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Livros da guerra colonial

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segunda-feira, 17 de outubro de 2022

            13 -AS SALSIHAS MACUAS DE PUNDANHAR

      Era uma tarde quente em Pundanhar no norte de Moçambique estámos em 1973 .Eu protegia-me da canícula na minha flat, um espaço exíguo, com uma porta e sem janelas e que partilhava com o Furriel Enfermeiro Costa e Furriel GE Balbino.
Dormitava sobre o colchão os cansaços da patrulha cumprida nos três dias anteriores nas margens do rio Rovuma, quando fui surpreendido por duas explosões lá fora, ali mesmo ao meu lado. Qual gato assutado levantei-me e quando agarrei a arma já o enfermeiro se tinha projectado para debaixo da minha cama. Corri porta fora com a adrenalina a disparar e a G3 em ponto de fogo, o dedo nervoso no gatilho.
Acalmei, estaquei com a calma que vi em dois dos meus soldados Macuas que” falavam e riam” entre si em shuailli, língua que quase cheguei a entender.
Preparavam-se para atirar ao forno Já aquecido para a fornada de pão do dia, o resto das latas de salsichas que tinham nas mãos, acto que impedi sacando-lhas com alguma dificuldade.
Quando chegámos à fala, não quiseram explicar-me o porquê daquela “cerimónia”. Também não foi preciso, logo percebi.
Era uma “guerrilha” interna no Grupo (GE 214) entre Macondes e Macuas, os primeiros com formação católica e estes islamizados. Os Macondes comiam de tudo o que compunha a ração de combate. Os devotos de Alá, não toleravam o pecado da carne de porco “ensalsichada” dentro daquelas latas.
Então, tacitamente institui-se um negócio de troca de latas de salsichas por latas de sardinhas. Tudo bem, mas logo surgiu um problema. O grupo era composto por dois macondes e vinte e oito macuas num total de 30 soldados GEs. Deste modo havia sempre 28 latas de salsichas que os macuas não consumiam. Os macondes por seu lado comiam de tudo, sardinha e salsicha e pouco lhes interessava a troca. Então só abriam mão de uma lata de sardinha por quatro de salsicha e mesmo assim o faziam por favor.
Assim o mal-estar instalou-se nos “maometanos”, a raiva foi crescendo até explodir dentro do forno em forma de carne de porco expandida. E sobraram alguns “estilhaços” para mim.
O Manel, macua civil do aldeamento, que aquecia o forno rasoirou as “estilhas” e o soldado padeiro enfornou. No sabor do pão, nem vestígios de cerdo.
O ataque do inimigo por mim imaginado, não passou de umas latas rasgadas, inchadas e chamuscadas.

Forno em Pundanhar
Furrieis Corôa, Balbino e Neves - Messe de Sargentos em Pundanhar



  


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