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Livros da guerra colonial

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segunda-feira, 17 de maio de 2021

MASSACRE DE INHAMINGA - RELATADO PELOS PADRES HOLANDESES DA MISSÃO DE INHAMINGA EM 4 DE MAIO DE 1974.

 Tradução do Holandês

MEMORANDO

Acerca dos actos de terror e dos massacres cometidos pelos Portugueses em e em redor de Inhaminga - Moçambique  no período de Agosto de 1973- Março de 1974.

I: Observações preliminares:

1. Os abaixo assinados deste Memorando:
José (A.P.J) Martens, Sacerdote
António (A.) Vardaasdonk (X) Sacerdote
João Mateus (J.M.) van Rijen (XX), Sacerdote 
André (A.K) van Kampen, irmão auxiliar
João Tielemans, irmão auxiliar da Congregação dos Sagrados Corações (PICPUS)  de origem holandesa a trabalhar durante o citado período naquela Missão de Inhaminga.
X desde 2-2-1972 
XX até 2-2-1974
declaram que os acontecimentos estão anotados conforme a verdade.
2.  Afim de não pôr em risco a vida dos Africanos citados neste Memorando, os seus nomes foram substituídos por outros, estes nomes estão sublinhados neste Memorando. Os nomes autênticos estão escritos e conservado sem arquivo confidencial da Congregação dos Sagrados Corações em Bvel (Holanda).
3. O seguinte Memorando é extraído de um diário acerca dos principais acontecimentos que tiveram lugar no período Agosto de 1973 a Março de 1974 em e em redor de Inhaminga, diário no qual tinha sido anotado tudo à medida que os acontecimentos se desenrolavam.
4. Este Memorando descreve os acontecimentos resumidamente e tem atenção principalmente as prisões, as torturas e os massacres.
5. Podemos determinar com bastante exactidão o lugar perto de Inhamingaonde se encontram as valas comuns em que foram enterrados os mortos em massa
6. Declaramos expressamente que existe o lugar de Inhaminga. Isto para o caso de, depois de publicarmos os massacres, o nome de Inhaminga - como o de Wiriamu em 1973 - vir a ser negado.
7. Estamos dispostos a testemunhar diante de todos e de cada um em particular, porque deste modo somos ainda capazes de servir o nosso povo como missionários, pela limitação drástica da liberdade de movimentos, o nosso trabalho em Inhaminga tornou-se inteiramente impossível.
8. Nós, missionários, esperamos que estes acontecimentos, descritos e anotados segundo a verdade, sejam publicados com a maior amplitude possível para que, pela sua publicação e pelos protestos que suscitam, possam evitar-se futuros massacres e práticas desumanas em Moçambique.
9. Não sentimos necessidade de provocar sensação. Simplesmente achamo-nos na obrigação de consciência de falar, tanto mais que é claro terem as autoridades eclesiásticas de Moçambique omitido até hoje a denúncia pública destas e doutras injustiças para com o africano.
10. Finalmente esperamos que, por falarmos, isso não acarrete, em maior número, perseguições e mortes a Africanos 

