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Livros da guerra colonial

Miandica terra do outro mundo


domingo, 23 de novembro de 2025

O TRAÇADO DIARÍSTICO DE ,DUARDO TRACANA. UM ROTEIRO BÉLICO TRAÇADO POLÍTI, (2ª PARTE)

 



Em Outubro dá-se o combate em Maúta e de seguida os alemães reconquistam Nichichira, já em território alemão, porém passados alguns dias, os portugueses conquistam Maiemba. O mês de Outubro de 1916 é proveitoso para os portugueses: a 18 de Outubro, a coluna Massassi ataca o forte  de Nevala, zona de poços de abastecimentos e a 22 de Outubro dá-se o combate da Ribeira de Nevala, já em território alemão e são repelidos; a 25 de Outubro mesma coluna ocupa o porto alemão de Nanítema e dirige-se para Nevala, território que ocupa a 26 de Ouubro.

A 2 de Outubro as tropas portuguesas ocupam Nichichira (território alemão). mas os germânicos recuperaram este território a 4 de Outubro; no dia 6 dá-se o combate de Maúae a 10 de Outubro, os portugueses conquistam Maiemba e Quivambo. Em 16 de Outubro está em Nangade, de onde envia novo postal, de onde envia novo postal.
Em Novembro dá-se o combate de Quivambo, obrigando à retirada das tropas portuguesas, há um grande número de baixas e, após este revés, dá-se um novo combate em Nevala, onde as tropas alemãs , apoiada pela Marinha, atacam violentamente o exército português e ocupam o posto de água de Nevala. No início de Dezembro, oposto de Nangade é incendiado pelos alemães.

Os portugueses em confronto com as tropas alemãs, estiveram sempre em desvantagem, o comandante Von Letow, conhecedor nato do terreno, evita o combate em espaços abertos, tem um estilo muito próprio de comandar e atacar, as suas estratégias militares irão provocar grandes danos à tropas lusas. As suas tropas conheciam bem o território, haviam treinado nessa zona, estavam ambientadas ao  clima, conheciam o espaço de fuga, podendo, por isso, atacar os portugueses e retirar rapidamente. Por seu lado os portugueses eram comandados por generais descontentes, recebiam ordens desconexas do Governo, que ignorava a realidade desumana das forças expedicionário em Moçambique, havia um permanente conflito entre os comandantes e o governador, que queria impressionar Lisboa, que, por  sua vez, queria servir diligente e subservientemente Lisboa.

General Paul Von Lettow Vorbesk

O mês de Dezembro era tradicionalmente o início da estação das chuvas, o que trazia alguma acalmia nos combates e nas hostilidades e, durante os primeiros meses de 1917, as tropas alemãs organizam-se, mas só controlam cerca de um quarto da colónia alemã. A África Alemã Oriental está a ser pressionada pelos aliados em todas as frentes, mas consegue sempre movimentar-se com grande  mestria, aproveitando oportunidades e fraquezas dos adversários, infligir pesadas baixas aos adversários e lidar com a pressão nas várias frentes.

O início  de 1917é de convalescença para Eduardo Tracana, em 5 de Janeiro está a bordo do navio Chinde, com destino a Lourenço Marques e, por fim, a ilha de Xefina, em frente á ilha de Moçambique, para aí ficar durante algum tempo a recuperar

A correspondência trocada, além de nos permitir localizar o 2º Sargento Tracana na geografia e no cenário de guerra, também nos permite caracterizar  a forma de comunicação em tempos de um conflito.

E Abril se 1917, o 2º Sargento Eduardo Tracana já se encontra restabelecido e novamente na frente de combate, em Namoto, a norte de Palma,  junto ao Rovuma. Em 31 de Julho e 1 de Agosto, os alemães atacam novamente Nangadi. As condições climatéricas são agrestes para este grupo de bravos, pouco aclimatados, com um armamento desactualizado que irão tentar defender um território invadido pelos alemães.

