A VIAGEM
Em 24 de Janeiro de 1971, no Cais de Alcântara, embarcou o Batalhão de Caçadores 3834 no N/T "Niassa", sob o comando do 2º Comandante, Major de Infantaria Fernandes Gomes Faria Barbosa.Em 2 de Fevereiro de 1971, embarcaram via aérea para a Região Militar de Moçambique, o comandante do Batalhão Tenente- Coronel de Infantaria Luís Alberto Monteiro Oliveira Leite e o Oficial de Operações de Infantaria Major de Infantaria Armando Alves Pereira,,
Em 14 de Fevereiro de 1971, chegou o batalhão a Lourenço Marques, tendo prosseguido a viagem para Porto Amélia no dia 15 de Fevereiro de 1971.
Em 20 de Fevereiro de 1971 chegou o N/T "Niassa" a Porto Amélia, tendo desembarcado a CCS, a CCAÇ 3309 e a CCAÇ 3310 do BCAÇ 3834.
A CCAÇ 3309 que, por efeitos operacionais se separou do Batalhão, seguiu por via marítima no dia 20 de Fevereiro de 1971 para Palma. Chegou a Nangade, seu local de destino, a 25 de Fevereiro de 1971.
A CCAÇ 3309 e o seu embarque no N/T "Niassa" (uma viagem de ida, mas de regresso incerto
(...)Eram, não se sabe quantas, as carruagens que ali seguiam, todas elas inundadas de gente que mergulhava no álcool, parecendo querer esquecer qualquer tragédia(...)
(...) Era de manhã, e o sol já começara a beijar o país quando as carruagens entraram lentamente na zona marítima como que arrependidas, talvez até decididas a levarem aqueles soldados de volta para bem longe daquele cais de partida, apesar de as terem agonizado com os gemidos das guitarras, das garrafas partidas contra as suas partidas e da humidade das lágrimas em brandy barato que se confundia com a dor.
Estava-se em Janeiro e datavam vinte e quatro dias de 1971, e o céu tornava-se menos escuro do que as vestes desbotadas das viúvas.(...)
(...) Uma das janelas do comboio abriu-se e o pequeno gesto de desapertar o nó da gravata seguido do despir do blusão cor azeitona fosca, acompanhavam o percurso dos olhos do Braz que invadiram de imediato o cais, na ânsia de encontrar alguém que não encontrara até aí, ignorando o frio que se fazia sentir naquela manhã(...)
Parecendo louco , fugindo de tudo, ignorando outras angústias que inundavam aquele cais, correu preocupado tentando afastar-se da multidão angustiada e, sem ter tempo de sentir a emoção de quem acha um tesouro no fundo do mar, sentiu-se apertado por uns braços fortes, num abraço muito quente, desesperado, cuja angústia se vislumbrava numa face rude e húmida das lágrimas que percorriam aquele rosto moldado pelo sofrimento de uma vida de trabalho, e por existência provisória.
Ao olhar da mãe, excessivamente emocionado Braz aconchegou-se nos seus seios como uma criaça, beijando-a como nunca a beijara(...)
(...) Fora breve a permanência junto dos familiares. Ao chamarem os soldados para a formatura, Braz, percebendo que ia aumentar a distância entre o aconchego da mãe e as amarguras da guerra(...)
(...) A muito custo , e depois da mãe o inundar de lágrimas que pareciam formar ondas turbulentas que o tentavam tragar, Braz despediu-se apressadamente, correndo para a formatura.(...)
(...) Na parada, empedrada de negro, as tropas devidamente alinhadas, algumas delas parecendo famintas para desertar , iniciavam o seu desfile embebido por uma cena trágico-marítima num palco do qual " pareciam não ter forças para abandonar" forçando as suas botas, que, de raiva, batiam a calçada com tanta força, não conseguindo abafar os gritos e desabafos roucos dos familiares que se aglomeravam nos passeios da zona marítima, que a muito custo iam contendo a sua revolta, enquanto outros, fragilizados pela emoção exteriorizavam a sua dor, gesticulando os braços por cima dos véus que protegiam os cabelos caídos sobre os ombros já gastos do cansaço.
- Assassínios ...fascistas! - quero o meu filho de volta...filhos da puta, vão para lá vocês seus cabrões de merda! (...)
(...) A formatura passava agora em frente à tribuna oficial, e as tropas ao olharem à sua esquerda, obedecendo à voz do comandante, foi-lhes despertada a curiosidade pela observação de um dos soldados da companhia que murmurou:
- Olha! -lá estão as gajas!
- Quem? - murmurou outro:
- As burguesas do Movimento Nacional Feminino, - Afinal também as putas querem que a malta vá para a guerra!
Ao subir lentamente o portaló, Braz, disparando um olhar triste em seu redor reparou que algumas tropas ainda desfilavam no cais, apercebendo-se, então, de quanta beleza transportavam aquelas bandeiras bordadas a ouro dos diversos batalhões que estavam prestes a ser engolidos por aquele monte de aço, ma que teimosamente sulcavam ao vento imitando a ondulação de um navio em alto mar.
De imediato, sentindo-se engolidos por um monstro de ferro, aquelas tropas foram sendo despejadas num porão como se fosse carga para ser consumida num qualquer canhão.
Era no fundo daqueles porões que iriam passar os próximos dias até que o navio, cansado, despejasse num porto distante depois de uma viagem lenta, sufocante, com a certeza de uma ida mas de regresso incerto.
(...) Já afastado da muralha e inclinado para um dos lados devido ao peso dos soldados que se amontoavam na amurada virada para o cais, o Niassa continuava a roncar os seus apitos arrepiantes enquanto Braz, do alto do guindaste, finalmente, vislumbrou no meio daquele mar de gente a Gracinda, sua mãe, que agitava os braços como se quisesse abraçar aquele monstro feito monte de chapa envelhecida e arrancar de lá o seu filho e fugir bem longe dali onde mais ninguém o pudesse partilhar.(...)
(...)"... Grito tanto que me sinto rouco, estendo a mão fechando o punho, tudo quanto agarro é tão pouco...", parecia dizer alguém que permanecia sozinho ao fundo do cais acenando para o navio que desaparecera no horizonte, enquanto ao longe a multidão se dispersava, tentando uns secar as últimas lágrimas, outros pensando no trabalho árduo do campo, cuja terra iria ser desbravada agora com a ausência de mais alguns braços de que, inesperadamente ficaram privados. (...)
Finalmente, arrancados do aconchego do lar e daquele abraço forte que parecia nunca mais acabar, lá nos separaram numa viagem de ida e de regresso incerto. "Niassa", 24 de Janeiro de 1971.
MEMÓRIAS
" Até nesta puta de guerra somos discriminados"
(...) Quando o Niassa já estava longe do cais de embarque, é que eu me apercebi da enxovia onde nos tinham enfiado. Os porões, com aquelas camas todas amontoadas que mais pareciam casernas dos campos de concentração, criaram dentro de mim um sentimento de revolta que fui obrigado a conter devido às circunstâncias do momento. A ventilação era deficiente, o cheiro nauseabundo que exalava do fundo dos porões era insuportável o que me levoupor várias vezes durante a viagem, a pegar no colchão e nas mantas e vir dormir para o convés; pelo menos ali respirava-se ar puro. Se a minha indignação já estava ao tubro pelas condições que nos davam a nós que íamos lutar pela pátria, então foi quando explodi de raiva, quando por casualidade me desloquei a outros compartimentos do navio e vi em que condições os oficiais e sargentos iam instalados. Às até tinham empregados de mesa que os serviam, e os camarotes não tinham nada a ver com os porões insalubres onde nós dormíamos. Quando cheguei ao porão onde dormia aí libertei toda a minha indignação e disse para todos os que quiseram ouvir:
-- "Porra, até nesta puta de guerra somos discriminados (...)!
Na foto: o autor do texto anterior
João Luís dos Santos Nabais,
Ex. Soldado Condutor Rodas NM 15467570 da CCAÇ 3309
MEMÓRIAS
" Indignação numa esplanada de Luanda"
Foi de facto um episódio que não chegou ao conhecimento da generalidade do resto da CCAÇ 3309, dado o mesmo se ter envolvido com a caga política que o caracterizou naquela altura.
O navio Niassa tinha chegado à cidade de Luanda no dia 5 de Fevereiro de 1971, pelas 18.00 horas e eu, o Nabais e o Machado (Foz) decidimos dar uma volta pela cidade para desanuviar do ambiente que se vivia no navio, e sair um pouco daqueles porões onde nos tinham encurralado. Sentámos-nos numa esplanada da marginal e ao fim de um tempo assistimos ao seguinte cenário que motivou a nossa intervenção. O proprietário do café (numa atitude de prepotência colonialista) acabara de tirar um jornal a um dos miúdos que os vendia, pondo-se a lê-lo calmamente, devolvendo-o todo rasgado, justificando que aquilo que noticiava eram só mentiras., ao mesmo tempo que pontapeava uma caixa de graxa de um miúdo que tentava arranjar clientes num café, danificando-a , partindo-lhe todos os frascos e latas de pomada que se espalharam por toda a esplanada. Perante a nossa indignação, que se generalizou a todos os presentes na esplanada, questionámos o proprietário do café se aquilo eram atitudes de gente civilizada, dizendo-lhe que não pagaríamos a nossa despesa enquanto ele não indemnizasse o ardina assi como o engraxador dos prejuízos que lhes causara. Como a nossa tomada de posição tivera a solidariedade dos restantes clientes do café que também se mostraram indignados com aquela arrogância, o seu proprietário deu algum dinheiro aos dois miudos que não questionaram a sua quantia, tendo desaparecido num instante. Quando nós pensávamos que o assunto tinha sido encerrado, eis que chega ao café um jeep da Polícia Militar e outra viatura com gente à civil que se identificaram como agentes da PIDE/DGS que nos pediram a identificação como se tivéssemos sido nós os causadores do conflito, instigados pelo dono do café e de um padre que se levantou de uma mesa num dos cantos da esplanada, e disse em tom alarmista:
--Levem-nos...Levem-nos .., esses soldados são comunistas. Posteriormente fomos introduzidos no jeep da Polícia Militar e levados para bordo do Niassa, sem que antes um dos agentes da PIDE/DGS disse-nos em tom jocoso: - Queriam arranjar conflito para ficarem aqui em Luanda só para não irem para a guerra, mas lixam-se que têm que lá ir bater com os cornos, e oxalá que aqueles Maoístas da FRELIMO os devolvam à Metrópole dentro de "sobretudo de mangas".
Cumprindo ordens da agente da PIDE/DGS, o Furriel que comandava a Polícia Militar levou-nos de volta ao "Niassa" sem fazer qualquer participação do ocorrido, dizendo-nos simplesmente:- Vão-se lá embora malta, porque esta guerra é deles e não tem nada a ver connosco.
Na foto: o autor do texto anterior
Carlos Alberto correia Braz Verdasca
Ex. Soldado Condutor Rodas NM 15263570 da CCAÇ 3309
Na foto: O Alferes Martins e os Furrieis Neves, Barbudo e Leite a bordo do "Niassa" 27-1-1971
Na foto: Alvim, Zequinha e Victoe em pleno Oceano Atlantico a bordo do "Niassa"
Lourenço Marques (Maputo) 14 de Fevereiro de 1971
Depois de ter desembarcado em Porto Amélia (actual cidade de Pemba) no dia 20 de Fevereiro de 1971, a CCAÇ 3309 embarcou na corveta NRP"João Coutinho" com destino a Palma, onde chegou no dia 23 de Fevereiro de 1971, tendo fundeado ao largo. às 11h50.
Corveta "João Coutinho" |
Em terra, e como já vinha sendo hábito, a população nativa misturada com militares da Companhia estacionada em Palma aglomeravam-se na praia para dar as boas vindas aos soldados cujo destino era o aquartelamento de Nangade.
" Furriel, trouxeste água da Metróple"
(...) debruçado na amurada da corveta "João Coutinho", a brisa fustigava-me o rosto naquela manhã de 23 de Fevereiro de 1971, quando olhava as águas revoltas do Oceano Índico, cujas ondas eram continuadamente sulcadas pela proa, num balancear contínuo a que nos habituara-nos há 30 dias.
Os meus pensamentos variavam entre o passado recente no seio da família e dos amigos e um futuro incerto que o destino havia reservado, não só a mim, mas também a tantos outros que, comigo, seguiam no mesmo barco.
O nosso destino era a povoação de Palma, bem a norte de Moçambique, para daí serem percorridos 105 Kms de picada até ao destino final: Nangade.
O balancear do barco deteve-se quando entrou nas águas calmas da baía de Palma, ancorando a uma distância que nos pareceu ter mais que 1 Km da praia onde desembarcaríamos, questionando-me eu como chegaríamos a terra.
LANCHA DE DESEMBARQUE A CAMINHO DE PALMA |
DESEMBARQUE DE MATERIAL EM PALMA |
Recordo-me que passei no alpendre dum edifício, pertencente à administração local, e que me pareceu ser uma escola. Apesar da noite estar linda, não conseguia dormir.
A realidade do presente e o destino de cada um de nós, toldavam-me os pensamentos para além das queimaduras de costas não tolerar o chão onde estava deitado. Embebido eu nos meus pensamentos ouvi uma voz que sussurrava:
--Furriel! Furriel! e, olhando para o lado vi vir na minha direcção um soldado de cor pertencente à CART. 2745. Sentei-me e perguntei-lhe o que queria. Ele, receoso e em voz baixa,perguntou-me: Furriel, trouxeste água da Metrópole? Perante tal pergunta fiquei intrigado, sem perceber que raio de água seria essa que ele queria -- água da Metrópole? Instantaneamente ocorreu-me na ideia -- Aguardente!
--Senta-te ao meu lado, disse-lhe eu,enquanto punha a mão à mala que me servia de travesseiro e, abrindo-a, tirei uma garrafa de "Constantino" (brandy) que um amigo me oferecera quando gozei as férias de mobilização nos Açores e que, por mera sorte, ainda ali se encontrava.
Tirei-lhe a rolha, e, na falta de copos levei-a à boca. Bebi um trago e entreguei-lha dizendo:-Bebe.
