VII) O Regresso à 4ª Companhia e a Indisciplina de alguns
Após a atribuição de crachás que terminaram positivamente o 5º Curso de Comanos de Moçambique, fui passar uns dias de descanso a Lourenço Marques (Maputo) e regressei à 4ª Companhia que, na altura, estava localizada em Estima, Tete.
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Entrega de crachás à 5ªCCMS de Moçambique Cap. Lopes Martins a receber o guião da Companhia |
Ciente que a intervenção em Mocíboa do Rovuma não tinha corrido da melhor forma, pois lá sofremos várias baixas em combate, percebi que o pessoal demonstrava algum alheamento ou sobranceria para com as regras militares e para com as chefias.
Eu estava de Sargento-de-dia e esta percepção foi confirmada no momento da chamada para a formatura que antecedia a toma do pequeno-almoço.
Dos cerca de 100 homens presentes no estacionamento, apenas uns vinte compareceram à formatura, facto que me surpreendeu negativamente.
Como sargento de dia , não aceitei a ausência da maioria do pessoal nem permiti o início da entrega dos alimentos. Assim, ordenei que um elemento de cada Grupo fosse à tenda chamar os restantes soldados. Esta situação prolongou-se por cerca de uma hora, para revolta dos presentes já formados.
Como não cedi, o pequeno-almoço só foi distribuído quando não existia ninguém nas tendas. Pode parecer estranha a atitude que assumi no momento, mas uma falta de respeito destas não se pode admitir numa força militar especial como os Comandos.
O que verifiquei de seguida é que, ao almoço, toda a companhia formou pontualmente e impecavelmente fardada.
VIII) A Grande emboscada
Esta terceira intervenção foi também alo marcante e para os soldados que me apoiaram na reacção a uma emboscada que sofremos na estrada alcatroada, a que ligava a cidade de Tete ao Songo.
Nesta estrada passavam 4 grandes colunas por dia, duas em cada sentido.
Todos os dias de manhã saía uma coluna de Tete para o Songo e à tarde era o regresso. Esta coluna era escoltada por duas viaturas blindadas "Chaimite" , equipadas com metralhadoras pesadas e morteiros 60mm. Para completar esta força de segurança motorizada , seguiam mais duas viaturas Berliet, viaturas militares que abriam e fechavam a coluna, maioritariamente preenchida com viaturas civis pesadas e algumas ligeiras e de onde se destacavam os camions cisternas que transportavam cimento para a Barragem de Cabora Bassa.
A outra coluna, a escoltada pelos Comandos saía de manhã dp Songo para Tete e regressava de Tete, para o Songo, ao início da tarde. Esta coluna também protegida por duas Berliet, a primeira e a última viaturas ocupadas por militares da tropa normal. A escolta dos Comandos que a ela se juntava, dispunha de dois jeeps Toyota Land Cruiser. Como estávamos sediados em Estima, calhava-nos a coluna que saía do Songo de manhã, regressando à tarde ao mesmo local.
Naquele dia, salvo erro a 28 de Março 1972, coube-me a mim comandar as nossas tropas e a coluna, pois eu era o militar mais graduado.
O trajecto para Tete decorreu sem problemas, sendo apenas referir que a meio do caminho, na povoação chamada de Marara, cruzamos com a coluna que vinha de Tete.
Ao Songo regressámos por volta das 14 horas.
Esta coluna de regresso estava bem fornecida de viaturas, com mais de 50, com destaque para os camions cisternas que transportava cimento a granel e também para outros camions de carga geral, com mantimentos, combustíveis, materiais de construção, gá, alguns veículos ligeiros, etc... Na frente e na retaguarda seguiam as duas Berliet. As nossas Tayotas, escoltavam a coluna transitando sempre na faixa direita da estrada . A faixa erquerda era utilizada por todas as as outras viaturas, militares ou não.
A coluna iniciou pontualmente a sua marcha, de cerca de 150 Kms.
Tudo decorria normalmente, até que percebemos que a frente da coluna se tinha imobilizado. Fomos nos jips até quase frente da mesma, onde encontrámos um militar, o Cabo que seguia na Berliet da frente, a interpelar um condutor civil.
O mesmo viu-me com as divisas de Furriel, e explicou-me o que tinha acontecido. O motorista daquele camião carregado com botijas de gás, tinha ultrapassado várias viaturas e, segundo as regras das colunas militares em zona de guerra, era expressamente proibido aos civis, ultrapassar qualquer outra viatura.
