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Livros da guerra colonial

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sexta-feira, 29 de agosto de 2025

O ataque a base naval de Metangula,

 O ataque a base naval de Metangula, 

Conforme consta no relatório do administrador da circunscrição de Metangula sobre os primeiros episódios de Incidentes no Niassa, um grupo de guerrilheiro chegou a Cóbue no dia 23 de Setembro, vindo da Ilha de Likoma num barco a vela, o qual regressou imediatamente, seguindo por Mataca e Chilola na circunscrição de Maniamba, e, posteriormente, seguiram para Chuanga.

Aldeamento de Chuanga em 1972

Na noite do dia 25 de Setembro de 1964, fizeram a sua espionagem e pela madrugada iniciaram um ataque com rajadas de pistola-metralhadora de calibre 12mm à Lancha Castor da capitania do Lago Niassa ancorado na praia da baía de Metangula (Augusto Cardoso) circunscrição de Maniamba, próximo do ajudante de pecuária, quando eram cerca de meia-noite, não tendo causado danos na embarcação. O grupo era composto por 5 guerrilheiros, nomeadamente Mateus Malipa (chefe) Timóteo Matumba, Calubaine e dois do Porto Amélia. O objectivo deste ataque ficou literalmente materializado, pois, segundo declarações do Mateus Malipa feitos no dia 27 de Setembro de 1964 em Ngoo, numa “Banja” ele e sua equipe, pretendiam “fazer estragos em instalações, impressionar as populações para ganhar gente que os acompanhasse, pois necessitavam de 3.000 soldados para os quais já tinham armas”. Na mesma ocasião, descreveu o roteiro que tomaram para chegar ao ataque, afirmando que eles saíram de Likoma no dia 23 de Setembro numa embarcação a vela tendo passado por Mataca, Chilola e chegando a Cóbuè e que o barco era tripulado por Leuine Cune irmão do chefe Mataca e Medine Cataua, que após os incidentes fugiram com os guerrilheiros para Likoma. O grupo era chefiado por Daniel Polela que usava o pseudónimo de “Santos”. Nesta incursão, os guerrilheiros contaram com o apoio principal do Padre anglicano Jemussane Muenda que residia há 6 anos na Ilha de Likoma; um activo propagandista de ideias subversivas, tendo chegado a comprar o cartão da FRELIMO por livre vontade e afirmou que colaboraria com o movimento se viesse para Moçambique como fora o seu desejo. Natural de Cóbuè, filho de Padre Polela (então reformado) e ex-aluno da Missão Anglicana de Cóbuè e antigo primeiro-cabo do exército – Prestou serviços militarem na Vila Cabral em 1959-1960. Foi Praça de 3ª (batalhao de caçadores nº 160) com maior grau de instrução. Foi punido por cinco dias de prisão por ter escrito nas paredes da prisão da companhia as seguintes palavras: “9 de Setembro de 1961 -2 de prisão sem razão justificada. Apenas por ser preto. 

O Assalto a residência do Administrador do posto de Cóbuè

 e à secretaria do mesmo posto, segundo o Relatório dos incidentes ocorridos no distrito do Niassa, ocorreu no dia 26 de Setembro de 1964 pelas 01:00 hora, no qual foram atacadas a pistola-metralhadora a residência do administrador do posto de Cóbuè e a secretaria do mesmo posto por 6 guerrilheiros. O chefe do posto não morreu porque na altura encontrava-se fora da residência com uma nativa, 

A vandalização da Missão de Messumba

foi protagonizado pelo grupo de Matéus Malipa com pseudónimo “Sale’’. Segundo relatório dos incidentes no Niassa, Malipa e seus companheiros, atacaram no dia 26 de Setembro de 1964, por volta das 03:00 horas, o Internato da Missão de Messumba tendo derrubado e partido o mastro de bandeira da mesma Missão e no seu regresso, obstruíram a estrada que vai de Metangula a Povoação comercial de Nova Coimbra (Michumua) com muitas pedras grandes.