A 15 de Agosto chega a Palma o navio "Amarante", com uma bateria de montanha e a 8 de Setembro chegam 8 sargentos e 402 cabos do Regimento de Infantaria nº 21, que vão ajudara engrossar as linhas de defesa.


A razão da escolha do general Ferreira Gil para liderar a campanha em Moçambique foi peremptória, era um oficial  considerado muito disciplinador, para comandar uma tropa bastante indisciplinada. Esta força era a mais indisciplinada, pois quase todos os militares que  a compunham foram destacados para Moçambique por terem sido condenados por insubordinação. Mas o general não resiste por muito tempo, não aceia a descoordenação, a falta de resposta, por parte de Lisboa, aos seus pedidos de ajuda para as tropas que combatem em condições desumanas e o desgoverno entre o comando geral e o governo de Lisboa. Em Setembro de 1917, chega o novo comandante da Força  expedicionário a Moçambique, com nova expedição, a 4ª desde 1914, o Coronel de Cavalaria Tomás de Sousa Rosa, para substituir o general beirão, conterrâneo do 2º Sargento Tracana. Desembarcou em Mocímboa da Praia,  12 de Setembro de 1917.

Coronel de Cavalaria Tomás de Sousa Rosa

O ano de 1917 não é muito profícuo em ataques, somente  no final do ano, Novembro  uma coluna alemã conquista, em oposição o posto de Nangar, porque em 25 de Novembro as tropas alemãs, comandadas pelo general Van Lettow, atravessam o Rovuma , sem dificuldade ou oposição , perto de Negomano e dá-se um autentico massacre das tropas portuguesas . Os alemães capturam tudo o que podem: material bélica, víveres, solípedes; bens essenciais para sobrevivência das suas tropas impedidas, pelos Aliados,de receberem fornecimento de bens. O general apesar de comandar um pequeno contingente, ataca de surpresa, move-se nas sombras, tal qual um fantasma, destrói. mata, avança e recua consoante as necessidades. Movimenta-se em território moçambicano em surdina, fomenta revoltas com os indígenas, contra os portugueses, deixando atrás de si um rasto de revoltas e rebeliões que durarão décadas após o fim do  conflito.

Troço de estrada entre Roma (Tanzânisa) e Negomano (Moçambique), inaugurado
     pelo Presidente da República de Moçambique a 4 de Agosto de 2023.

Considerámos que o ponto de viragem, neste abate de avanços  e recuos territoriais, entre portugueses e alemães, aconteceu em 25 de Novembro de 1917, com a sangrenta batalha de Negomano, em que as tropas nacionais ficam exausta e destruída.

Em Dezembro de 1917 dá-se o combate na Serra Mecula, sob as ordens do Capitão Francisco Curado, os portugueses resistem cinco dias, junto ao Rovuma.

O ano de 1918 inicia-se com os alemães a fazerem as suas características incursões, os Aliados só conhecem o seu progresso depois dos postos caírem, ou os oficiais serem libertados após um longo tempo de captura, era a total descoordenação.

 
Capitão Francisco Curado - Herói de Mecula

No final, há um triste balanço da guerra em Moçambique: Portugal enviou para esta colónia a maior força expedicionário, desde Alcácer - Quibir, ao longo dos quatro anos foram mobilizados 19.438 militares, juntando ainda os carregadores locais e os africanos recrutados.


Ainda durante o conflito, a 17 de Outubro de 1917, Eduardo Tracana sai de Moçambique ficando em Cabo Verde até 1918, desembarcando na metrópole em 30 de Julho de 1918.

Eduardo dos Santos Tracana volta à sua cidade e é novamente incorporado no Regimento de Infantaria nº12, ingressando na Escola de Metralhadoras Pesadas, tendo ficado apto para a função de "monitor de metralhadoras pesadas e ligeiras"  (conforme consta na folha de matrícula individual", frequentando a Escola Prática em Lisboa. Em Outubro de 1927 fica aprovado no curso para 1º Sargento e desde 1933 exerce funções de professor do curso elementar.