Após uma breve pausa levou-lha também à boca e bebeu uns bons tragos.
- Obrigado Furriel , - disse-me ele levantando-se , enquanto murmurava -- "estamos acabando e vocês começando"
- Senta-te mais um pouco, disse-lhe eu , levando novamente a garrafa à boca. Sentou-se , e, após uns dedos de conversa a meia voz e termos ingerido uma boa quantidade de brandy , levantou-se dizendo:
- Obrigado Furriel , vamos partir cedo e vau descansar.
Cambaleando , afastou-se sem eu lhe ter visto o rosto nem ele o meu. Foi quando me apercebi que apenas restava na garrafa um pouco de brandy. Acordei com o roncar das Berliets e Unimogs anunciando o início duma picada que, após descanso duma noite em Pundanhar, terminaria em NANGADE no dia seguinte
Era o início do destino da CCAÇ 3309
O autor do texto anterior
Furriel Miliciano NM 09168570 da CCAÇ 3309
Aquartelamento de Nangade
O percursor até Nangade foi efectuado em coluna militar sob a escolta de dois pelotões, da CCART. 2703, estacionada em Pundanhar, que efectuou a operação de detecção de minas picada até ao Km 25 daqueles aquartelamento , que ficava ao Km 50 no percurso entre Palma e Nangade, e onde a CCAÇ 3309 pernoitou tendo seguido no dia seguinte para Nangade.
FEVEREIRO de 1971
Alterações à composição
09 de Fevereiro de 1971 a 15 de Fevereiro de 1971. Saíram de Nangade , o 1º e 2º Escalão , respectivamente , da CCAÇ 2622, a fim de seguirem para o Chibuto, via Palma.
Actividades na Região Militar de Moçambique
21 de Fevereiro de 1971 - Começou a Operação "Roda Grande", coluna de reabastecimento de Nangade a Palma e foi realizada por 2 Grupos de Combate de CCART. 2745 e 1 Secção da CCAÇ de Mocímboa da Praia, tendo a protecção da CCAÇ 2703, durante a deslocamento na sua zona de acção.
25 de Fevereiro de 1971 - Pelas 17h30 , foram presentes em Nangade os Oficiais,Sargentos e Praças que compõem a CCAÇ 3309 /BCAÇ 3834. Esta Unidade fica colocada no Sub-Sector de Nangade e portanto dependente do BCAÇ 2918
AQUARTELAMENTO DE NANGADE EM 1971 |
CCS do BART 2918.............................................................Nangade
3 Grupos de Combate da CART. 2745.................................Nangade
2 Grupos de Combate da CCAÇ 3309.................................Nangade
2 Grupos de Combate da CCAÇ deMocímboa da Praia......Nangade
1 Pelotão da CENGª 2736................................. Nangade
1 Grupo de Combate da CART 2745...................................Nova Torres
2 Grupos de Combate da CCAÇ 3309.................................Nova Torres
3 Grupos de Combate da CCAÇ 2703.................................Pundanhar
2 Grupos de Combate da CCAÇ deMocímboa da Praia......Palma
1 Grupo de Combate da CCAÇ 2703...................................Nhica do Rovuma
2 Grupos de Combate da CCAÇ de Mocímboa da Praia.....Quionga
Nova Torres é TARTIBO
Aquartelamentos de Nangade e Omar e os Lagos de Nangade e Lidede |
28 de Fevereiro de 1971 - Realizou-se a Operação "Rotação 1" coluna de reabastecimento de Nangade a Nova Torres (Tartibo) e regresso, da CART 2745. Operação realizada com o apoio de 2 Grupos de Combate (GC) da CCAÇ 3309 ; 1 GC da CCAÇ de Mocímboa da Praia, estacionada em Nangade e picagem e segurança de 1 GC da CCAÇ 2703 até ao rio Metumbué, ao encontro das forças da CART 2745. ali se processou a rendição. assim, após a rendição ficou na CART 2745 em Nangade e a CCAÇ 3309 em Nova Torres (Tartibo). Operação terminada a 1 de Março de 1971 com a chegada a Nangade das forças da CART. 2745. Durante a rotação o accionamento de uma mina anti-carro por uma Berliet, causou a sua destruição e 1 ferido ligeiro à CCAÇ Mocímboa da Praia.
O 1º Pelotão da CENGª 2736, diariamente continuou com as obras de melhoramento da pista de Nangade.
Feridos por acidente em serviço:
Soldado 10445170, Adelino da Assunção Pimenta Alvim, da CCAÇ 3309, em 23 de Fevereiro de 1971.
MEMÓRIAS
" Porque não desembarquei em Palma"
... De facto tive um acidente quando seguia ainda na Fragata "João Coutinho", quando esta navegava a caminho de Palma.
Eu estava na fila para beber água fresca e, de repente, senti uma má disposição e desmaiei. Ao cair parti quatro dentes, acabando por não desembarcar em Palma, tendo seguido na mesma Fragata com destino ao Hospital de Nampula onde demorei quatro dias a lá chegar e onde estive internado cerca de um mês.
Na foto o autor do texto anterior.
Adelino da Assunção Pimenta Alvim
Soldado Radio telegrafista 10445170
CCAÇ 3309
Cabo Pinto à entrada do abrigo |
O Rebenta minas telecomandado, detector de minas nas picadas de nangade |
A dita "enginhoca" consistia num Hunimog comandado à distância , apetrechado com um rodado avançado em cimento e aço, com a finalidade , devido ao seu peso, accionar as minas anti-carro montadas na picada pela FRELIMO. Aparentando ser uma tecnologia muito avançada para a época e funcionando em excelentes condições dentro do quartel, no primeiro dia em que foi para o mato tiveram que desistir da experiência porque a dita "engenhoca" não se mostrou tão funcional devido ao acidentado do terreno e a irregularidade do trajecto das picadas que a tornaram inoperacional, sendo encostada a um canto como se fora um monte de sucata.
A pesar de tudo, que não deixou de ser uma excelente ideia, durante as várias sessões experimentais dentro do aquartelamento de Nangade, esta experiência foi motivo de curiosidade das populações dos aldeamentos, que se interrogaram sobre aquele fenómeno de uma forma tão original.
- "...Ai ué. eu ver branco fazer maningue coisa e já não ficar maluco no cabeço; fazer avião voar, meter sardinha dentro de lata fechada-- agora fazer muito confusão no meu cabeço como é que branco fazer o "Pincha" andar sozinho sem ninguém nos volantes pá:
-- FRELIMO no mato quando vir este coisa vai rir maningue..."
O rebenta-minas telecomandado na picada para Muidine |
Depois de bombeada para o aquartelamento a água entrava num tanque de tratamento e só depois era distribuída para os diversos consumos.
As "Águas" Aqui era bombeada a água para o aquartelamento de Nangade |
Na foto em 1º plano o 1º Cabo Victor, morto em combate em 20-7-1971 |
O posto avançado das"Águas" |
Anti-aérea situada ao lado do edifício do comando em Nangade |
Antes da chegada da CCAÇ 3309
No âmbito da Operação "Novo Rumo", forças da CART. 2475, da CCAÇ Mocímboa da Praia e outras unidades ocuparam à FRELIMO uma importante base denominada CANTINA MANICA-SOFALA , nas margens do rio Rovuma com cerca de trezentas palhotas, posto fronteiriço de infiltração da guerrilha em Moçambique, localizado a norte da antiga aldeia de Tartibo, entre Pundanhar e Nangade Devido à sua localização estratégica , era suposto que a CART 2745 ali ficasse estacionada , mas devido ao receio de serem constantemente atacados devido à sua visibilidade e ao conhecimento que a FRELIMO tinha do terreno, aquela base da FRELIMO foi totalmente destruída e a CART 2745 montou o seu aquartelamento a cerca de 3 Kms daquele local, a que uns chamaram Tartibo e outros Nova Torres, em 5 de Setembro de 1970.
Nova Torres 5-9-1970. Jornalisra e oficiais da CART 2745, no local onde vão instalar o aquartelamento |
Vista aérea do aquartelamento de Nova Torres (Tartibo) |
Outro aspecto da inundação do aquartelamento de Nova Torres |
Aquartelamento de Nova Torres durante a permanência da CART 2745 |
Retirada da CART. 2745 de Nova Torres para a posião DAMA, devido às cheias causadas pela junção dos rios Metumbué e Rovuma. Nova Torres 1970 |
" Vivíamos de facto em condições muito difíceis"
Capitão José Duque |
Sei que em muitas ocasiões a acção do comando reveste-se de muita dureza, mas os militares da CART 2745 sempre aceitaram essa dureza e muitas vezes foi pelo rigor, pelo cuidado e pelo sacrifício que conseguimos evitar acidentes, baixas e assim pudemos regressar com a certeza do dever cumprido, e com poucas baixas relativamente aos perigos que vivemos.
É principalmente a eles que dedico o registo das minhas recordações de dois anos em que se firmaram amizades que perduram ainda hoje e continuarão por toda a vida.
A minha estima também vai para os militares da CCAÇ 3309, que nos sucedeu na zona de operações do Rovuma
In " A CART. 2745 em Moçambique" página 1
(...) desembarcada em Palma, a CART. 2745, ali permaneceu alguns dias aproveitados para treino intenso de todo o pessoal em detecção de minas. Em 26 de Fevereiro de 1970 saiu de Palma em direcção ao interior, dando início à operação "Novo Rumo" com a missão de limpar e ocupar o quartel da FRELIMO "CANTINA MANICA-SOFALA" posto fronteiriço de infiltração da guerrilha em Moçambique, localizado junto ao Rovuma, a norte da antiga aldeia de Tartibo, entre Pundanhar e Nangade. A designação deste local foi depois alterado por nós para Nova Torres, lembrando a unidade mobilizadora da CART.2745 (GACA 2 em Torres Novas)
In " A CART. 2745 em Moçambique" capítulo II, Entrada no teatro de operações, página 3
(...) Os militares da CART.2745, durante os oito meses que ali permaneceram, viveram sempre em tendas. No início tinha apenas três viaturas. No início a vida da CART 2745 no aquartelamento do Tartibo foi muito difícil , os abastecimentos críticos , incluindo o precioso correio , chegavam com irregularidade,de helicóptero ou lançados de avião, por vezes caiam longe das vistas do aquartelamento, obrigando a caçadas pelo capim fora; alguns sacos rebentavam espalhando o seu conteúdo por uma vasta área. O abastecimento via terrestre era difícil porque a picada desde a Lângua até ao aquartelamento era quase intransitável e estava minada; eram cerca de 7 Kms que demoravam mais de um dia, porque a detecção de minas era muito difícil em especial nas zonas de floresta. O trilho tinha sido aberto havia pouco tempo durante a Operação"Novo Rumo" e estava cheio de paus, troncos e mato onde era fácil colocar minas e difícil a sua detecção. Numa das primeiras colunas a viatura do 1º Grupo de Combate efectuava a escolta e nos últimos Kms antes da travessia do rio Metumbué começou a detectar minas na picada. Havia uma determinação que as minas não deviam ser levantadas mas sim destruídas. O comandante do Grupo de Combate ia comunicando a detecção de cada mina, mas não se ouvia a sua destruição; o aquartelamento; o aquartelamento situava-se a menos de 10Kms. À oitava foi-lhe perguntado o que se passava com as minas e o alferes respondeu que as tinha levantado todas para não alertar o inimigo o inimigo. Devido ao risco das minas poderem ter armadilhas anti-levantamento foi proibido tal procedimento.
Desde o dia da chegada e durante mais de um mês não houve pão , até que foi improvisado um forno de pão com bidões de gasolina vazios cobertos de terra, no início o pão trazia terra misturada, mas depois melhorou. Também muitos militares faziam as suas pequenas hortas na imediação dos abrigos, onde cultivavam legumes para melhorar o seu menu (...)
In " A CART. 2745 em Moçambique "História da vida em Tartibo-Nova Torres" Página 7
José Fernando Jorge Duque
Capitão de Artilharia 50330311
Comandante da CART.. 2745
Pequenos textos retirados de "A CART 2745 em Moçambique", páginas 1,3,7 da autoria de José Fernando Jorge Duque, ex. Capitão da CART 2745 estacionada em Nova Torres quando a CCAÇ 3309 a foi render em Março de 1971.
Retirada da CART 2745 do aquartelamento de Nova Torres, devido às cheias poucos dias antes da CCAÇ 3309 ter chegado àquele local. Nova Torres, (posição DAMA 11 de Fevereiro de 1971 |
Aquartelamemto de Nova Torres, alagado pelas águas do Rio Rovuma |
Um outro pormenor do aquartelamento de Nova Guarda em 1971 |
Março de 1971
01 de Março - Continua a instalação do Quartel na nova posição denominada DAMA. O 3º Grupo de Combate em coluna de três barcos pneumáticos e parte do pessoal a nado para o Rio Metumbué com destino a Nangade, constituindo assim o 1º escalão de rotação da CCAÇ 3309 Pela CART 2745. O Comandante da Companhia seguiu essa coluna a fim de comandar a Operação Orfeu 1.
Os Grupos de Combate da CCAÇ 3309 chegaram ao Rio Metumbué pelas 14h00 e ao quartel posição DAMA pelas 17h00.
02 de Março - Pelas 16h00 o 4º Grupo de Combate e o Comandante da Companhia chegaram a Nangade e as forças da CART 2745 em Tartibo organizaram-se em 3 Grupos de Combate mistos com elementos da CCAÇ 3309.
Pelas 07h00 saiu o 1º Grupo de Combate para patrulhar as imediações do Quartel antigo onde tinham ficado viatura e combustível por não serem transportáveis. A patrulha foi feita sobre colchões pneumáticos tendo regressado pelas 11h00.
03 de Março - O Rovuma subiu o nível das águas começando a inundar a posição DAMA (Nova Torres).
As inundações. Nova Torres 5 de Março de 1971 |
07 de Março - O Rio Rovuma subiu inundando o quartel de Nova Torres (DAMA. Por essa razão um Grupo de Combate saiu da posição DAMA de barco e em colchões pneumáticos para executar a Operação FLECHA com a missão de criar uma ponte se apoio a sul do rio Metumbué, a cerca de 4 Kms da posição DAMA.
