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Livros da guerra colonial

Miandica terra do outro mundo


segunda-feira, 18 de novembro de 2024

FUZILEIROS ESPECIAIS NO NORTE DE MOÇAMBIQUE

 

O Destacamento de Fuzileiros Especais 8 (DFE 8), comandado pelo primeiro-tenente João Pereira Bastos, chegou a Lourenço Marques, a bordo do navio "Império" , em 26 de  Dezembro de 1966, um sábado. Nos 32 meses que seguiram, combateu, alternadamente, nos Distritos do Niassa e de Cabo Delgado - zonas onde a guerra, iniciada dois anos ante, iam mais brava. Manteve-se operacional até 31 de Outubro de 1968; embarcou para a Metrópole em 26 de Novembro - e desembarcou em Lisboa no dia 16 de Dezembro de 1968, uma quarta-feira.

Em tronco nu, o Primeiro-Tenente Pereira Bastos, comandante do Fuzileiros Especiais  8

O DFE 8fez história em Moçambique. Os habituais relatórios das operações não se limitavam ao relato seco e à descrição dos acontecimentos. Iam muito mais longe. O comandante primeiro-tenente Pereira Bastos, militar de apurado sentido crítico, recolhia ensinamentos  de cada experiência de combate- e nos relatórios, além da simples narração, fazia recomendações que foram aproveitadas na instrução e nos cursos de fuzileiros especiais. As operações executadas pelo 
DFE 8 serviram como exemplos para futuras acções em campanha.
Pereira Bastos não deixava nada ao acaso. Definiu quatro princípios que deviam
ser seguidos pela unidade.
Primeiro: Segurança
Segundo: decisão
Terceira: não subestimar o inimigo
Quarto: não bestializar a guerra
A importância que dava à segurança mereceu-lhe a alcunha posta pelos seus homens: ficou conhecido como o "Ponham-se a pau" - frase que não se cansava de repetir. No final da comissão, o primeiro- tenente - condecorado com a mais alta insígnia por feitos em combate, a Medalha de Ouro de Valor Militar com Palma, e duas cruzes de Guerra - deixou escrito, o que não era hábito naquele tempo, um autêntico "manual" de política operacional (ver texto "A bíblia do DFE 8 em combate)

OPERAÇÃO INICIAÇÃO 

A primeira acção do Destacamento de Fuzileiros Especiais 8 foi executada entre 4 e 6 de Janeiro de 1967, no Niassa. Participaram três grupos de combate sob  o comando do Primeiro-Tenente Pereira Bastos. Objectivo: Aniquilar ou aprisionar grupos inimigos que se revelem e destruir os seus meios de subsistência; capturar populações dispersas na área. Diz o relatório da Operação:

"O DFE 8 embarcou às 06h00 na LDM (Lancha de Desembarque Média) 408 que largou com destino à Ponta Lucefa onde se planeara fazer o desembarque. Porém, como a visibilidade era fraca devido  ao forte aguaceiro que começou a cair logo de madrugada, e como o patrão da lancha conhecia mal aquela praia, perigosa segundo o comandante da Esquadria de Lanchas, foi decidido desembarcar na praia de Meluluca, um pouco a Norte".


"O desembarque foi feito cavando três trilhos com o auxílio de ferramentas de sapa. Foi iniciada a progressão para o interior às 08h30.  Logo após o desembarque vimos umas pegadas frescas numa picada e num pântano, o que me levou a supor que a aproximação da lancha fora detectada. Ao fim de uma hora e meia de marcha resolvi fazer o primeiro auto, em regime de emboscada, para descanso e também prevendo a hipótese de também estarmos a ser seguidos. Realmente esta hipótese verificou-se depois.passados uns minutos, o 3º oficial o segundo-tenente Patrício Leitão), que seguia com o seu grupo de combate na rectaguarda da coluna avisou que eram avistados, a cerca de 200 metros, dois homens vestidos de caqui azul e armados e cujo rumo era paralelo ao nosso. Como iam muito longe, resolvi deixá-los passar e mudar de direcção pois não convinha alertar as vizinhanças. Retomando a marcha prosseguimos com o rumo a sul a fim de tentar encontrar a picada que parte do rio Lucefa para o interior"
"Cerca das 11h00 ouvimos vozes de mulheres. Encontrávamo-nos perto do rio Lucefa e o guia avisou-nos que ali havia muitas machambas. Resolve fazer um envolvimento à posição onse se ouviam as vozes e atravessei com o 1º Grupo de combate para a margem oposta ao rio;
em seguida, o 2º Grupo, comandado pelo imediato (segundo tenente Ferreira Serra) aproximou-se do rio e conseguiu estar a uns 20 metros de um grupo de mulheres e crianças. Quando tentaram agarrá-las, fugiram aproveitando a superioridade do terreno. Aí foram destruídas 15 palhotas. Foram ainda vistos ao longe dois homens de caqui azul. Resolvi então afastar o destacamento da posição para não alertar mais as vizinhanças, pois mais para o interior é que se deveriam encontrar posições mais importantes. É de salientar que este acampamento se estende ao longo do rio e deve ter cerca de 80 habitações, além de dispor de boas machambas. Prosseguimos para sueste e foi feito um estacionamento em regime de emboscada, entre as 14h00 e as 15h00, durante o qual nada houve a assinalar. 
Ao fim de pouco maia de uma hora de marcha foram avistadas mulheres e crianças que andavam perto de uma machamba. Ao verem-se descobertas tentaram fugir, sendo capturada uma mulher e um rapaz com 10 anos. Como se fazia tarde resolvi marcha na direcção de um monte elevado para fazer estacionamento nocturno. Entretanto, resolvi abandonar a mulher por considerar que, devido à sua idade só nos atrasava o andamento; o miúdo seguiu connosco. O estacionamento foi feito num monte,logo a seguir à passagem dum braço do rio Lucefa. Nessa noite foi impossível prosseguir devido ao mau tempo e à escuridão. Entretanto, o miúdo interrogado disse conhecer um acampamento.

