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Livros da guerra colonial

Miandica terra do outro mundo


domingo, 24 de agosto de 2025

OS MEIOS E DISCURSOS DURANTE A GUERRA

 CAPITULO IV 

OS MEIOS E DISCURSOS DURANTE A GUERRA

A luta armada foi o caminho encontrado pela FRELIMO para o alcance da independência em Moçambique depois de esgotadas todas ferramentas pacificas de negociações. Criadas condições mínimas para o início dos confrontos e tendo como a retaguarda segura a Tanganica, os guerrilheiros contaram ainda com apoios das populações com as quais estabeleceu os primeiros contactos para o início da guerra que constituiu um caminho de formação da sua autoridade. Com o início da guerra, a FRELIMO foi comunicando às populações no Niassa as suas conquistas e imprimindo maior dinâmica no campo militar através de alguns comunicados oficiais e não oficiais. Enquanto isso, acampou as populações em pequenas áreas do interior, distante das acções combativas e do controlo da autoridade colonial onde foram criadas mínimas condições de vida para as populações, ao que chamou de Zonas libertadas. 

4.1. A preparação da luta armada no Niassa As actividades preliminares da FRELIMO começaram a verificar-se na área do posto administrativo de Cóbuè muito antes aos ataques ali efectuados, no dia 25 de Setembro de 1964, segundo uma nota enviada pelo Chefe do posto de Cóbuè, datada de Janeiro de 1964, no qual afirmava que “em toda área da sua jurisdição estava infestada de nativos ligados a FRELIMO, desempenhando todos, funções de relevo no movimento”. O mesmo documento refere também que a infiltração dos elementos da FRELIMO vinha-se efectivando há muito tempo, alastrando paulatinamente de tal modo que era quase impossível de exercer algum controle. Afirma-se, ainda, no mesmo relato, que “as autoridades gentílicas, nada faziam para conter a onda da movimentação dos mesmos, porque tinham receio de os impedirem”. Mais tarde veio a saber que estes colaboravam com os elementos da FRELIMO na região. No mesmo documento, faz-se referência ao facto de as autoridades da Ilha de Likoma como as que davam asilo aos que exerciam propaganda revolucionária em Moçambique, destacando-se Matias Lituaua, Alberto Gaungue e Leonardo Leonardo que se encontravam na Ilha de Likoma sob a 120 protecção das autoridades locais e que eram alimentados por Landeford Gaunge, filho de Alberto Gaunge que residia em Mataca. Dada a circunstância em que se encontravam na regi~q0, o chefe do posto de Cóbuè, solicitou uma embarcação a gasóleo para fiscalização da região e da embarcação Ilala 2 que se deslocasse da Ilha de Likoma à Cóbuè e a colocação de tropas ou outros elementos militares perto da fronteira com Tanzânia, para exercer fiscalização rigorosa da mesma e conter assim a movimentação dos militantes da FRELIMO para aquela região. Solicitou, também, a abertura de um estabelecimento comercial na povoação de Lipoche para evitar que as populações se deslocassem frequentemente à Tanzânia a fim de efectuar compras e aí clandestinamente comprarem cartões da FRELIMO. Exigia ainda a colocação urgente de uma parteira, alojamento dos guardas PSP e reparação urgente do posto sanitário que se encontrava em estado deplorável. A vinda periódica de aviões da FAP (Força Aérea Portuguesa) como forma de marcar presença na região e encorajar os informadores. A realização de banjas (reuniões) periódicas a serem dirigidas pelo administrador de Maniamba, desencorajando alianças com a FRELIMO e outros. 

4.1.2. A luta armada de libertação no Niassa A tradição da guerra em África, é muito antiga e prevaleceu durante todo o processo de evolução do Estado tradicional africano ao particularizar a questão das lutas de libertação em África, refere que: os africanos das colónias portuguesas tentaram a mudança pacífica, mas verificaram ser impossível. Os homens compreenderam que somente o emprego construtivo da violência ou melhor, da contraviolência como réplica da violência dos seus dominadores racistas poderia proporcionar a mudança que tinha de se fazer. Caso contrário as coisas continuariam na mesma para a grande maioria do povo ou então mudaria para o pior. A luta de libertação era uma guerra prolongada, com o período de combates apenas de algumas horas e por vezes alguns dias mais curto. Foi desencadeada em prol da descolonização do povo moçambicano. Caracterizou-se pela busca da autodeterminação, mediante o fim da dominação de uma força política e militar estrangeira, no caso, o sistema que se apresentava na forma colonial ou de invasão, seguida de ocupação militar do território. A acção beligerante em Moçambique foi antecedido de vários incidentes que enfureciam as populações, com destaque para os acontecimentos de Mueda no dia 16 de Junho de 1960, como resultado das reivindicações justas dos trabalhadores agrícolas que foram respondidas pela brutalidade da administração colonial e o assassinato do Padre Daniels Boorman (Holandês) da Missão de Nangololo (Cabo Delegado – no norte de Moçambique). Segundo um relatório colonial do Distrito de Cabo Delegado, no dia 24 de Agosto de 1964 as 20:00 horas, um grupo integrante da MANU nomeadamente Lucas Fernandes, que teve conhecimento da saída do padre à caça que na companhia de Lucas Mbunda, Atanásio Tomás, Herriques João, Matéus Cundo e outros, através de uma flecha tiraram a vida do padre. 


