Montepuez, 25 de Fevereiro de 1973, o Cap. CMD.Abrantes Amaral, a receber do Gen. Kaúza de Arriaga, o guião da 7ªCCMDS de Moçambique |
Em 2º para recordar. E para
recordar convosco! Que chegámos a Montepuez na manhã de 02Nov72. Desse dia
recordo que cortámos o cabelo uns aos outros. De cada vez que tirava a máquina
zero manual da cabeça do meu mártir, ele arrepelado, queixava-se veementemente.
No dia anterior, estivemos horas
sem fim, no campo de futebol de Porto Amélia, numa posição hirta e de pernas
bem abertas, de descansar à vontade, donde só se saia para se fazer um castigo
de flexões, cangurus, ou uma outra tropelia qualquer. Ao entardecer,
meteram-nos em viaturas e seguimos em coluna. Parámos no cruzamento da Viúva,
onde nos mantivemos nas viaturas. Foi toda a noite até chegarmos de madrugada à
zona do aeroporto de Montepuez.
A 14Nov a Prova de Choque no
Nairoto. Temperaturas elevadas, exercícios a dobrar e 1 cantil de água por dia.
Até tinha que dar para fazer a barba! A única ocasião em que não tínhamos
munições distribuídas! Recordo a melhor sopa do mundo que alguma vez comi, ao
regressarmos ao Batalhão!
A instrução continuou, com as
cerimonias da Bandeira, a Ginástica, as marchas forçadas, os crosses, as aulas
de enfermagem, as de técnicas de combate, as GAM, as formaturas a cada hora em
que o lema era pagar, pagar, e sempre pagar. As aulas teóricas eram de pé para
não se adormecer. Fins de semana? Nunca antes de 15 dias!
Muicamela. Prova de fogo da 7ªCCMDS de Moçambique |
A 24Dez com um penso de gaze no
bolso para limparmos a cara, enviaram-nos para uma prova de Orientação. Devemos
ter voltado a 26.
A Acção Psicológica em
aldeamentos, tratando e distribuindo medicamentos.
A Semana Invertida! À hora da
formatura para o jantar ouviu-se o toque de Alvorada
A prova de Sobrevivência! O
gafanhoto que engoli!
A prova da Agua na baia de Porto
Amelia. Lembro-me da nossa miss Iris na praia do Wimbe!
A operacional a partir de Macomia
e Xai. Os helis que só nos recolheram no dia seguinte!
E a 25Fev os crachats! Tinham-se
superado as fases Individual, a de Equipa e de Grupo! Eramos mais de 300,
Restámos pouco mais de 100! 112 se não me engano!
Anexamos a Formação, os
Condutores, as Transmissões, os Enfermeiros, os Mecânicos, os Cozinheiros, os
Clarins, os Padeiros, os Escriturários, os Maqueiros, os Básicos, o Alfaiate e
até os Mainatos! Companhia Pronta!
Levávamos tudo! Tendas,
frigoríficos, panelas, mesas, bancos, talheres, pratos, canecas, material de
enfermagem e de transmissões, antenas, rádios, bidons para água, …
E voamos nos Noras para Tete e
depois de viatura, para o Mazoe! Levamos 2 dias para montar o estacionamento! O
último que montámos levou 2 horas! Tomávamos preferencialmente banho no rio! A
equipa da Lenha, a da Água, a de Alerta, a de Reforço! As operações seguiam-se,
de 3, 4 e 5 dias. No estacionamento 2 a 3 dias. Infelizmente, não conseguimos
evitar que o Seixas nos deixasse!
Seguiu-se descanso na Ilha, e
depois Muaguide, Meluco, as operações de 11 dias, os heli-reabastecimentos de
água e rações a meio das operações, Macomia (as 60cxs de Cerveja que se beberam
dum dia para o outro), a serra Mápé, a Cruz Alta, a Mataca, o Xai.
A ânsia e avidez com que era
recebido e lido o correio no SPM 6274!
Novo voo para Tete/ Moatize e
comboio para Doa! O calor, a multiplicidade de moscas que apanhavam boleia nos
bornais, ou não largavam os olhos e ouvidos, ou pura e simplesmente picavam e
faziam grandes babas. Recebemos com grande pompa e circunstancia o 5º grupo de
combate, vindo do 8º Curso de Comandos. Necungas, onde o comboio tinha que
apanhar balanço para subir os morros. No Mecito, um lapso levou-nos o Duarte.
Seguiram-se Mussacama, Viúva Henriques, Tete, Changara.
A nova intervenção levou-nos a
Nhacambo. Após a viagem de avião, foram de imediato, distribuídas rações e
lançados de heli na zona do Chioco. Estima, Marara, Songo, protecção a cargas
críticas para Cabora Bassa, segurança à construção dos postes transportadores
de energia. No meio, houve quem tirasse cursos de pára-quedismo acelerado!
Da Ilha de Moçambique fomos directos para Lourenço Marques e passados 15 dias novamente para Nhacambo. Mais do mesmo, criamos uma BTT, até um forno de padeiro fizemos!
Da Ilha de Moçambique fomos directos para Lourenço Marques e passados 15 dias novamente para Nhacambo. Mais do mesmo, criamos uma BTT, até um forno de padeiro fizemos!
Fomos terminar para Lourenço
Marques. O 7 de Setembro. A segurança da central eléctrica.
Regressamos a Montepuez. Para
desmobilizar e voltar a casa.
O que será feito de alguns de
nós? O Bitch, o Holosa, o Chapaeia, o Arcamala, o Bigodes Henriques, o Chapo, o
Jequessene, o Mussa, o Jacob, o Martins, o Andrassone, o Hee, o Zero, o
cozinheiro Chicavela, o mainato Eusébio?
Estas recordações são de sede,
esforço, suor, fome, cansaço, e também de rigor, de disciplina, de
companheirismo, de camaradagem e também de amizade.
E
em 3º lugar e para terminar, sabendo que Deus, Pátria e Família sejam temas
fora de moda e que não colhem, como vos hei-de eu dizer isto? Que nada nos pode
pagar, o acordar às 2h da manhã e ir para o mato! Que não somos os mau-maus
como dizem os frouxos, os puros que também apedrejariam Maria Madalena, os
vendilhões do templo e os fazedores de opinião, que de tanto repetir, quase nos
fazem acreditar que estivemos noutra guerra que não a do Ultramar. Não, não
somos os patriotas do futebol quando a selecção ganha! Nós fomos e somos a
elite dos que deram à Pátria, quando foi necessário e sem hesitações, o melhor
de si mesmos.
Por mim, orgulho-me de o ter
feito. E sinto-me honrado por ter comandado a 7ªCCMDS Moçambique."
Aqui Estou! Mama Sumae!
João E. F. Abrantes
Amaral
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