08 de Março - Após a avaria de um motor de um barco, as forças da Operação Flecha pediram apoio aéreo, tendo seguido o Comandante da Companhia de helicóptero para efectuar o lançamento por guincho de uma hélice para o barco.
A força atingiu a posição FLECHA pelas 16h00 onde montaram um estacionamento provisório.
18 de Março - O rio Rovuma manteve-e estacionário continuando os terrenos entre os rio Rovuma e Metumbié totalmente submersos e portanto o quartel de Nova Torres também submerso.
Apareceram jacarés nas trincheiras e os animais selvagens procuram refugiar-se no quartel por ser um local mais elevado de toda a zona,
19 de Março - O rio Rovuma subiu apreciavelmente tornando impossível vida dentro do quartel de Nova Torres (DAMA) .
O pessoal refugiou-se sobre as árvores onde passaram a viver durante algumas semanas.
27 de Março - O rio Rovuma inundou novamente o quartel de Nova Torres (DAMA) obrigando o pessoal a subir às árvores.
28 de Março - Na Operação "Zagaia 3" realizada na região do mato NANDILA forças da CCAÇ 3309 detectaram e destruíram um acampamento de 2 palhotas antigas e abandonadas, apresentando sinais recentes de vida. No dia seguinte, foi detectado na mesma região um grupo de 5 palhotas, abandonadas, sem sinais de vida recente.
Feridos por acidente em serviço
1º Cabo 13137570, Victor Manuel Armuco, da CCAÇ 3309, em 14 de Março de 1971
MEMÓRIAS
" os mantimentos eram atirados lá de cima"
João Barbudo |
"... Em Nova Torres o 1º e 2º Pelotão passaram lá um mau bocado devido às chuvas e quando o helicóptero fazia o abastecimento tinham que atirar os mantimentos lá de cima porque o hélio não tinha condições para aterrar.
Devido a estas condições, tivemos que mais tarde mudar de aquartelamento para lá do rio Metumbié (junto ao mesmo, mas num local muito alto).
Quando em patrulha, andávamos a escolher o local para o novo quartel, encontrámos casualmente uma base da FRELIMO (tivemos contacto com eles ) e foi precisamente nesse local que instalámos o aquartelamento de TARTIBO
Texto e foto de:
João Carlos Barbudo
Ex.furriel Miliciano da CCAÇ 3309
Abril de 1971
02 de Abril - A CCAÇ 3309 começou a Operação "ZAGAIA 6", entre os Lagos Nangade e Lidede, terminando no dia seguinte sem contacto com o IN.
09 de Abril - O rio Rovuma desceu mais alguns centímetros deixando o antigo quartel completamente seco.
10 de Abril - Em Nova Torres pelas 08h00 iniciou-se a mudança da posição DAMA para o antigo quartel, mantinha-se no entanto a posição FLECHA.
11 de Abril - No regresso do Tartibo foi detectada e destruída uma mina anti-carro por forças da CCAÇ 3309.
12 de Abril - Em Nova Torres (Tartibo) terminou a instalação no antigo quartel tendo sido abandonada a posição DAMA e iniciaram-se os trabalhos de organização do terreno e reparação do quartel.
13 de Abril - Em Nova Torres prosseguem os trabalhos de reorganização do quartel. Em Nangade fazem-se os preparativos para a Operação "ORFEU 1"
14 de Abril - Pelas 07h00 teve início a Operação "ORFEU 1" comandada pelo Comandante da Companhia na qual tomaram parte as seguintes forças:
O Comandante das forças em operação o:
CMDT da CART 2745
Agrupamento Jacaré:
CMDT da CCAÇ 3309
2 Grupos de Combate da CCAT 2745
2 Grupos de Combate da CCAÇ 3309
Grupos Especiais (GE) 205, 206 e 210
Agrupamento Onça
CMDT da CCAÇ 2703
2 Grupos de Combate da CCAÇ 2703
1 Grupos de Combate da CCAÇ de Mocímboa da Praia
Batalhão de caçadores Paraquedistas:
2 Companhias de Paraquedistas
Esta Operação tinha como objectivo a destruição de meios de vida do IN a sul da mata de Chicadera
Partida de Nangade dos Agrupamentos "Jacaré" e "Onça", Operação "Orfeu 1" |
Em Nova Torres iniciou-se a mudança do rio Metumbué (Posição Flecha) para o antigo quartel.
16 de Abril - Prossegue a Operação "Orfeu 1", após o bombardeamento dos objectivos pela força Aérea Portuguesa e helicóptero de assalto pelas Companhias de Paraquedistas. O Agrupamento Jacaré progrediu em direcção SUL tendo atingido o objectivo pelas 18h00, onde se ouvia muita gente a falar e gritar. Entretanto um elemento do inimigo penetrou descuidadamente no dispositivo das nossas tropas, e ao ser dado ordem para ser capturado logrou fugir apesar de ferido.
Foi tentado o Golpe de Mão sobre os objectivos mais próximos devido ao total desconhecimento da ZONA e à escuridão, os movimentos foram lentos e encontraram-se os objectivos abandonados.
Até à presente data não obtida ligação com o PCV, e constou-se que os PÁRAS e a FAP tinham atacado objectivos diferentes daqueles onde se encontrava o Agrupamento.
Em NOVA TORRES prossegue a mudança da Posição Flecha para o antigo quartel..
17 de Abril - Prossegue a Operação "ORFEU 1" tendo-se durante todo o dia procedido à destruição de machambas e outros meios de vida do inimigo. Ainda durante o mesmo dia o Agrupamento Jacaré de que faziam parte as forças da CCAÇ 3309 foi flagelado pelo IN com armas ligeiras. Mais tarde foi flagelado com morteiro de 82 mm, sofrendo um ferido ligeiro (GE 205). Perto da noite foi novamente flagelado, mas com morteiro 60 mm, sem consequências.
Operação "Orfeu 1" Mutamba dos macondes em 18 de Abril de 1971 |
19 de Abril - Prossegue a Operação "ORFEU 1" tendo durante todo o dia o Agrupamento Jacaré procedido à destruição de meios de vida do inimigo, o qual pelas 06h00 flagelou com morteiros 82 mm a anterior posição do Agrupamento que já estava abandonada.
20 de Abril - Prossegue a Operação "ORFEU 1", tendo pelas 07h00 o Agrupamento iniciado o regresso tendo-se reunido ao Agrupamento Onça pelas 11h00.
Sofridos nas nossas tropas: 1 Ferido ligeiro
Causados ao inimigo: 1 Ferido
Capturados: 2 Canhangulo
5 Toneladas de milho em grão
5 Toneladas de arroz
Diversos produtos alimentares
Diversos utensílios domésticos
Documentos
Destruídos: 5 Palhotas
200 Kgs de cajú
15 Hectares de machamba (equivalente à produção de 30 Ton. de milho, aroz etc...
Forças da CART. 2745 e da CCAÇ 3309, iniciaram a Operação "FLECHA 16", nomadização e interdição da fronteira na região de Nova Torres. Terminou passados dois dias , sem contacto com o IN.
23 de Abril - Em virtude da Operação " Orfeu 1" , é natural que o IN venha a exercer represálias. Durante a noite de 22 para 23 se Abril, foram observadas várias luzes a Oeste de Nangade, na margem esquerda do rio Litinguinha. Foi efectuada batida ao local pelo GE 205 e dois Grupos de Combate da CCAÇ 3309, que não detectaram quaisqueres vestígios do IN na região.
Maio de 1971
08 de Maio - Em Nangade e em Tartibo prepara-se a Operação "Baldeação"
09 de Maio - Pelas"Bald 05h30 saiu de Nangade o 2º e 3º Grupos de Combate para executar a Operação "Baldeação" coma missão de escolta do 2º escalão da CCAÇ 3309 que rende a CART. 2745 em Tartibo (Nova Torres). Aproveitou-se esta coluna para fazer o reabastecimento de Nova Torres (Tartibo). Em 10 de Maio de 1971, ao proceder-se à descarga das viaturas, 1 elemento da CCAÇ 3309 accionou uma mina anti-pessoal a cerca de 10 metros da picada gravemente ferido. A mina era provavelmente antiga.
10 de Maio - Os 2º e 3º Grupos de Combate prosseguem a Operação "Baldeação" tendo chegado ao rio Metumbué pelas 12H00 onde se fez o transbordo de material de géneros para o quartel de Nova Torres (Tartibo).
MEMÓRIAS
" Acidente no rio Metumbué"
" Sim. o ELIAS RIÇA ficou sem uma perna junto ao rio Metumbué no dia 10 de Março de 1971, quando do transporte de material para o outro lado do rio que não tinha ponte. Tivemos que pôr duas vigas para as passarem. Por isso, demorámos quatro dias para chegar ao Tartibo/Nova Torres. Esta operação foi efectuada pelo 3ºe 4º Pelotão para se juntar ao 1º e 2º Pelotão que se encontravam e Nova Torres
Texto e foto de: João carlos Barbudo
Furriel Miliciano da CCAÇ 3309
12 de Maio - Os 2º e 3º Grupos de Combate prosseguem a Operação "Baldeação" e a eles se reuniu o 1º Grupo de Combate e a Formação da CART. 2745 que estava em Nova Torres, e dessa forma iniciaram o regresso a Nangade pelas 07h00 onde chegaram pelas 15h00, tendo a partir desta data a Zona de acção de Nova Torres (Tartibo) passado à responsabilidade da CCAÇ 3309 e a CART 2745 passou a desempenhar a missão de força de intervenção do Comando do Sector "B" atribuída ao BART. 2918.
25 de Maio - Forças da CCAÇ 3309 regressaram da Operação "Barragem" sem contacto. interdição e segurança à Operação "Onda" desde 22 de Maio de 1971.
26 de Maio - Na noite de 26 para 27 de Maio forças da CCAÇ 3309 avistaram sinais luminosos perto do seu Aquartelamento. Já que no dia 15 deste mês tinha sido avistado um very-light vermelho.
28 de Maio - Operação "Zagaia 3", realizada na região do mato Nandila. Nesta operação, as
Feridos graves em combate:
Soldado Elias Riça da CCAÇ 3309, em 10 de Maio de 1971
Feridos por acidente em serviço
1º Cabo Victor Manuel Araújo de Matos em 14 de Maio de 1971
Soldado Serafim carneiro Nunes em 14 de Maio de 1971
Junho de 1971
03 de Junho - Realizou-se a Operação " Onda 3", a coluna de reabastecimento, Nangade - Nova Torres - Nangade, à CCAÇ 3309. Foi efectuada por 1 Grupo de Combate da CART 2745 e 2 Grupos de Combate da CCAÇ 3309. A coluna chegou a Nova Torres no mesmo dia e regressou a Nangade no dia seguinte.
06 de Junho - Iniciou-se a partir de Nangade a Operação "Onda 4", transporte do Batalhão de Paraquedistas 31 de Palma para Nangade que se realizou sem contactos com o IN.A coluna chegou no mesmo dia a Pundanhar e no dia seguinte pelas 10h00 a Palma. Foi assegurada protecção por forças da CCAÇ 2703, CCAÇ Mocímboa da Praia e CCAÇ 3309.
08 de Junho - A CART. 2745 iniciou pelas 06h30 a Operação "Badanal 1" com a missão de a partir de Nangade chegar à Base Beira e ali recolher, proteger e escoltar a CENGª 2736 duranre a abertura da estrada Mueda - Nangade.
CMDT: Comandante da CART. 2745
1 Esquadrão de Morteiro 81
Sub. Agrupamento CAVERNA -2 Grupos Combate da CART. 2745
Sub. Agrupamento COVIL - 2 Grupos Combate da CART. 2745
Sub. Agrupamento ADIDO - 1 Grupos Combate da CCCAÇ 3309
Sub. Agrupamento SAPO - Grupo Especial 205
10 de Junho - Pelas 06h00 atingiu-se o objectivo (Base Beira) onde se encontravam 2 Companhias de Comandos e a CCAÇ 2795 reforçada.
11 de Junho - Foi avistado do Aquartelamento de Nova Torres um very light azul, lançado da Margem Sul do Rio Rovuma, a cerca de 2 Km do estacionamento.
12 de Junho - O IN flagelou o aquartelamento de Nova Torres com 15 tiros de morteiro 82 m/m, sem consequências . no mesmo dia realizou-se a Operação "Onda 8", coluna para recolha dos paraquedistas, entre Palma e Quionga. não foram detectados quaisquer vestígios do IN.
17 de Junho - Saiu de Pundanhar o 1º escalão da Operação "Onda 10"
- 2ª fase para a Operação "Osiris", sendo largada na região da Lagoa Namioca .
Destruiu a base Namunda e capturou um homem, duas mulheres e uma criança. No mesmo dia saiu de Pundanhar 0 2º escalão do BCP 31, asseguraram protecção do itinerário forças da CCAÇ Mocímboa da Praia , da CCAÇ 2703 e CCAÇ 3309
22 de Junho - Saiu de Nangade a coluna Operação "Onda 12" - que chegou no dia seguinte a Palma e durante a qual uma viatura Berliet accionou uma mina anti-carro ficando danificada. Foi detectada e destruída uma armadilha entre Nangade e Pundanhar. Esta coluna regressou a Palma em 26 de Junho de 1971, chegando a Nangade a 27, Asseguraram protecção de forças da CCAÇ Mocímboa da Praia , da CCAÇ 2703 e CCAÇ 3309
MEMÓRIAS
" Ler à luz de uma candeia e dormir numa cama feita de paus"
Querida "Mana"
"... mesmo hoje acabo de chegar de uma operação onde vínhamos a abrir uma picada, onde morreu um rapaz dos Comandos. A morte dele resultou de rebentar uma granada debaixo do peito dele que ficou todo desfeito. Nessa picada andámos por lá 10 dias e onde fomos assaltar uma base dos turras e onde prendemos uma mulher turra que trazia uma arma automática e apreendemos muito material de armamento, pois essa base era uma das grandes bases que há aqui em Cabo delgado, até tinha hospital por baixo do chão e onde foi lá o Governador no dia 10 de Junho.