O assassinato do Padre Daniel foi um engano pelo facto de ele ter usado uma viatura da Marca Jeep, igual ao do Chefe do Posto. Após o incidente, o ambiente na região tornou-se lúgubre. É provável que este assassinato tenha acelerado os planos da FRELIMO ao assumir a dianteira nas suas acções de revolta ao ponto de a Direcção do movimento tomar a decisão de iniciar a luta armada volvido um mês, portanto, no dia 25 de Setembro de 1964, com o ataque a casa do chefe do posto de Chai, em cabo Delegado, sem danos mortais. A FRELIMO começou com a instalação dos seus guerrilheiros no Niassa em Janeiro de 1963, com a montagem de núcleos clandestinos a partir da fronteira com Tanzânia até às proximidades da vila de Metangula, que só foi alcançada nos finais do mesmo ano. Sobre este aspecto, que o desenvolvimento da luta de libertação nacional foi antecedido de um conjunto de acções visando criação de condições logísticas e humanas. Esta foi suprida através de incrementos nas actividades de campanha e mobilização a jovens, de modo que estes aderissem a luta envolvendo-se nas actividades político-militar. Foi neste contexto que, ao nível do distrito do Niassa, vários jovens juntaram-se a FRELIMO nas bases inicialmente instaladas. no Niassa foi um caso específico, quando se analisa as quatro províncias onde se iniciou a luta armada. As quarto províncias que iniciaram a Luta Armada são: Niassa, Cabo Delegado, Zambezia e Tete ter sido nesta que, após realização de trabalho de reconhecimento, foram definidos os alvos para o lançamento da ofensiva. O grupo dos primeiros guerrilheiros da FRELIMO a seguir para frente do Niassa era constituído por 11 elementos que saíram de Kongwa a Dar-es-Salaam, no dia 23 Agosto de 1964, e dai seguiram para Songueia, onde permaneceram 10 dias aguardando armamento vindo de Dar-esSalaam. Daqui seguiram para Mbamba-Bay onde, por razões de ordem estratégica subdividiramse em dois grupos estruturados da seguinte forma: o grupo de Daniel Polela (Comandante), Osvaldo Assahel Tazama (Adjunto Comandante), Matias Paulo Macoco, Mateus Kassonjola e Tomás Seleia tinha a missão de atacar a casa do Chefe do posto de Cóbue. 

