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Livros da guerra colonial

Miandica terra do outro mundo


segunda-feira, 24 de setembro de 2018

MAJOR COSTA MATOS E DANIEL ROXO

TEXTO RETIRADO DO JORNAL "AEROGRAMA", EDITADO POR: ACUP DE CASTELO DE PAIVA
ESCRITO POR:
ANTÓNIO AUGUSTO

Major Costa Matos e Daniel Roxo

Visão e Eficácia
Francisco Daniel Roxo e Major Costa Matos e 1963
Decorria o ano de 1962 quando o então Major Costa Matos, foi nomeado governador da Província do Niassa. Nessa altura já Daniel Roxo percorria aquele território em actividades cinegéticas, acompanhado de um pequeno grupo de autóctones que o ajudavam nas suas sortidas pelas matas do noroeste moçambicano.
Natural de Lourenço Marques, o Major Costa Matos revelou-se o governador provincial que melhor entendeu o problema que o país então atravessava, percebendo que o conflito latente nas Províncias Ultramarinas, só se resolveria se fosse possível organizar as populações de forma a retirar à Frelimo o controle psicológico das mesmas. Isto equivale a dizer que o governador foi talvez dos primeiros a perceber que ganhava a guerra quem ganhasse a realidade local, ou seja, as populações. Costa Matos havia feito parte de um conjunto restrito de oficiais que observaram na Argélia, as técnicas de contraguerrilha. Associou a esse facto o seu enorme conhecimento de África e uma capacidade invulgar de decisão assertiva.
Costa Matos travou uma luta que foi antes de mais nada, contra o tempo. O conflito que decorria em Angola há mais de um ano era um mau presságio, e o governador sabia que se urdia em Dar-es-Salam, uma teia de conspiração para tornar possível uma guerrilha no interior de Moçambique. A fronteira norte era a mais vulnerável. O Niassa, de muito baixa densidade populacional, oferecia zonas onde os guerrilheiros facilmente poderiam construir os seus santuários, tão ao jeito dos ensinamentos das academias chinesas e soviéticas. A única forma de o impedir seria apostar na antecipação à acção psicológica-política da Frelimo.
O Crách do Grupo de Francisco Daniel Roxo