II: Acontecimentos e declarações:
Fim de Julho de 1973: recebemos a primeira notícia dum ataque da FRELIMO ao exército português  a uma distância  de 46 Kms de Inhaminga, junto ao cruzamento Mazemba -- Goronga e dum desvio para uma escola do mato de Nhansol, em que houve dois feridos entre os do  exército português.
Consequências: O exército começa a fazer pressão sobre a população. Há rusgas nascasas,interrogatórios, o chefe da povoação é mal tratado, suspenso pelos pés de uma árvore durante o interrogatório, em seguida é transportado pela DGS para a Beira. A fuga dos africanos, principalmente dos mais jovens, num só dia 14 rappazes de Nhansol foge para o mato para a FRELIMO devidoao que aconteceu.
16 de Agosto de 1973:A  FRELIMO em Massandze, ataca dois camiões do  exército com soldados portugueses, há três feridos da parte do exército português.
Consequências:Uma mulher e uma criança que, por acaso, voltavam da moagem e fugiam ao ver os soldados, são mortas a tiro. Os cadáveres são levados e enterrados no terreno do quartel de Inhaminga.
Além disso 6 homens, entre os quais o professor da escola da Missão, Carlito Chapa são presos e levados para um interrogatório.
17 de Agosto de 1973:Uma viatura com agentes da DGS é atacada a tiro pela FRELIMO a 80 Kms a sul de Inhaminga.
Consequências:Depois da chegada dos respectivos agentes da DGS os 6 presos do  dia anterior (16-8) são interrogados de novo. Cinco  deles são postos em liberdade depois de terem sido maltratados.  O sexto, o professor, com um braço deslocado é transportado para a Beira onde ficou durante mês e meio, tendo sido interrogado acerca de Massandze, Lundo e Inhaminga
28 de Agosto de 1973:João Tielemns é chamado ao edifício da DGS na Beira. Interrogtório acerca da FRELIMO, acerca das suas actividades de lavoura entre a população africana. Aceca do encerramento da Missão de Lundo, fim de Março de 1973. Acerca da posse de documentos a respeito dos massacres de Wiriamu. Não passa dum interrogatório.
Setembro-Novembro de 1973Tudo fica tranquilo na região com excepção de alguns pequenos incidentes. Chegam-nos cada vez mais notícias do mato acerca da formação de elementos para o movimento de libertação e acerca da mentalização do povo para a FRELIMO. Os portuguêses encontram oposição quanto ao levantamento dos chamados aldeamentos.
12 de Dezembrode 1973:O  pessoal africano, 18 pessoas no seu conjunto, da bomba de água da TZR (Trans  Zambezian Raillwais), junto  do rio Mazamba, das bombas da Nhamatope e de Muanza, transferido para Inhaminga nos fins de Novembro, é transportado para a Beira sem a mínima explicação. Nasceum grande medo entre o outro pessoal da TZR, Ainda mais pessoal é transportado para a Beira posteriormente.
29 de Dezembrode 1973:É entregue um bilhete no quartel de Inhaminga com a acusação de que as pessoas de Thombo esconderam comida e deram alimento aos guerrilheiros da FRELIMO.
Consequências:De africanos Chano Bengala e Luís Diniz são presos, também outros familiares são interrogados e durante três meses presos e torturados.
31 de Dezembrode 1973:A FRELIMOfaz explodiras bombas acima referidas em 12-12-1973, um comboio faz rebentar uma carga de explivos perto de Inharuca, um outro comboio é atacado. Nasce um grande pânico entre os brancos.
O comboio da TZR dinamitado em Inharuca

3 de Janeiro de 1974:A FRELIMO ataca a bomba de água da Administração de Inhaminga.
Consequências:O exército prende várias pessoas dos arredores, como Rocha Nhamnoca, Nham Vaz, José Cheka, ete... para interrogatórios.  São torturados pela DG. Entretanto a DGS estabeleceu-se definitivamente em Inhaminga. Os seguintes agentes da DGS são-nos conhecidos por estes nomes: pepe, Afonso, Libertino, Carneiro.
5 de Janeiro de 1974:O Superior da Missão Padre José Martens, é chamado pela DGS. Antes djo interrogatório consegue falar com o chefe de Massandza que está preso. Este declara que está a sfrer horrivelmente. O Padre José ouve também os gritos de terror de mulherres que estão a ser torturadas nas trazeirasda esquadra da polícia. Quando o chefe da polícia, o sr. Gorgulho, se apercebe da presença do Missionário, manda alguém com ordem de interromper o interrogatório.
13 de Janeiro de 1974:Na medida em que as actividades da FRELIMO vão aumentar, são presos e interrogados cada vez mais africanos. Deste os africanos encontram sempre  maiores dificuldades.
O processo do interrogatório torna-se cada vez mais refinado pelo uso de um aparelho com o qual se dão choques eléctricos às vítimas nos sítios mais sensíveis do corpo: ouvidos, cabeça, seios, etc... pelos espancamentos com cintos, paus, matracas de borracha, até as pessoas caírem feridas e sem sentidos, por pisaduras das mãos e dos pés de presos tombados pelo espancamento e também por pontapés em outras partes do corpo.
21 de Janeiro de 1974:Várias crianças.entre outras Tembo Lole, de oitoanos e meio, são presas e interrogadas por agentes da DGS a fim de chegarem a saber se os pais dão alimentação ao guerrilheiros e se os guerrilheiros já estiveram enm suas casas.
O método é extorquir afirmações que contenham acusação por meio de choques eléctricos é aplicado também a estas crianças.
Um rapaz de cerca de 14 anos disse, depois de ter sofrido um tal tratamento: "Doravante já não tenho medo dos Brancos"
23 de Janeiro de 1974:A FRELIMO ataca o quartel de Inhaminga. O exército não consegue apanhar nenhum dos assaltantes.
Consequências:Quando, de madrugada, às 5h30, passam dois africanos pelo quartel a caminho do trabalho, são mortos a tiiro, à queima-roupa. São eles Cravo, ajudante de pedreiro que trabalha por conta do fiscal da madeira da Vila e Catemo, pintor da TZR.
Os cadáveres dos dois africanos abatidos ficam expostos durante muito tempo  a fim de convencer a população branca de que o exército se esforça e para servir de aviso aos africanos.
Gera-se um estado de pânico entre os brancos, que querem virar-se contra a missão e, pretendem destruir a bomba de água da missão, isto pôde ser evitado com o argumento de que muitas famílias de Inhaminga ficariam privados de água potável. O Governador da Beira, imediatamente depois do ataque ao quartel de Inhaminga pela FRELIMO, chegou à Vila e o povo branco pede-lhe que tome medidas contra os missionários. A população branca apresenta as seguintes acusações: a Missão é um ponto de apoio para os guerrilheiros, estes escondem-se lá, lá se encontram depósitos de armas e munições,um guerrilheiro ferido é lá tratado.Segue-se uma busca à casa. Depois de revistados minuciosamente todos os edifícios durante três horas, nada se encontra que possa comprometter os missionários. Na casinha da viúva Memba Chale, que se encontra no terreno da Missão, acham-se peças da farda de seu filho Adolfo Renco, que há pouco acabou a tropa. Levam-no e sujeitam-no a longos interrogatórios. É posto em liberdade a 25 de Janeiro de 1974
Ruínas do quartel de Inhaminga