Olha, encontrei lá muita malta conhecida.
Então como vão as festas dos santos populares em Almada? vão boas? e a feira de Almada como vai este ano?
Olha, festejei cá o meu dia de anos. Não foi nada mau mas podia ser melhor, o que é preciso é que daqui a dois anos eu os passar aí e o resto é conversa... olha, novidades daqui não são nenhumas pois é sempre o mesmo como deves saber. Aqui o nosso trabalho é muito intenso é de manhã à noite no mato e fazer reforços nos postos de sentinela de noite. É assim a vida do pobre soldado e não penses que isto aqui é bom mas o que é preciso é o tempo passar.
...vocês nem fazem uma pequena ideia o que é o dia a dia da gente que chegamos à noite cansados por todos os lados, e ainda temos que escrever à luz de uma candeia a petróleo e depois vamos dormir numa cama feita de paus sem colchão, vocês não fazem uma pequena ideia, mas enfim. Olha vê se me podes mandar a roupa que te pedi..."
Texto e foto de:
Pedro Manuel Gaspar Augusto
1º Cabo da CCAÇ 3309
25 de Junho - Quando o helicóptero de reabastecimento à CCAÇ 330, em Nova Torres, efectuava a segunda viagem, ao observar o rio Rovuma, avistou numa ilhota do meio do rio, a cerca de 18 Kms, a Oeste daquele estacionamento, um barco equipado com motor e com pessoal dentro do mesmo. Logo que chegado ao estacionamento e contactado o Comandante deste, verificou-se que o barco não era das NT. Foi montada rapidamente uma Operação de golpe de mão para capturar a embarcação. Um furriel e quatro praças foram imediatamente largadas em plena ilha. Simultâneamente saíram em marcha três elementos desarmados e oito armados, que se se puseram em fuga em direcção à Tanzânia, abandonando o barco. Reunidas as forças , ao cair da noite, estes embarcaram nos dois barcos: o "Zebro" e o capturado (tipo"DORY" e vieram ao sabor da corrente até Nova Torres (Tartibo).
Barco da Frelimo apreendido pela CCAÇ 3309 no rio Rovuma em 25-7-1971 |
- Malta, vamos lá a despachar que a coluna tem que sair pela fresquinha. Como o "Alentejano" se manteve imóvel deixando-se ficar sentado na cama, despertou a curiosidade do Furriel que lhe questionou:
- Epá "Alentejano", tu estás amarelo como o caraças, o que é que tens?
- Estou cá com uma camada de paludismo que nem me aguento nas pernas meu furriel.
Dotado de alguma compreensão, o Furriel ordenou que o "Alentejano" não fosse naquela operação, mas ficasse no quartel a restabelecer-se dos "frios e calores que alternadamente lhe inundavam o corpo".
A um canto da caserna, de especto rude, que fazia lembrar as rugosas montanhas transmontanas, um soldado dirige-se ao Furriel em termos pouco civilizados e remata com alguma violência verbal:
- Olhe lá meu Furriel! Então esse "mouro" d'um cabrão não vai para o mato porquê?
- Então não vê que ele está apenas a fazer ronha só para não ir com a malta?
O "Alentejano", apercebendo-se da agressividade do companheiro de pelotão, dirigiu-se ao furriel dizendo-lhe que afinal contasse com ele, pois iria tomar um LM e logo ficaria bom, "só para que não restassem dúvidas e desconfianças sobre a sua pessoa" - Disse.
O Furriel ainda insistiu para que ele não fosse mas o "Alentejano", teimoso e ferido no seu orgulho insistiu também:
- Não meu Furriel! - Eu vou só para calar a boca àquele galego de merda.
Por casualidade eu assisti a todo este diálogo, pois, de cada vez que companheiros meus saíam para o mato eu dirigia-me à sua caserna para lhe desejar boa sorte e assistir à sua partida.
A coluna acabou por sair naquela madrugada e nada previa que algo viesse a acontecer, uma vez que o percurso iria ser efectuado pela picada nova que dava acesso ao aquartelamento de Muidine recentemente construído, bastante espaçosa, e onde se pensava ser difícil colocar qualquer mina, uma vez que a mesma era bastante frequentada diariamente pelas máquinas da Companhia de Engenharia 2736 que procedia à sua construção.
Ainda o pó levantado da última viatura não tinha pousado na terra batida da picada, aconteceu o que era frequente nas outras picadas e que ali parecia improvável.
Inesperadamente, ao quilómetro 9, a Berliet que seguia na frente accionou duas minas anticarro (ficando outras duas por rebentar) causando à Companhia de Caçadores 3309 14 feridos, quatro deles com alguma gravidade, e um morto.
O morto em causa era o "Alentejano", que a falta de camaradagem (talvez inconsciente) atirou para o meio daquele fumo espesso, enegrecido, que se abateu sobre o seu camuflado e lhe ceifou a vida.
Eu estava na caserna quando ouvi um grande estrondo apesar da distância onde ocorrera, e disse cá para mim:
- Já houve merda na picada. Quando o Unimog 404 que se deslocou à picada para socorrer as vítimas regressou ao quartel, pousei o livro que estava a ler e corri de imediato para o posto médico que era mesmo em frente da minha caserna e presenciei um cenário deveras aterrador, com os feridos amontoados a agonizar dos ferimentos sofridos, ficando muito mais impressionado com o aspecto do “Alentejano” que parecia olhar para mim, de olhos bem abertos, que "pareciam querer ainda olhar pela última vez e acariciar as espigas ondulantes da sua seara" que dizia crescer nos arredores de Aljustrel sua terra onde nascera.
Foi muito comovente ver partir os helicópteros que fizeram a evacuação dos feridos e do “Alentejano” falecido em combate, e a comoção foi transversal a todos que presenciaram a partida daquela formação de helicópteros com destino ao Hospital de Mueda.
Aquartelamento de Nangade
Moçambique
O aquartelamento de Pundanhar situava-se no meio do percurso entre os aquartelamentos entre Nangade e Palma.
Fora um aquartelamento muito fustigado pela guerrilha de FRELIMO, dado situar-se numa zona bastante crítica no contexto da luta de libertação daquela organização.
Já em 1969, numa acção concertada e de grande envergadura, os guerrilheiros da FRELIMO atacaram aquele aquartelamento incendiando todo o seu perímetro defensivo e a totalidade do aldeamento, como represália pelo apoio da população às tropas portugueses ocupantes.
Quando a CCAÇ 3309 iniciou a sua missão em Nangade as tropas estacionadas no Aquartelamento de Pundanhar era a CCAÇ 2703, onde vieram a participar em diversas operações conjunta como a Operação "ORFEU 1" entre outras, ora na protecção às colunas de reabastecimento e picagem do seu percurso,compreendido entre Nangade - Pundanhar ou Pundanhar - Palma.
MEMÓRIAS
"No nascimento de Zungo Berliet Tropa!"
"... A coluna de abastecimento tinha saído de Nangade no dia 20 de Setembro de 1971, e tinha chegado a Pundanhar no mesmo dia mas já ao entardecer devido à emboscada de que foi alvo na zona da "Langua" e à detecção durante o percurso de vária minas anti-carro que atrasaram a sua chegada. Nessa coluna viajavam também alguns nativos dos aldeamentos de Nangade e, entre eles uma rapariga muito jovem que estava no final da gravidez, sendo seu desejo ir ter o bbé a Palma para onde a coluna de reabastecimento se dirigia. Foi aconselhada a ficar em Pundanhar para aí se proceder ao parto que estava iminente, ao que ela recusou pois pretendia que o bebé nascesse em Palma junto dos seus familiares como era tradição da sua etnia.
No dia seguinte, 21 de Setembro, a coluna saiu de Pundanhar sendo seu andamento muito rápido durante alguns Kms, dado que saira um Pelotão da CCAÇ 2703 ali estacionada, e que fizera a picagem e detecção das minas até ao quilómetro 15, na direcção de Palma. Como a partir desse local o andamento fosse mais lento devido à picagem do terreno, e porque a coluna sofrera nova emboscada, e um rebentamento de uma mina anti-carro que danificou a Berliet causando um ferido grave, tendo perdido algum tempo a aguardar o helicóptero para a evacuação do ferido, a coluna,devido ao aproximar do cair da noite teve necessidade por questões de segurança na seguir para Palma e pernoitar na mata.
A jovem nativa à muito que começara a ter dores e o parto estava por momentos. O enfermeiro fora chamado de urgência junto da rapariga e o parto aconteceu mesmo ali em cima de uma Berliet embora as condições as condições não fossem as mais adequadas. Lembro-me tão bem desta história porque a mesma aconteceu no dia em que fiz dia 21. O mais engraçado deste acontecimento insólito foi que, em jeito de homenagem àquele nascimento e nas condições em que o mesmo se procedeu, o enfermeiro pertencente à CCAÇ de Mocímboa da Praia estacionada em Palma e que seguia na coluna e prestou assistência ao parto, quis "oficializar" ali mesmoa sua condição de padrinho do bebé, atribuindo-lhe um nome, dizendo à mãe:
--Olha lá menina, como o bebé nasceu em cima de uma Berliet e eu fui da tropa que tirei esse terrorista cá para fora, ele vai vai chamar-se Zungo Berliet Tropa , - despejando-lhe o resto da água que ainda tinha no cantil por cima da cabeça para dar outro ar à cerimónia.
Texto e foto de:
Carlos Alberto Correia Braz Vardasca
Soldado Condutor Auto-Rodas CCAÇ 3309
Setembro de 1971
Dia 01 - Durante um patrulhamento executado por forças da CCAÇ 3309 a várias ilhas do Rio Rovuma, foram detectadas vestígios que numa delas, a cerca de 400 metros de Nova Torres, um grupo IN lá ter passado a noite. À aproximação das NT da ilha, foram disparadas várias rajadas do lado da Tanzânia.
Dia 03 - 3 Grupos de de Combate da CCAÇ 3309, iniciaram a Operação"Barca 1" de patrulhamento, nomadização e interdição da fronteira entre os Lagos Nangade e Lidede. Foi feito um golpe de mão sobre um acampamento IN com 5 palhotas em que foram abatidos 5 elementos e capturado o seguinte material: 2 espingardas semi-automáticas;1 carregador Kalashnikov; 1 sabre4 lâminas com cartucho curto; 95 cartuchos 7,62 curto; 1 fato camuflado; 6 cobertores; 2 lençóis roupas civis; 1 bolsa de enfermeiro e documentos vários.
Dia 07 - Forças da CCAÇ 3309 detectaram um acampamento com 40 palhotas abandonadas no local de coordenadas 3931.1100.
Dia 08 - Durante a mesma operação foi assaltado e destruído um acampamento IN com 10 palhotas em região de coordenadas 3931,3.1101,
No mesmo dia foram avistadas 5 canoas com elementos IN armados no local de coordenadas 3930.1102. Durante esta Operação o IN flagelou várias vezes as NT com morteiro 82 m/m e armas automáticas, tendo uma das vezes causado 2 feridos ligeiros ao GE 205
Dia 09 - Teve início uma coluna de reabastecimento de Nangade a Palma, integrada na Operação "Fronteira" na qual estiveram empenhadas as forças da CCAÇ de Mocímboa da Praia, CCAÇ 3309, CCAÇ. 2703 e CART, 2743
Dia 13 - Foi detectado um potente projector na Tanzânia junto ao Rio Rovuma que iluminou o quartel de Tartibo (Nova Torres). Foram detectados vestígios recentes do IN junto ao Rio Metumbié.
Dia 13 - Iniciou-se o movimento de regresso Palma - Nangade da coluna de reabastecimento integrada na Operação " Fronteira". Montaram segurança ao itinerário as forças da CCAÇ de Mocímboa da Praia, CCAÇ 3309, CCAÇ. 2703 e CART, 2743
Outubro de 1971
Dia 1 -- O IN alvejou um avião DORNIER sobre a Base Beira sem consequências.
Dia 1 -- O IN flagelou o novo estacionamento do Tartibo, por 4 vezes, com 50 granadas de morteiro 82 m/m; caíram 11 granadas dentro do estacionamento, causando um ferido grave à CCAÇ 3309, durante o primeiro ataque, onde veio a falecer o nosso companheiro Pedro Gaspar Augusto (Almada)
MEMÓRIAS
"Quando a rouquidão foi silenciada!"
"...Amigo Braz, vou-te contar como sucedeu a morte do nosso camarada "Almada" . Ele não faleceu no ataque ao aquartelamento de Tartibo no dia 1 de Outubro de 1971 onde foi ferido gravemente, mas sim no helicóptero a caminho do hospital, pois só soubemos da morte dele dias depois do ataque que tivemos no acampamento, vindo a falecer no dia 2 de Outubro de 1971.
Não me lembro que dia de semana era, mas digo-te amogo, que foi um dia terrível que passámos naquele acampamento.
Era um aquartelamento novo, pois tínhamos acabado de retirar de Nova Torres devido às cheias do Rovuma, e que estava a ser construído pela CENGª 2736 que estava estacionada em Nangade.
Com os abrigos ainda a construir, pois estavam apenas escavadas algumas valas, o nosso Capitão deu ordens à CENGª para se retirar para Nangade, quando a maioria dos abrigos ainda estavam por cobrir.
No dia seguinte à retiradas das máquinas daquela Companhia de Engenharia fomos atacados por vários canhões sem recuo e por morteiros 82 m/m que causou algum pânico no aquartelamento.
De entre os vários feridos o "Almada", o que menos sorte teve, pois uma granada de morteiro de 82 m/m foi mesmo cair no buraco onde ele se encontrava ferindo-o gravemente. Ao ser atingido com gravidade ficou em coma, e ao dar entrada na tenda que fazia de enfermaria, logo o Furriel Silva lhe colocou soro e uma gaze na boca para ele continuar a respirar.
Devido à dificuldade que o "Almada" tinha em manter a respiração, o Furriel ordenou que nós tentássemos a sua estabilização através da respiração boca a boca, o que fizemos desde o momento em que foi ferido, até às 5 ou 6 da manhã do dia seguinte quando chegou o helicóptero para efectuar a sua evacuação para o hospital de Mueda.
