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Livros da guerra colonial

Miandica terra do outro mundo


segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

DISCURSO DO GENERAL JOÃO E.F. ABRANTES AMARAL, COMANDANTE DA COMPANHIA, POR OCASIÃO DO 40º ANIVERSÁRIO DA CONSTITUIÇÃO DA 7ªCOMPANHIA de COMANDOS de MOÇAMBIQUE

Montepuez, 25 de Fevereiro de 1973, o Cap. CMD.Abrantes Amaral, a
receber do Gen. Kaúza de Arriaga, o guião da 7ªCCMDS de Moçambique
"Em 1º lugar para voltar a agradecer ao Dâmaso a repetida organização destes convívios. EXCELENTES! Desta vez fazemos 40 anos! Estamos usados!
Em 2º para recordar. E para recordar convosco! Que chegámos a Montepuez na manhã de 02Nov72. Desse dia recordo que cortámos o cabelo uns aos outros. De cada vez que tirava a máquina zero manual da cabeça do meu mártir, ele arrepelado, queixava-se veementemente.
No dia anterior, estivemos horas sem fim, no campo de futebol de Porto Amélia, numa posição hirta e de pernas bem abertas, de descansar à vontade, donde só se saia para se fazer um castigo de flexões, cangurus, ou uma outra tropelia qualquer. Ao entardecer, meteram-nos em viaturas e seguimos em coluna. Parámos no cruzamento da Viúva, onde nos mantivemos nas viaturas. Foi toda a noite até chegarmos de madrugada à zona do aeroporto de Montepuez.
A 14Nov a Prova de Choque no Nairoto. Temperaturas elevadas, exercícios a dobrar e 1 cantil de água por dia. Até tinha que dar para fazer a barba! A única ocasião em que não tínhamos munições distribuídas! Recordo a melhor sopa do mundo que alguma vez comi, ao regressarmos ao Batalhão!
A instrução continuou, com as cerimonias da Bandeira, a Ginástica, as marchas forçadas, os crosses, as aulas de enfermagem, as de técnicas de combate, as GAM, as formaturas a cada hora em que o lema era pagar, pagar, e sempre pagar. As aulas teóricas eram de pé para não se adormecer. Fins de semana? Nunca antes de 15 dias!
Muicamela. Prova de fogo da 7ªCCMDS de Moçambique
Em Muicamela e a 18Dez a Prova de Fogo. O rastejar sobre vísceras, o arame farpado, o trotil com fio detonador a arder que tínhamos que afastar, as zonas de morte em que tínhamos de manter a cadência do passo, pois, disparavam para a frente e para trás dos nossos pés, as chapadas, murros e pontapés que nos davam ao sair dum arbusto, o atravessar o rio no meio da corrente e agarrado a uma corda, o responder a perguntas sobre pressão, o transportar um companheiro às costas, o fazer tiro de precisão, enfim, uma diversidade de dificuldades.
A 24Dez com um penso de gaze no bolso para limparmos a cara, enviaram-nos para uma prova de Orientação. Devemos ter voltado a 26.
A Acção Psicológica em aldeamentos, tratando e distribuindo medicamentos.
A Semana Invertida! À hora da formatura para o jantar ouviu-se o toque de Alvorada
A prova de Sobrevivência! O gafanhoto que engoli!
A prova da Agua na baia de Porto Amelia. Lembro-me da nossa miss Iris na praia do Wimbe!
A operacional a partir de Macomia e Xai. Os helis que só nos recolheram no dia seguinte!
E a 25Fev os crachats! Tinham-se superado as fases Individual, a de Equipa e de Grupo! Eramos mais de 300, Restámos pouco mais de 100! 112 se não me engano!
Anexamos a Formação, os Condutores, as Transmissões, os Enfermeiros, os Mecânicos, os Cozinheiros, os Clarins, os Padeiros, os Escriturários, os Maqueiros, os Básicos, o Alfaiate e até os Mainatos! Companhia Pronta!
Levávamos tudo! Tendas, frigoríficos, panelas, mesas, bancos, talheres, pratos, canecas, material de enfermagem e de transmissões, antenas, rádios, bidons para água, …
E voamos nos Noras para Tete e depois de viatura, para o Mazoe! Levamos 2 dias para montar o estacionamento! O último que montámos levou 2 horas! Tomávamos preferencialmente banho no rio! A equipa da Lenha, a da Água, a de Alerta, a de Reforço! As operações seguiam-se, de 3, 4 e 5 dias. No estacionamento 2 a 3 dias. Infelizmente, não conseguimos evitar que o Seixas nos deixasse!
Seguiu-se descanso na Ilha, e depois Muaguide, Meluco, as operações de 11 dias, os heli-reabastecimentos de água e rações a meio das operações, Macomia (as 60cxs de Cerveja que se beberam dum dia para o outro), a serra Mápé, a Cruz Alta, a Mataca, o Xai.
A ânsia e avidez com que era recebido e lido o correio no SPM 6274!
Novo voo para Tete/ Moatize e comboio para Doa! O calor, a multiplicidade de moscas que apanhavam boleia nos bornais, ou não largavam os olhos e ouvidos, ou pura e simplesmente picavam e faziam grandes babas. Recebemos com grande pompa e circunstancia o 5º grupo de combate, vindo do 8º Curso de Comandos. Necungas, onde o comboio tinha que apanhar balanço para subir os morros. No Mecito, um lapso levou-nos o Duarte. Seguiram-se Mussacama, Viúva Henriques, Tete, Changara.
A nova intervenção levou-nos a Nhacambo. Após a viagem de avião, foram de imediato, distribuídas rações e lançados de heli na zona do Chioco. Estima, Marara, Songo, protecção a cargas críticas para Cabora Bassa, segurança à construção dos postes transportadores de energia. No meio, houve quem tirasse cursos de pára-quedismo acelerado!
Da Ilha de Moçambique fomos directos para Lourenço Marques e passados 15 dias novamente para Nhacambo. Mais do mesmo, criamos uma BTT, até um forno de padeiro fizemos!
Fomos terminar para Lourenço Marques. O 7 de Setembro. A segurança da central eléctrica.
Regressamos a Montepuez. Para desmobilizar e voltar a casa.
O que será feito de alguns de nós? O Bitch, o Holosa, o Chapaeia, o Arcamala, o Bigodes Henriques, o Chapo, o Jequessene, o Mussa, o Jacob, o Martins, o Andrassone, o Hee, o Zero, o cozinheiro Chicavela, o mainato Eusébio?
Estas recordações são de sede, esforço, suor, fome, cansaço, e também de rigor, de disciplina, de companheirismo, de camaradagem e também de amizade.
E em 3º lugar e para terminar, sabendo que Deus, Pátria e Família sejam temas fora de moda e que não colhem, como vos hei-de eu dizer isto? Que nada nos pode pagar, o acordar às 2h da manhã e ir para o mato! Que não somos os mau-maus como dizem os frouxos, os puros que também apedrejariam Maria Madalena, os vendilhões do templo e os fazedores de opinião, que de tanto repetir, quase nos fazem acreditar que estivemos noutra guerra que não a do Ultramar. Não, não somos os patriotas do futebol quando a selecção ganha! Nós fomos e somos a elite dos que deram à Pátria, quando foi necessário e sem hesitações, o melhor de si mesmos.
Por mim, orgulho-me de o ter feito. E sinto-me honrado por ter comandado a 7ªCCMDS Moçambique."
Aqui Estou! Mama Sumae!
João E. F. Abrantes Amaral




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