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Livros da guerra colonial

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domingo, 22 de dezembro de 2024

GRANDES OPERAÇÕES DA GUERRA COLONIAL "OPERAÇÃO ZETA"

Duas centenas de pára-quedistas saltam, em 7 de Julho de 1969, na margem esquerda do rio Rovuma com o objectivo de atacarem e destruírem a base Limpopo - a mais importante posição da guerrilha da FRELIMO no Planalto dos Macondes, distrito de Cabo Delgado, no norte de Moçambique. Esta arriscada acção militar -- recebeu o nome de código de OPERAÇÃO ZETA -- é um marco na história dos pára-quedistas; foi o primeiro lançamento de "páras" em larga escala e um dos raros de toda a Guerra Colonial.Mas a operação esteve à beira de se transformar numa tragédia,


Clik aqui para aceder a outra visão sobre a Operação Zeta

Em meados de 1969 , pouco mais de quatro anos após o início da guerra em Moçambique, o comandante-chefe general António Augusto dos Santos, tinha conseguido confinar a guerrilha às regiões fronteiriças do Norte. Um dos santuários dos guerrilheiros era o mítico Planalto dos Macondes, onde a FRELIMO instalara pelo menos quatro bases de apoio. A mais importante destas posições era a Base Limpopo - que funcionava como um grande paiol de material de guerra.
As bases da guerrilha estavam instaladas numa região de acesso muito difícil. O terreno acidentado, entrecortado por escarpas e ladeiras a pique, tornava as posições inimigas praticamente inexpugnável. Os únicos locais de passagem estavam defendidos por pontos altos donde os guerrilheiros flagelavam sem piedade qualquer aproximação. Várias unidades já tinham tentado sem êxito atravessar esta autêntica zona de morte.
Além dos incontornáveis caprichos da natureza, as tropas portuguesas contaram ainda com outra dificuldade sempre que atacaram esta zona do planalto. A longa distância que tinham de percorrer - desde os aquartelamentos até ao local de acção - impedia os ataques de surpresa. As deslocações das unidades, necessariamente por território pejado de guerrilheiros, não podiam deixar de ser detectadas - o que dava toda a vantagem ao inimigo. Nada jogava a favor das forças atacantes. De todas as vezes retrocederam debaixo de violento fogo de metralhadoras e morteiros.

Pântanos mortais
O povo maconde conhecia cada palmo do seu planalto -- e os macondes constituíam ali a espinha dorsal da guerrilha. A FRELIMO soube assim erguer o santuário numa zona perfeita cujas defesas naturais condenavam ao fracasso qualquer golpe executado por terra. A última esperança.
Só não havia escarpas a norte, na margem esquerda do Rovuma a escassos quilómetros da fronteira com a Tânzania. Mas também aí a paisagem pantanosa é uma fiel aliada dos guerrilheiros.
Os pântanos prolongam-se ao longo do rio e fecham-se em forma de meia lua ao redor das posições do inimigo. É uma proibida aos pára-quedistas. Largá-los sobre pântanos profundos seria condená-los à morte por afogamento. Ainda chegam ao quartel-general em Nampula mais informações desanimadoras.
É quase certo que a guerrilha em baterias anti-aéreas montadas para lá do rio Rovuma. Os aviões seriam facilmente atingidos durante o lançamento dos "páras"

O ataque à base Limpopo foi executado a partir dos pântanos Malambuange

Reconhecimento aéreo
A Força Aérea faz o levantamento fotográfico  da zona pantanosa. As fotografias são minuciosamente examinados. O Capitão Moura Calheiros, oficial de operações Batalhão de Caçadores Pára- Quedista 32, descobre um torrão de terra firme no meio do pântano. É um rectângulo irregular com cerca de 90 metros de comprimento por 200 de largura - um alvo pequeno para colocar duas centenas de "páras" a partir dos aviões.
Os pára-quedistas correm menos riscos se soltarem de mais alto; caso haja problemas com a abertura do pára-quedas principal, ainda há tempo para accionar o de reserva. Mas os aviões não podiam voar muito alto naquela zona -- a fim de evitarem as baterias anti-aéreas inimigas instaladas  mesmo ali no outro lado da fronteira. O salto teria que ser baixo, a 90 metros de altura, apenas o suficiente para a abertura completa do pára-quedas principal. Ninguém teria tempo para abrir o de reserva. O risco era considerável.