Texto e foto de:
José Fernando Pinto silva
1º Cabo auxiliar de Enfermagem da CCAÇ 3309
MEMÓRIAS
"Foi ele que me avisou da morteirada!"
"... No dia do ataque ao aquartelamento de Tartibo, naquele preciso momento eu estava em cima duma árvore a montar uma antena de rádio mesmo lá no topo, e nem me apercebi do seu início de tão entretido que estava a acabar aquela tarefa, uma vez que tínhamos acabado de chegar àquele aquartelamento novo e era necessário restabelecer as comunicações o mais urgente possível.
De repente e bem apressado, o "Almada"passa a correr por debaixo da árvore e grita em altos berros apesar da sua rouquidão:
-- Epá Serrinha, então não ouves a merda das saídas dos morteiros?
-- Salta já daí depressa que estamos a ser atacados! e lá foi a correr para uma vala para se abrigar das granadas de morteiro 82m/m com que a FRELIMO nos atacava. Nunca mais o vi, e depois do ataque cessar é que vim a saber que tinha sido ferido com alguma gravidade, com estilhaços de granada no peito, pelo que vieram a causar o seu falecimento no dia seguinte (...)
Texto e foto de:
António Natálio Sequeira Serrinha
1º Cabo Atirador da CCAÇ 3309
MEMÓRIAS
"Quem não sabe nadar molha-se!"
dia 29 de Setembro saímos de coluna de Nova Torres para Tartibo. Durante a tarde o Mainato pescou uns peixes no rio Rovuma e, depois de arranjados o capitão convidou-me para os comer com ele acompanhados de whisky.
Entretanto o 1º Cabo "Almada" recebe uma encomenda da Metrópole com queijos e chouriço, aparecendo ao pé de mim a chorar a dizer que o Furriel Calha lhe tinha batido e para o qual não havia qualquer tipo de razão para o fazer, convidando-me para ir comer com ele. Rejeitei porque ainda não tinha acabado de comer com o capitão.
à noite o "Almada" foi fazer de sentinela no posto poente, e houve um rebentamento e sente que algo caiu junto de si e dá um salto para o outro lado, sendo atingido por vários estilhaços, um deles na cabeça.
O pessoal que pode, fugiu para debaixo do abrigo onde se encontrava o capitão que gritava pela sua filha. Saí do abrigo e fui dar uma volta aos postos onde encontrei o "Almada" em estado de coma profundo. Fiz o que me era possível fazer, e no dia seguinte foi transferido para Mueda.
Passados uns três dias eu vou ao rio onde o resto do pessoal andava a tomar banho e, antes de chegar junto do capitão, vou para me pôr de pé e não encontro pé. Atrapalhei-me e ia lá ficando se não fosse o pessoal porque caí num poço de uma granada..
A partir daí o capitão nunca mais me deixou ir ao banho no rio.
Texto e foto de:
José Maria Ferreira da silva
Furriel Miliciano da CCAÇ 3309
Dia 2 -- Um Grupo de combate da CCAÇ 3309 executou um reconhecimento ao local de ataque e em 3 de Outubro, 2 Grupos de Combate efectuaram um patrulhamento à zona sul do aquartelamento.
Dia 4 -- Na zona de Nova Torres, 2 Grupos de Combate da CCAÇ 3309 patrulharam as imediações do estacionamento e no dia 5 de Outubro de 1971 o mesmo efectivo patrulhou a margem do rio Rovuma sem encontrar quaisquer vestígios.
Dia 6 -- O IN flagelou o estacionamento da CCAÇ 3309 por duas vezes com 15 a 20 tiros de morteiro de 82 m/m sem consequências.
Dia 7 -- Forças da CART. 2745 detectaram um trilho batido no sentido NS e S-N
Dia 15 -- Visitaram Nangade e deslocaram-se ao novo estacionamento da CCAÇ 3309, o Exmo Comandante do Sector "B" acompanhado pelo Exmo Chefe do Estado Maior e o Oficial de Reabastecimento do mesmo.
Dia 21 -- Cerca de 16 elementos do IN emboscaram a coluna "OCTANA 11" entte Pundanhar e Nangade, durante 12 minutos, iniciada com um disparo de LGF à viatura da testa, seguida de disparos de armas ligeiras. Feita batida verificou-se que o IN se tinha retirado para sul. Acerca de 700 metros à frente, foi detectada e destruída uma mina anti-carro colocada a descoberto, o que leva a admitir que o grupo IN que emboscou, constituía a segurança do pessoal que montava a mina, vindo a ser surpreendido pela chegada da coluna. A mina era velha e tinha trotil deteriorado.
Dia 23 -- Na zona de Nova Torres continuam, sem contacto com o IN, as Operações da série "OCULAR" para interdição da fronteira, efectuadas por forças da CCAÇ 3309
Dia 26 -- Foi iniciada a coluna "OCTANA 12", com o itinerário Palma-- Nangade , escoltada por 2 Grupos de Combate da CCAÇ de Mocímboa da Praia. Chegou a Nangade a 27 de Outubro de 1971, saiu do mesmo dia para Palma, onde chegou em 28 de Outubro de 1971, sem contacto. Para passagem desta coluna foram efectuadas várias operações,montando segurança de itinerário forças da CART.2745, CCAÇ 3309. , CCAÇ 2703, GE 211 E 205
A) Mortos em combate
1º Cabo , Pedro Manuel Gaspar Augusto da CCAÇ 3309 em 2 Outubro de 971)
B) Louvores
Louvado em 1 de Outubro de 1971, pelo Exmo CMDT do BART 2918 o 1º Cabo Radiotelegrafista Álvaro Cunha Almeida, da CCAÇ 3309
Texto e fotos de Carlos Vardasca
Actividade operacional de Julho de 1971
Julho de 1971
De 05 a 12 de Julho - a actividade do IN resumiu-se a um uma tentativa de golpe de mão ao aquartelamento de Nova Torres, muito provavelmente, muito provavelmente no intuito de recuperar o barco "DORY" capturado pelas NT em 25 de Junho de 1971 e visando igualmente os restantes barcos presos à margem junto ao Quartel, tentativa esta que foi abortada pelas NT. Assim, no dia 8 de Julho de 1971, durante a tentativa de golpe de mão aos barcos, o accionamento de uma armadilha colocada pelas NT causou ao IN vários feridos prováveis.
14 de Julho - Iniciou-se a Operação "ORIENTE LARANJA", foi realizada por duas fases: Operação " LARANJA CLARA", coluna de reabastecimento de Nangade a Palma, e Operação "LARANJA ESCURA", transporte dos para-quedistas de Nangade-Pundanhar e regresso a Nangade . esta Operação foi realizada por 2 grupos de combate da CCAÇ 3309, e 1 Grupo de Combate da CART 2745 e 1 Grupo de Combate da CCAÇ de Mocímboa da Praia.
12 a 19 de Julho - A actividade do IN manifestou-se pela implantação de engenhos explosivos na picada Nangade - Palma e Nangade - Nova Berra; por uma flagelação ao estacionamento Nova Beira e por uma emboscada e flagelação às forças do Batalhão de Caçadores Para-Quedistas 31.
No mesmo período IN causou as seguintes baixas às NT
1 Morto e 10 feridos ligeiros ao BCP 31
1 Ferido grave à CCAÇ 3309 (Serrinha em 14 de Julho de 1971)
1 Ferido grave ao GE 206 (Pedro Mireco da CCAÇ 3309)
MEMÓRIAS
"Senti o sangue a chapinhar dentro da bota!
A missão dos dois Grupos de Combateda CCAÇ 3309 onde eu ia incorporado (1º e 2º Pelotões) era levar Companhia de Para-Quedistas do BCP 31 a o objectivo e aí iniciarem a operação de destruição de uma base da FRELIMO.
Seguíamos na picada Nangade-Pundanhar quando o pelotão de picadores e detecção de minas qu
seguia à nossa frente nos fez sinal para pararmos pois tinham ouvido algo estranho no meio da mata. De repente somos alvos de uma emboscada desencadeada pelos guerrilheiros da FRELIMO, e o soldado Paraquedista que ia ao meu lado e com quem ia conversar, á atingido por uma granada de rocket tendo tido morte imediata, tendo eu também sido atingido numa perna mas que no momento não me apercebi de nada. Durante o intenso, e traumatizado com o que acontecera mesmo ali ao meu lado e vendo o companheiro com o peito todo desfeito, entrei em pânico e pus-me a disparar a minha MG42 em todas as direcções sem me aperceber do meu ferimento até gastar todas as munições.
Quando findou a emboscada e me levantei, caminhando na direcção dos meus companheiros, é que senti o sangue a chapinhar dentro da bota e tomei consciência de que estava ferido com alguma gravidade. Foi-me ministrada morfina para aliviar as dores e porque me sentia mais aliviado. Já não queria ser evacuado mas devido à gravidade do ferimento e às dores que voltaram e me faziam gritar com alguma intensidade, a evacuação efectuou-se com a chegada dos helicópteros, que fizeram o transporte dos feridos e do Paraquedista morto para o hospital de Mueda.
Nessa emboscada ocorrida no dia 14 de Julho de 1971, faleceu um soldado paraquedista, ficaram feridos 10 soldados daquela força , um ferido grave da CCAÇ 3309 e um ferido grave também da CCAÇ 3309 mas destacado nos GE 206
Texto e foto de:
António Natálio Serrinha
1º Cabo 13382970 da CCAÇ 3309
26 de Julho - Dois caçadores nativos avistaram a 4 Kms de Nangade vasto trilho, muito recente, com rastos de cerca de 20 elementos que vieram ao longo do vale do Rio Litinguinha, subiram o planalto e atravessarem a piada em direcção a NE .
O IN transportava carga de grande volume que provocava quebra de ramos. Foi montada imediatamente a Operação " MINERVA" para perseguição do IN. Conjuntamente para o apoio, foram montadas (entre outras) as seguintes Operações:
a) Operação "BARRAGEM", interdição da fronteira, realizada na região do Tartibo e levada a cabo por 1 Grupo de Combate da CCCAÇ 3309. Teve início em 27 de Julho de 1971 e terminou no dia seguinte sem contacto com o IN.
h) Operação "BARRAGEM 2 ", patrulhamento, nomadização e emboscada entre Tartibo e coordenadas 3941.1056, efectuada por dois Grupos de Combate da CCAÇ 3309 em 31 de Julho de 1971. Terminou igualmente sem contacto com o IN.
MEMÓRIAS
"Foi em África que deixei um amigo!
Mário Fernando Silva 1º Cabo Enfermeiro CCS do BCAÇ 2918 |
Assim, no 1º semestre de 1971, numa bela manhã , de um sol ardente estava eu junto ao depósito de géneros no início do aldeamento Macua no Aquartelamento de Nangade, quando ouvi uma grande explosão que facilmente identifiquei por um rebentamento de uma forte mina e, ao olhar para o Vale que tinha uma vista fantástica do local onde me encontrava, logo me apercebi que havia acidente dado que há hora em que estávamos era normal que viaturas descessem o Vale; ou com pessoal para carregar água junto ao rio Litinguinha ou para levar gente para as machambas (hortas) ou para levar gente que ia lavar a roupa, percurso de que uma forma habitual era quase todos os dias feito pelo sr. Comandante à época, Tenente Coronel Vasconcelos Porto, zona completamente controlada pelas nossas Companhias Militares, e que nada fazia querer poder ser uma zona de grande risco. Mas naquela manhã quis o destino que a primeira viatura que desceu para o Vale fosse aquele Unimog 404 que transportava 16 vidas, 14 negros civis habitantes das aldeias sobre o nosso controlo mais militares nossos da CCAÇ 3309 sendo um deles o 1º Cabo condutor Victor que levava com ele um camarada da sua Companhia (o Sousa "Básico" e o que mais tarde vim a saber que este na viatura a seu convite e que nunca tinha ido à machamba), pois os dois morreram na explosão devido ao rebentamento de uma mina anti-carro com mais seis civis negros, ficando ainda 5 feridos graves (dois vieram a falecer mais tarde) e 3 ligeiros.
Eu ao aperceber-me do local onde me encontrava do que estava a acontecer, peguei rapidamente na minha bolsa de enfermagem que estava sempre por perto de mim e bem apetrechada, na minha arma e corri para a descida do Vale acompanhado de mais meia dúzia de companheiros, que sem olhar a meios nos metemos numa viatura e chegámos ao local. Recordo que fui uma das primeiríssimas pessoas a chegar junto dos sinistrados: " mortos e feridos por todos os lados com forte cheiro a pessoas queimadas" e aí de uma forma concertada com outros companheiros batemos toda a zona a tiro afim de obrigar i inimigo a se retirar caso por ali houvesse alguém.
Ao fazer uma rapidissima inspecção ao sucedido, como mandam as regras, comecei por assistir aos casos mais graves deixando os que já não solução para mais tarde, depois de chegar o pessoal da CART. 2745 que não tardaram e nos foram proteger. Então, e com as devidas precauções, pedi que removessem à força de braços a viatura minada por onde retirei o cadáver do nosso camarada e meu amigo Victor, que antes desta operação era difícil vê-lo pois estava por debaixo dos destroços da viatura minada.
Estava bastante esmagado embora a sua cabeça e cara não tivessem sido muito atingidas.
Quanto ao outro camarada (o Sousa) tinha alguns ferimentos mas à minha chegada já estava morto no terreno. Julgo que o número elevado de mortos foi provocado no rebentamento, dada a forte onda de choque de calor e sopro que a potente mina produziu. Quanto aos restantes feridos foram todos evacuados de helicóptero a partir do local para Mueda, os mortos negros ficaram em Nangade e os nossos militares mortos seguiram também em helicóptero para Mueda. Alguns destes feridos mais tarde foram enviados de Mueda para Nampula, onde eu posteriormente me desloquei para os apoiar.