26 de Janeiro de 1974:O Padre José Martens é chamado pelo Administrador de Inhaminga que o notifica de que os missionários já não podem sair da parte urbanizada da Vila. Praticamenteisto significa prisão domiciliária.
28 de Janeiro de 1974:Nhamataka Miti, de dez anos de idade, que esteve preso durante cinco dias por ter sido encontrado a conversar com dois outros rapazes numa loja, foi posto el liberdade. Vem à Missão para pedir tratamento de um dedo cuja unha foi arrancada, e de outras feridas que lhe infligiram.
6 de Fevereiro de 1974:O padre José Martens teve, na Beira, uma conversa com o Administrador Apostólico da Diocese, D. Francisco Nunes Teixeira, a que relata novamente tudo o que se passa na Missão de Inhaminga. Depois o Padre dirige-se, juntamente com o Vigário Geralda Diocese, Padre José de Sousa, ao Governador do Distrito a fim de protestar contra os maus tratos infligidos à população africana pelos brancos e pela DGS.
Tudo sem o mínimo resultado.
7 de Fevereiro de 1974:Uma patrulha do exército vê, junto das lojas de Condue, fugir  alguns homens que são tidos por guerrilheiros. Ao persegui-los os soldados vêm um homem, guarda de um armazém de madeiras perto da estação, sentado diante da palhota, Zeca Thombo, juntamente com a mulher Farenca Thombo, sua cunhada Flora Thembo e os filhos Carlos, Rita, Rufa e Chana,
O homem apanha um tiro no braço, a mulher é morta, cunhada foge com um tiro na perna.
Os soldados levam o homem ferido e a mulher morta para dentro da palhota que incendeia. Quando o homem tenta escapar através duma tábua arrancada é descoberto de novo pelos soldados eestes disparam-lhe um tiro no lado  direio do peito e espancaram-no até o deixarem meio morto. Não lhe dão o golpe de misericórdia porque pensam que já está morto.
Os soldados retiram-se, mas algumas pessoas dos arredores salvam o homem que é transportado para o hospital de Inhaminga.
9 de Fevereiro de 1974:O director da fábrica de cimento de Nova Maceira, engenheiro Gois, durante uma visita à pedreira da Muanza, vê lá os cadáveres de 12 africanos mortos por soldados brancos e que estão expostos para meter medo aos nativos. O  engenheiro Góis fica também a saber que no mato, atrás da pedreira, um número terrivelmente elevado de pessoas teria sido assassinado pelo exército e pela guarda civil(OPV). Fala-se em mais de 3000 mortos. O engenheiro Góis faz ver ao senhor Jacinto, responsável português pela pedreira, que isto assim não pode continuar.
10 de Fevereiro de 1974:O senhor Jacinto e a sua mulher são mortalmente alvejados ppelos guerrilheiros quando regressam a casa numa viatura. Dois militares, que vão atrás na mesma viatura, ficam feridos.
12 de Fevereiro de 1974:O chefe de Souce, Chico Romão, é preso juntamente com alguns outros homens e interrogado com as costumadas torturas porque se acha suspeito que até agora nada de especial tenha acontecido na sua aldeia.
Durante o interrogatório o chefe perde os sentidos. Exigem dele que mande o seu povo para os aldeamentos.
Luís Nhaquita, um africano que tinha uma progressiva lavoura também na sua casa e os seus campos no espaço de sete dias.
13 de Fevereiro de 1974:Três operários da serração de José Mendonça Teixeira  são alvejados a caminho de casa por soldados que estão dentro de um comboio. Um fica ferido na cabeça e um outro no braço.
14 de Fevereiro de 1974:Catarino Bramo, a mulher de Rengo Charengi, que reside  junto ao campo de aviação , é violada por dois soldados quando se encontra sozinha em casa.
16 de Fevereiro de 1974:Dois camiões carregados de homens, mulheres e crianças de Matondo e Cherimadzi são levados para o quartel de Inhaminga. Todos são interrogados. As mulheres podem regressar a casa, a pé, no  dia 17 de Fevereiro, os homens têm que ficar.
17 de Fevereiro de 1974:Todas as casas e palhotas em Tutu são incendiadas pelo exército. As pessoas fogem sem poder salvar nada dos seus haveres.
18 de Fevereiro de 1974:Sabemos na Administração que os chefes de Nhaminga, Chiquire, Nhansol, Muanandimai, Goinha, Nhatadze e de toda a zona de Goronga desapareceram. Supõe-se que fugiram para a FRELIMO com toda a sua gente. Trata-se mais de 12.000 pessoas que se internaram no mato.
A DGS de Inhaminga quer desfazer-se de uma parte dos presos que se amontoaram na prisão do exército e na da DGS durante as últimas semanas. 
Segundo uma estimativa, 35 africanos, entre os quais os presos do dia 16 de Fevereiro de Matondo e Cherimadzi, são metidos num camião e transportados para um sítio no mato à beira do caminho que passa por detrás do hospital de Inhaminga na direcção de Thombo la Mphale e Massandze, enquanto um buldozzer procura um caminho na mesma direcção passando pelo campo de aviação. Naquele sítio é aberto uma grande vala pelo buldozer e dentro dele são fuzilados e soterrados os homens. O transporte, a deslocação do buldozer e o fuzilamento são executados dos pelos soldados do exército..
Soldado do Batalhão de Artilharia 6221 em Inhaminga