Operação em marcha
As primeiras horas da manhã do dia 6 de Junho de 1969, sexta feira o capitão Calheiros e um pelotão de "páras" são colocados de helicóptero naquela leira de terra batida. Têm a missão de balizar a zona de salto, São os percursores. Não têm tempo a perder. Um avião Nord Atlas e três Dakotas  já deslocaram de Nacala com os "páras" a bordo rumo ao objectivo.
Os aviões de transporte voam para o Norte numa linha paralela  à costa. O comandante da operação , tenente - coronel Curado Ribeiro, também está no ar  a bordo de um monomotor Dornier 27. Nos pântanos, o precursores marcam a zona do salto. Estendem no solo grandes tiras avermelhadas de lona que formam um "tê" maiúsculo; a perna maior da letra  está virada para 
Este -- donde devem surgir os aviões de transporte.

O "T" a vermelho era o local indicado para os "páras" poisarem

Além dos pára-quedistas, participam na operação duas companhias de cavalaria - a 2375, sediada em Mocímboa do Rovuma, comandada pelo capitão Saraiva, e a 2376, de Nangade, comandada pelo capitão Júdice da Costa -- e a 10ª companhia de comandos. O ataque à guerrilha no Planalto dos Macondes é  levado a cabo pelos "páras" -- enquanto as companhias de cavalaria e comandos ocupam posições a Sul e a Oeste da zona de combate.

À beira do desastre

Antes do lançamento dos pára-quedistas, o planalto foi sacudido por tremendo bombardeamento aéreo executado por dois aviões PV-2 e oito T6. O alferes Fernando Ferrão, da Companhia de Cavalaria 2375, lembra de assistir `aproximação da esquadrilha. "O ataque foi muito intenso", recorda.
Quando os bombardeiros acabaram de largar as bombas os aviões de transporte dos pára-quedistas surgiram vindos do lado do mar; deslocaram de Nacala, voaram ao longo da costa até poucas milhas antes da foz do Rovuma - e só então, a escassos 90 metros de altura, tomaram o rumo da zona de salto.
O capitão Calheiros e os seus homens já têm a marca estendida em  terra. Os quatro aviões vêm enfileirados. A visibilidade é boa e as lonas vermelhas em forma de T são facilmente observáveis do ar. Os pilotos já acenderam a luz verde no interior - sinal de que estão sobre o alvo. A bordo de cada avião segue um pára-quedista graduado com a missão de comandar a largada; às suas ordens, um atrás do outro, com intervalos de 10 segundos, os "páras" precipitam-se no vazio. Mas só dá a ordem se vir a marca lá em baixo. Se o T não for avistado, ninguém salta.
O primeiro avião larga os pára-quedistas antes do tempo. O capitão Calheiros, cá em baixo, vê horrorizado que os homens vão cair no pântano. É morte certa. Receia que os aviões de trás, levados pelo erro do da frente, se precipitem a largar os "páras". Moura Calheiros prevê uma tragédia. Agarra-se ao rádio e, com dificuldade, consegue alertar os pilotos. Mas os primeiros 40 pára-quedistas caem em zona de pantanosa. Aterram, por milagre, onde o pântano, onde o pântano é menos profundo. Carregam 30 quilos de equipamento - espingarda munições, granadas. Afundam-se até aos joelhos e conseguem chegar a terra firme.