Equipa do Destacamento de Fuzileiros Especiais 8 na região do Niassa

Às 04h30 do dia 5 pusemo-nos em marcha guiados pelo miúdo e pouco depois começámos a seguir uma picada muito bem vincada que conduzia ao interior, Às 07h15 estávamos já perto e resolvi fazer um estacionamento em regime de emboscada, a cerca de 20 metros da picada, para dar descanso ao pessoal antes da acção que se avizinhava (...) Devido à falta de sentinelas ou de quaisquer dispositivo de segurança à aproximação do estreito vale onde se encontrava o acampamento deduz-se que o inimigo não desconfiava de uma possível acção das nossas forças naquela área. Resolvi de seguida fazer o cerco e limpeza, mais propriamente que golpe de mão, ao acampamento. Este encontrava-se dividido em dois agrupamentos; um de 16 casas de aspecto normal e outra de 35 casas com um aspecto mais cuidado. Os acampamentos estavam separados por 200 metros. O miúdo disse que só conhecia o mais pequeno e que no outro nunca o tinham deixado ir e que só o vira de passagem (,,,)


Equipado Cabo João Torres. À frente de óculos o guia Orlando Cristina

"Após a destruição do acampamento resolvi retirar rapidamente em direcção ao alto de um morro sobranceiro. Quando o meio da coluna ia a retirar, um dos nossos homens observou que havia um grupo inimigo emboscado e que se preparava para nos flagelar; com grande calma e de pé o marinheiro Fernando Tardão e o cabo Horácio Pereira atiraram rapidamente sobre eles atingido um inimigo; logo em seguida fomos flagelados com grande volume de fogo de armas automáticas mas, devido à pronta resposta do nosso fogo, o inimigo pôs-se em debandada. Após esta acção, subimos ao morro e estabelecemos um auto para repouso em regime de emboscada. É de assinalar que deste ponto, o mais longe da costa durante este patrulhamento, se conseguiu comunicar pelo rádio com a lancha de apoio (...)
"Às 15h30 foi levantado o estacionamento e iniciámos o regresso à costa. Às 16h30 foi avistado um grupo de 4 homens e 4 mulheres em fuga, possivelmente por terem detectado a nossa aproximação. Um homem foi abatido e foi capturada uma mulher uma criança. Transportavam grandes quantidades de peixe seco, milho e mandioca que abandonaram no local. Logo de seguida e guiados pela mulher dirigismo-nos ao seu acampamento que foi revistado e destruído; tinha 12 palhotas em estado de recente construção. Retirámo-nos rapidamente do local e cerca das 18h45 foi estabelecido o alto nocturno; novamente o mau tempo e a escuridão impossibilitaram qualquer acção nocturna.
"Às 06h30 do dia 6 é iniciado o regresso à costa que se fez sem novidade. O reembarque foi feito na praia de Meluluca às 11h00. É de assinalar que a mulher que  por nós foi aprisionada evitou sempre durante o deslocamento de pisar as picadas que cruzámos e que, mesmo na praia, repreendeu o miúdo que a acompanhava porque ele ia a pôr os pés fora dos trilhos de reembarque para a lancha - o que leva a supor que talvez haja já algumas minas colocadas na região (...) 
"Ensinamentos; Verifica-se o estacionamento na zona de uma série de pontos de apoio para a passagem do inimigo vindo do Norte ou do interior. A falta de vigias e de quaisquer outros dispositivos de alarmeou segurança perto dos acampamentos leva a crer que não era de esperar uma acção das nossas forças. Pelo estado dos trilhos por nós seguidos verifica-se que deve haver grande trânsito na zona. O facto de o acampamento inimigo destruído estar ainda em construção e ser de grandes dimensões leva a crer que o local não é só de trânsito para o sul mas também propício ao estabelecimento de bases do inimigo.
"Verifica-se que  o equipamento e armamento, acrescentado de rações para três dias, se tornam demasiado pesados para efectuar acções de reacção a emboscadas ou do tipo golpe de mão. Por isso, sempre que se desenrolam acções deste tipo, tem que o pessoal largar todo o equipamento onde está e efectuar a acção só com a arma e dois carregadores nos bolsos do camuflado. Os equipamentos, entretanto,são guardados pela parte da força, que se encontra de reserva.
"É de salientar o espírito de sacrifício e consciência profissional do segundo-sargento enfermeiro Valdemar que, queixando-se de fortes dores de rins, por vezes urinando sangue, e em estado de saúde débil, sempre fez um visível esforço para não prejudicar o andamento da operação. Embora por vezes tenha sido necessário parar por sua causa e por outras tenha sido necessário o seu equipamento ser transportado por outros homens, sempre insistiu em prosseguir levantando o mínimo de problemas"
 