Quando recordo a minha passagem por África sempre retrato o Victor, - Era um bom companheiro e um jovem de bom carácter, muito voluntarioso e bem humorado e, a propósito disto, lembro-me que alguns dias antes da sua morte termos um pessoal fora do arame (digo na picada) onde o Acácio Pedrosa, Cabo de Transmissões da minha Companhia morreu com um tiro na cabeça. Um grupo de voluntários no Aquartelamento ao saber da notícia quis sair de imediato para resgatar o cadáver, e o Victor de rápido o condutor que se ofereceu para conduzir a Berliet "Rebenta Minas" que tivesse que ir ao local e assim foi. Muito embora o corpo do Pedroso tivesse sido retirado do terreno por helicóptero para Mueda: Nunca mais o vimos
Espero que este relato sentido te ajude na elaboração da tua obra.
Um abraço Amigo.
Texto e foto de:
Mário Fernando Silva
1º Cabo Enfermeiro 10465168 da CCS do BART 2918
MEMÓRIAS
"Só depois é que recebemos a comida e o correio"
"... Com respeito à captura do barco, o que a minha memória me deixa lembrar é que o helicóptero que nos trazia o correio, o seu piloto foi informar o nosso Comandante que tinha visto um barco TURRA no rio Rovuma, e nós arrancámos clandestinos sem saber para onde íamos.
Entrámos no helicóptero e saltámos a 3 metros do destino, e ao pé do barco ficaram lá dois colegas e os restantes, incluindo eu, fomos atrás dos turras, onde nos perdemos no meio da ilha. Chamei o helicóptero para nos tirar de lá. Quando chegámos ao barco este estava sem gasolina, só tinha os remos e duas canas de bambu. Comuniquei com a Companhia em Nova Torres, e de nos mandaram um barco zebro para nos rebocar (demorou algum tempo a chegar)
Chegámos com alguma dificuldade ao aquartelamento, devido já ser de noite e só então é que recebemos a comida e o correio que tinha vindo no helicóptero..."
Mário Augusto da Silva Carlão
Soldado de Transmissões 03426970 da CCAÇ 3309
MEMÓRIAS
"Ao sabor da corrente seguimos rio abaixoo"
Numa tarde, logo depois do almoço esperávamos a chegada do helicóptero com o correio. O piloto, informou ter informado mais acima um grande barco com homens dentro e se deslocava da Tanzânia para Moçambique, no rio Rovuma.
Fui chamado ao capitão, que me perguntou se eu queria ir lá ver o que se passava. Sendo a resposta afirmativa, de imediato reuni mais quatro elementos da Companhia, que incluíam o Rádio Telegrafista, um Enfermeiro, um Atirador de metralhadora e mais outro Atirador e fomos para o helicóptero.
Logo que me foi possível avistar o barco, verifiquei que o inimigo fugia em direcção à Tanzânia. Avistei pelo menos três elementos armados que fugiam, levando um deles o depósito de gasolina do motor do barco.
O piloto sobrevoou o barco e descarregou os elementos da equipa sobre este, que se encontrava no momento à deriva. Segui no helicóptero em perseguição do inimigo até deixar de os avistar. Voltámos a sobrevoar o barco e o piloto tentou largar-me nele para me juntar aos restantes elementos da equipa. Como não consegui, largou-me no rio, armado e equipado. Nadei em direcção ao barco e com a ajuda dos restantes elementos, subi para ele.
Via rádio pedi ao quartel (Nova Torres), que enviasse ajuda. No barco e ao sabor da corrente seguimos rio abaixo. No luso-fusco avistei numa curva do rio, gente que só mais tarde pude reconhecer como elementos da CCAÇ 3309, que quer por terra, quer por rio tinham vindo em nossa auxílio.
Juntos, continuamos rio abaixo tendo chegado ao quartel no avançado da noite.
Assim foi atingido ao inimigo uma grande derrota quer material, quer moral.
Texto e foto de:
Arlindo Gonçalves Rodrigues
Furriel Miliciano 17730770 da CCAÇ 3309
Agosto de 1971
Dia 04 - Dois Grupos de Combate da CCAÇ 3309, iniciaram a Operação "Barragem 3", interdição da fronteira e pesquisa do IN. No dia seguinte avistaram um grupo inimigo com cerca de 5 elementos aramados com Lança-granadas-foguete, numa picada da Tanzânia, dirigindo-se para o rio Rovuma. A Operação terminou a 7 de Agosto.
MEMÓRIAS
"Que me dera que a tropa fosse sempre assim!"
Tínhamos atravessado oMetumbué, afluente do rio Rovuma, para a instalação do novo aquartelamento no Tartibo, na margem direita daquele rio, já que na esquerda vislumbrávamos a Tanzânia e o nosso inimigo. Tudo isso nos deixou de rastos - corpos desnudos num calor infernal.
Não sei como nem porquê, ficámos especados naquele imenso matagal. O resto da malta já havia destroçado para o aquartelamento. E nós, meia dúzia de gatos-pingados , ficámos ali não seii se esquecidos ou com guardas do material que ainda ali ficara. Com muito medo e muito capim à nossa volta,perplexos e exaustos desconhecedores da picada, perguntámos:
E agora?
Sair dali era perigo iminente, a emboscada espreitava a cada passo, embora fossemos portadores duma G3.
-- E o material?
O calor abrasava e a sede apertava Beber água do rio Metambué era suicídio certo, esta água imprópria para lavar a roupa...
-- "Eureka" -- gritou alguém que no meio daquele material vislumbrou umas pipas amontoadas por entre o material. Era vinho.
Bebemos... e tanto bebemos que nos esquecemos de deixar de beber... depois, vendo vários trilhos, orientámos-nos pelo meio anteriormente recalcado pelos nossos camaradas.
G3 às costas ou a tiracolo. Posição de tiro "nem pó" ... risos provocados pelo elixir do Baco e a descontracção natural de qualquer turista de visita a terras de África.
Chegados ao aquartelamento (cerca de seis Kms) dirigi-me mais ou menos sóbrio ao Capitão e perguntei-lhe de tanta demora. Tínhamos sido esquecidos...
Recebemos uma menção honrosa pelo nosso destemor. No dia seguinte foram buscar o resto do material. Entre nós (os esquecidos e ainda estupefactos pela nossa pseudo-ousadia) houve alguém que comentou:
-- Quem me dera que a tropa fosse sempre assim...
Texto e foto de:
João da silva arteiro
Soldado condutor Auto rodas 15393470 da CCAÇ 3309
Aquartelamento de Tartibo
Tartibo fora um aquartelamento construído numa área onde outrora uma pequena base da FRELIMO, que um pelotão de reconhecimento da CCAÇ 3309 desmantelou, tendo feito 5 baixas aos seus guerrilheiros capturado algum material de guerra. Perante a necessidade de recuar as defesas oferecidas pelo aquartelamento de Nova Torres para uma posição mais estável e que oferecesse mais segurança e evitasse a inundação doo aquartelamento, foram feitos vário reconhecimentos na área no sentido de procurar uma nova posição para um novo aquartelamento, devido às cheias que ocorriam esporadicamente devido à junção das águas dos rio Rovuma e Metumbué.
Foi precisamente neste aquartelamento conquistado á FRELIMO que a CENGª2736 e de outras forças empenhadas na mesma operação incluindo a CCAÇ 3309 que se construiu o novo aquartelamento de Tartibo. Foi precisamente neste novo aquartelamento que a CCAÇ 3309 veio a sofrer o seu pior ataque no dia 1 de Outubro de 1971. O ataque foi efectuado em quatro vezes e realizado em várias frentes, e iniciou-se pelas 17h50 tendo durado até às 18h30, com intervalos entre si de dez minutos entre cada uma das quatro ofensivas.
MEMÓRIAS
"Ninguém morre besuntado em azeite!"
"... Em data que não consigo lembrar-me, num fim de tarde , chegou ao Tartibo antigo uma coluna de abastecimentos. Não me pergunte se a coluna correu bem ou mal, não faço a mínima ideia. Do que eu me lembro bem é que nesse dia não, se conseguiu arrumar todo o material transportado, ficando a maior parte em pilhas junto do depósito de géneros e da secretaria.
Aconteceu que nessa noite, depois de passada a "hora Maconde" resolvi procurar o escriturário para abrir a porta da secretaria para ir lá escrever umas cartas e talvez algum aerograma. Lembro-me também de que à porta sa secretaria se encontrava a poucos metros um Unimog 404 parcialmente descarregado de bidões de vinho e azeite.
Estávamos na secretaria todos os três, bem calados, a escrever, eu, o escriturário e o outro militar acima referido, quando caiu bem perto dali uma morteirada. Fora de secretaria estava tudo às escuras, mas a reacção dos nossos Obuses de artilharia não se fez esperar e começaram logo a bater todos os pontos prováveis do ataque. Eu abriguei-me de imediato debaixo do Unimog 404 e suponho que o ponto o escriturário e o outro militar fizeram o mesmo.
Lembro-me como se fosse hoje, comecei a sentir que estava molhado numa das pernas. Apalpei e tive na altura a sensação de que estaria ferido porque confirmei que estava mesmo molhado, com um líquido quente e pegajoso e receei que naquele momento tinha chegado o meu fim. Presumo que desmaiei e a certa altura dei por mim quando alguém puxava por uma perna e perguntava:
--"... meu capitão. meu capitão, está ferido? -- "Respondi que não, mas só depois de confirmar a minha integridade física dos braços e das pernas. Verifiquei no fim que não perdi sequer uma gota de sangue e que apenas me encontrava sujo de terra e azeite ou óleo alimentar ainda quente devido à exposição ao sol deste produto durante o percurso da coluna e que na altura se derramou por não se encontrar o bidão bem fechado, ou por efeito de algum estilhaço. Não indaguei por motivos óbvios por se tratar de uma história pouco edificante,
Texto e foto de:
Hélio Augusto Moreira
Capitão Miliciano 36048760 da CCAÇ 3309
MEMÓRIAS
"Nem só para lavar a roupa elas serviam!"
Um dia, não me lembro a data, quando ia com um pelotão doTartibo até à picada esperar uma coluna , que vinha de Palma e já tinha saído de Pundanhar com destino a Nangade , eu era o enfermeiro do pelotão. Depois de picar tantos Kms, de apanhar com um sol abrasado, com a água a esgotar-se e depois de várias paragens para descansar e esquecer o conselho dos mais velhos, procurava uma sombra de uma árvore, quando o meu Mainato que transportava a bolsa de enfermeiro exclamou:
--Minó é!!!... Então meti marcha atrás e, devagar devagarinho, fui colocando os pés nas pegadas que tinha deixado.O ainda Furriel Diamantino com uma faca de mato, esgravatou à volta da caixa tipo dominó um rectângulo no chão que mal se notava, e o Diamantino disse logo a frase rotineira:
-- "Pareces bruxo" . E lá estava a mina anti-pessoal com fornilho, que à distância foi rebentada. Deixou um buraco grande no chão, pelo que posso dizer que devo,àquele Mainota, que me acompanhava; o meu pé, perna, "tintins" e eu sei lá que mais...
Texto e foto de:
Manuel Inácio Cardoso
1º cabo Auxiliar de Enfermagem da CCAÇ 3309
MEMÓRIAS
"Nem mesmo naquele dia se fez milagre"
"... A outra história toda a gente conhece, principalmente o "Serrinha" por ter sido ele, segundo ouvi, o principal actor. Era mais ou menos assim: Em data que também não recordo, andava toda a gente na Companhia com um enorme desejo de comer batatas com bacalhau à maneira, mas havia grande dificuldade em arranjar batatas. Depois de porfiadas diligências consegui arranjar batatas graças ao esforço de um piloto chamado Quental que as entregou na Delegação da Manutenção Militar em Porto Amélia e que depois vieram para Palma e daí para Tartibo, creio que de avião ou helicóptero, já não me lembro bem disto.
Um belo dia fez-se uma coluna e aproveitámos, a par de outras coisas, trazer um bidão de azeite por causa do tal "bacalhau à maneira". Quando a coluna chegou ao rio Metumbué estava a anoitecer e houve alguém que teve a ideia peregrina de que se não fosse possível descarregar tudo ao menos que se levasse o bidão de azeite para o aquartelamento para temperar à maneira as batatas com o bacalhau. Com enorme esforço lá levaram o bidão aos robulões, durante a noite desde a margem do Metumbué até ao aquartelamento que ficava a pelo menos a 2 bons Kms.
Quando chegaram-- o bidão erade vinho em vez de azeite, porra!...
Texto e foto de:
Hélio Augusto Moreira
Capitão Miliciano 36048760 da CCAÇ 3309
MEMÓRIAS
"Um leão que era da FRELIMO"
O Grupo Especial (GE) 201 do qual eu fazia parte e era Comandante o então Alferes Graduado Diamantino,fez um intervenção de 15 dias na "Base Beira".
No regresso, e como a zona era "quente" forçámos o andamento para pernoitarmos já próximo de Nangade. Já numa zona que considerámos mais segura instalámos-nos para passar a noite. Como deves saber , fazíamos um círculo com o pessoal e nós graduados ficávamos no centro.
Tudo corria bem até que um leão (que pensamos ser solitário) aproximou-se sem que ninguém desse por isso e cravou as garras num braço e no "vazio" do Tomaz. Gerou-se uma confusão tremenda com o pessoal a gritar "Simba, Simba" (leão em dialecto) seguiu-se um tiroteio medonho sem ninguém ver para onde estava a atirar.
No meio desta confusão o Diamantino tentou por-se em pé para mandar parar o fogo. Foi nessa altura que deitei-lhe as mãos nas costas e disse-lhe:
-- Deixa-te estar deitado que ainda levas um tiro.
Entretanto o tiroteio parou, acendemos uma fogueira, e aquilo que era para ser uma noite tranquila foi uma noite de pesadelo
Texto e foto de:
José Manuel Sousa Pereira
Furriel Miliciano 12635270 da CCAÇ 3309
A FRELIMO também fazia a sua propaganda ideológica dirigida essencialmente aos soldados de forma a criar um fosso entre estes, os governantes e os oficiais generais, explorando a contradição existente entre uns e outros, denunciando os verdadeiros os verdadeiros interesses políticos e económicos que estavam subjacentes no desencadear do conflito colonial.
A "OPERAÇÃO FRONTEIRA" tinha também esse objectivo. Para além da construção de novos aldeamentos, era o aliciamento das populações com algumas melhorias no seu bem-estar, tentando dissuadi-las de prestarem apoio aos guerrilheiros da FRELIMO:
MEMÓRIAS
"Eu e o Guerrilheiro a quem não dei boleia!"