Poucos minutos depois do início do movimento da frente da coluna, fui surpreendido por inúmeros disparos de armas de fogo, rajadas de metralhadora, rebentamento de granadas de morteiro e de rockets.A estratégia deles, bem montada por sinal, dirigia a maior parte do fogo de armas automáticas, lança-roquetes e morteiros também para a frente do grupo deles, pois estavam localizados no enfiamento da coluna que, uns vinte minutos antes, tinha sido parada por causa do tal homem do camião carregado com botijas de gás.
Como se impunha uma reacção rápida, dirigi-me para o jipe Toyota, com a minha equipa. Nessa pequena fracção de tempo, entrou uma bala pelo para-brisa e um rocket passou a pequenos metros de nós indo rebentar lá para o meio da coluna. Percebi de imediato que a reacção à emboscada, utilizando a viatura seria um erro. Decidi então que atacaríamos a pé, de frente para os mais de 20 inimigos que nos continuavam a flagelar, com muita intensidade de fogo. Rapidamente nos aproximamos deles, usando a técnica de combate Comando e, depois infindáveis 300 metros que implicavam a passagem por um riacho seco, visualizei de relance a queda acidental do soldado Manuel Moutinho. Felizmente que não foi atingido pelo fogo, mas cravou a ponta do cano da G3, o tapa-chamas, no chão de areia e matope. Deste incidente que resultou que, logo a seguir e ao dar mais um tiro, a ponta do cano entupido da arma dele, explodiu.
Percebi também que, conforme nos aproximávamos, a intensidade de fogo do IN ia diminuindo consideravelmente.
Continuando com o episódio da reacção à emboscada, termino com duas situações caricatas, mas marcante;
A primeira passou-se com o motorista rodesiano que conduzia o camião de transporte de cimento,
o que eu vi fugir para o lado oposto de onde vinha o "fogachal". O homem saiu do local onde se tinha refugiado e veio ter connosco muito excitado. Felicitou-nos pelo acto que ele considerou corajoso e de bravura, pois o mesmo tinha visto quase todo o nosso avanço.
Eu fiquei particularmente satisfeito pelos elogios com que ele nos brindou e também pelo facto de que o mesmo não tinha ficado ferido ou sido sequestrado.
O outro caso, este mais engraçado, foi o que se passou com um homem que viajava com a mulher num carro ligeiro. O indivíduo parou junto dr nós, após a debandada dos turras, tendo barafustado, reclamado imenso, alegando que ele e a mulher tinham ficado debaixo de fogo, abandonados à sua sorte.
Curiosamente, a mulher estava ferida superficialmente nos dois joelhos. Tinha a pele a sangrar ligeiramente, por arranhões por pedras ou ramos existentes na beira da estrada e por onde ela e o marido se arrastaram a tentar proteger-se das explosões e dos tiros.
Arrancou dali furioso, mas meio cabisbaixo..
Pouco tempo depois, chegou a frente da coluna que vinha em sentido contrário, do Songo para Tete, encabeçada naquele momento por uma Chaimite. O comandante da viatura, penso que também daquela coluna, questionou-me sobre o ocorrido, pois tinha ouvido à distância, as explosões.
Contei-lhe o sucedido e pedi-lhe para bater a zona, com granadas de morteiro, para onde os turras se tinham escapado.
Dispararam 5 morteiradas e foram-se embora com a coluna, a caminho de Tet
IX) A insolência do chefe militar da ZOT
Muito satisfeitos com o nosso feito, com a forma como acabámos com a emboscada e como o IN bateu em retirada, sem nos causar feridos ou estragos nas viaturas civis e militares, acompanhamos a coluna até ao Songo e regressamos a Estima.
Ao chegar ao nosso aquartelamento de campanha, em Estima, percebi que todos já tinham conhecimento da emboscada e que, por advertência do Capitão Rocha e Silva, eu teria de ir de seguida, com ele, para um briefing com o Coronel comandante da ZOT
Assim foi.
Mas antes de chegarmos ao edifício onde aquela gente fazia a "guerra", eu e o Capitão percebemos a existência de um bunker, ou abrigo subterrâneo, localizado mesmo em frente à porta do escritório.
Na sala estavam vários militares, a maioria com galões muito dourados e de onde se destacavam um Coronel com ar de combatente destemido...
Imediatamente o mesmo deu início à reunião e perguntou-me, com ar severo, porque motivo não tínhamos conseguido melhores resultados.