segunda-feira, 11 de novembro de 2024

ENFERMEIRAS - ANJOS NA GUERRA

 


A SOLIDÃO DE MUEDA

    "A guerra não é só a troca de tiros, as minas , os feridos ... Tudo é guerra. A violência, o isolamento, a monotonia alimentar, os ataques de dia e de noite à unidade em que estamos. Mas, sobretudo, o isolamento! Tive noção disto quando fui para Mueda" Rosa Serra faz parte do pequeno grupo de enfermeiras que viveu no aeródromo de Mueda, no Norte de Moçambique. A área de um quilómetro de comprimento e 500 metros de largura - "a terra da guerra", como lhe chamavam os militares - não tinha espaços para famílias nem para outros civis. Rosa Serra não tem dúvidas: "Muitos colegasminhas falava da Guiné como o pior sítio onde estiveram. Para mim, Mueda era bem pior".

MUEDA

Rosa Serra foi das enfermeiras que mais tempo passou em unidades paraquedistas. Ainda na recruta, acabou por ficar mais tempo em Tancos, enquanto recuperava de uma fractura. Depois de estar em Luanda, voltou a Tancos, onde deu um curso de primeiros socorros aos soldados paraquedistas e, ainda no Ribatejo, fez o curso de instrutores e monitores - que, das enfermeiras, só ela e Manuela Flores França fizeram - e ainda teve uma missão nos Açores. Chegou a Mueda, outra base aérea, em Fevereiro de 1973, para substituir a enfermeira Cristina Justino da Silva, que tinha sido atingida com um tiro na cabeça. "Não a fui substituir porque ela levou o tiro. Já estava assim programado porque ela ia sair da Força Aérea. Foi ferida na véspera de vir embora", esclarece  Rosa Serra,

"Foi o sítio pior onde estive. Nem na Guiné era assim!" desabafa a enfermeira. O tipo de conflito era o mesmo, mas na Guiné, como estavam cinco enfermeiras em Bissau, não tinham de estar todas no"ar" constantemente.  "Além disso, Bissau não era atacada; ouvíamos rebentamentos como se fosse em Almada e estivéssemos em Lisboa. Mas era uma cidade segura,onde erapossível ir tomar café, conviver comas famílias e os miúdos das famílias, com a população local, ir ao restaurante se não queríamos ir à messe,,, " explica Rosa.

Em Mueda, no norte de Moçambique, o cenário era totalmente diferente. "Nem as famílias podiam estar presentes! A base, que nem era uma base, era um aeródromo, era atacada - passávamos muitas noites dentro de abrigos", explica. Além do mais, estavam ali colocadas apenas três enfermeiras, uma das quais acabava por estar frequentemente em Nampula ou a voar para Lisboa, a acompanhar feridos..

A Enfermeira paraquedista Alferes Rosa Serra

Recorda Rosa Serra: "Nós estávamos num hospital da frente, os feridos vinham directamente para ali. Ao fim de 48 horas, dependendo do estado, passavam para Nampula e de Nampula para Lisboa". Em Mueda, as enfermeiras e os médicos não ficavam dentro do quartel, mas numa casa a 300 metros, onde havia um quarto oara as três enfermeiras. De acordo com as memórias de Rosa Serra, era tudo muito pequeno e, inicialmente, o abrigo ficava no quartel. "Depois aquilo começou a ser de tal maneira atacado - com bombas, bazucas, morteiros - que, em 73, fizeram-nos um abrigo mesmo à saída da casa. Se houvesse ataque, nós e os médicos tínhamos ordem de ir imediatamente para ali, " recorda.

Mueda, A enfermaria do BCAÇ 15. 