A primeira preocupação do novo governador é criar um sistema de informações local. Conta para isso com o apoio da 2ª Secção do Quartel General em Lourenço Marques, por onde terá de resto passado antes de ser nomeado. São enviados para o Niassa três homens, destinados a comandar pequenos grupos de sipaios. Estes militares deviam fazer-se passar por caçadores profissionais, financiar as suas actividades com os rendimentos gerados pela venda do produto das caçadas, enquanto recolhiam informações ulteriormente trabalhadas no governo provincial em Vila Cabral. Os tenentes Orlando Cristina e Gomes dos Santos, e o alferes Pestaquinni, deviam trajar à civil, jamais identificar-se como militares, para que a sua missão fosse bem-sucedida.
Francisco Daniel Roxo não fez parte destes grupos iniciais. Chegado a Moçambique há mais de uma década, ele continuava a percorrer a mata, caçando ao abrigo de uma licença outorgada pela Direção dos Serviços de Veterinária do Niassa. Não é claro o momento exacto em que os dois homens se conhecem, mas num meio tão pequeno tudo se acaba por saber, mormente se o governador busca incansavelmente, homens que estejam dispostos a ajudá-lo na missão de travar a influência do IN no espaço da sua jurisdição.
Orlando Cristina com Jorge Jardim à sua esquerda
Sabemos no entanto, que em 1963 o Major Costa Matos convenceu Daniel Roxo a aceitar um emprego como assistente no Censo da População da Província. Aproveitando o conhecimento profundo deste não só do terreno, mas também dos dialetos locais, o governador matou assim vários coelhos de uma só cajadada.
Em primeiro lugar experimentava as intenções de Daniel Roxo, que conheceria ainda mal, pese embora as boas indicações certamente recolhidas. Em segundo lugar ficava com dados objectivos de quem habitava o Niassa, e que movimentos de populações existiam através da fronteira norte, e se possível quem os fazia com alguma regularidade. Em terceiro lugar, percorrendo as aldeias do Niassa, o grupo do Daniel Roxo, ia recolhendo informações de todo o género, que compiladas e tratadas se revelariam fundamentais.
No final desse ano, o governador ordena ao Roxo que intensifique a recolha de dados nas aldeias no norte da província, junto ao Rovuma. Foi através deste trabalho que foi possível detectar movimentos de população em direcção à ilha de Likoma, no Lago, já em território do Malawi. Foi exactamente a partir de uma base nessa ilha que foi levado a cabo o ataque ao Cobué, que marca o início da luta armada naquela província
No primeiro trimestre de 1964 o Major sente o nível de ameaça subir. Demonstrando mais uma vez a sua capacidade de acção e decisão, e confiante já nas capacidades de Daniel Roxo, atribui-lhe outra missão. Teria agora de utilizar as suas deambulações para fazer contrainformação. Esta deveria visar o desmantelamento da propaganda dos Comissários Políticos da Frelimo junto das populações, e quando esta fosse detectada, conseguir discernir as linhas de penetração e bases de apoio dos mesmos.
Tudo isto é a demonstração cabal de que as informações chegavam em qualidade e quantidade ao palácio do governador, como talvez nunca tivessem chegado a nenhum outro congénere do antigo Império Português. O plano montado numa altura em que a organização da Frelimo se encontrava em movimento, resultou em pleno só não terá chegado foi a tempo de impedir a luta.
Roxo e o seu Grupo de Cipaios para mais uma missão
 O somatório da capacidade de decisão e visão do governador, e a eficácia do comandante de Milícias, profundo conhecedor das gentes e do terreno, dotado de uma coragem fora do comum, resultou na evidente contenção da Frelimo no distrito. Confrontada com um sistema organizado, o movimento independentista foi obrigado a enveredar quase exclusivamente por uma estratégia de dificultação da circulação dos meios militares portugueses, evitando no máximo possível o contacto directo. Nunca existiu real perigo a sul da linha Nova Coimbra –Metangula. Acresce que o Niassa foi a província moçambicana com menos actividade de forças especiais, (paraquedistas, comandos, GE’s e GEP’s), quando comparada com Cabo Delgado ou Tete, com a excepção da presença de fuzileiros no Lago que se revelou heróica.
Nada disto retira o brilho a quem ali serviu, e em zonas muitas vezes de pesadíssimo isolamento, cumprindo o seu dever e portanto tornando-se parte deste sucesso.
Nos meses imediatamente anteriores ao deflagrar do conflito, Daniel Roxo cria uma rede de informação nas aldeias do Niassa, que será sem dúvida a base do seu sucesso nos anos subsequentes, sobretudo nas diferentes operações militares que cumpriu. Muitos dos que serviram na província nos anos sessenta e setenta, foram testemunhos da fantástica capacidade operativa dos homens do Daniel Roxo -Milícias do Niassa. Para além dos atributos em campanha, os sucessos ficaram a dever-se a este trabalho preparatório, que permitiu a contra infiltração no IN.


PREPARAÇÃO PARA A OPERAÇÃO "MARTE"
A mais conhecida missão em que o grupo do Roxo participou, e que foi realizada sobretudo com as informações por eles recolhidas, foi a Operação Marte, no início de Agosto de 1968. Foi levada a efeito pelos homens da 4ª companhia de comandos de CIOE de Lamego, apoiados por alguns homens do grupo do Roxo. As informações foram tão boas, que foi possível ultrapassar a vigilância da base provincial no Niassa, (na zona a norte de Miandica), e atacá-la com surpresa e êxito total, destruindo material de guerra, capturando informações e militares, e recuperando populações que para ali tinham sido enviadas.
A vida destes homens ligou-se numa época particularmente difícil para Moçambique. Tinham com os meios de que dispunham, contornar um problema que já existia, e que apanhou a administração portuguesa a dormir a sono solto, na esmagadora maioria dos casos. Eles foram talvez a dupla mais bem-sucedida na organização de uma das mais remotas regiões que alguma vez formou o território nacional.

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