20 de Fevereiro de 1974:De novo são transportados uns 30 homens num camião na direcção de Massandze  e Thombo la Mphale,, a fim de lá serem mortos também.Tudo se passa como da primeira vez, Entre eles se encontram homens e rapazes oriundos de Inhaminga, Muanza, Massandze, Mbawa, Codze, Nhamabere, etec...
22 de Fevereiro de 1974:Às 14 horas habitantes brancos, novamente, tal como em 21 de Fevereiro, dirigem-se para o edifício da Administração de Inhaminga para manifestar-se contra a Missão. À apresentação de uma petição segue-se uma reunião que se prolonga até à 21 Horas. O governador do Distrito afirma não ter motivos que incriminem o pessoal da Missão, dados os resultados negativos da busca à Missão e dos muitos interrogatórios.
23 de Fevereiro de 1974:Outra vez sai um camião, transportando pelo menos 48 pessoas, para o mesmo sítio no mato, através do hospital, entre os caminhos para Massandze e Thombole Mphale. Os presos são fuzilados. Uma companhia de Comandos vem reforçar a força do exército e põe as suas tendas junto da estação dos caminhos de ferro de Inhamatinga, 27 Kms ao norte de  Inhaminga, apartir de onde começa as suas operações entre a população africana.
Deste modo a força total do exército cresce até aos 1.500 homens, entre forças do exército normal (400) homens, paraquedistas (240 homens) Comandos (120 homens), guarda civil (80 homens) e as milícias (650 homens), tudo isto pelo bemm de 1.1100 brancos e controle de 45.000 africanos.
Este era o símbolo da Companhia de Comandos que actuou em Inhaminga