Mais do que nunca, Rosa precisava de manter uma certa normalidade para suportar aquela comissão. "Não podíamos fazer evacuações nocturnas. E eu era a única das enfermeiras que, mal terminavam as evacuações e chegava a casa, tirava o camuflado, tomava um banho e vestia-me de gente", revela Rosa. Vestir-se "de gente", à civil, era o equivalente a vestir uma mini saia. Consciente do sítio onde estava, Rosa abstinha-se de ir até ao quartel, mas passava os serões em casa, vestida da mesma forma que a encontrariam em Lisboa ou em Vila Nova de Famalicão. As duas colegas, Maria Ana e a Aurelina, preferiam manter o camuflado até à hora de tomar banho e dormir. "Nas fotografias vê-se: elas estavam de camuflado e eu estava sempre vestido à civil. Eu precisava de manter uma certa normalidade ... Não me  lembro de alguma vez jantar de camuflado, ", conta.

Com o agudizar do conflito, os ataques ao aeródromo militar de Mueda passaram a ser uma constante. "Por  vezes até íamos de camisa de noite para o abrigo. Em certas alturas, ainda dava tempo para enfiar umas calças de camuflado ... era para sair pela porta e entrar no abrigo! A gente metia-se até lá até a "fogachada" terminar, saíamos e íamos para a cama para no outro dia voar outra vez. Nunca emagreci tanto como quando estive em Mueda", assegura a enfermeira.

Foi exactamente a partir de 1973 que os ataques no Norte de Moçambique se tornaram mais intensos. A zona de Tete precisava de um grupo de enfermeiras paraquedistas para dar apoio aos militares que estavam naquela região "Mas na altura não havia enfermeiras quando me mandaram para lá", conta Rosa Serra. "A confirmação de que os militares morriam mais em Tete do que em Mueda foi-me dada por um médico, o Drº Alemão, que quando chegou a Mueda, vindo de lá, me dizia passado algum tempo: "Agora é que vejo a diferença ... Safa-se muito mais gente do que eu salvei em Tete, porque aqui eu consigo anestesiá-los, porque vêm em condições estáveis." Em Tete, chegavam de tal forma descompensados que não aguentavam a anestesia e morriam", recorda. Ainda hoje Rosa Serra garante que foi esta a época que mais feridos atingidos por minas socorreu.

Mueda,  Resultado do ataque da FRELIMO 20 de Janeiro de 1974.

Nestas circunstâncias, qualquer possibilidade de convívio com as famílias dos militares era bem-vinda, Rosa sempre manteve uma boa relação com as mulheres dos militares, o que nem sempre acontecia. "Havia mulheres ainda muito novas, mais inseguras, e recorda com um sorriso. Uma das mulheres com quem Rosa Serra se cruzou em Moçambique foi a escritora Lídia Jorge de        A Costa dos Murmúrio, cuja acção se desenrola em Moçambique durante a guerra, chegou mesmo a acolher Rosa num dia em que esta chegou à Beira e  não tinha lugar na messe. "Desta vez, saí de Mueda e entreguei doentes no hospital da retaguarda em Nampula. No dia seguinte, apanhei doentes que levei até à Beira para depois seguir para Lisboa com outros tantos. As viagens eram muito desgastantes e as piores eram as de Moçambique ... Cheguei à messe e não havia lugar para mim, estava tudo cheio. A Lídia Jorge esta por ali e ofereceu-se para me acolher em casa naquela noite", conta Rosa."Nunca tive problemas por ser mulher: nem ciúmes das mulheres, nem assédio dos homens, só uma ou outra declaração de amor, mas nada de relevante. Talvez pela naturalidade com que lidava com todos ... ou então não tinha interesse nenhum!", brinca.

 CONVIVER COM A MEMÓRIA

"As memórias que tenho não constituem fantasmas São coisas que nos ficam gravadas e que, por muito que que não as transformemos em obstáculos para a nossa vida, continuam a cá estar", assumiu Rosa Serra com simplicidade.

Mais que a violência das cenas que assistiu, são os sentimentos que lhe provocaram na época que deixaram marcas até hoje. "Na altura, o que me espantava é que muitos não ficavam revoltados!", revela a enfermeira, que dá como exemplo a história de um homem que trouxe da Guiné para Lisboa. "Era alentejano, já não me lembro de que cidade. Tinha perdido um dos membros e, salvo erra, apresentava um problema ocular. Se não estava cego, para lá  caminhava. E o optimismo dele era comovente: dizia que já tinha contado à família e que estava ansioso por chegar à terra, onde os pais lhe tinham conseguido um emprego na câmara municipal . Ele dizia: "Vou começar a minha vida toda de novo! Chego lá, e  vou-me empenhar em ser um bom funcionário". Quando Rosa lhe lembrou que também tinha sido um bom militar,  a resposta foi lacónica: "Ah...fiz o que pude!"

Em Mueda, foi um animal um pouco maior a deixara sua marca num militar português. "Fui fazer uma evacuação zero horas - que não podia esperar - a  uma zona de mato, logo às seis da manhã.. Como sempre, nem sabia o que ia buscar. Chego e vejo um rapaz jovem, que se aproximava a coxear.  Pensei que tivesse levado um tiro de raspão na perna. O rapaz entrou no helicóptero pelo pé dele e eu não vi nada. "Fui mordido por um leãozinho, disse-me ele" conta Rosa.