Vista aérea da picada Nova Coimbra (Michuma) para Metangula

O padre PAUL, que, no momento do ataque, se encontrava a dormir na sua residência junto a Missão de Messumba, retrata este episódio no seu livro, Moçambique – memória da revolução nos seguintes termos: Na noite de sexta-feira, 25 de Setembro de 1964 estava eu deitado na cama a pensar se conseguia dormir qualquer coisa pois havia muito barulho por causa de um casamento que estava a ter lugar não muito longe da minha casa (…) fui acordado por tiros a ser disparado. Diante do sucedido, este pensou que se tratava da tropa portuguesa que se juntara à festa como nos últimos tempos faziam e cometiam algumas indisciplinas fazendo disparos ao ar. Ao levantar-se, deparou-se com o guarda da missão absolutamente aterrorizado na sua varanda, os tiros eram disparados para o ar no lado da escola; questionado ao guarda sobre o que viu, este apenas comentou que cinco ou seis soldados, vindos da direcção da festa, tinham atravessado a cozinha e começaram a disparar. Posto isso, o padre convidou o guarda a entrar. Pela manhã, viu que o pau da bandeira havia sido derrubado, achando ele que se tratava de uma acção da tropa colonial, escreveu uma carta ao chefe do posto de Metangula queixando-se da acção por si vivida. Dos tiroteios, alguns projécteis, atingiram a camionete da marca Peugeot pertencente a missão. Ainda não tinha ouvido dizer que a FRELIMO começara com operações militares, pois ele previa que estes fossem a iniciar apenas junto a fronteira em Cóbuè ou outra região próxima a fronteira, e não em Messumba, por esta região ficar pelo menos a 80 milhas da fronteira com a Tanzânia. Esta acção que envolve Mateus Malipa, foi também confirmada pela Missionária Susan Andrew que no dia 26 de Setembro de 1964, chegou a Missão de Messumba vindo de Ngoo. Após o Padre Paul contar-lhe o sucedido na noite anterior, ela respondeu nos seguintes termos: “tem graça (…) em Chia cruzei-me repentinamente com cinco ou seis soldados. Um deles era Mateus Malipa”. Dai que o Padre Paul confirmou a sua suspeita de que Malipa teria se juntado a FRELIMO. Estas acçoes militares constituíram as primeiras incursões dos guerrilheiros da FRELIMO no Niassa, de acordo com o que teria sido planificado e orientado aos guerrilheiros que para esta região foram orientados a se dirigir e dar inicio a luta armada. A sequência de incidentes ocorridos no distrito no período de 25 de Setembro de 1964 a 31 de Dezembro de 1964 teve lugar em Nantuego, Nungo, Metangula, Messumba, Ngôo, Maniamba, Vila Cabral, Mecanhelas, Nova Coimbra, Lichinga, Matamanda e Olivença (actual Lubiliche) na fronteira com a Tanzânia. A região de Metangula é descrita no Relatório da Inspecção Ordinária a Circunscrição do Lago pelo Inspector Administrativo Mário de Albuquerque e Castro Freira como a das “mais infectadas de elementos subversivos que ali nas cercanias, se acoitam em bastantes bases. As primeiras acções militares da FRELIMO foram nesta primeira fase, categorizadas, pelo estado colonial, como actos de terrorismo pois visavam o assassinato das lideranças administrativas
portuguesas, destruição das estruturas.Pela impossibilidade de digitalização do Mapa (Escala 1/1000.000) no AHD, não se apresenta em anexo, o referido Mapa – PT/AHD/3/UM-GM/GNP-RNP/S133 Cx nº5 Relatório sobre ocorrências no distrito do Niassa no período de 25/09 a 31/12 de 1965, Folha 36. Administrativas, ataque aos colonatos, emboscadas a soldados portugueses, ataques sobre populações que apoiavam aos portugueses, entre outros. Em termos práticos, tratou-se de uma guerra de guerrilha, é “um tipo de guerra não convencional na maior parte das vezes rural no qual, o principal estratagema é a ocultação e extrema mobilidade dos combatentes, chamados de guerrilheiros”. A mesma acção também é considerada por um tipo de guerra de resistência onde os insurgentes se opõem a uma força de ocupação” o que no caso se observava em Moçambique com a presença colonial portuguesa. De forma geral, as guerras de guerrilhas, quase em sua totalidade, e se observarmos os factos que tiveram lugar em África, na sua maioria buscaram a independência de determinada região ou grupos, utilizando quase sempre armamentos leve e de fácil deslocamento. A guerra levada a cabo pela FRELIMO, numa primeira fase, envolveu um reduzido número de guerrilheiros, com escassez de armamento (grande parte era equipamento usado pelos guerrilheiros argelinos durante a sua luta de libertação e que foi cedido a FRELIMO), o número de ataques era bastante reduzido e temporalmente bastante intercalado. Os principais objectivos da FRELIMO, eram muito limitados. A sua preocupação centrava-se na unidade das várias correntes que constituíam o movimento, no sentido de as disputas não colocarem em causa a sua própria sobrevivência. O conflito envolvia os quadros urbanizados e cultos que entendiam Moçambique como um todo (sem valorização da sua pertença e qualquer grupo étnico) e os muitos militares e dirigentes que provinham de estruturas mais tradicionais tendiam a valorizar as reivindicações dos povos de onde provinham, sendo de destacar a disputa de poder entre Lazaro Kavandame e Eduardo Mondlane. 

