é obrigação de qualquer combatente habituar-se à sua permanente companhia, estimá-la como o mais fiel dos seus amigos e cuidar dela em todos os instantes, para um COMANDO constitui um legítimo título de orgulho. É por por esse facto que o seu uso permanente é exigido durante uma grande parte do Curso. Em qualquer instante, ela poderá ser sujeita a uma revista que, como é evidente, deverá concluir pelo seu perfeito estado de limpeza e funcionamento.
Finda a instrução formaram-se dois grupos.
Os SOMBRAS comandados pelo Alf. Milº
José Alexandre Gafarot de Almeida.
Os VAMPIROS comandados pelo
 Alf.Milº José António Mayer Cabral Sacadura
Particularidades
Todos os elementos sabiam: nadar, Operar com Rádio e conduzir.
Os Grupos eram de 24 elementos divididos por 24 elementos divididos por 6 equipas de 4.
O contingente de candidatos a Comandos, era formado por 200 elementos, dos quais, feita a 1ª selecção, ficaram 80. Estes 80 voluntários iniciaram a Instrução em 13-2-1964 e chegaram ao fim do Curso em 7-7-1964 cerca de 50 Instruendos com aproveitamento.
Cada Grupo era formado por:
 1 Oficial
 5 Sargentos
 6- 1º Cabos
12 Praças


Estes dois Grupos  actuaram exclusivamente como força de reserva à ordem do General Chefe do Estado-Maior da RMM, General Caeiro Carrasco, nos seguintes teatros operacionais de Moçambique:
Serra Mecula no Niassa 2 meses
Cabo Delgado, 45 dias
Nova Coimbra e Metangula, 2 meses
Do Lumbo a Metangula, 3 colunas de ida  volta para realizar o transporte de 6 lanchas da Marinha, durante 3 meses.
Passaram à disponibilidade em: Março de 1965

Intervenções do Agrupamento

Terminado o Curso de Instrução, o Agrupamento rumou a MECULA, de FN Belgas, de que gostaram muito, habituados que estavam às Mauser do Batalhão 558. a Missão era nomadizar na zona de MECULA até ao RIO ROVUMA. Julgava-se ali existirem bases inimigas, mas a zona era muito extensa, pouco povoada por autóctones e raramente se sentia a presença Europeia. Os Comandos detectaram a dada altura trilhos de infiltração inimiga em zonas o Rio era mais baixo. Por vezes os elementos da Frelimo passavam em filas numerosas, e os militares do Agrupamento baptizaram o local como ROSSIO. Instalados em cima das árvores observaram as acções do inimigo. Conseguiram infiltrar-se na TANZÂNIA, subornando aqui e ali elementos da população e descobriram a base, mas não tiveram autorização para a atacar.
De MECULA o grupo recebe ordens para seguir ;para NAMARRÓI na ZAMBÉZIA, onde a Frelimo tinha um núcleo que ameaçava as populações locais, e deixava os civis de Quelimane receosos de uma repetição dos acontecimentos de Março de 1961 em Angola. Os militares foram por isso recebidos em delírio naquela localidades

Em NAMARRÓI consegue dois guias. Um deles era um preso da Administração, conhecido por PÉ LEVE por ter um defeito numa rótula e uma Cipaio de nome PAULO. O Grupo da Frelimo que operava na zona tinha raptado todas as mulheres indígenas, incluindo a do Cipaio Paulo. O Pé Leve era quem conhecia o caminho, mas apesar de estar constantemente a afirmar "estamos quase", o Grupo caminhou 12 horas. Detectado o acampamento, organizaram o cerco, mas foram detectados pelas sentinelas e o ataque foi organizado de forma mais ou menos anárquica, com forte perigo de se confundirem os elementos dos Comandos com os da Frelimo. A explosão das granadas dentro das palhotas gerou grande confusão e a fuga de grande parte dos elementos inimigos, ficando só as mulheres e alguns prisioneiros que foram amarrados. O Paulo correu a abraçar a mulher mas ao fim de algum tempo ao se aperceber dos prisioneiros queria matá-los e foi a custo que o pessoal do Agrupamento o conseguiu segurar. No entanto um acontecimento anormal e inesperado sucedeu. As mulheres ofereceram-se aos militares, e estes largando os prisioneiros que acabaram por fugir, correram para elas. O Alferes Cabral Sacadura assistiu então aquilo que parecia um "bacanal romano". Findo o "evento", a força passou revista ao acampamento, e localizaram um celeiro, de onde saltou um homem de catana em riste que feriu o Cipaio Paulo. A resposta pronta do pelotão abateu o homem, mas o Paulo exigiu trazer a cabeça do mesmo para NAMARRÓI onde foram mais uma vez recebidos de forma entusiástica.