Quando os militares dormiam no mato, colocavam-se em círculo, ficando alguns alerta, de armas na mão, enquanto o resto do grupo descansava no interior do círculo. Quem precisasse de abandonar o local por algum motivo, deveria avisar os sentinelas no máximo silêncio. "Ele precisou de ir ao mato e avisou que ia abandonar  o círculo. Mal arriou as calças, o rabinho deve ter ficado branquinho,despertou a atenção de um leão bebé, e ele só sentiu uma nádega abocanhada!", continuou a enfermeira. No início,Rosa ainda pensou que o militar estivesse a gozar com ela. Até que lhe mostrou a nádega, onde eram visíveis as marcas de uma dentada: "E lá veio o evacuado zero horas! Foi das evacuações mais engraçadas".

 REGRESSO À VIDA CIVIL

Assistir à destruição de vidas tão jovens tornava a missão as enfermeiras altamente desgastante. Rosa garante que, hoje, algumas das suas antigas colegas confessavam que, por esse mototivo não teriam continuado como enfermeiras paraquedistas muito mais  

No seu caso, não foi esse o motivo que a conduziu de novo à vida civil, "Saí em Março de 1974. Nessa altura namorava um militar que estava a fazer uma comissão em Angola. Nunca estivemos juntos em zonas de guerra, conheci-o em Lisboa", explica. Depois de um namoro feito à distância ou em breves encontros, quando ela aterrava em Luanda e ele a ia ver ao aeroporto - "Fazíamos continência, eu não lhe dava um beijo porque  estava fardada, e estávamos um bocado a conversar" - tinham decidido casar em Fevereiro de 1974, Rosa, que já tinha estado em angola e na Guiné, e regressava de Moçambique, pediu para ficar em Angola até ao mês de Outubro, altura em que terminava a comissão do marido."Eu tencionava ficar n Força Aérea. Depois seguiria para onde me mandassem, independentemente de ficarmos ou não juntos", afirma. A autorização foi-me recusada e Rosa acabou por pedir demissão. Ainda teve de regressar a Moçambique, onde descobriu que iria ser promovida a tenente, mas recusou. Saiu a 1 de Março de 1974, com o mesmo posto que tinha entrado: alferes.

Mal os recém-casados chegaram a Luanda, o marido de Rosa foi enviado numa operação para o mato. "Nem lua de mel tivemos!", recorda. Poco depois, deu-se o 25 de Abril, mas Rosa optou por não pedir a reintegração nos quadros da Força Aérea. Ficou em Luanda, a trabalhar num clínica, até Outubro desse ano e regressou depois, já gravida, a Lisboa.

O projecto inicial era ficar em casa uns tempos, esperar que a bebé nascesse e crescesse um pouco. Mas, entretanto, surgiu o convite para trabalhar na clínica de  uma seguradora, onde Rosa Serra trabalharia nos 20 anos seguintes,

Rosa Serra e Celeste Costa, num festival aéreo no Lobito
                                       
Ao longo desse tempo, teve sempre como preocupação manter-se actualizada. Assim,  no ano em que se reformou, concluiu a licenciatura em Enfermagem. "Tinha 58 anos e era a mais velha do curso. Quando cheguei e comecei a fazer a ouvir a apresentação, pensei, pela primeira vez na vida: vou desistir, que não sou capaz!". A decisão foi sendo adiada e, por fim, terminou a licenciatura.  "Foi o que mais me custou na via!", desabafa. Licenciou-se em 2003 e passou à reforma em 2004.

Quanto ao seu passado militar, resume-o rapidamente:
"Não fomos grandes heroínas. Fomos mulheres normalíssimas, que apenas fizeram o seu trabalho num contexto diferente. Medos, com certeza que tivemos. Mas cada uma deu o que  melhor  que pôde e soube"










domingo, 3 de novembro de 2024

O 25 DE ABRIL VISTO DA FRENTE DE COMBATE EM SAGAL -- CABO DELGADO -- MOÇAMBIQUE

 Milicianos católicos, comunistas, interventores - agravamento e fim da guerra e do colonialismo