2 de Março de 1974:Através dum intermediário que trabalha na Administração conseguimos saber , com muita dificuldade, os nomes de algumas pessoas que foram mortas no fuzilamento que continuam a repetir-se ainda no mato.
Contra eles se encontram: o nosso professor de Dimba, Lwanga Manuel Chombe. Mais: Luís Vontade e dois filhos, José Chidanga, filho do régulo morto antes dele. Jone Sampaio, o régulo Santove, Manuel Penge, Jorge Maio, Chale Nkalamu, Nicolau Alfâdega, José Candeado, Sande Nensse. Alémm destes homens que antes disso tinham sido transportados do Dondo e de Mafambisse para Inhaminga.
7 de Março de 1974:De manhã cedo o povo branco dirige-se ao quartel dos paraquedistas para vir admirar cinco guerrilheiros mortos e dois presos e as suas armas numa euforia vitoriosa.
Às 11h30 os civis oferecem um almoço aos vencedores e às suas autoridades.
O régulo Pangacha é tirado da prisão da DGS para identificar os mortos e os vivos. Não quer dizer os nomes apesar de ter aos pés, entre os mortos, dois dos seus filhos, Domingos Moisés Pangache e Moisés Pangache.
Também a sua filha já casada, Bastiana Moisés Pangache, que levava todos os dias alimentos a seu pai, foi trazida de casa para identificar os corpos. Ignorando que  o pai se recusara a fazê-lo, ela, que reconhece os seus dois irmãos, dá os seus nomes a conhecer.
A seguir também ela é presa e posteriormente fuzilada  juntamente com seu pai, os dois guerrilheiros sobreviventes e mais alguns outros presos. O régulo Pangacha,embora ferido mas ainda vivo, é soterrado na vala comum.
7 - 10 de Março de 1974:Operações militares são executadas na região onde estão situadas as aldeias do régulo Pangacha, isto é, Nhamatope, Massandze, Ntoto, Nhamabere, Nhaduwe, Mphepe. Forças de terra e do ar com helicópteros e bombardeiros, tomaram parte na operação.
É assaltado mas com pouco êxito, um acampamento de guerrilheiros, são incendiadas, sim, muitas palhotas. Grande parte do povo consegue fugir para o mato, outros são assassinados. Poucos são levados prisioneiros para Inhaminga.
Nos bombardeamentos usa-se napalm.
15 de Março de 1974:Mais uma vez sai um camião cheio de presos para o lugar já conhecido, para lá serem assassinados da mesma maneira.
16 de Março de 1974:O Superior da Missão, padre José Martens, regressa duma visita às outras Missões, de avião. Em Inhaminga discute a situação com o padre António Verdaasdonk e os irmãos André van Kampen e João Tielemans.
À tarde entra em contacto com as Irmãs africanas, naturais da Rodésia, que também trabalham na Missão de Inhaminga, para lhes pedir opinião. A seguir há uma reunião dos missionários e missionárias, na qual se chega à decisão de que todos se retirarão de Inhaminga.
As razões são as seguintes:
-- O africano que sofre e morre já não tem voz para falar, por isso as injustiças que se lhe infligem devem ser publicamente denunciadas por nós.
-- A Igreja católica nada faz e envolve-se no silencia, co excepção do Bispo de Nampula, José Manuel Vieira  Pinto, por isso a igreja tornou-se cúmplice do tratamento desumano do africano aqui e noutros lugares.
D. Manuel Vieira Pinto. Bispo de Nampula

-- Nós os missionários, não podemos falar aqui por falta de apoio das autoridades eclesiásticas, de maneira  que não há outra coisa a fazer senão levntar a voz fora das fronteiras de Moçambique.
-- Pela muito pouca liberdade de movimento e por outras motivações que nos foram impostas, pelo medo dos africanos de entrar em contacto connosco tornando-se assim suspeitos, a nossa presença aqui em Inhaminga perdeu todo o sentido.
-- Os africanos sabem agora que já não podemos dar-lhes protecção. Por isso também já não a procuram junto de nós e não querem causar-nos ainda mais dificuldades.
-- Também já não podemos fazer nenhum bem à população europeia , o quese manifestou claramente na sua hostilidade para connosco.
-- Afinal abusa-se da nossa presença como igreja e como sacerdotes de uma maneira descarada, apenas para manifestações militaristas e patrióticas, cujo aparato religioso serve para encobrir actividades e acontecimentos criminosos.
Decide-se a partida para Inhaminga.
Isto é comunicado ao Administrador Apostólico da Diocese,D. Francisco Nunes Teixeira e ao Vigário Geral Padre José António de Sousa que conforme um convite feito já anteriormente, vieram a Inhaminga por causa da situação precáriaria

