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Livros da guerra colonial

Miandica terra do outro mundo


segunda-feira, 12 de abril de 2021

FRELIMO -- PRISIONEIROS E DESERTORES DE GUERRA PORTUGUESES

                          INDEPENDÊNCIA OU MORTE, VENCEREMOS! 

Nenhuma força no mundo pode vencer um povo que está a lutar pela sua liberdade. NENHUMA FORÇA.



Nenhuma força do mundo pode vencer um povo que está a lutar pela sua liberdade. Nenhuma força.

Muitos países colonialista e imperialistas aprenderam já ou estão a aorender esta licão. A FRANÇA era um país extremamente forte, com um grande poder militar, e no entanto, quando os povo das suas colónias na Indochina e da ArgéliaO mesmo está a acontecer com os colonialistas portugueses em Moçambique. Apesar do número dos seus soldados (mais de 60.000) e do seu material de guerra moderno, as tropas colonialistas portuguesas estão a ser derrotadas pelo povo Moçambicano, unido, em armas.A nossa luta armada de libertação começou a 25 de Setembro de 1964. A princípio as nossas forças eram reduzidas e as nossas vitórias eram pequenas. Mas pouco a pouco as forças da FRELIMO cresceram. Os nossos sucessos começaram a ser maiores
Progressivamente fomos expulsando os colonialistas de grandes áreas do nosso território. Matámos milhares de soldados portugueses, destruímos centenas dos seus carros, abatemos dezenas de aviões. Cortámos as vias de comunicação.Atacámos eassaltámos muitos postos militares inimigos, onde capturámos grande quantidade de material de guerra, principalmente armas e munições.Na fase actual da nossa luta somos já capazes de capturar soldados inimigos: os dois últimos soldados portugueses capturados pelos guerrilheiros da FRELIMO foram o 1º Cabo FERNADO DOS SANTOS ROSA e o soldado JOÃO BORGES GOMES, capturados nos postos de NAMBUDE e CHAI respectivamente, durante assaltos que nós fizemos contra esses postos.

Por outro lado, ao mesmo que a nossa luta avança e as nossas vitórias se multiplicam, a desmoralização cresce entre os soldados portugueses. A maior parte desses soldados foram forçados a vir para Moçambique, eles combatem contra vontade, eles sabem que não têm nada para defender aqui, mas estão a fazer uma guerra injusta de agressão, contra um povo pacífico que quer apenas ser livre, acabar com os sofrimentos a que o colonialismo português o sujeita. Os soldados portugueses sabem que a Pátria deles é Portugal, não é Moçambique ou Angola ou a Guiné, e que portanto não vêm para aqi "defender a Pátria", como os oficiais lhes dizem, mas sim defender as riquezas que saem destas terras para encher os bolsos dos capitalistas portugueses e seus aliados estrangeiros. E sabendo isto, estando conscientes disto, os soldados portugueses sentem-se desmoralizados.Prova evidente desta desmoralização é o número crescente de soldados portugueses que desertam do exército colonialista - na Guiné, em Moçambique e em Angola, e se acolhem sob a protecção dos guerrilheiros. Em Moçambique, por exemplo, no passado mês de Outubro desertaram mais 3 soldados portugueses que estavam no posto de Mueda. Os nomes deles são: MANUEL DA SILVA LOPES, MANUEL DE JESUS SANTOS e AMÉRICO NEVES DE SOUSA. Eles, como os 2 capturados, estão agora sob a protecção da FRELIMO

Apresentamos aqui as mensagens que esses soldados quiseram dirigir aos seus colegas do exército português. Apresentamos as mensagens originais (manuscritas), e as mesmas escrita à máquina.

Um exemplo da maneira como o próprio povo português sofre também sob o regime fascista, um dos soldados desertores, de nome MANUEL DA SILVA LOPES, é completamente analfabeto, não sabe ler nem escrever, por isso não poude escrever a sua mensagem.

DEPARTAMENTO DE INFORMAÇÃO DA FRELIMO

MENSAGENS DOS SOLDADOS PORTUGUESES CAPTURADOS PELA FRELIMO, E DESERTORES AOS SEUS COLEGAS NO EXÉRCITO COLONIALISTA 

(REPRODUÇÃO DOS TEXTOS DACTILOGRAFADOS E  MANUSCRITOS)

FERNANDO DOS SANTOS ROSA (CABO)