Os "páras a serem "largados" sobre o pântano de Malambuange


Os "Páres" no pãntano de Malambuange

Guerrilheiros em fuga
A operação foi um êxito total. O lançamento de pára-quedistas apanhou de surpresa os guerrilheiros - que acabaram por abandonar a  Base Limpopo com toneladas de material de guerra. Os"pára" não chegaram a travar grandes combates. As forças de cerco, formadas por duas companhias de Cavalaria e uma de Comandos, abateram uma dezena de guerrilheiros em fuga.
A base tinha uma boa centena de palhotas. As tropas de assalto não encontram viva alma. A zona fora abandonada à pressa. Encontram grandes quantidades de arroz, mapira e folhas de tabaco. 
É tudo queimado. O comandante da base tinha na cubata maços de cigarros lusos e lâminas de barbear fabricadas n Checoslováquia. Os depósitos subterrâneos de material de guerra, estavam dispersos por uma vasta zona de mato denso e tinham portas de alçapão camufladas. Esta posição da guerrilha era demasiado importante para os guerrilheiros; o material de guerra vinha da Tanzânia e daqui era distribuído para as outras bases na região do Planalto dos Macondes. A Operação Zeta foi um duro golpe na guerrilha. Não tanto pela destruição da Base Limpopo - mas pela quantidade de material de armamento apreendido; um morteiro 82, 179 espingardas Simonov, 59 pistolas-metralhadoras Spragin; 64 granadas de mão, 20 armadilhas; 1716 granadas de morteiro; 200 mil cartuchos











domingo, 8 de dezembro de 2024

COMBATES NO PLANALTO DOS MACONDES

 As Grandes Operações da Guerra Colonial

COMBATES NO PLANALTO DOS MACONDES

Pára-Quedistas na Operação Zeta
Em finais de Junho de 1965, menos de um ano após os primeiros ataques da FRELIMO, a guerra já vai acesa nos Distritos de Cabo Delgado e do Niassa, no extremo norte de Moçambique, O comando militar lança a primeira grande operação na entre 2 de província - a Operação Águia, executada entre 2 de Julho e 6 de Setembro de 1965, com o objectivo de eliminar a guerrilha no Planalto dos Macondes. Os resultado são modestos. Quatro anos depois, os guerrilheiros já têm pelo menos quatro bases no coração do planalto. É leado a cabo uma segunda operação - Operação Zeta. Duas centenas de párquedistas saltam, em 7 de Junho de 1969, sobre a região de Malambuage, a sul do Rio Rovuma. Os guerrilheiros - preparados para se defenderem de forças que se aproximassem por terra, são surpreendidos pelo ataque dos "páras" largados dos aviões - fogem e abandonam toneladas de material de guerra.

Batalhão de Caçadores 598, na zona de Cobué, Niassa

O comandante - chefe de Moçambique general João Carrasco, estava confiante que conseguia, de uma penada, acabar com a guerrilha no Planalto dos Macondes. Põe em marcha a Operação Águia. As unidades envolvidas - Batalhão de Caçadores 558, batalhão de Caçadores de Nampula e Batalhão de Caçadores 729 - cumpriram as ordens. Mas os objectivos com que sonhava o quartel general, instalado em Lourenço Marques, não foram alcançados. o planalto continuou como santuário dos guerrilheiros da FRELIMO.