Concluída a Missão em NAMARRÓI , era tempo de rumar a MUEDA. Ali o Grupo viu-se sem o Alferes Sacadura, por este ter sido requisitado para comandar o Pelotão de Reconhecimento que teria de se deslocar à Algodoeira em DIACA. A meio caminho viram uma mangueira carregada de frutos. Ante o olhar incrédulo do oficial, os elementos do pelotão d reconhecimento abandonaram a viatura, e as armas nela, e correram a banquetear-se com mangas, nem suspeitando o enorme risco que corriam.
 Regressado a MUEDA o alferes segue com o Agrupamento para MITEDA e MUIDUMBE. Numa das operações quase apanhavam o Lázaro Kavandame que passou por eles disfarçado de mecânico, com fato macaco e tudo. Nestas operações estiveram a 28 dias a ração de combate, e verificaram que as latas de sardinha tinham o conteudo estragado, optaram então por fritar as ditas com sumo de limão ou manga. Meses depois vieram ficaram a saber que aquelas latas tinham sido rejeitadas para exportação e foram aproveitadas pelo Exército. Num encontro mais tarde conheceram o Engº Jorge Jardim que lhes resolveu o problema das latas de sardinha.
Terminada a estadia em CABO DELGADO a missão seguinte foi a todos os níveis surpreendentes. O Agrupamento integrou um força que tinha como missão transportar lanchas para o LAGO NIASSA desde NACALA. As lanchas rolavam através de um sistema de tracção manual em que as travesssas do caminho-de-ferro desempenhavam um papel fundamental. Para as lanchas passarem viram-se obrigados a destruir parcialmente algumas pontes. Chegados finalmente a METANGULA, dormiram no chão de uma arrecadação. e recusaram uma operação por os homens se encontrarem doentes.
Concluída a travessia das lanchas o Agrupamento retoma a MUIDUMBE E MUEDA. A dada altura recebem uma informação que os Padres Brancos de uma Missão em NANGOLOLO apoiavam os terroristas. Os Comandos iniciavam ali uma série de acções que envolveram a destruição de Missões.Quando chegaram a NANGOLOLO. os eclesiásticos já haviam partido, e os militares aproveitaram alguns dias para nomadizar na zona, matar as galinhas restantes e dormir em camas com colchões. Após tanto tempo no mato, NANGOLOLO parecia um verdadeiro hotel.
Regressam ao NIASSA numa missão idêntica à que tinham cumprido em NANGOLOLO. A ideia era destruir a Missão de NGOLO em MESSUMBA Chegaram lá com o apoio dos Fuzileiros e detectaram indivíduos que os padres anglicanos tentavam esconder. Os Comandos assaltam a Missão e atiraram sobre tudo o que se movimentava no interior, atingindo alguns Padres. Os Alferes foram chamados a VILA CABRAL à presença do Major Costa Matos, Governador do Niassa, e de dois Inspectores da PIDE. O caso esta feio porque tinha sido identificado um cadáver de um Padre com 14 furos. A meio da reunião entra o General Caeiro Carrasco de rompante e manda os Comandos sair dali imediatamente porque aquilo não era nada com eles.
Durante o gozo de um período de férias em LOURENÇO MARQUES, surge o pedido urgente da deslocação do Agrupamento para VILA CABRAL. Os graduados passaram a tarde na Rua Araújo à procura dos militares, e quando conseguiram reunir todos os elementos apresentaram-se ao General Carrasco que os informou que seguia com eles até NOVA COIMBRA. Já perto desta localidade foram emboscados, e ante o pasmo dos Comandos o General vociferava: Fujam que está aqui o Comandante-Chefe de Moçambique que vai dar cabo vós! Valeu ao General um Comando encarregue da sua segurança que lhe lhe deitou a mão e o obrigou a permanecer deitado até a emboscada terminar.
Em primeiro plano o Capitão Caçorino Dias
Depois de nomadizar na região NOVA COIMBRA, seguiram para METANGULA, onde a dada altura chegou uma informação que garantia que num determinado local pernoitavam elementos inimigos. O Grupo desconfiou da missão que deveria à noite mas partiu para sua execução. Nesta operação foi envolvida a Companhia de Cavalaria 754, comandada pelo Capitão Caçorino Dias, também com a especialidade de Comando. Esta força foi emboscada este  Oficial ficou cegoem consequência de ferimentos sofridos. O Tenente Carvalho Araújo morreu. Os homens do agrupamento de Comandos acreditam até hoje que tudo não passou de uma cilada.