" Eu sou Fernando dos Santos Rosa. Faço este comunicado para todos os soldados portugueses. Soldados, comunico que em me encontro nas mãos da FRELIMO assim como muitos camaradas. Eu fui capturado debaixo de fogo pelos soldados da FRELIMO. Soldados, vós tendes que compreender muita coisa; tendes que pensar com quem estais a lutar, pois lembrai-vos que Moçambique é para os moçambicanos assim com as restantes Áfricas.
Soldados, o que é que vós tendes para vir defender aqui? Pois nós  vimos defender as grandes companhias dos capitalistas, dos que nos escravisam, Por isso eu espero que vós compreendais alguma coisa, vós, os que vos encontrais aqui na África, desertai, fugi para a vossa Liberdade. Então em Cabo Delgado foi anunciada a minha morte, em todos os postos militares, que eu fui morto com o arco. Mentira. Graças a Deus e à FRELIMO estou bem e estou na minha liberdade. Outra coisa, soldados portugueses, os piratas oficiais portugueses chamam turras aos Moçambicanos. Pois eles é que são turras. Os Moçambicanos são de Moçambique, e os portugueses são de  Portugal. Por isso pensai como o Salazar está a matar toda a Juventude Portuguesa, Assim, eu pedia para que viesseis, para saberem o que é a Liberdade, para um dia libertarmos o nosso Portugal.
Soldados portugueses, vede como nós vimos aqui morrer de graça, e enquanto os soldados andam no mato cheios de fome e sede e a morrer nas emboscadas da FRELIMO, estão os grande oficiais a comer e a beber. 
Aqui na FRELIMO é tudo igual. Não há diferenças dos soldados para os superiores. Não é como os piratas portugueses. Pois os soldados da FRELIMO  não comem ninguém, ele não estão a lutar contra o Povo Português, mas sim contra o regime de Salazar, porque ele é fascista.
Eu fui sempre bem estimado pelos soldados da FRELIMO, assim como pelo Povo.
Eu não esperava isto da FRELIMO, que estão a lutar pela sua liberdade.

DOCUMENTO MANUSCRITO DE FERNANDO SANTOS ROSA



JOÃO BORGES GOMES (SOLDADO)

Eu sou o soldado João Borges Gomes. fui capturado pelos soldados da FRELIMO no posto de CHAI, no dia 4 de Março de 1968.
Tenho a informar-vos que fui ferido gravemente, mas hoje encontro-me bem de saúde.
Amigos soldados, tenho  a informar-vos que não é nada como os comandantes dizem: o que os comandantes dizem é tudo mentira. A FRELIMO trata-nos tão bem ou melhor que o Exército Português, por isso não tenhais medo em desertar para a FRELIMO que depois vós ficais certos de que os oficiais dizem é tudo uma falsidade e que vós não sabeis o que é a liberdade de um soldado português.

Moçambique, em território controlado pela FRELIMO
João Borges Gomes
11 de  Novembro de 1968

DOCUMENTO MANUSCRITO DE JOÃO BORGES GOMES
AMÉRICO NEVES DE SOUSA (SOLDADO)