Maputo, ano de 2001, o autor com a Maconde guerrileira Geraldina Miu

Ser católico desde cedo e ser progressista deve-se a um conjunto de sacerdotes católicos, os Padres do Pombal, quatro padres que viviam em comunidade, construíram o Centro de Cultura Operária, onde se dava aulas a malta católica da JOC e se faziam colóquios de carácter progressista. Estes sacerdotes e membros da minha família bem como opositores ao Regime fascista, escreveram uma carta ao Governador da Ilha da Madeira a solicitar eleições livre. Antes de ler Marx li apaixonadamente, a Encíclica Paz na Terra do Papa João XXIII.
O Bispo Ferreira Gomes, expulso de Portugal por Salazar, o Bispo Resende da Beira, o homem que lutou pela libertação dos negros, o Bispo Vieira Pinto de Nampula, recambiado para Lisboa acompanhado da PIDE, o Bispo Eurico de Vila Cabral, um homem controverso mas que tinha relações com a FRELIMO, os padres de Macúti que denunciaram os crimes do colonialismo e tantos padres e leigos cristãos que lutaram pela
democracia em Portugal, pelo fim da guerra e pela cooperação entre os povos. Muito milicianos eram católicos progressistas, e eu próprio era e sou comunista e católico.
Quando cheguei a Nampula, em 23 de Março de 1974, tive um encontro político com o Carlos Humberto (depois do 25 de Abril, Carlos Humberto, foi eleito pela  em vário mandatos, pela CDU Presidente da Câmara Municipal do Barreiro) que me deu algumas orientações sobre o comportamento a ter na frente de combate e com a correspondência.
Estava eu, de sargento de dia à unidade de Sagal, onde se podia ler: "Bem vindos a SAGAL, Terra da Guerra, aqui trabalha-se, passa-se fome e morre-se". 
Quando ao fim da noite, o Duque, radio telegrafista, dá-me conhecimento do golpe em Lisboa e transmiti de imediato ao capitão Zé Pinheiro. A confusão era tremenda, não se sabia quem era quem no golpe, o medo era enorme!
Nas matas de Cabo Delgado a propaganda colonial deixava cartões no mato com os seguintes dizeres: "Você que que lê este cartão e que anda com armas na mão, por conta dos chefes comunistas e desses chefes tem de pensar bem. Pense que qualquer dia pode ter este carão junto ao seu corpo morto e então já não tem remédio. Nós gostávamos que você abandonase a FRELIMO e viesse ter connosco para viver uma vida decente e uma vida a defender os justos e verdadeiros interesses de Moçambique".
Já depois do 1ºde Maio recebo abundante informação com revistas e jornais vindos de Lisboa.
Segundo o jornal República o programa do movimento tinha os seguintes pontos essenciais:
1 - Extinção imediata da DGS, Legião ANP;
2 - Amnistia imediata para os  presos políticos
3 - Abolição da Censura e Exame Prévio
4 - Reorganização e saneamento e saneamento das Forças Armadas
5 - Combate eficaz contra a corrupção
6 - Permitida a formação de associações políticas
7 - Luta contra a inflação e alta do custo de vida.
Nada dizia sobre a descolonização e fim dos combates. A FRELIMO atacava mais forte. A guerra prosseguia e tivemos 5 mortos e 17 feridos até 1 de Agosto de 1974. A PIDE/DGS continuava nas colónias.
Dentro dos quarteis jovens Oficiais e  Sargentos, mais esclarecidos, formavam grupos de oposição à continuação da guerra e recusavam funções ofensivas ficando só na defensiva nas suas Unidades.
A alegria contagiante da população em Portugal contrariava o nosso medo de morrer ingloriamente.
Em Portugal um partido político irresponsável fazia manifestações com um slogan, "Nem mais um soldado para as colónias". Mas havia companhias com 30 meses de combate e que ninguém as substituía.

 Fur. Dirio Ramos em 1974 junto ao guerrilheiro da FRELIMO Ismael Mangueira

Em Cabo Delgado em 50 Companhias, 48 Capitães era milicianos e todos os Oficiais e Sargentos eram milicianos. Só os 1º Sargentos eram do quadro permanente.
Em Mueda e Sagal tive um papel importante a seguir ao 25 de Abril.
Participei nas reuniões com o pessoal do MFA, assisti à reunião com 3 membros do MFA vindos directamente de Lisboa.

Os milicianos, oficiais e Sargentos conseguiram travar alguns "amarelados" do quadro que queriam prosseguir a guerra

Já estávamos em Mueda em 7 de Setembro, com tropas da FRELIMO e outras regulares da Tanzânia e um grupo reaccionário toma conta do Rádio Clube de Moçambique em Lourenço Marques. Pensámos no pior. No recomeço da guerra, eu e um grupo de militares estávamos disponíveis para ir para o mato lutar ao lado da FRELIMO.

Mueda, Setembro de 1974. Encontro entre militares portugueses e da FRELIMO

Acabou pacificada a situação. Vim de férias ver a família e a revolução de perto. Estive na Madeira, falei com o pessoal que estava em ebulição na defesa das liberdades e na luta pela extinção da colónia. Regresso a Lisboa e assisto à golpada do 28 de Setembro o que atemorava, e em 21 de Outubro novo incidente em Lourenço Marques com milhares de mortos.
Regressei a Moçambique  já em paz e por  lá fiquei até 1 de Abril de 1975.
Entre Outubro de 1974 e 1 de Abril de 1975, vivendo no Lumbo e em Nacala ajudei muitas vezes na resolução de pequenos conflitos entre alguns colonos que queriam comprar munições e armas para resistir à FRELIMO depois da independência de Moçambique.
A partir de 2001 fui cinco vezes a Moçambique a trabalhar  gratuitamente para recuperar o hospital de Marrere.. Visitei duas  vezes os locais da guerra, em Cabo Delgado nas acompanhado de um padre franciscano. Tremi muito por dentro e por fora ao visitar os locais da guerra que tantas mazelas ainda nos causam  e que conduz à defesa da Paz e  Não à Guerra!.