O descanso dos guerreiros

Um militar em operações sonha com o dia em que no próximo descanso operacional. Os militares do agrupamento de Comandos não escapavam a essa regra. No entanto alguns descansos tornaram-se  memoráveis pelos inusitados acontecimentos sucedidos.
Resolvidos os problemas em NAMARRÓI, os militares gozaram de um período de descanso em QUELIMANE. O primeiro dia desse descanso tornou-se memorável. Comandava o Agrupamento o Capitão Serrano, que tinha a particularidade de usar um revólver com tambor, com coronha em madre pérola.

Este Oficial pedia frequentemente a alguém que atirasse o chapéu ao ar e, quando este esvoaçava sobre as cabeças, o Cap. Serrano disparava sobre o chapéu.
No primeiro jantar este Capitão juntou-se aos graduados do Agrupamento num restaurante da cidade. A dada altura vieram dizer-lhes que uns miúdos brincava em redor dos Unimogs. O Capitão Serrano, para acabar com a brincadeira dos catraios, mas não se querendo importunar com o assunto, dispara dentro do restaurante, o que provoca um enorme alvoroço na população que nunca havia assistido a tal.
Depois do jantar os militares assistiram assistiram a um espectáculo de variedades de uma companhia de Teatro Metropolitana. Como não tinham outra roupa, os Comandos assistiam ao show, de camuflado, armas e granadas presas aos suspensórios , ante o olhar atónito e espantado dos civis, que evitaram os lugares perto dos militares cuja fama se espalhava rapidamente pela cidade. Terminado o espectáculo, a visita a alguns bares originou um excesso de álcool que não terá sido alheio a umas corridas de Unimogs pelas ruas da cidade em grande velocidade, que só por milagre não causou vítimas.
Depois de terminada a disputa automobilística, os oficiais à casa onde pernoitavam e acharam por bem montar o morteiro na entrada da mesma. A dona da casa entre aflita e incrédula ante o que via, pediu que guardassem as granadas num cofre da casa, ao que os militares acederam.
No dia seguinte veio a ordem de marcha imediata para o Norte e, com pressa e o resto dos vapores do álcool os homens esqueceram as granadas no cofre. A dona da casa enviou um telegrama a perguntar por vias ínvias, o que fazer ao recheio do cofre. O Alferes Sacadura mandou-a lançar tudo ao mar.
Da esqº para a Dirª Cap. Serrano, Gen. Caeiro Carrasco
e o Cap. Videira, comandante do CIC- Namaacha
Num outro descanso, desta vez em LOURENÇO MARQUES, o Gen. Carrasco mandou o Agrupamento para a PONTA MAHONE, para que as pessoa da cidade não ficassem horrorizadas com o seu comportamento. Passados poucos dia apareceram por ali dirigentes do MNF, a  oferecer recordações e a quererem falar com os militares. A própria Supico Pinto dirigindo-se a um militar perguntou-lhe se conhecia o Movimento. Este respondeu de pronto: Não, não conheço nada dessa merda!
A população civil da PONTA MAHONE recebeu os militares muito bem, oferecendo bolas de futebol, equipamento e tabaco. Os alferes foram agraciados com canetas Parker com os nomes gravados. No entanto em LOURENÇO MARQUES os militares repararam que ninguém falava de guerra. Era uma coisa distante de que as pessoas não tinham consciência. Os soldados ao repararem nisso sentiram alguma frustração.