Major Costa Matos Governador o Niassa, acompanhado por Régulos

Os guerrilheiros entraram pela primeira vez no norte de Moçambique em Agosto de 1964.Vieram das bases de Mtaware e de Nachingwea, na vizinha Tanzânia,e atravessaram o rio Rovuma em direcção ao planalto dos Macondes, no Distrito de Cabo Delgado. Os comandos militares não deram por isso. O comandante-chefe general, João Carrasco, desmantelara um serviço de informações posto em prática pelo capitão Costa Matos - que fora à Argélia, juntamente com mais cinco oficiais, em 1959, aprender com os franceses alguma coisa sobre a guerra subversiva. Os ataques levados a cabo pela guerrilha foram, por isso, uma surpresa total.
A experiência francesa no norte de África de nada serviu à elite política e militar de Lisboa. a revolta estalou na Argélia em Novembro de 1954. O governo francês , com a mesma  imprudência que o levara à derrota na Indochina, imaginou que em menos de um fósforo esmagava a rebelião, Não foi assim. Um exército imenso tentou, sem êxito, dominar os guerrilheiros do Fronte de Liberation Nationale.  Meio milhão de homens, equipados com todo o material moderno, carros de combate e aviação, não chegaram para cantar vitória sobre uns escassos milhares de guerrilheiros mal armados. A França aprendeu uma dura lição; não há solução militar para uma guerra de guerrilha.

Em Setembro de 1964, já os combates iam sonhados em Angola e na Guiné, estala a guerra em Moçambique, Salazar e os seus generais, insensíveis aos tormentos por que passaram os franceses na Indochina e na Argélia, só confiaram na pólvora para acabar com os movimentos da guerrilha. O comandante - chefe nomeado para Moçambique, general Carrasco, era um fiel adepto da estratégia do mata e esfola.
Costa Matos, um dos oficiais enviados à Argélia, é mandado para Moçambique, ainda em 1959, com a missão de criar um serviço de  informações. Monta um eficaz esquema de vigilância das zonas fronteiriças. Mas  as patrulhas não se limitavam a acções estritamente militares. Levavam médicos e enfermeiros. Tinham especial atenção para com as populações. Tratavam doentes doentes e alimentavam aldeias inteiras. Costa Matos deitou a mão a outro truque. Criou as chamadas brigadas de caça - uma em Cabo Delgado e duas no Niassa - formadas por militares à paisana com identidades falsas.
Este grupo, cada um constituído por uma dúzia de homens, movimentavam-se ao longo de toda a fronteira com a Tanzânia. Gozavam de total liberdade de movimentos e não custavam um centavo aos cofres públicos; caçavam e vendiam carne, tinham acampamentos, recebiam turistas americanos e europeus endinheiradas dispostos a pagar muito dinheiro por uns dias de emoção, traficavam marfim. Mas a verdadeira missão destes caçadores, que falavam os dialecos do Norte de Moçambique e alguns deles casados com as filhas dos régulos, era a recolha de informações - tão necessárias quanto a água para peixe. O general João Carrasco acabou com as brigadas de caça mal chegou a Moçambique. Quando os primeiros guerrilheiros passaram a fronteira e se instalaram e se instalaram numa aldeia do Planalto dos Macondes ninguém soube,

General João Carrasco

Primeiros ataques

A noite de 24 de Setembro, quinta-feira. caiu na região de Porto Amélia (Pemba), no Distrito de Cabo Delgado, Norte de Moçambique, com uma inclemente bátega de água. Era o início da época das chuvas. Às primeira horas da manhã de sexta-feira, o capitão José Verdasca, comandante de uma das companhias do Batalhão de Porto Amélia, formado por tropa nativa, é chamado ao gabinete  do comandante . O tenente-coronel dá-lhe uma missão;"Reúna metade da companhia junte-lhe os serviços necessários e siga para Chai, onde o posto administrativo foi atacado por terroristas". E acrescenta: "O nosso general quer a situação resolvida em 15 dias",  Verdasca já andava desconfiado com a preparação dos altos comandos militares para a guerra de guerrilha que ia em brasa em Angola e Guiné e acabara de eclodir em Moçambique. Depois de ouvir do seu tente-coronel as ordens do comandante-chefe, general João Carrasco, ficou esclarecido.
O capitão serviu no Batalhão de Caçadores Pára-Quedistas, em Tancos, e fez um curso de guerra subversiva, no Centro de Instrução de Operações Especiais, em Lamego.