Como todos devem ter conhecimento em África, no período colonial e nos aldeamentos mais recônditos de Moçambique, quem tinha uma motorizada já gozava (mais que não fosse aparente) de um certo prestígio social em relação aos que possuíam apenas uma bicicleta (Ginga) assim como aos restantes que nada tinham como meio de transporte.
Em Nangade, o "Basuca" mainato que prestava serviço na oficina da CCAÇ 3309, possuía uma Suzuki já um pouco desconjuntada e sempre com o depósito vazio, mas que, das raras vezes que se passeava com ela, lhe fazia rasgar um largo sorriso que deixava ver ao longe a sua dentição do branco tão branco, que constava com a sua pele preta, mas muito preta, como gostava de sublinhar e que dizia exibir com orgulho.
Desde que cheguei a Nangade e o "Bazuca" passou a prestar serviço nas oficinas da CCAÇ 3309, estabeleceu-se entre nós uma espécie de contrato que era deveras desvantajoso para o "Bazuca", ao qual este teve que se submeter pois de outra forma não teria acesso às contrapartidas que eu lhe propus, dizendo-lhe:
-- Olha lá oh "Bazuca" ! disse-lhe eu com aquela pose de ocupante com que a maioria dos soldados se dirigiam aos nativos:
-- Vamos combinar uma coisa -- Enquanto o "Bazuca" ouvia meio desconfiado:
-- Eu posso arranjar gasolina para a moto, mas ando com ela durante o dia e tu só andas com ela à noite... está combinado?
Sabendo ele das facilidades e das formas como se obter combustível por parte dos soldados daquela especialidade, o "Bazuca",não teve outro remédio senão aceitar embora um pouco descontente com o negócio, aproveitando no entanto para retirar alguns dividendos do mesmo quando me disse a dado momento no seu português um pouco desarticulado:
--Eh nosso sordado ! -- se mesmo nos dias que tu não, eu poder andar nos mota pá?
Depois de achar imensa graça àquele português mal verbalizado respondi-lhe:
-- Está bem "Bazuca", -- eu estava a brincar, mas desde que não gastes toda a gasolina.
Como passou a ser frequente, eu dirigia-me por variadíssimas vezes à pista de aterragem de terra batida para aí acelerar inadvertidamente até ao seu final, tendo sido avisado por várias vezes do perigo que corria, tendo em conta que a mesma era circundada por uma densa mata podendo ser alvo de uma emboscada por parte da FRELIMO.
Numa das vezes que o fiz, ao chegar o final da pista e já a acelerar de regresso ao aquartelamento sai repentinamente da mata um guerrilheiro da FRELIMO que me pediu boleia para Nangade ao qual eu, sem me aperceber do que se tratava nem da Kalasnhikov que o mesmo trazia a tiracolo, pensando eu que era um Machambeiro que vinha das suas lides, lhe disse:.
-- Vai a pé preto dum cabrão -- continuando eu a toda a velocidade sem me ter dado conta do que estava a ocorrer aquele momento
Depois de ter chegado à oficina e de ter ajudado os outros companheiros a montar um motor no Berliet, lá me apercebi da algazarra que se ouvia para os lados do Posto Administrativo de Nangade, assim como da correria desordenada que muitos soldados e oficiais faziam naquela direcção.
Quando eu cheguei ao local, já ali se havia concentrado uma multidão oriunda dos aldeamentos Macua e Maconde, assim como de alguns oficiais da CART. 2918 e o seu Comandante Tenente Coronel Vasconcelos Porto, que se fazia acompanhar (como já vinha sendo hábito)por um agente da PIDE/DGS e que tomava conta da ocorrência.
Depois de me ter apercebido do que realmente tinha acontecido, a mim apenas me restou uma ligeira sensação de que a história me teria passado um pouco ao lado e nela ser reconhecido, se não tivesse recusado a boleia àquele desconhecido no final da pista.
Tratava-se de um guerrilheiro da FRELIMO que acabava de se entregar às nossas tropas com a sua Kalasnhikov e alguma documentação , o que contribuiu para a identificação de alguns guerrilheiros que viviam infiltrados num dos aldeamentos e à localização de algumas das suas bases no interior da mata.
Lembro-me que o Pereira ("Garina") me disse logo na altura:
--Está a ver meu Alentejano de merda! -- Se tivesses dado boleia àquele turra eras tu que levavas os louvores e eras agora um herói da pátria!
Texto e foto de:
Joaquim António Aleixo Lobo
Soldado Mecânico da CCAÇ 3309
Novembro de 1971
Dia 02 - Foi iniciada mais uma coluna de reabastecimento. "OCTANA 13", de Palma a Nangade e regresso, escoltado por 2 Grupos de Combate. Chegou a Nangade a 3 de Novembro de 1971 e saiu no mesmo dia, chegando no dia seguinte a Palma. Ao longo do itinerário, foram efectuadas várias Operações para segurança do mesmo.
Estas Operações foram efectuadas por forças da CCAÇ Mocímboa da Praia, CCAÇ 2703, CCAÇ 3309 e CART.2745
Dia 12 - Durante a coluna de reabastecimento de Pundanhar a Nangade escoltada pelas forças CCAÇ 2703, CCAÇ 3309 e CART.2745 e GE206, uma viatura Berliet, 17ª viatura,accionou uma mina anti-carro entre Pundanhar e Nangade causando um ferido grave à CCS/BART. 2918. Enquanto as NT procediam à remoção da viatura minada, um grupo IN muito numeroso flagelou a coluna por duas vezes com armas automáticas, morteiro 60 m/me granadas de mão, causando 4 feridos graves, 2 da CCAÇ 2703, 1 da CCS/BART. 2918 e 1 da CCAÇ de Mocímboa da Praia
Dia 16 - Foi iniciada mais uma coluna de reabastecimento de Nangade para Palma e regresso -- Operação "OCTANA 15", escoltada por dois Grupos de Combate da CCAÇ Mocímboa da Praia. Chegou a Pundanhar no mesmo dia, saiu em 17 de Novembro de 1971 para Nangade onde chegou no dia seguinte. Pelas 9h20 saiu para Pundanhar e seguiu para Palma onde chegou no dia 19 de Novembro. Asseguraram protecção ao longo do itinerário forças da CART. 2745, CCAÇ 3309 e CCA Ç 2703.Durante a coluna "OCTANA 15"uma viatura Berliet accionaou uma mina anti-carro em coordenada 3959,7.1053,2, causando 1 ferido ligeiro. No mesmo local foi accionada uma mina anti pessoal que causou 1 ferido grave à CCAÇ Mocímboa da Praia. Ainda no mesmo local foi posteriormente accionada pela viatura minada uma mina anti-pessoal.
Dia 16 - Visitaram Nangade S. Exª . O Comandante do Sector "B" e o Governador do Distrito de Cabo Delgado.
"... quando de repente houve um rebentamento e eu fiquei com a cara e os olhos cheios de areia. O soldado que estava ao meu lado apanhou com um estilhaço, ou um pedaço de bota do Africano que perdeu uma perna. Quando olhei para o lado é que vi que ele estava com a perna cortada pelo joelho, e estava um pedaço de osso à mostra sem carne, a raspar pelo chão. Ele ficou logo estendido no chão com o peito e a cara cheia de sangue. Eu nesse dia parecia um maluco. O rebentamento foi a uns dois metros de mim, e nesse instante eu deixei cair a minha arma para o chão, depois fui para a minha viatura e não saí mais de lá... "
Texto e foto de.
Manuel Teixeira Gonçalves
Soldado condutor auto da CCAÇ 3309
Picada Pundanhar-Nangade. 17 de Novembro de 1971
Dia 26 - Saiu uma coluna de Nangade para Palma onde chegou no mesmo dia. Durante a coluna foram efectuadas várias Operações ao longo do itinerário para protecção do mesmo, levada o cabo por forças CART. 2745, CCAÇ 3309 e CCA Ç 2703.Durante esta "OCTANA", foram detectadase destruída entre Nangade e Pundanhar, por forças da CCAÇ 2703, 1 mina anti-pessoal e 1 mina anti -carro, sem consequência
Dezembro de 1971
Dia 2- Iniciou-se a coluna "OCTANA 17", de Palma a Nangade e regresso, escoltado por 2 Grupos de Combate da CCAÇ de Mocímboa da Praia. Chegou no mesmo dia a Pundanhar seguiu para Nangade no dia 3 de Dezembro de 1971 onde chegou no dia 4 do mesmo mês; neste dia saiu de Nangade e chegou a Palma pelas 17H30..
Ao longo do itinerário asseguraram protecção, executando várias operações, forças da CCAÇ 2703 e CCAÇ 3309. No dia 3 durante esta Operação, as forças da CCAÇ 2703, detectaram e destruíram uma mina anti-carro montada em gaveta, entre Pundanhar e Palma, em coordenadas 3959,7.1053,9. Pouco depois, detectaram e destruíram na mesma zona uma mina anti-carro e outra anti-pessoal que estavam montadas sobre um saco de terra dos utilizados nas nossas viaturas
Dia 12 - 2 Grupos de Combate da CCAÇ de Mocímboa da Praia iniciaram a coluna de reabastecimento"OCTANA 18" de Palma a Nangade e regresso. Esta chegou a Pundanhar em 12 de Dezembro, saindo para Nangade onde chegou no dia seguinte; saiu no dia 14 para Palma onde chegou no mesmo dia. Ao longo do itinerário asseguraram protecção forças da CCAÇ 2703e CCAÇ 3309
Dia 13 - Um grupo IN de cerca de 40 a 50 elementos, vindos da Tanzânia, flagelou o estacionamento de Tartibo (CCAÇ 3309)com cerca de 50 granadas de morteiro 82 m/m e canhão sem recuo. Foram encontrados 15 invólucros de canhão sem recuo 10,6 e vestígios de 4 morteiros 82.Após o ataque, o IN regressou à Tanzânia. Apenas duas granadas caíram dentro do perímetro do Aquartelamento, sem consequências.
Dia 14 - A coluna de reabastecimento saiu de Nangade para Palma onde chegou no mesmo dia. Ao longo do itinerário asseguraram protecção forças de CCAÇ 2703 e CCAÇ 3309. As primeiras detectaram e destruíram em 13 de Dezembro de 1971, entre Pundanhar e Nangade, uma mina anti-carro e outra anti-pessoal; a CCAÇ 3309 detectou e destruiu na mesma zona, em coordenadas 3952,2.1057,3, uma mina anti-carro reforçada com uma mina anti-pessoal e com latas de gasolina. No mesmo dia, um grupo IN, não estimado, emboscou a coluna em coordenadas 3957,9.1055,7, com um tiro de bazooka e granadas de mão, seguidos de de tiros de armas automáticas, sem consequências.
Ainda no dia 13 de Dezembro de 1971
Dia 21 - Forças da CCAÇ 3309 e do GE 212 que seguiam para Nhica do Rovuma, detectaram abatizes no local com as coordenadas 4011.1050,5.
No mesmo dia 2 Grupos de Combate da CCAÇ de Mocímboa da Praia iniciaram a coluna de reabastecimento "OCTANA 19", de Palma a Nangade e regresso, no dia seguinte os mesmos 2 Grupos de Combate seguiram de Pundanhar para Nangade tendo pernoitado no itinerário; chegou a Nangade no dia 23 e saiu no mesmo dia para Palma tendo passado por Pundanhar, aqui deixou algumas viaturas a fim de transportar para Palma o 1º Escalão da CCAÇ 2703 que vai ser rendida pela CCAL 3472. Ali chegou no mesmo dia. Asseguraram protecção do itinerário forças da CCAÇ 3309, CCAÇ 2703 e CART. 2745.
FOTO 229
Dia 23 - Durante esta "OCTANA", uma viatura Berliet accionou uma mina anti-carro entre Pundanhar e Nangade, ficando parcialmente destruída. No mesmo local foi accionada e destruída uma mina anti-pessoal por forças da CCAÇ 2703. Forças da CCAÇ 3309 destruiram outra mina anti-carro el local de coordenadas 3951,2.1057,2. Ainda durante esta Operação foi accionada uma armadilha que causou 2 feridos graves e três ligeiros à CCAÇ 2703. No mesmo local foi detectada e destruída 1 mina anti-pessoal. Na região de Lagoa Namioca foram encontradas abatizes para ambos os lados daquela, num total de 2 Kms de extensão, além de uma profunda vala transversal à picada. No dia 23 de Dezembro de 1971, durante a mesma coluna, uma viatura Berliet accionou uma mina anti-carro em região de coordenadas 3851,5.1054., ficando destruída. No mesmo di,as forças da CART. 2745 que se encontravam a montar segurança do itinerário, detectaram a passagem de 2 a 3 elementos caçados com botas, num trilho antigo, de Sul para Norte em direcção à Tanzânia
JANEIRO de 1972
"Nascido para viver!"
"Um descuido podia ser fatal!"
MEMÓRIAS
"Nem sempre havia camaradagem!"MEMÓRIAS
"Desaparecido em combate!"
(...) Tínhamos obtido informação que em Kitaya, povoação tanzaniana nas margens do rio Rovuma, haviam machambas comunais, destinadas ao reabastecimento das forças da FRELIMO. Estas machambas eram tratadas essencialmente por populações moçambicanas que tinham sido coagidas a abandonar este território, para ali, promover várias culturas tendentes a abastecer de víveres os guerrilheiros, que reentravam de novo em Moçambique.
A cena repetiu-se, mas desta vez em sentido contrário. A Corveta da Marinha de Guerra NRP " General Pereira D`Eça" da marinha portuguesa, comandada pelo Pelo Capitão de Fragata Fernando Paiva Vilhena de Mendonça, esperava-nos ao largo na Baía de Palma, dado não haverem condições de desembarque de atracagem. Como a maré baixa dificultava também a aproximação das lancha de desembarque devido aos bancos de areia dispersos, "repetiu-se o mesmo filme" de 23 de Fevereiro de 1971 e que ainda estava projectado nas nossas memórias. Embora exaustos pelos meses de sofrimento e de angústia passados nos diversos aquartelamentos por onde passaram (Nangade, Nova Torres, Tartibo, Pundanhar e Muidine) os militares da CCAÇ 3309 faziam-se de novo às águas o Índico, de mochilas, malas e armamento bem levantados, com água pela cintura, mas desta vez com uma imensa alegria no peito, por saberem que o trajecto que os levaria de regresso às suas aldeias se iniciara ali na praia de Palma.