Percebi de imediato a sua frustração e que o sucedido não lhe proporcionaria grandes louvores, perante as suas chefias, e que o culpado era eu.
Depois de lhe explicara forma como reagimos, o "guerreiro" ripostou com a seguinte questão; "Porque motivo reagiram à moda antiga?".
Surpreendido e revoltado com tamanha ignorância e falta de respeito por quem arriscou a vida, questionei o sujeito sobre qual era, na opinião dele, a forma "moderna" de reagir a uma emboscada tão violenta como aquela.
O homem ficou possesso ... Por trás dele o nosso comandante, o Capitão Rocha e Silva, gesticulava fazendo-me sinais para que eu me contivesse.
Não me calei, mas contive-me mais do que desejava. Enfim, foi revoltante!!!
X) As operações seguintes
Depois de Estima seguiu-se Mueda em Cabo Delgado, alternando até ao fim da comissão, com a zona de Tete. Fiz cerca de 45 operações e nunca fui ferido ou beneficiei de qualquer baixa por doença.
Assisti à partida do primeiro comandante do nosso grupo de combate, o Furriel Milº CMD graduado em Alferes, José M.Pereira que passou à disponibilidade algum tempo depois. De seguida demos as boas vindas ao Alferes CMD, o camarada de armas António Ferreira da Costa vindo da 2040ª CCMDS , que connosco permaneceu até Maio de 1973 . Foi o mesmo substituído pelo Alferes CMD José Ramos Sousa, que veio directamente da Companhia de Instrução do Batalhão de Comandos de Montepuez, último oficial que comandou o nosso Grupo.
A penúltima intervenção teve lugar em Nhampassa, pero de Vila Gouveia e a última novamente em Estima, distrito de Tete.
Na Nhampassa recebemos a visita do General Kaúlza de Arriaga, o Comandante Chefe das Forças Armadas em Moçambique, militar que respeitava e que hoje muito admiro.
Para minha satisfação, conseguimos alcançar algum sucesso nesta zona, pois numa das operações abatemos e capturamos elementos IN, um deles armado com uma espingarda Siimonov.
Para terminar este meu depoimento, não posso deixar de referir a minha influência na captura daquela arma e que a seguir vou descrever.
XI) Um prémio em forma de arma.
Tínhamos saído de Nhampassa de viatura, sendo largados no sopé da serra Choa. Connosco seguia em elemento da DGS, como intérprete, e um prisioneiro, que supostamente nos iria conduzir a uma base IN.
O nosso grupo de combate composto por 20 homens, comandados pelo Alferes CMD José R.de Sousa.
Iniciada a subida da serra e indo a minha equipa à frente do Grupo, percebi que o guia nos estava a tentar enganar.
Já no início da tarde, chamei o elemento da DGS junto a mim e expliquei-lhe que o trajecto escolhido pelo guia era intencional, pois naquela zona era impossível existir uma base.
O agente da DGS questionou e pressionou o guia, mas ele não cedeu.
Chamei o soldado Comando Frederico de Sousa, a quem expliquei o que pretendíamos. Este foi com o elento da DGS e o guia e mais dois soldados nossos, para uma zona recatada. Qual não foi o meu espanto quando ouvi um estardalhaço e gritos de vários homens.
Dirigi-me de imediato para o local e vi o guia já ferido e prostado no chão.
Desiludidos e desanimados com aquele inesperado acontecimento, continuamos para o topo da serra Ochoa, onde chegamos a meio da tarde.
Como eu suspeitava, a acção do guia não visava levar-nos a qualquer base, mas sim denunciar a nossa presença aos comparsas e aos populares companheiros deles.
Neste segundo dia da operação,a minha equipa, composta pelo Cabo CMD Lhaísso e pelos soldados Cheng, Pinto e Cruz, seguiam na retaguarda. Duranteuma pequena paragem da progressão, bebi a minha lata de leite com chocolate e comi uma sanduíche. Atravessámos o rio Nhacama que, curiosamente e apesar da altitude, levava uma boa corrente de água limpa e fresca. Mas logo a travessia do rio, o grupo imobilizou-se. Como o tempo de paragem se prolongava sem motivo aparente, deixei a minha equipa e fui até à frente da fila do grupo onde percebi que algo tinha chamado a atenção da primeira equipa, agora a do António Paiva e onde já se encontrava o Alf. CMD José R. Sousa.
Por cima das copas das árvores, podíamos avistar no horizonte, um grupo de homens parado num cabeço rochoso, local muito próximo de onde tínhamos passado na tarde do dia anterior.
