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- PUNDANHAR- A MÁQUINA DE SULFATAR
(Pesadelo vivido em insónias depois da Guerra)
Corria o mês de Setembro de 73. O sol
flagelava-nos o rosto, uma atmosfera quente e húmida dificultava-nos a
respiração e a marcha. Deslocava-me em patrulha com o meu Grupo de Combate, o
Grupo Especial 214, integrado por soldados nativos. Estávamos a cerca de 15 Km
a norte de Pundanhar em Cabo Delgado no norte de Moçambique. Ao fundo a
paisagem Tanzaniana exuberante e assustadora para além do largo rio Rovuma. Era
um corredor de infiltração de guerrilheiros da FRELIMO, vindos de campos de
treino na Tanzânia. Foi também esta zona palco de escaramuças entre soldados
portugueses e alemães durante a 1ª Grande Guerra. É uma terra que conhece a
guerra, que tem marcas de guerra.
- Crianças de Pundanhar 1974
A nossa atenção virava-se para todos os lados. Qualquer sinal, qualquer ruido suspeito eriçava-me os pelos, aumentava-nos a ansiedade, o medo. Teríamos sido detectados pelos Frelos? Puxo por um cigarro, o único antídoto contra a espera e o enervamento
De súbito salta-me à vista, colocado no cimo de uma árvore de grande porte, daquelas que ladeiam o rio, um cortiço (de cortiça mesmo),fechado de ambas as bandas e atado com sisal à mais alta braça da árvore. Instintivamente apontei-lhe a Valter. Medi a balística e desisti do tiro. Acto contínuo saco a G3 ao Chitapata o maconde, que estava a meu lado e "rajadeio " o insólito objecto. Ainda a rajada não ia a meio e já aquela merda explodia para todos os lados... e eram granadas... e bazucas e morteiros pelos ares. Quando dei por mim todos os homens estavam alapados ao chão: -Xiiiii………… Siliva você vai matar a gente….
Quando o ruído por fim terminou fui atingido na mona por uma máquina de sulfatar deformada, fumada e perfurada...uma obra de arte em latão que ainda hoje guardo como recordação daquele episódio, daqueles tempos, daquelas gentes, dos meus soldados macuas e macondes.
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