Decorria agora o 21 de Novembro de 1972, e parte da CCAÇ 3309 efectuava a sua rotação de Palma para Balama (onde já tinham chegado os restantes militares desta Companhia que para ali se deslocaram em Nord Atlas no dia 3 de Novembro de 1972 ao embarcarem naquela Corveta que os levaria com destino a Porto Amélia, seguindo posteriormente em coluna auto até Balama seu destino final Vivia-se de facto uma ligeira sensação de alívio, porque a CCAÇ 3309 com aquele embarque se afastava aos poucos do centro do conflito, com troar dos canhões a soar cada vez mais distante.
AQUARTELAMENTO DE BALAMA
Depois de ter sido rendida pela CART.2506 em Tartibo , a CCAÇ 3309 voltou a Nangade onde durante cerca de oito meses participou em vária operações de protecção às colunas de reabastecimento , às "Águas", à pedreira e à construção do novo aquartelamento de Nangade, sendo posteriormente rendida pela CART. 4243 que tinha chegado a Nangade em 3 de Agosto de 1972 para render a CART 3506 em Muidine. Quando acabou a sua Comissão em Nangade em 13 de Novembro de 1972, pare da CCAÇ 3309 foi transferido desta zona operacional , tendo-se deslocado em coluna militar para Palma, onde embarcou na corveta da Marinha de Guerra NRP " General Pereira D`Eça" até Porto Amélia, seguindo em coluna militar para o aquartelamento de Balama. Entretanto, e correspondendo à primeira fase da rendição da CCAÇ 3309 em Nangade, um outro grupo de elementos desta Companhia já tinha embarcado num NordAtlas em 3 de Novembro de1972 com destino a Balama.
Esta povoação ficava situada a 60 Kms de Montepuêz onde ficava o Quartel General so Sector "B" e o quartel do Batalhão de Comandos , que eram chamados a intervir na zona de Cabo Delgado, mais propriamente no Planalto dos Macondes.
MEMÓRIAS
"Já longe da guerra, mas que cagasso...!"
Tínhamos chegado a Balama à cerca de três dias e ainda não tínhamos ido às"meninas" e então decidimos ir ao aldeamento, pois disseram-nos que haviam umas mulheres dos Milícias locais que, na ausência destes e para arranjarem uns trocos, iam para a cama com a malta. Eu e o Dias no aldeamento encontrámos duas pretas jeitosas e fomos com elas, cada um para a sua palhota Depois do "serviço" feito e ao sairmos das palhotas, já noite a dentro, vimo-nos cercados por 5 Milícias (dois deles eram maridos eram maridos das mulheres com quem tínhamos ido) que nos questionaram em todos ameaçador o que é que tínhamos ido fazer dentro daquelas palhotas. Como eles se se aproximavam cada vez mais de nós e prevendo que aquilo ainda iria dar conflito, tanto eu como o Dias tirámos dos bolsos cada um a sua granada (que que nos acompanhava sempre quando íamos para locais duvidosos) retirámos a cavilha mas mantendo o punho apertado, enquanto encenávamos que as íamos lançar na sua direcção dizendo em tom de ameaça. --"... Nós podemo-nos foder mas vocês também ide com o caralho..." O que é certo que perante a nossa determinação o grupo de Milícias afastou-se deixando-nos passar. Naquele dia apanhámos um cagasso do caraças mas chegámos ao quartel em bem.
Condecorações:
MEMÓRIAS
"Balama, 05 de Novembro de 1972...!"
MEMÓRIAS
"Aprendiz de enfermeiro...!"
(...) Quando a CCAÇ 3309 rodou para Balama, o meu pelotão ficou em Montepuêz para efectuar patrulhamentos aos aldeamentos vizinhos, ao mesmo tempo que efectuava junto dos mesmos visitas de "Acção Psicológica" para sensibilizar as populações. Nesse dia estava o 1º Pelotão a 15 Kms do aldeamento de Namagico, quando fomos informados via rádio para avançarmos para o local para proteger o aldeamento, tendo já seguido antes de nós um jeep da polícia local.Quando chegámos a cerca de 800 metros da entrada do aldeamento, deparámos com um jeep virado "de penas para o ar" e ao seu lado estava o chefe da polícia deitado no chão a tremer e cheio de pó, e com uma perna toda esfacelada. De imediato descemos da Berliet e organizámos a segurança em redor do local, não fossemos também surpreendidos por qualquer emboscada.. Entretanto, pelas 13h30 a Berliet arrancou com os graduados à procura de socorro e de reforços, uma vez que não havia rádio para comunicar o ocorrido. Passadas cerca de duas horas e sem o socorro chegar, o chefe da polícia gravemente ferido começou a delirar e com bastantes dores, foi quando decidi fazer alguma coisa para o socorrer, embora não percebesse nada de enfermagem. No jeep da polícia havia uma caixa de primeiros socorros, onde verifiquei que havia no seu interior seringas e ampolas de Petidina, tendo-lhe injectado uma dose. Mas não havia nada a fazer. O sangue não havia meio de estancar e passado uma hora o polícia já respirava com bastante dificuldade, pedindo-me que lhe desse respiração boca a boca. Eu e os meus camaradas de pelotão passámos momentos de grande tristeza, pois mais nada pudemos fazer por ele, acabando o chefe da polícia por falecer junto de nós. Eram 16h30 quando os reforços chegara, sendo o corpo do chefe do polícia removido para a viatura e transportado para Montepuêz, tendo nós seguido para o aldeamento de Namgico que tinha sido atacado pela FRELIMO, onde encontrámos dois elementos da população mortos e uma grande quantidade de palhotas destruídas. Pernoitámos no aldeamento nessa noite para garantir a segurança e regressámos no dia seguinte a Montepuêz
Texto e foto de:António Manuel Ferreira Lopes de Sousa
1º Cabo Atirador da CCAÇ 3309
Em homenagem "aos que não regressaram"
Albino Dias de Sousa Soldado dos Serviços Básicos 07013070
Depois de ter passado toda a noite de reforço num dos postos de defesa do aquartelamento de Nangade, Albino Dias de Sousa dirigia.se para a sua caserna para descansar quando o Victor Manuel Silva (1º Cabo condutor)que seguia num Unimog 404 com destino ao posto avançado das "Águas" o convidou para lhe fazer companhia..Sempre prestável como era sua característica, o Sousa subiu de imediato para a viatura, que tinha como missão levar a população para os trabalhos agrícolas na machamba situada no Rio Litinguinha , junto ao posto avançado de captação de água que era fornecida ao aquartelamento de Nangade. A meio do trajecto da picada de acesso ao posto avançado cuja extensão era cerca de 3 Kms, dá-se uma violenta explosão. O Unimog 404 tinha accionado uma mina anti-carro fortemente reforçada, e vitimou aqueles dois militares da CCAÇ 3309 no dia 20 de Julho de 1971, assim como 8 elementos da população, ferindo gravemente outros 3 e dois feridos ligeiros onde se incluía um Furriel adido à CCS do BART.2918..
Albino Dias de Sousa nasceu em 17 de Fevereiro de 1949 na Freguesia de Lavra, concelho de Matosinhos. Era filho de Júlio Alves de Sousa e de Maria Dias da Silva.Na altura do seu falecimento era casado com Ana de Sousa Rosas e morava na Rua Caminho Novo, nº 30, Pampelido, Lavra. Ainda muito criança e apenas com 10 anos de idade, foi trabalhar como servente na construção da Petrogal em Matosinhos. Quando ingressou no serviço militar era operário da construção civil com a profissão de estucador, e foi incorporado em 20 de Julho de 1970 no Regimento de Infantaria 14.
António José Pereira ("Alentejano") 1º Cabo Atirador 11934670
A coluna de reabastecimento estava prestes a partir de Nangade para Muidine onde estava aquartelada a CART 3506 que fora render a CCAÇ 3309 a Tartibo. Para se efectuar a escolta à coluna, um dos Furrieis foi à caserna para reagrupar os elementos do 1º e 2º Pelotões escalados para a escolta, deparando com com o António José Pereira (Alentejano) deitado na cama e com alguma febre. Depois de se ter certificado do seu estado de saúde o Furriel disse-lhe para ficar deitado pois a missão não implicava grandes riscos dispensando a sua presença. Um soldado do mesmo pelotão que estava próximo, ao presenciar aquela situação disse (em jeito um pouco agressivo) ao Furriel que aquilo "era tudo fingimento e que estava a fazer ronha" só para não fazer parte da coluna de reabastecimento. O "Alentejano", admirado com a observação do camarada do mesmo pelotão e para que não pensassem que de facto estava a fingir que estava doente, disse ao Furriel que não se preocupasse e que contasse com ele para fazer parte da escolta às viaturas, dizendo, em jeito de graça : "Isto com uma LM passa". Aos nove quilómetros aproximadamente, na nova picada Nangade--Muidine, a Berliet onde seguiam accionou duas minas anti--carro (outras duas não rebentaram) que feriu 14 soldados (13 eram da CCAÇ 3309 e um da CCS do BART. 2918). Era dia 5 de Julho de 1972e de entre os elementos da escolta esta o 1º Cabo António José Pereira do 1º Pelotão da CCAÇ 3309 que teve morte imediata. No mesmo acidente ficaram gravemente feridos o Portugal, Sousa e Sanches.
António José Pereira nasceu em 16 de Janeiro de 1949 na Freguesia da Senhora da Graça de Padrões, concelho de Almodôvar. Era filho de Manuel Anacleto Pereira e de Maria Inácia e morava nas Minas de São João, 1129 em Aljustrel. O seu estado civil era solteiro e tinha como profissão, operário da construção civil. Foi incorporado em 20 de Junho de 1970 no Regimento de Infantaria 3
MEMÓRIAS
"Não podámos ter feito melhor por ele...!"
(...) O "Almada faleceu em Tartibo.
Pelo Exmo. Comandante do BART. 3876, o Furriel Miliciano, José António Garralo Calha, da CCAÇ 3309 DO BCAÇ 3834, pela forma como comandou o pelotão, durante a operação "BARRA 1. Tendo detectado um acampamento IN, durante a referida operação, articulou rapidamente e eficientemente o pessoal sob o seu comando de forma a adoptar o dispositivo mais adequado a um golpe de mão. No decorrer da acção lançou-se ao ataque , à frente dos seus homens, galvanizando-os com o seu exemplo e conseguindo causar a baixa de 2 elementos do IN armados. O Furriel Calha demonstrou apreciáveis qualidades de comando, capacidade de decisão, coragem e sangue frio, que o tornam um óptimo chefe e condutor de homens
Pelo Exmo. Comandante do BART. 3876, o Furriel Miliciano, José Maria Garcia, da CCAÇ 3309 DO BCAÇ 3834, pela forma como comandou o pelotão, durante a operação "BARRA 1. Distinguiu-se pela sua coragem e sangue frio que revelou durante a limpeza e busca no acampamento IN que acabara de assaltar, operação que foi executada debaixo de intenso fogo de morteiro por parte do IN.
Louvado em 1 de Outubro de 1971, pelo EXMº Comandante do BART. 2918, o Rádio Telegrafista Álvaro Cunha Almeida da CCAÇ 3309
Louvado em 26 de Agosto de 1972, pelo EXMº Comandante do BART. 3876, o Soldado Rádio Telegrafista Mário Joaquim Ferreira Serrano da CCAÇ 3309
Chegados ao RAL 1, na ânsia de nos livrarmos de vez de toda a indumentária militar, alguns de nós nem nos importámos da pagar aquilo que nos era exigido por já não sermos possuidores de alguns daqueles utensílios, perante o olhar ansioso dos nossos familiares que desesperavam por nos levar de volta ao aconchego familiar de onde nos retiraram para participar naquele conflito de mau agoiro. Depois de todo o material entregue e antes que todo o pessoal se dirigisse para as suas terras de origem, as despedidas foram deveras emocionantes. Cada abraço forte e um olhar demorado nos olhos de cada companheiro, representava, para além da alegria do regresso, a esperança de que aquela despedida não representava um adeus definitivo mas tão só um até breve: -- Epá malta! Não me digam que, depois de termos "passado as passas do Algarve" naquela maldita guerra, não nos iremos encontrar um dia destes -- dizia um soldado emocionado enquanto abraçava o companheiro de 26 meses de incertezas. -- Claro que vamos! Mais que não seja anualmente, para a malta matar as saudades da nossa camaradagem e recordarmos os momentos difíceis que nos obrigaram a passar naqueles malditos matos! -- dizia um outro mais optimista enquanto abraçava a namorada. E assim. num silêncio cúmplice, cada um foi devolvido às sua terras para retomar de vez o caminho que fora interrompido "sem jeito nem prosa", e a CCAÇ 3309 terminava assim desta forma a sua "odisseia trágico-marítima" de má memória
MEMÓRIAS
"Foi um tempo que nos foi roubado...!"
Com o eclodir do conflito colonial, fruto das aspirações dos povos colonizados da Guiné, Angola e Moçambique à independência, a nossa juventude viu-se confrontada durante cerca de 14 anos com um drama, que era a sua mobilização para uma guerra, com as implicações que daí adviriam para a sua vida profissional e afectiva.FIM
Foi atitude desse comerciante e de muitos outros mais como esse que deu origem à revoltas dos negros contra os brancos em Angola. Cumpri o serviço militar em Moçambique, de 1963/1966. De 1968/1975 estive em Angola. Vi ninguém me disse alguns negros a serem tratados abaixo de cão por alguns brncos que foram daqui para lá de mãos a abanar e conseguiram arranjar grandes fortunas à conta do trabalho dos negros.
ResponderEliminarPercuri está picada era condutor da 1 companhia do batalhão de caçadores 5013 em pundanhar mas destacado em palma ano de 73 74
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