Em face daquela descoberta e dado que ninguém do nosso lado se mexia, questionei o alferes, perguntando-lhe porque motivo estávamos ali parados há mais de meia hora, em vez de invertermos a marcha e irmos tentar capturar aquela gente.
O alferes CMS Sousa e o furriel Paiva concordaram com a minha observação e logo de seguida, utilizando o mesmo trilho em sentido oposto, voltammos a passar o rio Nhacama e iniciámos a progressão na direcção do grupo inimigo.
Mas uma vez mais o grupo parou, demorou e eu, como sempre, voltei até à frente do grupo para tentar perceber o que se passava. Lá, foram-me mostrados pelo Paiva, sinais de pegadas recentes, presumivelmente deixadas por elementos do grupo avistados e que, nessa mesma manhã, tinham descoberto o seu rasto.
Como agora estávamos perto onde eu tomei o "mata-bicho", percebi que a lata de chocolate, que eu tinha bebido, já lá não estava enterrada.
Curiosamente e naquele momento conseguimos ouvir vozes, trazidas pelo vento. Fui então com a primeira equipa, a do Paiva e, ao fim de uns 20 minutos de progressão, o primeiro homem baixou-se e chamou-nos.
Ao lado dele, ouvimos vozes, agora mais perto, vindo da direcção de uma grande e frondosa árvore que estava a uns 250 metros à nossa frente.
Decidi então com o Paiva, avançar mais um pouco e a uns 100 metros da árvore, abrimos em linha, comigo no meio. Fomos rastejando até mais perto da árvore, sempre as vozes como ruído de fundo. A uns 20 metros da árvore percebi que os outros elementos tinham avançado pelas laterais da árvore e que eu estava praticamente sozinho.
De seguida fui chamado pelo Paiva, com aqueles "pssssttt" quase silencioso.O mesmo estava do lado direito, a uns 50 metros e fazia-me sinais excitados, apontando para a frente. Já ao lado dele, avistei o grupo que ele descobriu e que há quase duas horas procurávamos.
Estaríamos a uns 400 metros ou mais metros de nós.
Chamámos o alferes, reunimos o pessoal e decidimos que teríamos de fazer de seguida, antes que o grupo IN se fosse embora. O plano era simples, avançar progredindo sempre por trás das árvores existentes entre nós e eles
Com essa estratégia conseguimos chegar até à última árvores sem sermos detectados. Daquele local dava para perceber que era um grupo com cerca de 5 ou 6 elementos, abancados numa zona irregular rochosa,mas que não nos dava a certeza se lá estariam homens armados, fomos a rastejar até um cume rochoso, local que nos manteria protegidos e escondidos do inimigo durante a aproximação e chegada de todo o restante pessoal.
De seguida organizei o assalto final, dispondo o pessoal em linha, não sem antes tentar uma aproximação solitária pela escarpado lado esquerdo, esta com centenas de metros de altura. Alertei o meu pessoal e avancei alguns metros. Mas logo percebi que se fosse descoberto nem teria oportunidade de reagir, pois as minhas mãos estavam ocupadas a evitar que eu caísse pela encosta abaixo, impedindo-me de pegar na G3.
Esta minha iniciativa foi desenvolvida porque um dos meus objectivos, naquela guerra de guerrilha, era tentar apanhar um turra armado... mas vivo.
Foi durante esta iniciativa que avistei lá em baixo, na zona das machambas, vários elementos da população a colher elementos. Nesse momento percebi que, se eles me avistassem, avisariam o grupo que estava a uns 30 metros de mim.
De volta à nossa posição, onde tinha montado a linha de fogo, iniciei a contagem dos "habituais" 1,2,3 e.. ordenei... FOGO!!!
Ainda não tinham terminado os nossos disparos e já eu corria pela lateral esquerda, para cima do grupo que esteve debaixo de fogo e se pusera em fuga. Ao chegar ao local encontrei um guerrilheiro prostrado de costas gravemente ferido, mas ainda vivo. Segurava a Simonov por cima do peito e da barriga e tinha os olhos esbugalhados.
Imediatamente a seguir, avistámos um dos que se tinham posto em fuga e abrimos fogo. Iniciamos de imediato a perseguição ao mesmo, mas não resultou.
No entanto e enquanto o perseguis, percebi também um movimento de homens a esconder-se num buraco existentes nas rochas, na encosta, uns metros abaixo do local de onde fugiram onde tinha ficado o guerrilheiro abatido.Por instruções minhas,outros elementos do nosso grupo,foram lá capturá-los.