Após a Grande Guerra , a vida decorre normalmente em todas as cidades de Portugal; os soldados regressam exaustos, igualmente analfabetos, tal como haviam partido,com feridas para sararem, pedindo um respeito que lhes fora negado durante o tempo do conflito. Encontraram um Portugal desagregado, a tentar juntar as migalhas que os Aliados lhes permitiram ter, com inconstância normal do regime republicano.

Eduardo Tracado depois de estar em Lisboa a frequentar a Escola Prática para se tornar instrutor de Metralhadoras regressa â Guarda, onde constituiu família,  aqui será  um indivíduo respeitado pelos pares, muito humanista, conhecido pelo espírito empreendedor . Permanece no Exército até 1940, altura em que "a incapacidade de servir" se reforma.

Morreu a 22 de Abril de 1959, tendo havido uma consternação geral, tendo a imprensa local registado este acontecimento, pelo desaparecimento de um ser humano íntegro, que esqueceu as fraquezas e as maldades do ser humano na guerra, para viver uma vida guiada pelo humanismo e pela amizade.


CONCLUINDO

Foi um conflito de certa forma, atípico, com muitas tecnologias inovadoras e mecânicas aplicadas ao conflito, por jovens arrancados às suas humildes realidades analfabetas, na sua maioria com profissões humildes, outros nem tanto, mas eles longe de uma realidade bélica  e fora de fronteiras. Em todas as expedições (nas quatro  enviadas, para Moçambique) nenhum dos  objectivos militares delineado foi cumprido: não se conseguir defender o território moçambicano, não houve estratégia militar, organizacional ou comunicacional, e o cômputo das quatro expedições resultou em 4.800 baixas (excluindo as baixas indígenas, os feridos ou doentes), 1584 feridos, 678 prisioneiros de guerra, 55467 desaparecidos e 1283 incapazes. No total foram mobilizados para África (incluindo indígenas), entre 1914 e 1918, "cerca de 49.131 homens (de um total de 105.542), a saber Angola - 18.430 homens; Moçambique - 30.701 homens.

Ao contrário do conflito em Angola, a campanha militar em Moçambique iniciou-se a 25 de Agosto de 1914, junto à fronteira com a colónia alemã, com o ataque alemão a Maziúa, na zona do Rovuma e prolongou-se até 1918, terminando apenas com o 
genocídio. Estipularam-se dois grandes objectivos para Moçambique: a reocupação de Quionga (anexada pela Alemanha, nos finais do século XIX e a passagem do Rovumae consequente ocupação de uma zona sul da colónia alemã.

Uma das principais razões pela mortandade do Corpo Expedicionário não se deveu somente aos combates, mas sobretudo à falta de preparação dos mancebos para esta necessidade. A importância da higiene foi imposta não foi aplicada, daí o desastre sanitário, que consequentemente conduziu ao desastre militar.

Urge então questionar:  quem ganhou a guerra em África? Atrevemo-nos a afirmar que este conflito não teve vencedores, se por um lado a Alemanha não conseguiu manter os territórios detidos antes de 1914; por outro lado, os Aliados, reféns  das políticas colonialistas, foram perdendo esses territórios. Portugal, por ter estado ao lado dos Aliados, conseguiu manter Angola e Moçambique e recuperar Quionga, não por mérito estratégico ou político, mas por imposição de políticas externas do pós-guerra, sobretudo pelo Tratado de  Versalhes.

Após o conflito, os portugueses que regressaram, como puderam, as suas vidas interrompidas por uma guerra lá longe que  não lhes pertencia Viram a realidades diferentes e violentas, um outro país e outra cultura. Eduardo Tracana volta à cidade natal e retoma a actividade militar no R12, abre ainda uma loja de comércio de sementes e artigos  agrícolas, na Praça de cidade, tendo sido uma referência comercial na área durante décadas.

FIM

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