TEXTO E FOTOS DE:

DÍRIO RAMOS, FURRIEL MILICIANO



segunda-feira, 28 de outubro de 2024

CRÓNICAS DO FIM DA GUERRA

 Cabo Delgado. Final de Agosto de 1974.

Ainda não tinha sido assinado o Acordo de Lusaka. Eu estava na Base "Beira" no interior de Cabo Delgado. Os militares portugueses estavam desejosos de terminar a guerra e começavam a abandonar os quartéis. Eu, Camilo de Sousa, e outros companheiros saídos de um treino aturado de estratégia e tácticas de guerrilha, ansiosos por um confronto directo com o exército português o que não havia acontecido para além de bombardeamentos à distância, víamos o tempo passar.

Perante o abandono das unidades militares portugueses, eram necessário que a guerrilha se ocupasse desses espaços abandonados e fizesse a sua gestão diante do povo desejoso de assaltar esses locais e levar tudo o que pudesse.

Na base Beira fui informado que deveria partir para Nachingwea (Quartel general da FRELIMO no sul da Tanzânia) para uma reunião.

Parti da Base Beira com o meu guarda-costas e caminhámos durante dois dias. 
Ao fim do segundo dia atravessámos a vau o rio Rovuma e fomos até Newala onde havia um grande acampamento da FRELIMO e aí pernoitámos. No dia seguinte apareceu o o chefe-adjunto das operações da FRELIMO Alberto Chipande, que eu já conhecia do tempo do meu treino militar, e fomos no carro dele até Nachingwea onde chegámos à noite,
No dia seguinte seguinte houve uma reunião com o Presidente Samora Machel que deu-me a missão de acompanhar um grupo de quadros que estavam a sair do treino militar para irem a Cabo Delgado e começarem a ocupar esses quartéis que estavam a ser abandonados ou entregues.

Era  necessário tomar conta dos paiós, do armamento e munições e do espaço dos quartéisem geral: geradores, equipamentos de refrigeração, telecomunicações, unidades sanitárias ea administração dos  locais.

O era grupo era formado por engenheiros, médicos e administrativos formados em vários países europeus incluindo Portugal.

Havia ainda duas companhias de guerrilheiros que iam fazer a  ocupação dos quartéis.
No final da reunião  o Presidente Samora Machel chamou-me à parte e disse-me quue gostava do trabalho que eu estava a fazer em Cabo Delgado e ofereceu-me duas fardas dele.  Eram fardas diferentes das  outras, feitas de um tecido verrde cinza que só ele usava.

No dia seguinte partimos em camiões para Newala e nessa noite atravessámos  o rio Rovuma agora sem os estrondos habituais dos canhões de Omar Nambiriau e fomos cumprir a nossa missão a partir do quartel de Mueda.

Texto de Camilo de Sousa, 
Militar da FRELIMO

Comício da FRELIMO em Mueda.

NANGOLOLO, 4 de  AGOSTO DE 1974

Estava em Nangololo, cujo único meio de contacto com o exterior era a aviação, visto que por terra já não se movimentava há longo tempo e só para dar um exemplo, fomos para Nangololo vindos de coluna militar, e para fazer 38 Km desde Mueda, levámos 8 dias e na altura com todo o apoio militar, Comandos, Para-quedistas e a aviação militar em pleno. (esta a referir-se à última coluna para Nangololo em Fevereiro de 1973)

Três meses antes do 25 de Abril a aviação civil e militar enfrentaram grandes dificuldades de manobra devido  ao facto de já haver no terreno mísseis terra-ar por parte do IN. De salientar de que a partir dessa data as dificuldades de logística provocaram uma grande insegurança e  a moral das tropas desceram a níveis preocupantes.

A 4 de Agosto de 1974, abandonámos Nangololo, pelas 08 horas, não me esquece o dia pois foi a minha prenda de aniversário.
Um dia antes tentámos destruir o mais possível, principalmente material militar e confidencial, despejando todo esse material, numa vala à saída do arame fardado para quem ia à água na nascente. Depois foi rebentado todo esse material ao mesmo tempo. Em Nangololo e seus arredors abanou tudo.