Lázaro Kavandame

Estrategicamente, a FRELIMO não se engajava na guerra pela conquista dos centros urbanos, prevalecendo durante toda a luta como uma guerrilha rural”. Esta posição devia-se ao facto de o movimento não possuir qualquer treinamento para a guerrilha urbana, não possuir condições materiais e humanas para combater as Forças Armadas Portuguesas e pelo facto da sua doutrina excluir o ataque a alvos civis. A nível da província do Niassa, a FRELIMO pautou por uma guerra de guerrilha a alvos militares, instalações e casas da administração colonial. Para materializar as suas acções, procurou tirar proveito da floresta densa que existe em diferentes locais da província, como algumas montanhas ou pontos elevados, onde estabeleceu as suas principais bases militares. No decurso da guerra, alguns guerrilheiros da FRELIMO encontravam nas comunidades do Niassa, concretamente na região da circunscrição do Lago, onde se desenvolveram os primeiros confrontos, indivíduos que eram aparentemente uma barreira para as suas acções por estarem ligadas a autoridade colonial ou supostamente serem informantes, fazendo denúncias das suas movimentações. Daí que estes, foram alvos de repreensão e tortura tal como aconteceu com o Professor Basílio Farahane da Missão de Messumba, que “foi atacado a tiros por soldados da FRELIMO” tendo sido alvejado com um tiro. Foi suspeito de ter sido ele que informou as autoridades sobre o grupo de Malipa em Ngoo enquanto na realidade tinham sido os sipaios. Analisados os trechos acima, entende-se que a autoridade política da FRELIMO no Niassa forma-se de forma contínua e com a o início da luta armada, esta obedeceu a novos contornos, caracterizados pela sua solidificação no seio das comunidades e, acima de tudo, apresentar-se abertamente com o discurso de libertação e unidade nacional. Com a guerra, a autoridade colonial passou a ter conhecimento de que de facto, a FRELIMO era o movimento que lutava para a independência de Moçambique. O discurso dos guerrilheiros no decorrer da guerra foi assinalado pela tendência de incutir nas comunidades, ideias e acções revolucionarias contra a autoridade colonial e com elas, o movimento foi conquistando espaços não ocupados no intervir, obtendo mais informações sobre as acções e planos do exercito e algumas acções do sistema colonial português em Moçambique, o que permitiu ao movimento fazer denuncias internacionais e com elas obter mais apoios para continuar com a guerrilha. Foi com base em discursos mobilizadores que a FRELIMO conquistou massas. Era um angoni, Professor superior e disciplinador estrito. Não era popular, razão para que não gostassem dele. Os portugueses tinham no olhado como um cidadão português. nas comunidades e engrossou as suas fileiras e foi se firmando inicialmente nas comunidades e paulatinamente chegou a Vila Cabral.  


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