Percebemos então que um deles também se encontrava gravemente ferido, com os intestinos de fora do corpo...
De referir um pormenor engraçado, quando vi que alguns dos nossos operacionais, estavam à volta do guerrilheiro, a tirar fotografias, e a exibir a arma capturada nas mãos...!
Para terminar esta narrativa, resta-me transmitir o orgulho do nosso sucesso e as palavras de conforto e de elogio que recebi do alferes Sousa e do elemento da DGS, manifestamente agradado com a actuação de todos.
XII) O Aniversário e os parabéns
Para concluir este já longo depoimento, vou contar-vos um pequeno episódio que muito me marcou e afligiu.
Com a perspectiva da passagem à "peluda" (31 de Agosto de 1973) e do meu aniversário a 12 do mesmo mês disponibilizei-me perante o comandante da companhia, para participar em todas as operações, sem descanso, isto para que eu tivesse a oportunidade de comemorar os meus anos no estacionamento e não mais ir para o mato, poiso regresso da 4ª Companhia a Montepuez estava previsto para o dia 17 desse mês e a passagem à disponibilidade seria no dia 31.
Qual não foi o meu espanto quando, daquela última actuação me vi convocado pelo nosso comandante de companhia para participar nessa operação.
Apesar da desilusão e dos meus receios psicológicos, percebi que a sua justificação era convincente, pois o mesmo entendia que o grupo, no momento representado por apenas 3 equipas, estaria melhor comigo presente.
Não dormi nessa noite. O meu subconsciente alertava-me de que algo poderia correr mal. Ao romper do "meu" dia 12 de Agosto e já dentro do helicóptero, um PUMA-330, com capacidade para transportar 16 militares armados, nosso comandante, o Cap. CMD Rocha e Silva, a confortar-memais conhecido por Sanny madrugou e apareceu-me junto ao helicóptero a confortar-me, a dar-me os parabénspelo meu aniversárioe, ao mesmo tempo, a desejar-me sorte e a animar-me "garantindo" que tudo iria correr bem.
Obrigado amigo "Osvaldo Orico da Rocha e Silva"
A operação foi pouco atribulada e até descontraída. Passados 4 dias fomos recolhidos, todos ilesos, pelos mesmos dois helicópteros.
XII) A inesperada condecoração
Foi principalmente com a ajuda, a entrega, a camaradagem e a fidelidade dos membros da minha equipa e do meu grupo de combate, que tive a a satisfação e o orgulho de ver o meu nome proposto para a atribuição de uma Cruz de Guerra.
No entanto devido ao 25 de Abril de 1974, ao 7 de Setembro em Lourenço Marques (Maputo) e da escapadela para a África do Sul, seguiu-se a emigração para o Brasil e, por último, foi o regresso definitivo a Portugal em 1977,
Somente nesse ano tomei conhecimento que a minha condecoração já estava confirmada em Ordem do Exército de 1975.
Foi o então Presidente da Associação de Comandos, Vitor Ribeiro, comandante da TAP e ex. Oficial Comando que intercedeu e acelerou o processo de outorgada condecoração,
A medalha foi-me entregue em 2003 pelo General Abrantes dos Santos, na para principal do Regimento de Comandos da Carregueira , na cerimónia militar comemorativa do dia dos Comandos, que é realizada anualmente a 29 de Junho
CAMARADAS DE ARMAS E COMPANHEIROS COMANDOS, SEMPRE PRONTOS PARA O SACRIFÍCIO.
"A sorte Protege os Audazes"
MAMA SUMAJOÃO NUNES RÊGO
Natural de Machedue-Moatize-Moçambique. Nascido a 5 de Setembro de 1949
Alferes Miliciano Graduado Comando 70915669
Comandante do 1º Grupo de Combate e 3ª Equipa
O relato da actividade da 4ª CCMDS de Moçambique que o Livro proporciona, no meu entendimento, é exemplar.
No concernente, porém, à 1ª intervenção no Distrito de Tete e a seguinte, já em Cabo Delgado, baseada em Mocímboa do Rovuma, sobram assuntos relevantes e atinentes, por abordar e dar a conhecer.
É assim:
Ao fidar da tarde do dia da chegada a Tete e após acomodar a Compannhia no Quartel do BCAÇ. 17 e também do comando do Sector "F" BCAÇ 17, o Cap.CMD Morais Santos deslocou-se às instalações da Zona Operacional de Tete (ZOT) Brigadeiro Rocha Simões.