Capitão Verdasca, a sua companhia foi a primeira Unidade a responder a um ataque da FRELIMO

Uma centena de militares, sob o sob o comando do capitão Verdasca, iniciaram então uma viagem de duas centenas de quilómetros a caminho do Planalto dos Macondes. Além dele, apenas dois alferes milicianos, oito sargentos e oito cabos eram europeus - o resto da coluna era formado por nativos de várias etnias. Tinha 15 dias, de acordo com as ordens do general Carrasco, para aprisionar ou eliminar os guerrilheiros,pacificar a região e impedir novos ataques.
O ataque ao posto administrativo de Chai, junto ao Rio Messalo, levado a cabo na madrugada de 25 de Setembro de 1964, está inscrito na história da FRELIMO como a "primeira acção da guerra de libertação nacional".
Mas outros ataques já tinham ocorrido. Em 21 de Agosto, também no distrito de Cabo Delgado, segundo um relatório do Batalhão de Caçadores 558, um carro civil ocupado por colonos brancos é atacado na estrada, entre Mueda e Mocímboa da Praia, a tiros de canhangulo. Não há vítimas. Três dias depois, é atacada a missão protestante de Nangololo; um padre holandês cai assassinado a tiro. A FRELIMO nunca reivindicou estas duas acções; são atribuídas a grupos rebeldes dos dois partidos, a MANU e a UDENAMO, que deram origem àquele movimento independentista.
O ataque em Chai, no dia 25 foi precedido por três acções;corte de estradas nas zonas de Miteda, Nangololo, Muatide e Muindumbe; destruição de pontes em Mocímboa da Praia, Esposende (Sagal), Mueda, Nangade e Machoma; e sabotagem de linhas telefónicas.

Rio Massalo, na região de Chai, distrito de Cabo Delgado

A coluna do capitão Verdasca sai de Porto Amélia e chega à região ao final do dia 26, sábado.As primeiras informações são recolhidas em Macomia. Os cipaios, polícias recrutados entre nativos que serviram na tropa, conhecem a aldeia onde estão abrigados os guerrilheiros que atacaram Chai. O capitão Verdasca toma a povoação de assalto. Faz 39 prisioneiros sem disparar um único tiro; prende um chefe da guerrilha com dois anos de treino na China, um outro que fora graduado no Exército do Tanganica, meia dúzia de operacionais - e os restantes são moradores na aldeia que ajudaram os guerrilheiros.
Os prisioneiros conduzidos ao batalhão, em Porto Amélia, não chegaram a ser interrogados. Os altos comandos, convencidos que acabavam com a guerrilha pela força, nem sequer foram ao local fazer uma avaliação dos acontecimentos. O capitão Verdasca sabia que era necessário, a par da força, conquistar as populações para retirar apoio aos guerrilheiros.
"Apercebi-me da incompetência dos comandos, optei por uma actuação independente e desobedeci a ordens que me pareciam estúpidas" - recorda Verdasca. É punido com cinco dias de prisão. Recorde da pena. O processo arrasta-se. É colocado no quartel-general, em Lourenço Marques. Toma a decisão de pedir a demissão do quadro permanente.

