ESCRITO POR:
ANTÓNIO AUGUSTO
Major Costa Matos e Daniel Roxo
Visão e Eficácia
Francisco Daniel Roxo e Major Costa Matos e 1963 |
Natural de Lourenço Marques, o Major Costa Matos revelou-se o governador provincial que melhor entendeu o problema que o país então atravessava, percebendo que o conflito latente nas Províncias Ultramarinas, só se resolveria se fosse possível organizar as populações de forma a retirar à Frelimo o controle psicológico das mesmas. Isto equivale a dizer que o governador foi talvez dos primeiros a perceber que ganhava a guerra quem ganhasse a realidade local, ou seja, as populações. Costa Matos havia feito parte de um conjunto restrito de oficiais que observaram na Argélia, as técnicas de contraguerrilha. Associou a esse facto o seu enorme conhecimento de África e uma capacidade invulgar de decisão assertiva.
Costa Matos travou uma luta que foi antes de mais nada, contra o tempo. O conflito que decorria em Angola há mais de um ano era um mau presságio, e o governador sabia que se urdia em Dar-es-Salam, uma teia de conspiração para tornar possível uma guerrilha no interior de Moçambique. A fronteira norte era a mais vulnerável. O Niassa, de muito baixa densidade populacional, oferecia zonas onde os guerrilheiros facilmente poderiam construir os seus santuários, tão ao jeito dos ensinamentos das academias chinesas e soviéticas. A única forma de o impedir seria apostar na antecipação à acção psicológica-política da Frelimo.
O Crách do Grupo de Francisco Daniel Roxo |
Francisco Daniel Roxo não fez parte destes grupos iniciais. Chegado a Moçambique há mais de uma década, ele continuava a percorrer a mata, caçando ao abrigo de uma licença outorgada pela Direção dos Serviços de Veterinária do Niassa. Não é claro o momento exacto em que os dois homens se conhecem, mas num meio tão pequeno tudo se acaba por saber, mormente se o governador busca incansavelmente, homens que estejam dispostos a ajudá-lo na missão de travar a influência do IN no espaço da sua jurisdição.
Orlando Cristina com Jorge Jardim à sua esquerda |
Em primeiro lugar experimentava as intenções de Daniel Roxo, que conheceria ainda mal, pese embora as boas indicações certamente recolhidas. Em segundo lugar ficava com dados objectivos de quem habitava o Niassa, e que movimentos de populações existiam através da fronteira norte, e se possível quem os fazia com alguma regularidade. Em terceiro lugar, percorrendo as aldeias do Niassa, o grupo do Daniel Roxo, ia recolhendo informações de todo o género, que compiladas e tratadas se revelariam fundamentais.
No final desse ano, o governador ordena ao Roxo que intensifique a recolha de dados nas aldeias no norte da província, junto ao Rovuma. Foi através deste trabalho que foi possível detectar movimentos de população em direcção à ilha de Likoma, no Lago, já em território do Malawi. Foi exactamente a partir de uma base nessa ilha que foi levado a cabo o ataque ao Cobué, que marca o início da luta armada naquela província
Tudo isto é a demonstração cabal de que as informações chegavam em qualidade e quantidade ao palácio do governador, como talvez nunca tivessem chegado a nenhum outro congénere do antigo Império Português. O plano montado numa altura em que a organização da Frelimo se encontrava em movimento, resultou em pleno só não terá chegado foi a tempo de impedir a luta.
Roxo e o seu Grupo de Cipaios para mais uma missão |
Nada disto retira o brilho a quem ali serviu, e em zonas muitas vezes de pesadíssimo isolamento, cumprindo o seu dever e portanto tornando-se parte deste sucesso.
Nos meses imediatamente anteriores ao deflagrar do conflito, Daniel Roxo cria uma rede de informação nas aldeias do Niassa, que será sem dúvida a base do seu sucesso nos anos subsequentes, sobretudo nas diferentes operações militares que cumpriu. Muitos dos que serviram na província nos anos sessenta e setenta, foram testemunhos da fantástica capacidade operativa dos homens do Daniel Roxo -Milícias do Niassa. Para além dos atributos em campanha, os sucessos ficaram a dever-se a este trabalho preparatório, que permitiu a contra infiltração no IN.
PREPARAÇÃO PARA A OPERAÇÃO "MARTE" |
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