Venho por intermédio deste posto de Rádio, transmirir simples palavras para o vosso bem e para o vosso futuro.
Eu, antigo soldado nº 42439/61, Américo Neves de Sousa, que fugi do quartel de Mueda no dia 13-10-1968 pelas 2 horas da tarde. Eu não estou arrependido deste passo que dei, porque onde me encontro sinto-me muito feliz  e alegre, sou bem tratado e sou bem estimado. Eu segui o meu caminho, e a razão é simples como muitos colegas sabem que eu no Exército Português já andava há oito anos de castigo, eu era um escravo e não um soldado, eu não quis ser mais um escravo, vi a razão e a verdade, e por ver a razão é que dentro de mim apoderou-se um espírito revolucionário, agora falando eu pela razão e pela verdade.
Qual é a tua razão de andares a lutar, a dares teu sangue, a tua vida, sem teres nem sequer um palmo de terra nestas províncias, matares e escorraçares os verdadeiros donos destas terras? Eu vou-te dizer qual a razão que o Governo Português anda a fazer esta guerras completamente injustas, ele não quer dar ao dono o que não lhe pertence porque ele é egoísta, por causa das fortunas, das minas de minério que cá se encontram nestas províncias, e depois aproveita-se dos filhos dos outros para o defenderem. Pensa bem no que te digo, e depois me darás a razão.
Porque é que lutas? Porque é que andas a sofrer sem teres lucro desse teu sofrimento, a dares desgostos à tua família? Porque não fazes como eu que fui pela razão e vi que estes homens que andam a lutar, que não é para matarem a raça branca, mas sim querem que o governo português lhes dê o que lhes pertence, querem a liberdade, querem a sua independência porque desde queestas províncias têm estado debaixo do domínio português a população da raça negra tem sido tratada como escrava e por isso é que eles querem a liberdade. Pensa bem, não lutes, põe teus pés a caminho e vem paracá, porque cá tens paz. Deixa a guerra, isto não é vosso. Então porque lutas se vês que eles tte obrigam a lutar? tens teu caminho a seguir: é fugir. Só te digo porque esta é a plena razão, e pela razão não há ninguém que lha tire. Este Povo está a lutar mas é na razão; não é como dizem esses carrascos a todos os soldados que quem anda a lutar que são outros países contra Portugal; pois eu desminto, porque quem luta são os próprios moçambicanos, isto é deles e não desses carrascos.
Pois olha, não olhes para trás e este é um conselho que te dou, se queres ser um homem às direitas e feliz teres teu lar, só tens que seguir este caminho. Lembra-te que eu já era um soldado muito velho e nunca senti com alegria na tropa portuguêsa, mas hoje posso dizer: sinto-me contente e e alegre e tu experimenta em vires e depois me dirás. Vem, não te arrependes, olha que este é umconselho de amigo. Deixa esses carrascos porque tu não passas de um escravo, e eles de um Rei. Eles é que ganham, eles é que gozam e tu é que sofres.
Deixa a luta e foge
Rapazes,eu deixarei aqui  esta mensagem parra que váo ao vosso coração. Despeço-me de todos vós soldados com um grande abraço , mas só vos peço que não tenham receio em seguir este meu conselho de um soldado que sofreu muito no Exército Português. Hoje sou livre, hoje sou feliz, este que se assina por um grande revolucionário português.
Eu sei que alguém dirá que eu traí a minha Pátria, mas não a traí, porque antes que eu a traísse, traíram-me a mim e como estão dia a dia traindo toda a população portuguesa porque o pobre em Portugal é muito mal tratado.
Esta é a minha pessoa que viu muita coisa que foram mandados fazer pelo governo português, que só quem faz é quem não sabe mandar, quem não tem coração.
Fico por aqui.
Eu:
Américo Neves de Sousa
11 de Novembro de 1968

DOCUMENTO MANUSCRITO DE AMÉRICO NEVES DE  SOUSA



MANUEL DE JESUS SANTOS (SOLDADO)

Camaradas do Exército Português, Oficiais e não Oficiais, a todos boa noite.
Espero que saibam quem está a falar: sou o Santos do Pelotão de construções, fugido de Mueda no dia 12 do passado mês de Outubro. Espero, camaradas, que esta mensagem chegue até vós nas melhores condições.
Camaradas, sabem o que me levou a fazer a minha fuga para a Frente de Libertação dos Povos de Moçambique? Foi por ver tantos erros na parte do Exército Português, e mentiras que os oficiais nos diziam, diziam que se um soldado fugir para esta Frente que era morto, empancado e escorraçado; é tudo mentira. Eu cheguei aqui há já vários dias e estou satisfeito na acção que fiz, o que fiz no passado mas já o devia ter feito há muito tempo.
Camaradas, não existem, não receiem em entregar-se porque aqui ninguém lhes faz mal, desde o povo até ao mais alto comandante, a tratação é bos, não receiem do caminho porque não hé leões, não há tigres no caminho, é um caminho firme, aí na tropa portuguesa o caminho é de espinhod, leões e búfalos.
Camarada, vem, foge dos impecilhos da vida que te cercam, não te deixam andar à vontade, põe-te em liberdade, não queiras ser mandado como um cão, domina-te a ti próprio, espalha-te pelo mundo, mas não esse mundo abafado que nem sequer podes respirar por tão cheio de maltratantes que está.
Camarada, já reparaste que andas a lutar contra a tua vontade? Já reparaste que andas a sofrer dos senhores Caetanistas? Porque não deixas isso para vires para a liberdade? Pensa bem o que andas a fazer aos Moçambicanos , andas a lutar em terra estrangeira, a derramar o teu sangue! Para quê? Para nada gozares, só para te massacrares. Escolhe o caminho da Paz e não dos sacrifícios que andas a fazer no mato de Moçambique.
Camarada, comove-me em saber que andas enganado por esse portuguesismo , a minha vontade era salvar a vós todos, tirá-los do sofrimento, mas não posso, e se a vossa consciência é libertar-se, não é preciso que eu venha aí buscá-los, procurai e refugiai-vos para  FRENTE DE LIBERTAÇÃO DE MOÇAMBIQUE.
Por hoje nada mais, até à próxima. Boa noite a todos os meus colegas e conhecidos portugueses.

Manuel de Jesus Santos
11 de Novembro de 1968

DOCUMENTO MANUSCRITO DEMANUEL DE JESUS SANTOS


























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