Guerra alastra

A guerrilha tinha duas bases importantes para lá do rio Rovuma, na Tanzânia - em Mtwara e Nachingwea. Os guerrilheiros estabeleceram  uma primeira linha de infiltração a Mueda, coração do Planalto dos Macondes, na província de Cabo Delgado. Quando a guerra estala, em 1964, o comandante-chefe é o general João Carrasco. Fica conhecido por querer ganhar a guerra com      fósforos. Estava convencido de que se queimasse as aldeias indígenas as populações dispersavam e os guerrilheiros ficavam sem apoios.
A guerra tratava-se no extremo nordeste de Moçambique, mas o quartel general continuava alegremente instalado em Lourenço Marques, no outro extremo da colónia. O general Carrasco nunca chegou a perceber a mais importante manobra da contra-subversão; conquistar o apoio das populações. As acções violentas contra as aldeias indígenas tiveram o efeito contrário.A destruição concitou o ódio do povo maconde - que acabou por constituir a espinha dorsal da guerrilha.
Os primeiros guerrilheiros que entraram em Moçambique, em Agosto de 1964, vindos das bases de Mtawara e Nachingwea, não seriam mais que 50 homens. Tinham recebido treino na Argélia. Estavam divididos em três grupos . Um, comandado por Alberto Chipande, actuava entre Macomia e Porto Amélia. Outro,sob as ordens de Raimundo, instalou-se na região de Mueda. O terceiro, destinado a Montepuez, era comandado por António Saide.
Num instante a guerra alastra de Cabo Delgado à vizinha província do Niassa. Os guerrilheiros cavam então uma segunda linha de infiltração no Norte de Moçambique a partir da Tanzânia- na zona de Cóbué, em direcção a Sul. Em breve, entram na província de Tete, em Capoche, a partir da Zâmbia.

A partir de 1965, a guerra já era intensa por todo o Norte de Moçambique

Comandante- Chefe, general Carrasco, no Batalhão de Caçadores de Porto Amélia

Operação no planalto

A primeira mina anti pessoal rebenta no dia 14 de Junho de 1965, na zona de Cóbué, no distrito do Niassa. Esta região, de resto, há-de ficar conhecida entre os combatentes portugueses como o "o estado de minas gerais". Que o diga o alferes António Gomes, sapador do Batalhão de  Caçadores 598. Em dois anos de comissão detectou 460 minas.
As companhias que actuavam no Niassa temiam sobretudo as minas - antipessoais e anticarro. As bermas das picadas eram depósito de sucata retorcida.

O alferes António Gomes do BCAÇ 598


No Planalto dos Macondes, no vizinho distrito de Cabo Delgado, as emboscadas eram o perigo que mais receava. O comandante-chefe de Moçambique, general Carrasco, lança nesta região a primeira grande acção militar em Moçambique - a Operação Águia, entre 2 de Junho e 6 de Setembro. Participam o Batalhão de Caçadores 588, o Batalhão de Caçadores de Nampula, o 
Batalhão de Caçadores 729 e uma bateria de Artilharia.
A operação executada entre os rios Rovuma, na fronteira com a Tanzânia, e Messalo, tem como principal objectivo esmagar a guerrilha no Planalto dos Macondes. A ordem de operações manda" desenvolver uma actividade destinada simultaneamente a exercer uma acção de presença junto das populações, destruir os elementos armados que entre elas se acoitam, destruir instalações caracteristicamente terroristas., furtando assim aos bandos inimigos todo o apoio por parte das populações comprometidas ou não"
O dispositivo militar em Cabo Delgado estava centrado em Mueda. Foi a partir desta zona no coração do Planalto dos Macondes, onde se cruzam as estradas mais importantes do distrito de 
Cabo Delgado, que a operação se desenvolveu.
As tropas movimentaram-se de início em três eixos de ataque sobre outros tantos objectivos; um sobre Nangololo; o outro em direcção a Mutamba; o terceiro sobre Mocímboa do Rovuma. Esta manobra foi executada pelo Batalhão de Caçadores 558 com o apoio de uma bateria de Artilharia. O Batalhão de Nampula parte de Namaúa com o objectivo de ocupar uma linha em direcção ao mar que passava por Esposende, Diaca e Malembe.Uma companhia do 558 marcha de Mutamba sobre Nangade, aonde ocorre o Batalhão de Caçadores 729 vindo de Pundanhar