Atribulações da Guerra

Estando o Agrupamento numa intervenção em MUEDA, foi-lhes apresentado um novo Capitão que deveria substituir o que comandara os Grupos  até então. Este Capitão tinha cumprido já bastantes meses da sua comissão, e portava-se como um teórico sem muita experiência de terreno.
A primeira missão que solicitou ao Agrupamento foi a de fiscalizarem uma picada onde a FRELIMO emboscava as viaturas frequentemente, e minava em diferentes pontos. O método que deveriam utilizar seria revolucionário, mas suscitou aos oficiais comandantes dos dois Grupos as maiores dúvidas, sobretudo porque era grande o perigo de os homens serem atingidos por fogo amigo.
O novo método em fazer caminhar em fazer caminhar um Grupo pela picada , dividida em dois, costas com costas, virados para a mata e prontos a disparar ao mais pequeno sinal da presença de guerilheiros. O outro Grupo deveria seguir pela mata e prontos a disparar ao mais pequeno sinal da presença guerrilheiros. O outro Grupo deveria seguir pela mata e reunir-se aos seus camaradas da picada num determinado ponto. A ideia era provocar o inimigo, que atacaria quando visse uma força reduzida na picada, e seria surpreendido assim que fosse  atacado pelas costas pelo Grupo que seguia pela mata. Na prática , a aproximação à picada por parte do Grupo que caminhava na mata fêz-se ligeiramente antes do ponto marcado, devido às evidentes dificuldades em discurtinar no mato o local da picada exacto. O militar que seguia à cabeça da coluna ao vislumbrar movimentos na mata abriu fogo, no que foi secundado pelos restantes camaradas. Quando se aperceberam que eram os elementos do outro Grupo já haviam morrido 3 e 6 estavam gravemente feridos. O Capitão foi corrido, e o Alferes Cabral Sacadura assunmiu o comando do Agrupamento, como oficial mais velho dos dois Alferes,
Alferes CMD. José Mayer Cabral Sacadura
No período inicial, quando o Grupo estava nomadizado na serra de MECULA , decidiu-se montar um acampamento na encosta. O Alferes Sacadura percebeu que sempre que sempre que podiam os homens desciam a encosta para chegar a um aldeamento onde as mulheres os recebiam muito bem, havendo alguns que já tinham companheira certa.
Decidiu o Alferes construir um bairro militar. Quando as palhotas estavam edificadas disse aos homens que tivessem mulher podia ir buscá-la e viver com ela no bairro. O Alferes construiu uma palhota para ele e colocou um letreiro que dizia PALHOTA DO CHEFE DA POVOAÇÃO. Na entrada do conjunto de palhotas outro letreiro informava: BAIRRO MILITAR DE MECULA.
A dada altura o Bairro foi visitado por um Tenente da inspecção militar. Este Oficial deparou com uma bengala cheia de cornos de animais que o grupo tinha abatido para o seu sustento. Esta bengala encontrava-se perto do pau da Bandeira. O Alferes Sacadura ao verificar o interesse do Tenente disse-lhe: "Isto não é para a sua cabeça, é só para o pessoal que está aqui". O Tenente lá partiu para elaborar o seu relatório.
Os comandantes do Agrupamento de Comandos
Alferes Gafarot e Cabral Sacadura
Ao fim de mais de 30 meses de comissão, o Agrupamento foi chamado a LOURENÇO MARQUES. Os militares encontravam-se num estado lastimável, com vários casos de paludismo , e em situação psicológica não muito animadora.Pensavam que a sua tarefa tinha finalmente terminado mas enganaram-se. Após um curto período de descanso tiveram de ir em missão de protecção ao transporte de lanchas da Marinha do LUMBO a METANGULA. Ali permaneceram 3 meses.
 Em Janeiro de 1966 terminaram a sua comissão de serviço e regressaram a LISBOA, passando logo de seguida à situação de disponibilidade.
A GUERRA INTENSIFICAVA_SE EM MOÇAMBIQUE
A excessiva proximidade com o General Caeiro Carrasco e a independência excessiva do Agrupamento de Comandos da NAMAACHA, face ao Batalhão de Comandos de Angola, ditaram a descontinuidade do projecto de Moçambique.
Assim, as Companhias de Comandos foram umas formadas em LAMEGO e outras em ANGOLA.
Em Maio de 1966 chegou a Moçambique a 2ª CCMDS que foi formada em ZEMBA (ANGOLA).










































2 comentários:

  1. Os "militares" que por acaso eram os primeiros dois Grupos, foram designados para escoltar as três viagens de ida e volta entre o Lumbo e o Catur, só.
    Encontravam-se muito cansado, mas não em "estado lastimável"...
    Eu comandei um dos grupos, estava lá, detesto romances, certo ?
    José Gafarot d'Almeida.

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    1. Registei com prazer que na extensa crónica só detectou o erro de "em estado lastimável" eu deveria ter escrito MUITO CANSADOS. Desculpe. À restante crónica nada diz e pode crer sr. José José Gafarot DAlmeida que no meus escritos neste blog NADA existe de romanceada.

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