O último soldado da  CART. 7256 a abandonar Nangololo

Todo o nosso material pessoal, assim como percutores dos obuses, morteiros . etc... e documentação confidencial, foram transportados em helicópteros tipo Puma, pois tinham a possibilidade de voar baixo, junto às árvores e não eram atingidos pelos mísseis, mas estavam sujeitos a ser "abonados" por anti-aéreas que a FRELIMO já tinham e não era a primeira vez.

Quanto ao restante material tivemos ordens oficiais para não o destruir a fim de ficar para a FRELIMO. No entanto, fizemos todos os possíveis para lhes fazer a vida negra, tais como areia no óleo das viaturas, destruição do furo da água etc...etc...
Mas isso foram atitudes que nós, oficiais, viemos a saber depois, pois os soldados não quiseram ir embora sem lhes deixarem vários presentes. 

Como o objectivo era quanto mais depressa melhor para o IN não ter capacidade de reacção, foi andar e andar e não havia direito para descansar, só à noite. Como grande parte da nossa Comanhia ia a pé, da ponta até ao fim quase que fazia um quilómetro.


De Nangolo ao Chai o mato era intenso o que nos dificultou a caminhada

Dois dias e meio, foi muito duro, principalmente para aqueles que não estavam habituados a andar no mato, ais como a generalidade dos especialistas.

Passou tudo e depois fomos transportados para Porto Amélia onde embarcámos numa corveta da Marinha a caminho de Lourenço Marques. No entanto como já havia montes de problemas entre brancos e negros em António Enes e como não havia tropa na zona mandaram a malta para lá, mas por poucos dias.

Fomos então para Lourenço Marques, onde aqui ficaram 2 Pelotões, o meu Pelotão em João Belo e um grupo na Namaacha.

Para mim foi também difícil viver naquela confusão que se seguiu ao 25 de Abril, pois não sabíamos quem era o IN, não havia ordens de ninguém, nós meia dúzia de gatos pingados ficámos a tomar conta de cidades em alvoroço, até porque a polícia deixou de funcionar.

Pior ainda foi ter que sermos integrados com tropa da FRELIMO, o inimigo dos dias anteriores

Texto de Duílio Caleça
Alferes Miliciano da Companhia de Artilharia 7256










domingo, 20 de outubro de 2024

CRÓNICA DE CAMILO DE SOUSA GUERRILHEIRO DE FRELIMO

 

 Setembro de 2024. Após 50 anos reencontro de D.Dolores Ferreira Câmara com Camilo de Sousa

Decorria o mês de Julho de 1974 e eu estava na Base Moçambique A (a chamada Base Central). Estavam também na Base os camaradas Raimundo Pachinuapa (Secretário Provincial de Cabo Delgado, responsável máximo da região) e Aníbal Malichicho, Comissário Político da Província.

Numa tarde, fui chamado ao comando da Base para uma reunião com o camarada Raimundo Pachinuapa e outros camaradas onde fui informado que um grupo de guerrilheiros das nossas "zonas avançadas" tinha capturado, em Morrola, na região agrícola de Montepuez/Namuno, um casal de agricultores portugueses bem como a sua filha menor e que a mulher estava grávida. Tinham caminhado durante uns dias dessa região até à zona de Muidumbe estando retidos numa sub-base de nome Cahora Bassa.

Neste encontro recebi a tarefa de ir ao destacamento de Cahora Bassa para apaziguar esta família e transmitir parte do Comando Provincial que nada de mal lhes seria feiti.

No dia seguinte, ainda o sol não havia nascido e já estava a caminho da sub-base acompanhado do meu guarda-costas. Caminhámos durante cerca de três horas o que significava cerca de 15 quilómetros até à base onde  era esperado pelo comandante do destacamento.. Reparei que perto de umas casas afastadas estava o casal de portugueses e a sua filha vendo-me chegar ao comando.

Depois de uma breve conversa com o comandante trouxeram os reféns absolutamente amedrontados que me foram apresentados e a quem cumprimentei.

Acharam muito estranho encontrar um militar da FRELIMO da minha idade (21 anos), da minha cor e falante de português sem sotaque moçambicano. Isso deixou-os ainda mais cépticos em relação à sua sorte.

Camilo de Sousa, em Nachingwea (Tanzânia) no final do treino militar
Falei com eles e transmiti a mensagem do Comando Provincial de que nada de mal lhes aconteceria. Trazia comigo alguma ração de combate capturadas ao exército português durante emboscadas e convidei-os a tomar umas latas de sumos da ração e dei à menina uma lata de chocoleite. Informei-me  sobre a sua alimentação e das condições de acomodação.

Antes de partir deixei algumas recomendações aos que tomavam conta dos reféns. À saída da sub-base o refém português segredou-me que qdouando me viu chegar pensou que, pelo meu aspecto, eu era cubano e vinha com a missão de executá-los o que gerou uma risada geral.

Só voltei a encontrar esta família durante o governo de transição numa visita governamental aos distritos de Montepuez e Namuno onde visitámos a localidade de Morrola.

Autor texto:

Camilo de Sousa









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