Dez mortos

As forças portuguesas encontraram sérias dificuldades desde o início da ofensiva. Foram surpreendidas , segundo o relatório da operação, pelo "elevado número de emboscadas e de acções de flagelação". "Nos primeiros seis dias, as acções da guerrilha fizeram quatro mortos e 18 feridos".
A Força Aérea entra em acção no dia 8 de Julho - e descarrega bombas sobre Miteda, Nangololo e Muatide. Nem assim os guerrilheiros abrandam. Entre os dias 14 e 30 de Julho, as emboscadas sucedem-se um pouco por toda a zona de operação. Tombam em combate mais seis militares portugueses e 27 são evacuados com ferimentos graves.
As notícias que chegam ao quartel-general em Lourenço Marques, não são nada animadoras. Os relatórios enviados pelo comando da operação dão conta de "um inimigo numeroso, fortemente mentalizado, bem armado, que se habituara a actuar com relativa à-vontade na zona".
Ao contrário do que planeara o comandante-chefe, general carrasco, já não era possível desalojar os guerrilheiros do Planalto dos Macondes. Os portugueses tinham perdido a batalha da conquista da população - que prestava o inestimável apoio de que a guerrilha tanto necessitava; o povo do planalto era para os guerrilheiros como água para o peixe.
A partir do final de Julho, a Operação Águia foi perdendo intensidade. As unidades instalam aquartelamentos e passam a fazer batidas - até que a operação é dada como terminada em 6 de Setembro. Os resultados finais são modestos em comparação com os objectivos inicialmente pretendidos. JÁ então o Planalto dos Macondes é uma das mais duras zonas de toda a Guerra Colonial; os guerrilheiros são numerosos, estão bem armados e dispõem de bases importantes.





segunda-feira, 2 de dezembro de 2024

FUZILEIROS ESPECIAIS NO NORTE DE MOÇAMBIQUE - NIASSA - MOÇAMBIQUE. MISSÃO LOUVADA

Segundo Sargento Candeias (em primeiro plano na foto) chefe do 3º Grupo
                                
O ataque à base da FRELIMO executado pelo 3º grupo de combate mereceu rasgados elogios da parte do comandante do Destacamento de Fuzileiros Especiais 8. Assim:
"No dia 23 de Março de 1967, e code combate, comandado pelo 2º Tenente Raul Patrício Leitãomo missão da Operação Antares, foi ordenado ao 3º grupo de combate, comandado pelo segundo-tenente Raul Patrício Leitão, efectuar um reconhecimento na área de Chigwa. No decorrer da operação e explorando oportunamente informações fornecidas por dois rapazes aprisionados, foi atacada a base de Chigowa, cujos efectivos, avaliados em cerca de 40 guerrilheiros, eram superiores ao escasso efectivo das nossas forças (21 homens). O acampamento encontrava-se fortemente armadilhado à volta e numa posição muito difícil de de atingir, no fundo de um vale com cerca de 200 metros de profundidade. Do ataque levado a cabo por este grupo resultaram 25 baixas (alem de feridos cujo número impossível de comprovar, foi elevado) para o inimigo e entre os quais se contam 3 chefes das mais importantes bases da área; foram também apreendidas 19 armas, muitas munições, documentos importantíssimos e diverso material.
"No decorrer da acção, junto seria de salientar em primeiro lugar o valor do comandante do 3º grupo de combate (Segundo-Tenente Raúl Patrício Leitão) e logo de seguida o do conjunto, pois todos se comportaram de maneira altamente corajosa, evidenciando grande decisão e espírito combativo, qualidades que muito prestigiam a classe de Fuzileiros Especiais e da Marinha. Executando em primeiro lugar uma manobra táctica perfeita de ataque simultâneo aos acampamentos militar e de população - 10 homens apenas para cada - conseguindo de tal forma surpresa que os primeiros tiros foram desferidos a cerca de 10 metros, e depois travando imenso duelo de fogo contra um inimigo superior em número e bem armado, de tal modo que lhe causou pesadas baixas e acabou por o pôr em debandada abandonando a sua base e todos os mortos e material, mostrou o pessoal do 3º Grupo de combate, sob o comando do segundo-tenente Raúl Patrício Leitão, ser altamente merecedor do apreço deste Comando e da admiração de toda a restante Unidade pelo magnífico êxito alcançado em combate.