Colonos

17 de Março de 1974:Às  17 horas o ser. Bispo, o Vigário Geral e o Superior da Missão, padre José Martens, visitam o sr. Administrador para lhe comunicar que a Missão de Inhaminga vai ser fechada.
São memoráveis dois pontos desta conversa:
-- O facto de o sr. Bispo não tomar uma atitude clara durante a conversa torcendo a história de modo a dar a impressão de que os missionários saem contra a vontade do Bispo, embora este no dia anterior tivesse concordado inteiramente com a decisão dos missionários.
-- A ideia fixa do sr. Administrador: a atitude neutra da Missão e do Superior, pela qual os missionários não tinham escolhido o partido dos europeus, nem tinham querido colaborar na fundação dos aldeamentos. À qual o Vigário Geral respondeu: O Superior é amigo de todos com pele nrgro,inimigos aos olhos do sr. Administrador, por isso é que lhe chamam neutro.
19 de Março de 1974:Mandámos vir da Beira avionetas para pôr em segurança as Irmãs e alguns africanos da Missão.
Nós próprios partimos da última avioneta.
Antes de partirmos aparecem na Missão o chefe da Polícia, o sr. Gorgulho, o comandante das Milícias, o sr. Teixeira, dois informadores da DGS, os srs. Faria e Costa e Silva, e um pequeno grupo de Cipaios e Milícias, que provavelmente nos querem "proteger".
A presença de tantos "poderes" mete medo aos africanos que se retiram sem se poderem despedir de nós.
Enquanto esperamos pela avioneta passam ainda três camiões cheios de homens e rapazes , a caminho da prisão da DGS, distanciada uns 700 metros da pista.
Pilares da antiga sede da PIDE/DGS

Fim de Março -- Abril de 1974: Durante a nossa estadia na Missão do Dondo, aguardando a partida para a Holanda, ainda ouvimos que:
--foram assassinadas as seguintes pessoas em Inhaminga:
os dois irmãos Jorge e Quéu António Sapateiro;
os dois irmãos Manuel e Lourenço Espanhol:
Francisco Sales;
Albino, o fiscal dos contadores da água da Administração e;
Vontade trabalhador dos caminhos de ferro.
-- No princípio da Semana Santa um grupo de paraquedistas perseguiu o povo que tinha fugido de Muanza  em direcção à serração de Chinapaminba e de Chinaazimw. Foram assassinados todos os homens e rapazes, as mulheres e crianças foram levados para Muanza.  O comandante zangou-se com os soldados, pois achava que também aqueles deviam ter sido mortas. As mulheres e crianças foram levada para o Dondo.
-- O Vigário Geral da Diocese da Beira, Padre José de Sousa, verifica durante a sua visita a Inhaminga em 19 a 22 de Abril, que nada mudado na horrorosa situação, continuava-se a matar e a prender.
A população que fugiu é avaliada em 35.000 pessoas, gente, portanto, que procura de todas as maneiras uma saída.
-- No mês de Abril uma das altas patentes militares de Nampula visita os túmulos já mencionados, verifica que sob a influência das chuvas, a terra que cobria os corpos tinha começado a subir.
--- Muitos militares exprimiram o seu horror perante as repugnantes condições dos camiões que voltam das execuções, sujos de urina e fezes.
Conscientes do que vai acontecer, os presos, na sua agonia, perdem todo o controle sobre as funções físicas.
O sr. Espanhol, motorista da Missão. Viu morrer assassinados dois irmãos.

Memorando foi composto conforme a verdade em BAVEL -- HOLANDA, no dia 4 de Maio de 1974

Assinam:
José (A.P. J. ) Martens
António (A.) Verdaasdonk
João Mateus (J.M.) van Rijen
André (W.J.) van Kempan
João (J.H.M.) Tielemans






































































































































3 comentários:

  1. É inadmissivel para quem lá esteve este tipo de publicação 50 anos depois e ainda por cima vinda do padre martens cheia de mentiras e imprecisões!!!

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  2. É inadmissivel para quem lá esteve este tipo de publicação 50 anos depois e ainda por cima vinda do padre martens cheia de mentiras e imprecisões!!!

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    1. Se é mentira, por favor, reponha a VERDADE. Pode contactar-me para 932369244

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