A complexidade e volume dos itens, tornou morosa a exposição atinentes, acabando por absorver por longo tempo os participantes. Apesar disso, nessa noite ainda o Cap.CMD Morais Santos convocou as chefias do 5º Grupo de Combate (GC), aos quais falou concretamente da panorâmica política/militar prevalecente na Região de Tete e das directrizes e competências incumbidas à Companhia.
Assim, enumerou os imperativos de ordem operacional, estratégica, por que fora requisitada uma companhia de Comandos para operar nessa Zona, a razão da fixação do efectivo em Temangau e a premência de sediar, no Quartel de Moatize, um dos seus GC, constituindo a Força de Reacção Rápida, face à proximidade do AB7 - Aeródromo Base de CHINGODZI/REVUBUÉ, a 13 Kms.
15 de Setembro de 1971
Foi dia de prover a Companhia da logística indispensável com vista a adequar o seu desempenho aos objectivos delineados.
16 de Setembro de 1971
Data da colocação do 2ºGC, em Moatize e em que o grosso do efectivo da Companhia ruma a Tamangau onde chegou a meio da tarde.
Temangau, situada na margem direita do rio Mazoe, era uma povoação administrativa do Distrito de Tete. O Gabinete do Plano do Zambeze (GPZ), possuía aí algumas viaturas de caixa aberta, tratores agrícolas e outro equipamento afim.
Temangau contava com uma pequena pista de aviação.
Estacionamento da Companhia
O GPZ preparara terreno para nele fixar a 4ªCCMDS de Moçambique e também a Brigada da DGS (Ex.PIDE) que viria deslocalizada de Vila Gouveia.
Decorria a montagem do estacionamento, quando funcionários do GPZ dirigiram-se ao Capitão tendo um deles, de semblante visivelmente perturbado, Spínola, de seu nome, começou a dizer que na Chinanga, localidade a uma dúzia de Kms, cerca de meia hora atrás fora alvo de ataque armado desencadeado por desconhecidos e que ele lograra escapar num carro da empresa GPZ.
Prosseguindo o declarante justificou a perturbação ainda evidente devido ao choque emocional porque passara... o súbito troar de várias armas naquela pacata localidade, teve o condão de detonar nos populares um misto de sobressalto, terror ... gerou uma gritaria e um estado emocional geral, jamais vivenciado ... a visão do que sucedia entre o soar ensurdecedor dos disparos às acções de tudo DESTRUIR ateando fogo a tractores, máquina agrícola e a outros bens.
Tudo isso, levado a cabo, em breves instantes, por aqueles armados!
A actividade IN reportada reportada pelo sr. Spínola tornou imperioso agir de pronto, pelo que breves minutos bastaram para a ordem de início da Operação "Marco 1", lançando no terreno o 4º Grupo de Combate (GC).
Changara
Entretanto nesse dia 16 e Setembro, o Capitão CMD Morais Santos falou-me que o Comandante da Companhia de Changara, Cap. Milº Pacheco, teria sido seu condiscípulo; ao mesmo queria muito poder revê-lo, também se afigurava importante uma abordagem ... fazer o ponto da situação sobre as actividades do IN na área ... e que nem de propósito acresceria a acção IN do próprio dia, na citada citada localidade de Nachinanga.
Era da incumbência da Companhia da Changara colocar duas patrulhas móveis "A" e "B" circulando na área da sua actividade, sob sua alçada operacional. Assim a patrulha "A" circulava de forma a passar por Cademera, Nachinanga, Temangau, Desvio (embondeiros) Mazoi, com término em Changara e, a outra unidade a "B" , observava o giro no sentido oposto
Temangau
Ainda a 16 de Setembro. Preparava-se o lançamento da Operação "Marco 1", quando se acercou do estacionamento a patrulha "A", a qual momentos antes passara por Nachinanga, cujo responsável relatou ao Cap. Morais Santos a ocorrência, enunciando genericamente os danos e outros vestígios resultantes da acção do IN.
Esse relato corroborando de todo as declarações do civil sr. Spnínol, foi relevante para as recomendações passadas ao Comandante do 4º GC, Alferes CMD Quesada, que de seguida daria início à progressão rumo a Nachinanga.
E o pôr do sol já se declarava quando o Capitão CMD Morais Santos tomou lugar na viatura "A" seguindo para Changara, onde pernoitou.