Segundo - Tenente Raúl Patrício Leitão

LOUVO:
"O  segundo-tenente Raúl Patrício Leitão pela maneira muito eficiente com que dirigiu o seu pessoal no golpe de mão à base de Chigowa. Em primeiro lugar, soube muito bem explorar as informações prestadas. Depois, demonstrando bom senso, sentido de oportunidade e grande iniciativa, efectuando uma manobra táctica perfeita, fazendo um ataque simultâneo a dois objectivos relativamente próximos. Finalmente, com grande coragem e decisão, conduziu o seu pessoal com muita eficiência no ataque a um inimigo numericamente superior e bem armado, empolgando de tal modo os seus subordinados que os conduziu a uma brilhante vitória (...) É pois justo tributar a este jovem oficial da minha Unidade o meu mais elevado apreço pela sua acção no decorrer desta operação, na qual demonstrou possuir em alto grau coragem, decisão, sangue-frio, sentido do dever e serena energia debaixo de fogo.

O segundo-sargento Salustiano da Silva Candeias pela forma altamente corajosa e abnegada com que no decorrer do ataque à base de Chigowa perseguiu quatro inimigos armados entre os quais se encontrava o cheef de uma das bases da região. Com grande decisão e valentia travou forte duelo contra eles, aniquilando o chefe e um outro, acabando por levar um tiro no carregador da própria arma e ficar com esta encravada, valendo-lhe então o auxílio que lhe foi prestado pelo equipa marinheiro João Torres Piaçab, que acabou por aniquilar os outros dois. É pois com muito gosto que quero demonstrar a este jovem sargento o meu mais elevado apreço pelas qualidades de decisão, coragem, abnegação, espírito combativo e serena energia debaixo de fogo que demonstrou possuir em combate no decorrer desta acção.


"O marinheiro João Torres Piaçab pela maneira altamente eficiente e corajosa com que conduziu a sua equipa debaixo de fogo inimigo, no ataque à base inimiga de Chigowa. Eliminando em primeiro lugar cerca de sete inimigos que se encontravam na população civil, tendo no entanto o cuidado e a calma suficiente para poupar a população em debandada, e depois socorrendo o segundo-sargento Candeias que se encontrava coma arma encravada e a ser fortemente alvejado por dois inimigos, de modo que os acabou por os eliminar, demonstrou possuir um elevado grau de qualidades de chefia, decisão, sangue-frio, coragem e serena energia debaixo de fogo, qualidades estas que arrastaram os corajosos elementos da sua equipa a ter um papel altamente importante na vitória alcançada.

O marinheiro António Ribeiro Pais pela maneira altamente eficiente e abnegada com que  conduziu a sua equipa no ataque à base inimiga de Chigowa, conseguindo sempre manter o seu pessoal unido e causando pesadas baixas ao inimigo, entre os quaiso chefe da base Chitope. Em confirmação da acção que vem tendo já em combates anteriores, mostrou ser um corajoso combatente, com grande sentido de oportunidade e das evoluções tácticas no terreno, serena energia debaixo de fogo, abnegação e sangue frio que muito o dognificam como homem e militar.



O Grumete Mário Guerreiro pela maneira altamente corajosa como se comportou durante o ataque à base de Chigowa. Como grande decisão aniquilou vários elementos do inimigo, entre os quais se encontrava o comissário político e chefe da base Mecondece, o elemento mais importante presente na base atacada. Em confirmação da acção já desenvolvida em combates anteriores, demonstrou nesta acção possuir um elevado grau espírito de sacrifício, coragem, decisão, de sangue-frio e serena energia debaixo de fogo.








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