Cóbué, aquartelamento das tropas portuguesas

O segundo grupo, que devia atacar a base Naval de Metangula, era chefiado por Mateus Bernabe Malipa (Comandante) e tinha como adjunto José Teodoro Ntauma; chefiava o material o Henriques Calumbaine; integravam também o grupo Timóteo Matéus Matumba e Casimiro Malimbane. Os dois grupos entraram no Niassa por vias diferentes, o primeiro usou a via fluvial partindo de Mbamba-Bay a Ilha de Likhoma e daqui para Chigoma. O segundo grupo usou via terrestre fazendo a trajectória Chiwindi, atravessando a fronteira até Ntumba, Ngofi e Chigoma em Cóbue, onde deviam se encontrar, através da intermediação do Régulo de Chitenje, o que veio a ocorrer no dia 21 de Setembro no povoado de Mbweka, de onde seguiram para o Monte Thumbi, onde instalaram a primeira base da FRELIMO no Niassa. Para a materialização deste plano, os guerrilheiros contaram com apoios de Régulos (Chigoma e Chitenji), elementos de diversas comunidades, alguns missionários anglicanos na Ilha de Likoma, Padres da igreja anglicana com destaque para os seguintes: Macuenda, Muenda, Zefanias Hansini e outros. É necessário também considerar as acções de outros nacionalistas, na sua maioria radicados fora de Moçambique, que procuraram sempre que possível levar a cabo acções de denúncia das atrocidades levadas a cabo pela autoridade colonial portuguesa em Moçambique como forma de angariar apoios internacionais e consciencializar os moçambicanos a se revoltarem contra estes. A título de exemplo, segundo um relatório sobre a subversão no exterior, “Uria Simango, no dia 25 de Janeiro de 1962, falando a emissora do Tanganica, declarou que o governo português continuava a manter o sistema de força, com prisões aos nacionalistas de Moçambique e que  também não lhes era permitido saber das actividades da FRELIMO no Tanganica. Portugal chamou a luta de libertação nacional em Moçambique de guerra subversiva que para eles, visava combater os insurgentes. Uma revista da FRELIMO, cujo título é 25 de Setembro, refere que a definição da luta de libertação nacional de Moçambique foi uma luta anti-imperialista, tratou-se de um conflito que foi assumido pela FRELIMO no seu Primeiro Congresso realizado entre os dias 23-28 de Setembro em Dar-es-Salaam na Tanzânia. Foi uma decisão baseada na análise das realidades concretas do país no contexto do África Austral e do colonialismo português. Segundo a mesma fonte, a FRELIMO e o povo moçambicano acharam que a liberdade é mais necessária para a humanidade do que a vida sob a escravatura imperialista. Depois do necessário trabalho político e clandestino, sobretudo com as populações localizadas nas regiões junto a fronteira com a Tanzânia, com destaque para Matchedje e outras ao longo da margem do actual distrito do Lago e rio Rovuma, com objectivo de lhes explicar o que pretendiam fazer e porquê que alguns indivíduos estavam sumidos da região, cuja resposta era porque foram juntar-se à FRELIMO antes do início da luta armada e que, para tal, alguns homens precisaram ser treinados política e militarmente. A Direcção da FRELIMO avaliou a situação no interior do país e constatou que já tinham sido criadas condições mínimas para o inicio da luta. Em seguida, desencadearam-se os primeiros ataques nos quais o elemento surpresa, colocação de minas e sabotagem a infra-estruturas foram as principais tácticas. Foi graças ao trabalho político para obtenção de diferentes informações que foi possível organizar a infiltração do primeiro material de guerra e dos primeiros grupos de guerrilheiros bem como a determinação do momento e dos lugares exactos para o início da luta armada.A luta armada no Niassa, foi desencadeada em 25 de Setembro de 1964, a região do Lago Niassa, concretamente com o ataque a casa do Chefe do Posto de Cóbue e a Base Naval da Marinha. Paulatinamente as acções foram se desencadeando em direcção ao sul nas regiões de 124 Catur, seguindo a margem do Lago Niassa e indo ao interior até Mavago conforme o croqui que se segue: 


 A província do Niassa é bastante extensa e quando a estrutura do comando provincial foi reorganizada, em 1966, a frente do Niassa, foi dividida em três sectores de combate nomeadamente: o Sector ocidental (Niassa Ocidental), Sector Oriental (Niassa Oriental) e o Sector Sul (Niassa Austral). Com o início da guerra em Moçambique, Portugal viu-se obrigando a equipar suas forças militares a um ainda maior esforço na luta contra os movimentos independentistas africanos. Esta acção impôs ao governo colonial a necessidade de um maior incremento da presença das forças especiais. Para o início da luta armada, era imperioso envolver toda a população, pelo que a guerrilha teria de desempenhar um papel de destaque na sua politização, “a ideia da independência nacional não foi, no início da luta armada, um objectivo político e ideológico universal entre os moçambicanos, tendo a adesão à luta armada por alguns chefes políticos locais sido objectivamente articulada para reforçar a autoridade política, nem sempre consentânea com a ideologia revolucionária da FRELIMO de libertação de todo o país” O objectivo da guerra era acabar com a exploração, derrubando o sistema colonial português que passava por colocar as forças inimigas incapazes de continuar a combater; garantir a ocupação do território e retirar ao inimigo a vontade de combater. As actividades de guerrilha no então Distrito do Niassa tiveram o seu epicentro, segundo o Relatório dos Incidentes ocorridos no Distrito do Niassa no período de 25 de Setembro a 31 de Dezembro de 1964, na Circunscrição do Lago, mercê da sua proximidade com a então Tanganica. O relatório referia concretamente aos ataques ao posto administrativo de Cóbuè. A guerrilha espalhou-se daí para toda região do Lago em direcção a Vila Cabral, alcançando Mecanhelas na região sul, contando sempre com o apoio dos núcleos clandestinos. 





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