Dia 17 de Setembro
Choque e luto com a morte com a morte do Comandante da 4ªCCMDS de Moçambique!
A meio da manhã dá-se a chegada do Cap. Morais dos Santos ao estacionamento, à boleia da patrulha "B", onde permaneceria por breves instantes apenas, já que acordara reunir em Nachinanga com o seu homólogo e anfitrião, Cap. Pacheco, para apuração, in loco, dos danos morais, materiais e de outra natureza causados à população e ao GPZ, na decorrência ada acção IN no dia anterior.
De referir que o Cap. de Changara fizera o percurso até Nachinanga em Jeep da Companhia, tendo por escolta a patrulha "A".
O Caap. CMD Morais dos Santos já em Nachinanga contou com a presença do 4º GC.
Uma vez terminada a avaliação da acção IN, afigurou-se chegado o momento de prosseguir o patrulhamento "A" e de o Cap.CMD Morais Santos retornar ao estacionamento, pois claro.
Assim, o Unimog da patrulha fez-se à picada. Após percorrer alguma distância acabou, porém franqueando a dianteira ao Jeep que trazia ao volante o Cap. Pacheco e no assento do pendura o Capitão Morais Sarmento.
É já no vale entre Nachinanga e Chiutundo (planície de inundação do rio Mazoi), quando percorrera cerca de 200 metros à frente do Unimog, que se deu a fatídica deflagração com o Jeep a detonar o engenho explosivo, mina antitanque, aí implantada, no dia anterior
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Como ficou o jeep onde pereceram os dois oficiais |
Morte imediata do Cap. Morais Sarmento cujo corpo acabou, tristemente, fragmentando-se parcialmente embora,ao passo que o Capitão da Changara sucumbiu momentosos depois.
Entretanto, foi possível falar com Montepuez.
Tive por interlocutor o Major CMD Belchior a quem relatei as consequências dramáticas da deflagração da mina.
Novo rebentamento de mina anticarro, 4 dias depois após o acidente de Vale de Chiutundo.
Novo engenho foi detonado sob o peso de uma viatura de carga do GPZ, desta feita no troço Desvio /Embondeiro para Tamangau.
Esta explosão, além de danos no veículo que a detonou, causou ferimentos em dois militares.
O GPZ em Temangau, ao ser informado da ocorrência e de que a gravidade dos ferimentos em um deles requeria a sua pronta evacuação, que de imediato agilizou esse procedimento, enviando um helicóptero para o local.
A sabotagem acabada de relatar correspondia à terceira manifestação IN, em apenas cinco dias. Essa frequência aliada às distâncias entre os locais alvo, no conjunto, vieram constituir prova do grau efectivo da infiltração e disseminação da guerrilha na zona encravada entre o rio Mazoi e o rio Luenha tendo, como "barreira" natural a linha delimitativa da Região de Tete com a fronteira da Rodésia.
Decorria o intervalo entre as explosões de uma e outra mina, quando a ZOT fixou em Temangau 2 Capitães para, objectivamente, intermediar a relação de trabalho entre as esferas militar, a 4ª CCMDS, e a político administrativa, de que a DGS era a representante. Entre outros aconselhamentos e recomendações no domínio do Plano de Prevenção e Combate à Infiltração do IN, eventualmente pelo corredor fronteiriço com a Rodésia, as duas partes em Temangau entenderam propor à ZOT, a disponibilização urgente de um meio visando a observação e reconhecimento aéreo do referido corredor.
Volvidos 2 a 3 dias, a ZOT, numa demonstração de que aprovara a proposta, mandou para Temangau um Dornier DO, pilotado por um antigo colega de Escola o Vilela da Mota.
O reconhecimento aéreo efectuado, aflorou a necessidade de reunir as hierarquias militares, da região de Tete e da vizinha Rodésia, propósito que só muito mais tarde veio a ser concretizado agendando-se um briefing, em Temangau, a poucos dias do 11 de Novembro, data da Auto Proclamada Independência do Território da Rodésia do Sul.
O Cap. CMD Rocha e Silva, novo comandante da 4ªCCMDS de Moçambique, não pôde estar presente, em virtude de se encontrar enquadrado na força empenhada na Operação "Pandora", a ser levada a cabo na margem do rio Zambeze.
Se para o briefing a ZOT destacou uma equipa de 4 elementos, sob a liderança de um Coronel, desembarcando estes em Temangau numa aeronave pequenininha....Opostamente, Genarais e diversos outros Oficiais de allta patente, um civil e, muito bem, um intérprete (!!!) compunham a Delegação rodesiana. A aeronave, um Douglas DC-3, a bordo da qual desembarcou a comitiva estrangeira, transportando ainda um efectivo militar de elite com cerca de 20 homens.
Com aprovação dos Generais, Sr. Murphy, encarregado dos Serviços de Emigração e Fronteiras, convidoua 4ª CCMDS a visitar Nyamapanda, a 11 de Novembro a 11 de Novembro, por ocasião da celebração da Independência do País, convite que anuí. No final do briefing. o General Chefe fez questão que o acompanhasse ao interior do avião ... instantes depois apeava eu com algumas caixas contendo rolos de Mapas/Cartas referentes ao Distrito de Tete.
Uma preciosidade a qualidade da informação destas cartas só possível, aliás, adoptando uma escala grande como o fizeram os serviços rodesianos.
Na data agendada e acompanhado por uma equipa do 1º GC, deu-se a visita àquele posto fronteiriço.
Operação "Rómulo"
Seja-me permitido a propósito da Operação em menção o seguinte acréscimo:
De volta à ZOT após cessarem funções em Temangau os capitães tirocinados Félix e Geraldes acompanharam-me no reconhecimento do terreno, onde o 2ª Grupo da 4ª CCMDS iriam desenvolver a actividade e, face à extensão longitudinal, qual o dispositivo a adoptar para o bom desempenho da missão.
O efectivo seria "estendido" ao longo da orla direita do Vale do Nyartanda, no sentido montande/jusante
do rio Zambeze , desde, portanto, a confluência dos rios Chemadzi/Zambeze, nas proximidades da Missão Católica de S.Pedro, até à estrada nacional Tete/Beira, extremo Sul, aliás, da Serra da Caroeira.
Para levar por diante a Operação foi necessário solicitar viaturas à ZOT.
Fim da Intervenção Operacional de Tete (ZOT).
De regresso a Montepuez, mas ainda em Tete, obtive autorização do Comando do Sector "F" (Tete) para a travessia apeada do Zambeze, pela ponte, com o dever, contudo, de aguardar no Matundo, a coluna auto que faria a travessia do Zambeze em batelão, após o que levaria a Companhia ao AB7, onde tudo estava a postos para, em NordAtlas, chegarmos ao nosso destino, no mesmo dia 15 de Novembro de 1971.
Esta ponte começou por se chamar Ponte Edgar Cardoso, depois Samora Machel e actualmente Ponte de Tete
Permito-me referir que em substituição da 4ª CCMDS de Moçambique, Temangau recebeu a 1ª Companhia dos GEP (Grupos Especiais de Paraquedistas) comandados pelo já Capitão Sereno.
Da 2ª intervenção, em que a 4ª CCMDS ficou baseada em Mocímboa do Rovuma haverá um ou outro episódio para lembrar.
Por exemplo:
Operação "Obriga 6"
O lançamento dos 30 homens implicou 6 helicópteros, em progressão rasante, com asaeronaves em formação flecha/delta.
Foi sensacional, gostei.
Operação "Obriga 8"
6 e 7 de Fevereiro de 1972.
Última tarde/noite de chuva incessante a par do constante trovão... ensurdecedor e se pausa, quase!
Era eu lembrando, os não raros registos nefastos para quem buscava o abrigo das árvores em circunstâncias meteorológicas similares, portanto, eu estava a desincentivando essa opção.
Entretanto, o rio Matiu, aumentava o seu caudal pois a montante , a chuva continuava caindo e por assim dizer a torneira continuava a debitar água.
A 4ª Companhia de Comandos de Moçambique "apadrinhou" a Cerimónia de imposição de Crachás à 5ª Companhia de Comandos de Moçambique.
Acompanhei a Formação dos candidatos a "COMANDOS", desde a Prova de água.
Os Formandos Aprovados receberam o Título em 31 de Agosto de 1971, data a partir da qual puderam ostentar ao peito o Crachá conquistado e também desde quando desde quando passaram a militares integrantes do efectivo da 5ª CMDS. de Moçambique
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Cap. CMD. Lopes Martins a receber o guião da 5ª CCMS |
Integrei e enquadrei o efectivo da Companhia até 13 de Abril de 1972Gozei um período de refrescamento, na Ilha de Moçambique
Primei pela pontualidade, disciplina e sentido elevado do dever e da honra.
Não me desobriguei de nenhuma responsabilidade
Estive sempre pronto a comandar e disposto a obedecer.
Tenho dito
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